quarta-feira, novembro 30, 2005

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

- Não acabei o Proust. Pelas minhas contas falta mais um mês de leitura.
- Nada de palavrões, nem em inglês. Se não cumprirem, terei de apagar alguns comentários. Isto não é a escola primária.
- Pára de me tratar como uma rameira. Já não digo como o Caetano "certamente eu vou ser mais feliz"; basta não ser infeliz, OK?
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

Nos horários da CP podemos ver alguns comboios acompanhados pela letra "C". Isto quer dizer que são comboios que só se efectuam aos Sábados, Domingos e feriados oficiais. Como os truísmos da Jenny Holzer:

- if you aren't political your personal life should be exemplary
- if you can't leave your mark give up
- if you have many desires your life will be interesting
- if you live simply there is nothing to worry about
- ignoring enemies is the best way to fight
- illness is a state of mind
- imposing order is man's vocation for chaos is hell
- in some instances it's better to die than to continue
- inheritance must be abolished
- it can be helpful to keep going no matter what
um pedido

Se não gostas de mim, liberta-me.
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

ou "A promisuidade dos pré-rafaelitas" ou ainda "O que tu queres sei eu"

Apesar das regras restrictas da irmandade pré-rafaelita, os artistas deste movimento tinham o estranho hábito de trocar de mulheres entre si. Uma pouca vergonha! Vejamos então como foi a telenovela da vida de Ruskin e amigos.

John Everett Millais

John Everett Millais
Sir John Everett Millais
Self-Portrait
1880
Galleria degli Uffizi, Florença

pintou este este quadro que se chama "A ordem de saída". Nele encontramos uma figura feminina cujo nome era Effie Ruskin. Effie era a esposa de John Ruskin, mas acabou por casar com Millais.



John Millais
The Order of Release, 1746
1852-1853
Tate Gallery, Londres

Quanto a Ruskin, não se conhecem pormenores sórdidos da sua vida privada.


Charles Fairfax Murray
Portrait of John Ruskin
1875
Tate Gallery, Londres

Outro pré-rafaelita, Rossetti, escolheu como modelo Jane Morris, que pintou várias vezes. Fica aqui a imagem da senhora Jane como Proserpina.


Dante Gabriel Rossetti
Proserpine
1877
Colecção Privada, Londres

Como o nome indica, Jane Morris era esposa de William Morris.


George Frederic Watts
Portrait of William Morris
1870
National Gallery, Londres

(Tão amigos que eles eram!)
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO

[Sonho nº 1 desta noite]
- Então menina, já nasceu? Já deu à luz? O que foi?
- Já. Foram dois tampões. Gémeos.

[Sonho nº2 desta noite]
- Então Sr. Pacheco Pereira, vai ser o mesmo de sempre?
- Não, hoje queria qualquer coisa diferente.
- Diga...
- Table dance com varão mas num privado.

[Sonho nº3 desta noite]
Cavaco com voz de "Ocenao Pacífico" a cantar canções de constituir família ao meu ouvido.

(Conclusões: Os tampões não são filhos de Pacheco Pereira e as eleições podem transformar um candidato esfinge num cantor pimba.)

[Na rua]
- Ó menina, benha cá ixprimentar o sutiãzinho da móda.
- Não obrigado.
- Oh... Benha lá questes teinhenhem alcinha de silicóne.
- Não, não preciso.
- Pois náo. Sáis ao pai. Olha páquilo Mélia...

[Ao telefone para a bilheteira do Rivoli]
- Boa tarde. Gostaria de saber se têm bilhetes para o espectáculo On Danse de amanhã à noite.
- Temos.
- Então gostaria de fazer uma reserva.
- Não pode.
- Porquê?
- Porque é muito em cima da hora.
- (Em cima da hora?) E na Fnac, posso reservar telefonando para a Fnac?
- Não.
- Deixe-me adivinhar, é muito em cima da hora.
- Pois.
- Só mais uma coisinha. Qual o preço dos bilhetes?
- 15 euros preço único.
- Ok. Boa tarde e obrigado.
- Boa tarde.

(Conclusão: o mesmo espectáculo na Culturgest em Lisboa custava 5 euros.)
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

- Hoje temos belogue na Formiga Bargante, uma forte dor de garganta, Ilvico, Griponal e Strepsils de laranja (os de limão são melhores) e New Order nos ouvidos. Estranhamente, na secretária ao lado alguém ouve Roberto Carlos.

- Aqui teremos maminhas, mas só da parte da tarde e a tentativa de que este seja um bom dia. Bom dia.

terça-feira, novembro 29, 2005

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

Caros cometadores, identificados ou não, gostaria que não fizessem uso do palavrão nos comentários. De resto, são livres de comentar como desejarem.
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

Hoje talvez seja melhor a FORMIGA não fazer referência ao Belogue. É que estamos em período de convalescença devido a decisões tomadas que causaram grande pesar. Por isso, e apesar de saber que já coloquei este poema aqui, volto com o mesmo que é o único que faz sentido neste momento.

Tudo era apenas uma brincadeira
E foi crescendo, crescendo, me absorvendo
E de repente eu me vi assim completamente seu
Vi a minha força amarrada no seu passo
Vi que sem você não há caminho,
eu não me acho
Vi um grande amor gritar dentro de mim como
eu sonhei um dia
Quando o meu mundo era mais mundo
E todo mundo admitia
Uma mudança muito estranha
Mais pureza, mais carinho mais calma,
mais alegria
No meu jeito de me dar
Quando a canção se fez mais clara e mais sentida
Quando a poesia realmente fez folia em minha vida
Você veio me falar dessa paixão inesperada
Por outra pessoa
Mas não tem revolta não
Eu só quero que você se encontre
saudade até que é bom
É melhor que caminhar vazio
A esperança é um dom
Que eu tenho em mim
Eu tenho sim
Não tem desespero não
Você me ensinou milhões de coisas
Tenho um sonho em minhas mãos
Amanhã será um novo dia
Certamente eu serei mais feliz

(Certamente. Só espero que não esteja demorado.)

Sonhos, Caetano Veloso

segunda-feira, novembro 28, 2005

TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

(só mesmo para acabar do dia)

(...)
A vida era a mágoa para mim que só pedia
a beleza contida num pequeno copo de água
Ninguém profundamente me conhece
nem talvez isso interesse a alguém
e aos mais íntimos menos que a ninguém
(...)

(Ruy Belo, in A Margem de Alegria)
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO

Dr. Zeus e Sr. Deus em mudanças

- Sr. Deus, sou eu o Dr Zeus outra vez.
- Ah, olá. Já resolveu aquela coisa da Pandora e do Prometeu?
- Já. Vinha falar-lhe do inventário.
- Do inventário. Eh diabo - bate na madeira - não sei nada disso...
- É simples. O que é que o Sr. quer trazer para aqui?
- Trazer de quê? A fotografia da família, os meus diplomas, um termos com chá...
-Não. Eu, por exemplo, fiquei com os mitos, mas há aqui muita coisa com que quero ficar, mesmo sabendo que não são minhas.
- Mas isso é feio!
- O quê?
- Ficar com coisas que não nos pertencem.
- Desde quando é que você ficou tão moralista?
- A semana passada durante o meu exame à próstata.
- Um pré-requisito!
- Um pré-requisito. Mas sim, diga lá com o que é que fico. Eu mal conheço os cantos à casa, fico com qualquer coisa.
- Eu queria ficar com a colecção de vidros. Dá-me jeito por causa da história do Baco.
- Espere lá que eu tenho um plano para uma Última Ceia e como sabe, ceias, comidas, comidas, bebidas, bebidas "à de copas", hombre.
- Mas nós é que tenhos o monopólio das orgias. Pergunte ao Goethe (o episódio de Walpurgis é no fundo uma orgia). E temos o banquete do Platão e gostamos de todos de comida e de ambrósia...
- Vocês bebem leite de um corno de cabra. Leite e mel.
- Mas nós é que devíamos ter o privilégio de ficar bêbados!
- E ficam... Vocês ficam bêbados e nós ficamos alegres. Entramos em Comunhão com o Senhor.
- Eu não abro mão dos copos.
- Façamos assim: dividimos irmamente... Irmamente, lembre-me para eu escrever essa palavra e usá-la no meu MiMi.
- Tudo bem, mas eu fico com os copos de vidro martelado.
- Eu fico com os de Selénio
- (Ganancioso)
- (Chato. Pelo menos já tenho presentes para a família.)
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

Mãos, ou como se vão os anéis e ficam os dedos.(II)


mão que tapa (autor desconhecido)


mão que alimenta (Paulus Moreelse)


mão que sofre (Bernini)


mão que luta (Miguel Ângelo)
O CARTEIRO


Jean-Auguste-Dominique Ingres
Bather of Valpincon
1808
Museu do Louvres, Paris



N' "O ano da morte de Ricardo Reis de José Saramago pode ler-se: " a solidão não é o estarmos sós, é não conseguirmos fazer companhia a alguém ou alguma coisa que vive dentro de nós". Depois e antes de "O ano da morte de Ricardo Reis houve "Memorial do Convento" e "História do cerco de Lisboa" (estes dois antes e o último deles, aquele que não tem par). Depois veio "A caverna". O resto é um deserto onde cabem muitos livros do autor, mas onde não está nenhum devido a um factor que considero intolerável na escrita e que se chama, repetição. Estilo sim, repetição é que não.

De facto, mora cá dentro alguma coisa ou alguém que constitui um problema: o que cá vive não paga a renda nem desocupa aquilo que foi ocupando lentamente. Em Direito, isso chama-se usucapião.

E sob essa denominação, aquilo que era apenas um formigueiro matinal e diário, tornou-se agora condição inalienável da vida. Uns dias é apenas uma palavra, outros faz questão de ser forma e conteúdo. Hoje é um desses dias.

Peço aos caros comentadores, anónimos ou não, o favor de relevarem, passarem à frente se o sentimentalismo lhes parecer exagerado e que atentem antes ao todo do Belogue.

Até porque quando eu me dissolver nesta solidão (algo que se prevê para breve dada a forma como a Beluga se está a acabar), dissolve-se também o Belogue. Guardem portanto o melhor e hoje, don't mess with me please, 'cause I'm really pissed off.*

*Não me aborreçam porque hoje não estou nos meus dias.

domingo, novembro 27, 2005

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

Ghandi, poucos minutos antes de ser assassinado, disse para Henri Cartier Bresson: "Olhe à sua volta. É a morte, tudo é morte".

Um lobo mau chamado Morte está a ratar a avózinha por dentro e o Capuchinho Vermelho não tem paciência para as pinturas de Egon Schiele, nem Waterhouse, nem para os truísmos da Jenny Holzer, nem para os mortos dos outros. Por agora vamos carpir.
Entretanto, o Belogue continua na FORMIGA BARGANTE.

sexta-feira, novembro 25, 2005

TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS


Annibale Carracci
Atlas
Museu do Louvre, Paris


O meu olhar descia como um íman
ao centro mais ardente do teu corpo.

("Eros" de Alberto de Lacerda in "Eros de Passagem - Poesia Erótica Contemporânea")

Quando o modelo de nu se despiu pela primeira vez nas aulas de desenho, senti isto; o meu olhar a descer e a ruborização do rosto a aumentar. O embaraço era tal que nas primeiras horas (eram 4h de cada vez) desejei só desenhar a carvão, para não ter de olhar para "o centro mais ardente" com olhos de ver. Desenhar-lhe apenas uma mancha negra com uma quantidade exagerada de pelos púbicos que nunca existiram.

Oscilava entre o calão e os termos técnicos para discutir com o professor se a mão estava mais perto do... ou da... e se o.... era maior ou igual a duas mãos. Como as virilhas tinham "costas largas", tudo se resumia à virilha: "tens de desenhar a virilha maior", "a mão está pousada na virilha", "vê a desproporção entre o pé e a... virilha".

Foi assim na primeira aula, com o meu olhar a repousar no centro ardente. A segunda aula foi numa manhã de sexta feira, Inverno posto, frio e impiedoso que o nu não aqueceu. Os lápis estavam alinhados e afiados: os "F" para as linhas estruturais, os "HB" para algumas consolidações e os "B" (principalmente o 8B) para as sombras, e traços sem remendo. Ninguém corou.

No fim, quando já lhe conhecia o corpo (sem nunca conhecer de facto a "virilha"), veio uma mulher sem a sua "virilha", sem segredos que caramba!

Na minha vida só vi dois homens nus, ao vivo claro. Esta foi a primeira vez. (Mais tarde também soube o que era ser o "centro ardente" quando dava o rosto para a mesma causa.)

A diferença entre o prazer e o trabalho, é que no trabalho coramos e depois decoramos e no prazer, só coramos. O outro nunca nos é suficiente.

quinta-feira, novembro 24, 2005

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

Para ler: A revista Actual do Expresso desta semana (a que ainda está a decorrer), principalmente as páginas dedicadas ao 25 de Novembro. A História só é má professora se formos maus alunos.

Para apontar na agenda: Amanhã comemoram-se 160 ANOS do Nascimento de Eça de Queirós. Porque é que sinto que os meios de comunicação social se vão esquecer disto?



Para ouvir: "Claire de Lune" de Debussy (eu sei que é uma garotice, mas gosto e acabou. E podemos ouvir tudo aqui.)

Para ver: A World Press Photo no Fórum da Maia até dia 27 de Novembro. Agora que há metro, não há desculpa, embora a divulgação tenha sido praticamente inexistente.



Para saber: O Belogue amanhã não estará. Vai falar com um senhor de barbas, mas que não é o Pai Natal; dá conselhos mas não é vidente; faz pesagens e não é mercador. (Esperemos que a balança nos traga boas notícias.) Qual é coisa qual é ela?
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

ou

COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO

Postei porque gostei. Mas porque é que em inglês se diz Still-life e em português de diz Natureza Morta?


Sanchez Cortán
Still-life with Quince Cabbage, Melon and Cucumber
1600
Museum of Art, San Diego
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

Desapareceu o mito Egeu


Teseu visivelmente perturbado quando
soube da notícia do desaparecimento
de seu pai, o Rei Egeu.

A conhecida figura mitológica Egeu desapareceu há vários mil anos. O filho, Teseu, vinha de uma festa de comemoração da sua vitória sobre o Minotauro e presume-se, com álcool a mais.

A festa decorreu na ilha de Naxos e dançou-se o Geranos, a dança do Grou com música escolhida por um D. J. da noite parisiense que não quis ser fotografado para a revista FACES. Contam colegas do filho da vítima, que este se esquecem da namorada Ariadne na festa, mas garantem ter saído sozinho. O fio de ouro ficou com Ariadne, e ainda bem.

Note-se que Teseu tinha prometido ao seu pai, o Rei Egeu, que se vencesse o Minotauro casava com Ariadne e substituía as velas negras do seu barco por velas brancas. Comentava-se que este seria o casamento do ano.

Amigos da família contam que Egeu se atirou ao mar quando viu as velas negras, dando assim nome ao mar de que muitos famosos usufruem nos cruzeiros da FACES, o mar Egeu.

A revista FACES falou com Teseu que se mostrou chocado, mas afirmou que o casamento com Ariadne era caso encerrado, uma vez que não chegavam a acordo quanto à posse do fio de ouro, e que se encontra bem como novo monarca.

A família real oferece uma recompensa a quem souber informações consistentes acerca de Egeu, e a revista FACES promete a primeira página. "Mas não vá, "tefone"- pediu um membro da família.
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO

Daniela Mercury tinha um concerto agendado para estes dias no Vaticano, a pedido do próprio. Só que o Vaticano esteve a estudar a ficha da cantora e descobriu que a senhora apoiou no Brasil uma campanha a favor do uso do preservativo. Não gostou e vai daí, cancelou o concerto.

Báculo - cajado usado pelo clero. O Báculo dos bispos tem a forma curva para indicar a sua autoridade limitada. O Báculo do Papa em forma de cruz indica a sua autoridade sobre a Igreja Universal. (E que autoridade!)

quarta-feira, novembro 23, 2005

COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO

[No computador]
Se eu trabalhar em Photoshop 200 imagens, quer isso dizer que estou a photoshopar?

[No computador]
Porque é que não consigo fazer o underscore (_) carregando normalmente em shift+underscore? Isso dá-me um ponto de interrogação. Mas se carregar em shift+ponto de interrogação dá-me underscore.
É que assim é muito mais difícil photoshopar.

[No gabinete]
Porque é que nesta secretária se ouve Suggarman dos The Free Association e na secretária ao lado, a dois passos alguém ouve Pan Pippes?

[Na visita da tarde]
- D. Afonso V chega a Portugal vindo de Arzila...
A criança - Você é tão bonita...
(Eu sei, é uma vergonha pôr isto aqui, mas vindo de uma criança nem parece muito mal.)
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

(e cruéis)


Diane Arbus
Criança com uma granada de brincar em Central Park
O CARTEIRO

A pouca vergonha ou "porque é que não há mulheres nuas na arte até ao século XVI" (excepção para evas, deusas e amantes de reis)


Giorgione
A tempestade
1508
Accademia, Veneza


Ticiano
Bacanal
1523-1525
Museu do Prado, Madrid



Coma nossa mãe ninguém brinca, é verdade. Se o Niépce não tivésse descoberto as possibilidades da fotografia, não gostaria de ver a minha santa mãezinha nos quadros e mármores de artistas, assim com as partes pudibundas de fora. Digo isto porque se houve temática permitida e explorada na arte mesmo durante a I.M. foi o pecado original; Adão e Eva; nus, juntos!!

É claro que Eva não é Maria, mas se Eva é a nossa mãe, não quero vê-la nua. Por outro lado, à mulher de César não basta ser séria, tem de parecê-lo. A Santa Maria Egipciana era uma prostituta; a Santa Ágata é representada segurando nas mãos uma bandeja com os seus próprios seios; as Virgens de Leite são aquilo que a gente sabe e a Santa Teresa d'Ávila completa a lista com o seu "Castelo Interior".

Há uma frase de uma canção de Maria Rita que diz: "não sou freira nem sou p***". Porém, até ao século XVI os artistas não encontraram um rumo para as nossas mulheres: elas são mães, esposas, santas, mas sempre vestidas. As que se despem são as Evas, as deusas e as amantes de reis.

As coisas só mudam, primeiro com "A Tempestade" de Giorgione", ainda com um nu muito puro, muito impotente, escondido no canto do quadro sobre o peso da tempestade. É intencionalmente bucólico. O segundo momento é "O Bacanal" de Ticiano.

A partir daí foi a catarse. Agradece-se a todos aqueles que vestiram as nossas mães e despiram as dos outros.
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

Brrrrr.....
Hoje temos Beluga e Belogue na FORMIGA BARGANTE, ao longo do dia teremos algumas novidades e nos ouvidos Goldfrapp com "Oh La La".
Como é que se explica a crianças de 6 anos o que são votos de castidade e pobreza. A pobreza, ainda vá lá que não vá, mas a castidade... Oh God make me good.

terça-feira, novembro 22, 2005

sem título

Tanto silêncio que até o bater do coração parece o aproximar de uma multidão. Tanta solidão que até faz eco.
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

Para Virgens e Aquarianos/nas:


um avião em teus seios desocupados
um guindaste em tua boca aberta

Um passo de arco-íris corre
teu pulso - dá-me teu bilhete
Oh como voo teu gosto de viajar!
um motor faz entre tuas coxas
hossana! é sangue o côncavo do teu lugar

(A Virgem de António Aragão, in Antologia de Poesia Portuguesa, Erótica e Satírica)
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

Perguntas ao Dr. Soares ou "Como a ausência de problemas na próstata pode levar à falta de coerência"

Sr. Dr. Soares:
Eu não tenho uma próstata. Gostava de ter, só para uso pessoal. Quem sabe se depois das eleições (antes não, claro), o Sr. me pode emprestar a sua, enviando-a aqui para o BELOGUE.

A pergunta que lhe quero fazer é a seguinte: não acha que o facto de não ter problemas na próstata está a afectar a sua coerência? Enumero os casos, não porque duvide da sua memória, mas porque acho que é necessário:

- Há uns anos num jantar em Leiria com o qual convidou o Dr. Cavaco, disse a um jornalista achar que Cavaco tinha todo o perfil para Presidente da República.
- Na SIC Notícias, no programa onde é comentador (isso é profissão?), quando inquirido sobre se pretendia avançar para a Presidência da República, respondeu sem hesitação que não.
- Na rádio, quando o questionaram mais uma vez se seria candidato a Presidente dos portugueses, foi firme e disse que isso estava fora de questão.

E agora Sr. Dr. Soares, de um momento para o outro é candidato, mina a saída airosa do PS nesta história toda (qlgo que me é indiferente), faz campanha sozinho, não une a esquerda e parece esquecer-se dela - o Sr. NÃO é a esquerda -, ladra às árvores erradas como o Dr. Alberto João Jardim e candidata-se, no fim de contas, não porque tem um projecto para o país, mas porque quer evitar a vitória de outro candidato. Não deveria ser assim, acho eu...

Por fim, a declaração do último fim de semana, de que só cumpriria um mandato porque queria dar espaço aos outros candidatos.

Eu não sei se é falta de coerência ou de memória, ou se simplesmente não quer dar o benefício da dúvida à nossa inteligência (à minha, pelo menos). O Sr. só cumpriria um mandato porque, segundo a lei, não pode cumprir mais.

Os car Wilde dizia: "Para quê coerência quando se tem imaginação?" A imaginação é cá no Belogue; tente manter a coerência, sim?
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

Mãos, ou como se vão os anéis e ficam os dedos:


Miguel Ângelo


Klimt


Caravaggio


Caravaggio

domingo, novembro 20, 2005

TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS


Camille Pissaro
Autumn, Path through the woods
1876
Colecção Privada

As quatro estações eram cinco

O verão passa e o estio se anuncia
que outono se há-de ser e logo inverno
de que virá nascida a primavera.
Mais breve ou longo se renova o dia
sempre da noite em repetir-se, eterno.
Só o homem morre de não ser quem era.

Jorge de Sena
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO

ou até compreendo, mas não a esta hora

[No Público on-line de hoje]
"Maior árvore de Natal da Europa iluminada em Lisboa
Mais de dois milhões de luzes iluminaram-se esta noite na Praça do Comércio, em Lisboa, na maior Árvore de Natal da Europa. Com 72 metros de altura, uma altura que corresponde a 23 andares, e 170 toneladas de peso, a montagem da estrutura envolveu 350 pessoas, ao longo de 44 dias consecutivos de trabalho."

(É preciso um tipo nascer em Nazaré para se fazerem as coisas a tempo.)

[No Público]
O Público anucia - com algum orgulho - 15 edições de Cd's, DVD's e livros. Algumas das colecções como a dos livros Serralves e a de Cd's Chill Out já acabaram (thank God). Mas o Público acha mesmo que as pessoas não têm capacidade para escolher o que é melhor para elas?

[No Expresso, revista Actual]
Maria Filomena Mónica diz: "Dizer que alguém é estúpido depende da pessoa a que se refere. Para nós, intelectuais, é um ataque horrível."

(Desculpe?! Fale-me aqui para o ouvido que assim não percebo.)

[No Expresso, revista Actual] (ainda Maria Filomena Mónica)
"O António (Barreto) por Natureza é um optimista. Vê um carro moderno e diz: «Estás a ver, as pessoas estão a viver bem. E na Universidade há imensas raparigas.» E eu digo: «Que horror, as minhas alunas não sabem nada de nada, nunca viram um livro.»"

(Ver post de Sábado. Eu também digo isso quando vejo "ixtética".)

sábado, novembro 19, 2005

COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO

[Na explicação de Geometria Descritiva]
- Tudo bem?
- Tudo.
- O teste de História da Arte?
- Correu mais ou menos?
- Porquê, não correu bem?
- Tivemos muitos erros.
- Como...
- Ixtéctica, previlégios, coxtruir, açente, prespectiva...

(eu traduzo: estética, privilégios, construir, assente, perspectiva. Fora a habitual pergunta: "Sabemos é com "u"?)

[Pergunta rectórica]

Se eu tiver um Ser como o de Parménides, "finito", nem muito gordo, nem muito magro, nem muito especial, nem muito trivial, quanto tempo é necessário (mais ao menos, assim em média) para tirá-lo da cabeça? E já agora, qual é o prazo para irradicá-lo do coração? Era só para ter uma ideia...

Vemo-nos amanhã. Se não for aqui, é na Formiga. Hoje vamos regalar o olhar para outras paragens.


Pierre Auguste Renoir
Luncheon of the Boating Party
1880-1881
Phillips Memorial Gallery, Washington
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

Aos fins de semana há Jenny Holzer:

- good deeds eventually are rewarded
- government is a burden on the people
- grass roots agitation is the only hope
- guilt and self-laceration are indulgences
- habitual contempt doesn't reflect a finer sensibility
- hiding your emotions is despicable
- holding back protects your vital energies
- humanism is obsolete
- humor is a release
- ideals are replaced by conventional goals at a certain age

sexta-feira, novembro 18, 2005

O CARTEIRO

O carteiro manda dizer que isto é imperdível:


Confessions on a dance floor
Madonna
17,90 euros na Fnac


Uma fotografia de Steven Meisel para a campanha da Versace: Madonna com silhueta de meretriz que abana o ventre no bordéis do Cairo, aqui em pose de nanny, bem comportada, mas sem prestar a mínima atenção aos dois bébés Nestlé. Completa e adoravelmente kitsch.

E ainda... Ensemble Intercontemporain fundado por Pierre Boulez, na Casa da Música, Sábado. Mas quem já teve oportunidade de ver o próprio num concerto inesquecível no Coliseu onde se pôde ouvir o Pierrot Lunaire de Schöenberg, não precisa de mais. Para saber, aqui.
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO

O candeeiro agora funciona, mas não desliga. Carrego no botão e não desliga.
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS



Escola de Fontainebleau
Gabrielle d' Estrées and her sister (pormenor)
1595
Museu do Louvre, Paris


A Mãe Natal entrou no atelier do Pai natal na Fábrica de Brinquedos e deixou em cima do estirador o bilhete com os seguintes dizeres:
"Querido Pai Natal: Este ano quero o divórcio. Mãe Natal".

Quando ele leu disse:
- Minha querida, não lhe posso dar o divórcio assim como não estou disposto a dar-lhe metade do meu império.
- Meu querido, você é uma figura sazonal, não um Napoleão.
- Mesmo assim. Se entrar aqui um pedido de divórcio, você recebe uma carta de despedimento. Ou esquece-se que trabalha aqui?
- Isso é chantagem!
- Isto é amor!
- Amor? Seu cínico gordo!
- Sua histérica em crise de meia-idade!
- Doidivanas!
- Tarada!
- Porco!
- Cabra!
- Come-me!
- Bate-me!
- Chicote?
- E açaime, por favor.
- Em minha casa ou na tua?
- No trenó.
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA


Michelangelo Merisi da Carvaggio
Baco
1597
Uffizi, Florença

Há 9 anos ela afundava-se e afogava-se em garrafas de vinho. Dia sim, dia não, ficava ébria, completamente ébria, tão ébria que não inspirava sequer compaixão.
Eu não percebia porque parecia-me que tinha tudo: um marido que a amava, filhos para quem ela era tudo, beleza, juventude e uns olhos que pareciam lamber o céu.

Há 9 anos, ao entrar naquela sala, via-a quase morta, os olhos sem expressão e o vinho a tapar-lhe a racionalidade, o vomitado pelo corpo. Nada lambia o céu. A partir daí - ou pela vergonha ou pelo cansaço -, viveu sempre à tona, há 9 anos à tona, sem engolir um único pirolito. Para ela, levanto a minha taça.
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

O que temos em cima desta mesa:
- rato, monitor, teclado
- tapete para o rato (muito feio)
- régua, tesoura, x-acto
- fita cola dupla face
- papéis e mais papéis
- livros: "Fractal cuts", "Dicionário de termos de arte", "Dicionário das artes e dos artistas", "Dicionário de Eça de Queirós", "A História da Arte"
- dois blocos de apontamentos
-dois cd's
- um cartão com uma data (1834 - data da extinção das Ordens religiosoas)
- uma maçã
- um telemóvel (que nunca toca)
- um marcador verde
- uma caneta
- uma garrafa de água
- colunas
- phones
- candeeiro que não funciona
- lenços de papel
- pastilhas para a garganta
- sebenta de desenho
- eu (não em cima, mas quase)

quinta-feira, novembro 17, 2005

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

"These boots were made for walking, and not that's just what they'lldo
one of these days these boots are gonna walk all over you."

(Nancy Sinatra, These boots are made for walking)

I'm gonna walk the hell out of here in a minute.
Sinto que se não fosse o hábito de viver, já me teria ido desta dor de não ser nada para ti.
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

Já postei isto, mas vou postar outra vez porque gosto e porque me apetece.


Gianlorenzo Bernini
The rape of Proserpina (detalhe)
1621-1622
Galleria Borghese, Roma
O CARTEIRO

O Neoliberalismo é de Esquerda, de Direita ou de quem o apanhar?

Segundo a definição, o Neoliberalismo é de esquerda, porque é retratado para descrever uma forma de pensamento em que a pessoa adquire mais importância que o Estado; ou seja, uma minarquia (palavra feia!!). Exemplo: o indivíduo não desconta para no futuro, após a sua aposentação, ter uma reforma. O indivíduo gere os seus rendimentos consoante a forma como os quer gastar e os planos para o futuro. Baseado nisto, o Neoliberalismo defende que a sociedade iria ser mais desenvolvida porque ía depender exclusivamente de si mesma, da competição entre indivíduos. Isto é a antítese do modelo social europeu (há expressões que encerram em si todo o conhecimento do mundo), que doma a sociedade à custa de subsídios. Às pessoas não é dada a miséria imediata, mas também não é permitido crescer.

Veja-se o exemplo de França; o exemplo, ainda que diferente, dos desempregados voluntários em Portugal que preferem saltitar de subsídio em subsídio, a trabalhar; o exemplo americano em que quem lá chega não tem subsídios, mas é incentivado a trabalhar em nome da nacionalidade americana. E parece que resulta. [O modelo social europeu, com base no socialismo limita a acção do indivíduo perante o Estado, ao contrário do Liberalismo].

Porém, a verdade é que só quem é profundamente independente a nível económico do Estado, é que consegue viver sem ele. E o Estado agradecido leva à letra o célebre laissez faire, laissez passer (não sei se é com "z" no fim). Exemplo: só quem tem sistemas de saúde alternativos (e compensatórios) é que pode não depender do subsidiozinho do Estado. É uma forma sobranceira de se olhar para o problema, e não pela sobranceria, mas por se fazer valer de uma falsa questão, o Neoliberalismo assim visto, é de direita.

Nunca será de quem o apanhar, porque não é o 78 que pára perto do Hospital. Agora se é de direita ou de esquerda, isso é que eu não sei.
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO

[A passar na rádio, "Candy Shop" dos 50 cent e Olivia]

[50 Cent]
I take you to the candy shop / I'll let you lick the lollypop / Go
'head girl, don't you stop /Keep goin 'til you hit the spot (whoa)

[Olivia]
I'll take you to the candy shop / Boy one taste of what I got / I'll
have you spending all you got / Keep going 'til you hit the spot(whoa)

...After you work up a sweat you can play with the stick /I'm tryin to
explain baby the best way I can / I melt in your mouth girl, not in
your hands (ha ha)
Give it to me baby, nice and slow / Climb on top, ride like you in the rodeo...

(eu mereço?)

[Pergunta rectórica ao Dr. Soares]
- Sr. Dr., tenho alergia ao pó, tenho dores de garganta há mais de um mês e tive duas conjuntivites em 30 dias. Acha que terei de mostrar o boletim clínico quando for votar?

quarta-feira, novembro 16, 2005

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

Para ouvir:


Don Carlo de Verdi


Turandot de Puccini

Tristesse a atacar. Amanhã há mais.
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

Antes:

Lucas Cranach
Adão e Eva
1533
Museum der bildenden Kunste, Leipzig


Depois:

Marcel Duchamp e Madame Rene Clair
Adão e Eva
1924
Fotografia de Man Ray
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

Deus e Zeus, programadores culturais


Gustave Moreau
Prometeus
1868
Musée Gustave Moreau, Paris


- Sr. Deus?
- Sim?
- Olá. Sou eu, o Dr. Zeus do Ministério dos Mitos, o MiMi.
- Ah! Olá como está?
- Bem, vinha falar-lhe da minha substituição e da substituição do nome do Ministério, uma vez que o Sr. Deus me vai render no final de Dezembro que é quando acaba o meu contrato.
- O nome do Ministério é o mesmo. Também se vai chamar MiMi, Ministério dos Milagres. Sabe, é que eu sou taumaturgo de doutoramento.
- Bem, eu planeio fechar o ano do meu MiMi com um grande evento ao qual vou chamar Prometeu Agrilhoado. Mas precisava da sua ajuda para acertar algusn pormenores.
- Então diga lá.
- Acha que o fígado do Prometeu deve ser comido por um Leão, por um Dragão ou por uma Águia?
- Eh Homem... Por um Dragão não, deixe isso para a mitologia nórdica. Os Leões queria-os eu para as perseguições aos cristãos no Coliseu.
- Irra que você até parece o outro, o di...
- Diabo?!. Bata na madeira. Só de ouvir esse nome até se me eriçam os pelos das minhas barbas bíblicas.
- Fico com a águia?
- Fique com a águia! E que mais?
- O nome da mulher deve ser como? Pandora ou Ma...
- Maria não!. As Marias entram no meu Ministério depois de Dezembro. Temos a Virgem Maria e a Maria de Magdala.
- De Magdala?
- Não sei... Pareceu-me bem. Que acha?
- Eu não gosto muito... Mas fique com as Marias que eu fico com a Pandora. Quanto ao fogo...
- Que tem o fogo? Sabe que esse não é o meu departamento, vai ter de falar com o líder da oposição, o di... o di.....Você sabe...
- O Diabo? Irra, bata na madeira! Não..., estava a pensar se o Prometeu escondesse o fogo no talo de um alimento qualquer...
- Vocês no Ministério dos Mitos e a comida... O Tântalo deu os filhos aos deuses como jantar, a águia vai comer o fígado do Prometeu, do corno de cabra fizeram o corno da abundância. Até você, Dr. Zeus comeu metade dos seus filhos...
- Faz parte da política definida pelo Ministério. Poderá mudá-la em Dezembro. Eu, ou vou para o Instituto das Artes, ou escrevo um livro. E você, o que é que tem em mente?
- Ah Homem, você nem sabe. Um conjunto de eventos a nível mundial, diários e com receitas que permitem a auto-gestão.
- O quê?
- O Cristianismo.
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

Com o post anterior, termina uma fase da vida da Beluga. Acabou a vida agarrada de forma pueril e vã a um passado que me deu o melhor e o pior. Embora o que deu de bom não compense o que deu de mau. Vamos ter um dia muito cheio para colmatar a Tristesse.

"É inútil dizer o que se pensa
Se é frouxa a frase, é nada; e é vã se é intensa
Cada um compreende só o que sente
E entre alma e alma a estupidez é imensa"

Fernado Pessoa
sem título

Parabéns.


Van Gogh
Sunflower
The National Gallery, Londres

terça-feira, novembro 15, 2005

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

Beluga a belogar (legalmente) na Formiga. Para que acompanhar o Belogue fica aqui o convite para ir lá dar uma espreitadela. É só clicar em "Formiga", mais acima, isso, lado esquerdo do rato. Boa.
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO

ou, "é ver para crer, senhores"


Michelangelo Merisi da Caravaggio
The incredulity of Saint Thomas
1601-1602
Neus Palais, Potsdam

Ontem, o Jornal da SIC Notícias, meia-noite e qualquer coisa vejo o Presidente da República em Leiria na abertura do ano Académico a soltar esta pérola (mais ou menos isto): "toda a gente diz que não há dinheiro, corta-se no investimento público, acabam-se com cursos nas universidades (uma (in)directa para a notícia do Expresso de Sábado), quando o que o país mais precisa é de gente com qualificação superior.

Senhor Presidente, 260 é o número de recém licenciados que o Ministério da Cultura encaixou no IPM este ano para um estágio profissional de 12 meses. Ao dia 20 de cada mês os recibos comprovativos de transporte e que fornecem ao estagiário o direito ao seu subsídio de transporte têm de estar no IPM. E estão, mas até hoje muitas pessoas não receberam. A coisa passa-se da seguinte forma: os recibos vão nos envelopezinhos até ao IPM, o senhor director olha para eles e não sabe o que fazer e por isso sub-contrata uma empresa que se encarrega de fazer os pagamentos.

É ver para crer, Senhor Presidente.
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

Para alegrar o pessoal aqui vai algo para regalar o olho.*


Gustave Klimt
Gold Fish
1901
Kunstmuseum Solothur, Switzerland

* Para os íntimos: foi com esta imagem que a Beluga ganhou o concurso para o desenho dos bilhetes do concerto dos Maroon5, cujos membros, desconhece o nome.



CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

(Não é costume, não gostamos, mas hoje vamos citar)

"Gosto da vida, ou pelo menos, não me imagino sem ela. Mesmo quando o meu peso era pouco mais de 30 quilos para uma idade que era pouco mais de 20 anos, gostava da vida. É claro que aí o que eu gostava não era o abrir da janela pela manhãq, nem do cheiro a castanhas assadas, nem do vento vil nas caleiras. O que eu gostava na vida era a possibilidade de decidir sobre ela. E era com algum orgulho - e confesso - com alguma sobranceria que me apegava à vida com a certeza de que poderia deixá-la quando o desejasse.

Ao contrário dos outros que esperariam a passagem de um eléctrico, um forno de gás, uma lâmina para os pulsos, a minha morte estava decidida com a doação a Mefistófeles de um quilo por semana. Gostava da vida por sabê-la na minha mão e por saber que podia asfixiá-la lentamente.

(...) Mas uma vez experimentada a felicidade, achamos impossível voltar ao sítio de onde viemos e tudo nos sabe a pouco. Toda a criação e toda a fruição nos parecem estéreis se não tivermos com quem partilhá-la. Entre as 9h e as 17:30h, eu tinha a minha felicidade de repartição que se exprimia por "olás" e "com licença", trejeitos simpáticos mas sem corpo. De quando em quando, uma mão no ombro para mascarar a frieza do sítio. O pior era as 17:31h, quando as ruas se enchiam de gente e de vida e eu, vazia de tudo isso. Sem um coração ao meu lado a bater ao mesmo ritmo, sem uma mulher à minha espera no fogão, sem uma criança a quem pudesse passar a mão pela cabeça, sem vontade de não comer, sem vontade de asfixiar a vida. Gosto da vida, não por tê-la na minha mão, mas porque não tenho alternativa."

(in, O Simétrico)

segunda-feira, novembro 14, 2005

TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

Deus escreve em folhas de papel couché mate, 120gr

Um dia pediram a Caravaggio que criasse a Inspiração de S. Mateus para a capela Contarelli em Roma. O pintor fez esta primeira versão que não foi aceite e que acabou queimada na Segunda Guerra Mundial. Mostra um homem comum, como era próprio de Caravaggio, com mãos grossas, calvo, figura musculada de homem que trabalha no campo, unhas dos pés sujas, olhos muito abertos, posição improvável para escrever. É, sem dúvida um homem que não sabe escrever. Não há qualquer dignidade na figura, nas suas vestes, na forma infantil como cruza o joelho sendo que um dos pés não chega ao chão. O anjo guia a sua mão pelo livro; a sua função é a de um professor e não de um inspirador.


Michelangelo Merisi da Caravaggio
S. Mateus e o Anjo
1602
Formerly Kaiser-Friedrich, Berlim
(foi destruída na Segunda Guerra Mundial)

Na segunda versão o anjo surge do céu, com um pormenor muito bonito no desenho das mãos. Parece estar apenas a enumerar a S. Mateus aquilo que não deve esquecer.


Michelangelo Merisi da Caravaggio
A inspiração de S. Mateus
1602
Contarelli Chapel, Igreja de San Luigi dei Francesi, Roma

Deus escreve certo por linhas tortas, ou mesmo em folhas de desenho.
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO

Dizer "As intermitências da morte" não é o mesmo que dizer As intermitências da vida?
O CARTEIRO

Sobre a loucura (e a morte)

No último livro de "Em busca do Tempo perdido" de Proust, na página 182 (Edição Relógio D'Água), o Barão de Charlus dizia com certo orgulho: "Hannibal de Bréauté, morto! Antoine de Mouchy, morto! Charles Swann, morto! Adalbert de Montmorency, morto! Boson de Talleyrand, morto! Sosthène de Doudeauville, morto!"

Quando li isto, lembrei-me do letra de "Chatterton" de Seu Jorge* que diz assim:

"Chatterton, suicidou
Marc-Antoine, suicidou
Van Gogh, suicidou
Schumann, enloqueceu
E eu puta que pariu** não vou nada bem..."

De facto Chatterton suicidou-se com arsénico com apenas 17 anos, por falta de esperança num futuro melhor e por se recusar a viver numa condição inferior à que tinha traçado para si. Camilo Castelo Branco, num texto de lamento e elogio a Francisco Joaquim Bingre publicado no folhetim "O Nacional" em 1852, reportando-se ao «[...] sudário de um homem de talento vexado pela pobreza!» diz, depois de ter podido apreciar uma grande composição poética de Bingre e talvez pensando também na sua condição (ele que viveu tão próximo da miséria e em muitas circunstâncias contemplou a hipótese de suicídio que acabou por consumar): "Agora, sim, que eu desprezo Chatterton, o cobarde do infortúnio, e curvo o joelho ao suicídio lento de Francisco Joaquim Bingre.

Termino esta extensa missiva com uma frase de Erasmo de Roterdão a Thomas More: "É que comecei por pensar no vosso cognome de More que tanto se aproxima do nome grego da Loucura (Moria) quanto a vossa pessoa se afasta dela."

Segundo o "Dicionário das Cores do Nosso Tempo" de Michel Pastoureau, o amarelo é a cor da loucura. Por isso aqui fica Yves Klein.


Yves Klein
M12
1957

*No dia 4 de Novembro Seu Jorge deu um concerto atípico na Casa da Música. A vontade de pôr o público a dançar contrastava com a falta de espaço e com o incómodo que isso causava aos espectadores que estavam mais atrás. Por outro lado, não se aguentava aquele discurso de homem que nasceu e cresceu na favela, que lutou, que acredita... Há dias em que não há paciência.
** Perdão pelo palavrão.
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO

[1995, nas matrículas para a Universidade]
- Leva aqui uma camisola da CGD, o cartãozinho e uma canetinha.
[2005, nas matrículas para a Universidade]
- Leva aqui uma camisola da CGD, o cartãozinho e uma pen.

(A CGD patrocina o armazenamento de informação do seu curso superior)

[Na explicação de Geometria Descritiva]
- Escrevam: "Sabemos que as rectas..."
- "Sabemos" é tudo junto?
- O que é que tu queres separar?
- Sabe, tracinho, mos.
- ...Vamos antes fazer exercícios com sólidos...

[Na revista Actual do Expresso]
As duas primeiras páginas dedicadas ao CCB referem que Guta Moura Guedes, desde que ingressou na administração daquela casa, não tinha funções definidas.

[Na loja do roupa interior]
- Leva aqui o conjunto... Esta é a parte de baixo, pode usar todos os dias.
- O problema não são os dias, são as noites.

domingo, novembro 13, 2005

TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

Para acabar com esta overdose de lirismo, uma imagem condizente com o tempo. (Para breve uma reflexão sobre o porquê de só postarmos arte ocidental e a promessa de que isso vai mudar)


Georges Seurat
Le pont de Courbevoie
1886-1887
Courtauld Institute, Londres
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

Jenny Holzer

- extreme behavior has its basis in pathological psychology
- extreme self-consciousness leads to perversion
- faithfulness is a social not a biological law
- fake or real indifference is a powerful personal weapon
- fathers often use too much force
- fear is the greatest incapacitator
- freedom is a luxury not a necessity
- giving free rein to your emotions is an honest way to live
- go all out in romance and let the chips fall where they may
- going with the flow is soothing but risky
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

Bonjour Tristesse (literalmente)

"Sur ce sentiment inconnu dont l'ennui,
la douceur m'obsèdent, j'hésite à apposer
le nom, le beau nom grave de tristesse.
C'est un sentiment si complet, si égoïste
que j'en ai presque honte alors que la tristesse m'a toujours paru
honorable. Je ne la connaissais pas, elle, mas l'ennui,
le regret, plus rarement le remords.
Aujourd'hui, quelque chose se replie sur moi comme une soie,
énervante et douce,
et me sépare des autres."

A esse sentimento desconhecido cujo tédio,
cuja doçura me persegue, hesito em dar-lhe o nome,
o bonito e grave nome de tristeza.
É um sentimento tão total, tão egoísta
que quase me envergonha, quando a tristeza sempre me pareceu
algo honrado. Não a conhecia, mas apenas
o tédio, o pesar e raramente, o remorso.
Hoje, algo me envolve como uma seda,

inquietante e doce,
separando-me dos outros.

sexta-feira, novembro 11, 2005

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

O que é que são as pessoas?

Definição de Ser por Parménides: "o Ser é como uma esfera: iniciada porque não nasce, eterna porque não morre, completa porque nada lhe falta para ser esfera e finita porque é possível ver os seus limites e porque se não for finita é indefinida logo, não existe."

[e eu a pensar que o Ser era um buraco]
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

Cecília (II)

Outra Cecília. Desta vez Cecilia Paredes para todos, mas em especial para a Formiga Bargante. Podem ver as obras desta fotógrafa peruana que esteve presente na Bienal de Veneza, aqui.


Cecilia Paredes
Gargola I,II, III
2002



Cecilia Paredes
GargolaI,II,III
2002
Exposição na Bienal de Veneza
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

Cecília (I)

Quando Leonardo da Vinci trabalhava na corte dos Sforza em Milão para o seu senhor Ludovico, o Mouro, fazia também um pouco de food styling. As suas preferências quanto à comida e a forma como esta deveria ser apresentada diferiam muito das do seu amo. Um dia, num jantar na corte dos Sforza, Leonardo contrariando ordens de Ludovico, resolveu apresentar a cada um dos convidados uma beterraba com o rosto do Senhor de Milão esculpido. Para isso era necessário uma parafernália de artistas e instrumentos que transformaram a cozinha num estaleiro.

A certa altura, Ludovico e os seus convidados que esperavam pelo jantar há mais de uma hora, ouviram gritos e explosões. Dirigiram-se para a cozinha e aquilo que viram foi, como descrito por um dos convivas, um "manicómio": comida pelos ares, água no chão, os instrumentos de Leonardo como monstros assustadores.

Quando Ludovico Sforza e os seus convidados conseguiram sair da cozinha, deparam-se no salão com um Leonardo cabisbaixo segurando na mão uma beterraba com o rosto do seu amo esculpido. Ludovico não tendo coragem para repreender Leonardo e com receio do mau feitio do artista propôs-lhe uma estadia no campo e a sua favorita, Cecília Gallerani para este pintar. Cecília é a senhora do arminho.


Leonardo da Vinci
Dama com arminho
1483-1490
Czartoryski Museum, Cracóvia
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO

[No comboio, duas estudantes universitárias de Português]
- Fostes (wrong) ver o último do "Senhor do Anéis"?
- Fui ver todos da triologia (wrong).

[Na rua, duas estudantes de Química]
- Achas que o carro fica bem aqui?
- Sim, depois vensio (wrong) buscar.

[No sonho desta noite]
- Deixa estar que eu atendo este senhor. Quer strip simples, table dance, table dance com varão...?
- Quero table dance com varão.
(...)
- Então senhor Pacheco Pereira, está a gostar?
- Sim menina, continue.
(Oh my God, what a shame.)
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

Para ouvir: Banda sonora do filme "In the mood for love" ( e não é porque passou ontem na RTP1, mas porque as músicas são muito, mas muito bonitas)

quinta-feira, novembro 10, 2005

O CARTEIRO

Como começou o anti-semitismo ou "A minha vida dava um Bar Mitzvah"



Peter Paul Rubens
O Massacre dos Inocentes
1611-1612
National Gallery, Londres


Aqui no Belogue sempre nos interrogamos sobre o anti-semitismo. Como é que alguém começa a odiar outro alguém e por causa disso origina uma das maiores mudanças sociais e filosófias de que há memória. E a mais terrível também: o holocausto.

Na senda de respostas fomos ao cerne da questão (porque somos muito aplicados), a Bíblia.

- Uma das principais razões foi a Última Ceia em que se dá a vitimização da figura de Cristo: a sua carne é o pão e o seu sangue é o vinho. A Última Ceia é o ponto fucral do Cristianismo. Mas esta questão não teve aceitação total, uma vez que havia quem defendesse que o vinho e o pão não se transformavam em sangue e carne, mas eram apenas um símbolo. Com base nisto, constituiram-se grupos à margem do sacrifício da Ceia, entre estes grupos, os judeus. Uma das bases do anti-semitismo é a ideia de profanação da hóstia por parte dos judeus. É por isso que mais tarde os pogromes foram organizados na Páscoa.
- Outra razão foi a traição de Cristo levada a cabo por um homem que também se vendeu (bolas, esquecemo-nos disso no post dos Cães, Deus e o Demónio) e cujo nome é Judas, semelhante a Judeu. A acusação de que os Judeus faziam dinheiro de forma obscura pode ter a sua base nesta questão da venda de Judas por 30 dinheiros. Há também na Bíblia qualquer coisa que diz: "ao teu vizinho não cobres juros daquilo que emprestares, mas ao estrangeiro, sim." (mais ou menos assim)
- Na sua morte, perante a escolha entre um criminoso e um homem santo, a multidão escolheu a libertação de Barrabás. Como Pilatos lava as suas mãos, o episódio da morte de Cristo em troca da vida de um criminoso está contada como se a sua morte fosse culpa do povo judeu.
- Por fim, a morte das criancinhas, massacre ordenado por um velho, muito velho Herodes, rei judeu.

Mesmo assim, parece-nos que não são razões suficientes para odiar tanta gente.
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

Antes e depois:


Jean François Millet
As respigadeiras
1857
Museu do Louvre, Paris



Georg Baselitz
A respigadeira
1978
Solomon R. Guggenheim Museum, Nova Iorque
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

O que não nos mata, fortifica-nos. Ninguém porá um blog abaixo, mesmo que esse alguém nos faça sofrer tanto e tão premeditadamente que às vezes parece virtual.

quarta-feira, novembro 09, 2005

O CARTEIRO

Acabou

terça-feira, novembro 08, 2005

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA


Edward Kienholz
O Hospital do Estado
1966
Museu de Arte Moderna, Estocolmo


Há 6 anos, o paciente dava entrada no hospital por falta de peso. Primeira prova:
Enfermeiro - Acha que está bem assim?
Paciente - Acho.
Enfermeiro - Tem 30 quilos.
Paciente - Queria chegar aos 25.
Enfermeiro - Se continuar, nem sequer chega aos 25 anos.
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

[Na esquadra da polícia]

- Queria falar com o comandante, por favor.
- Um momentinho. (...)
- Sim? Quem deseja falar comigo?
- Sou eu senhor comandante.
- O que foi, o que deseja?
- É um assunto complicado...
- Pode falar que os meus subordinados são de confiança.
- É o seguinte... Ai que vergonha...
- Fale. Deseja um copo de água com açucar? Um cafézinho?
- Não, não, obrigada. O meu problema é que... eu tenho sido assediada no meu local de trabalho e de uma forma obscena: apalpam-me, dizem que sou a coisa mais bem feita do mundo. Um dia, veja bem, estavam dois tipos a olhar para mim e a comentar: "É boa". E o outro: "Sim, é muito boa". E isto não é tudo, as condições de trabalho são péssimas: o que recebo é gerido por outras pessoas, estou todo o dia de pé, na mesma posição e a minha idade, como pode ver, já não é o que era...
- Mas está muito bem conservada.
- Obrigado. Mas isso são eles que me obrigam a fazer. Não posso ir um dia mais desleixada...
- Ora tem razão, tem muita razão. Isso não é só assédio sexual como quebra do contrato de trabalho. Vai apresentar queixa?
- Vou.
- Nome do seu patrão?
- Estado francês. Ou mais concretamente, Museu do Louvre.
- O seu nome?
- Vénus de Milo. Com um "l" só. Os Millo com dois "l's" são de Toulose.


Vénus de Milo
130-120A.C
Museu do Louvre, Paris