sábado, junho 27, 2009

-back to black -

"If Botticelli were alive today he’d be working for Vogue." - Peter Ustinov

(o tempo verbal está correcto)

terça-feira, junho 23, 2009

- original soundtrack -



My generation's for sale,
Beats a steady job.
How much have you got?
My generation don't trust no one,
Its hard to blame,
Not even ourselves.
The thing that's real for us is: fortune and fame,
All the rest seems like work.
Its just like Diamonds
In shit.

I'm high class I'm a whore,
Actually both,
Basically I'm a pro,
We've all got our own style
(of baggage),
Why hump it yourself,
You've made me an offer that I can refuse,
(course either way I get screwed)
Counter proposal:
I go home & Jerk off.

It's truly a lie. I'm counterfeit myself,
It's truly a lie. I'm counterfeit myself,

You don't own, you don't own, you don't own,
You don't own what none can buy,
You don't own, neither do I.

High and mighty you say selling out is a sham,
Is that the name of your book?
Push a silver spoon in your ass,
No more holding us down,
(dog. down mutt. Nice mutt)
You're insulted, You can't be bought or sold.
Translation: offer too low.
You don't know what you're worth,
(It isn't much.)
My piano is for sale.
How many times must I sell myself before my pieces are gone?
I'm one of a kind,
I'm designer.

Never again will I repeat myself,
Enough is never enough,
Never again will I repeat myself.

It used to be the plan was: screwing the man
Now its have sex with a man,
(After he buys you ".com" for sale at a low, low price)

It's truly a lie, I'm counterfeit myself,
It's truly a lie, I'm counterfeit myself,
You don't own, you don't own, you don't own me,
You don't own what none can buy,You don't own
Neither do I

(I’m designer, Queens of the Stone Age)
- não vai mais vinho para essa mesa -

- Olha…
- Sim.
- Não percebo isto.
- Então… Recta de frente mais plano frontal. Intersectam-se ou não? Antes de responderes ou de fazeres o exercício, tenta ver no espaço. Uma recta de frente com um plano frontal… Se se intersectarem o que é que isto dá?
- Um ponto.
- Sim. Agora tenta imaginar no espaço…
- …
- …
- Ai, não sei.
- Pensa em sexo.
- Hã?
- Sim, pensa em sexo. Se uma recta intersecta um plano, quer dizer que o fura. A recta e o plano estão a ter sexo. Mas se uma recta, como a recta frontal estiver encostada a um plano, como o plano frontal, estão apenas nos “amassos” porque a recta e o plano são paralelos, logo nunca se intersectam. Ou estão nos “amassos” ou então um deles é gay. Percebes assim? Em casos em que a recta e o plano são paralelos, o que não quer dizer que tenham o mesmo nome, não há intersecção.
- Sim, acho que percebi. Agora faz mais sentido.
- Vou-te dar uma recta e um plano e vais-me dizer se há intersecção: plano horizontal e recta de topo. Há intersecção?
- Há!
- … Humm, acho que não percebes muito de sexo.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

Devem estar a pensar “esta não tem mais nada que fazer que ver os vídeos da Madonna?”. Mas não estava a ver os vídeos da Madonna. Estava a ver esta página sobre o realizador Sergei Paradjanov e a forma como ele foi sabotado pelo regime Soviético quando percebi que, não só a sua obra tinha sofrido influência de outros realizadores, como foi sugestivo para os que lhe sucederam. Paradjanov foi importante para realizadores como Ethan and Joel Coen, para o cinema em geral, como para a música. Influenciou realizadores de vídeos musicais como Mark Romanek, Michel Gondry ou Spike Jonze. No que diz respeito a Mark Romanek, é um realizador muito profícuo que dirigiu vídeos como o “Hurt” do Jonnhy Cash, ou o “Bedtime Story” da Madonna. Pois uma pessoa fica assima descobrir que o vídeo de Bedtime Story teve influências de Paradjanov. Segundo a própria cantora em entrevista à Aperture o vídeo teve influências das pintoras surrealistas Leonora Carrington, Remedios Varo e Frida Khalo. Vi algumas obras, vi o vídeo e também achei que sim, que havia algumas influências (as caras nos espelhos, a mulher num lago onde estão a boiar cabeças e a parte em que Madonna abre o vestido e de lá sai um bando de pássaros). Mas completamente igual (há dias em que uma pessoa tem destas coisas…) só mesmo uma parte do vídeo em que um pé esmaga um cacho de uvas num chão com inscrições árabes e que acontece sem diferenças nos dois vídeos. O de Paradjanov é uma ode poética que foi banida pela censura soviética que via nela uma parábola nacionalista. O filme conta a história de um poeta medieval arménio (Paradjanov era arménio) de seu nome Sayat Nova (que quer dizer “Rei das Canções” era o nome dado a um poeta e trovador ashik que ficou muito famoso) e a sua ascensão desde os tempos como tecedor de tapetes a arcebispo e por fim, mártir. Tal como o poeta de Sayat Nova, o cantor morre como um mártir; por amor e tal como o outro, também este tem um percurso de vida tortuoso, começa humildemente, mas serve na corte.

Sergei Paradjanov
Sayat Nova
1968


Madonna
Bedtime Story
1994
- não vai mais vinho para essa mesa -

Noite de S. João para além do muro do meu quintal.
Do lado de cá, eu sem noite de S. João.
Porque há S. João onde o festejam.
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem não sabe que eu existo.

(Alberto Caeiro, Noite de São João)
- o carteiro -

Caro Brontops:
Gostei muto da sugestão que me fez aqui. Tal como prometido, segue a posta/homenagem, a quem sugeriu e ao autor do sugerido. Se gostei? Gostei muito. O problema é que como me falou da presença de um palavrão, estive o vídeo todo à espera de o ver ou ouvir. Todas as palavras, talvez por serem um pouco sussurradas me parecem palavrões e com o vosso sotaque, ainda mais (não que eu não goste, adoro, como sabe). Quando vi a palavra "cu" no fim é que percebi que era o palavrão, mas como não é um palavrão detestável, está perdoado!

Mas o que posso retirar do vídeo é que o poema/anedota é poesia visual e auditiva, cheia de aliterações em "s" ou em "r". É visual porque o nosso olhar viaja pelas palavras escritas como se o ecrã fosse uma prisão, ou quem escreve estivesse numa prisão e aquele fosse o seu limite. Lembra-me até, e pelo contexto, pelo tipo de fonte usada, uma inscrição na pedra, entre os desenhos exorcistas do Neolítico às paredes das apinhadas prisões onde também se apanha muito "no palavrão", segundo dizem. Tive de ver o vídeo várias vezes para ver se encontrava mais algum palavrão, mas a menos que tenha a bondade de me explicar o calão ou a poesia subversiva com sotaque brasileiro, achei todo o poema bastante provocante, mas apenas no final o achei provocador. E sabe que mais: aquilo que se diz é a mais pura verdade. "I see straight people" (spooky!)
- o carteiro -

"Numa mão sempre a espada, e noutra a pena." (Lusíadas, canto VII)
Não tenho inveja – juro. Nem sequer saberia o que fazer com tanto dinheiro. Penso sempre “quantos bilhetes de metro isso daria para comprar?”. E é triste que a primeira vez que poste sobre acessórios de moda (eu que não sou nenhuma “Bomba Inteligente”, desculpem lá) seja neste contexto, mas alguém tem de denunciar a situação. Em nome do bom gosto.

Estava lá com os amigos quando alguém mostrou o site da loja CR7 (loja das irmãs, ou de uma das irmãs do Cristiano Ronaldo onde se vende a marca dele; ou seja, aquela roupa, com o rosto dele e com a imagem dele não se vende em mais nenhuma loja no mundo. Eu até agradeço). À parte da minha enorme falta de simpatia pelos ricos que saíram da pobreza, mas de quem a pobreza não saiu, devo dizer que a visita ao site é traumática.

Quem posa para os brincos é a proprietária da loja. Nada de mal, se na fotografia não se notasse os ouvidos sujos, os cabelos atrás das orelhas, e a coloração do cabelo a findar o prazo de validade. Recomendava-se o retoque em Photoshop ou uma modelo à altura dos tantos milhões de bilhetes de metro que eu poderia comprar.


O mesmo se passa com o calçado: quem posa para as sandálias (uma versão “Tróia” encontra “Guerra das Estrelas” na ilha da Madeira), deverá ser, por esta ordem de ideias a irmã. O pé é paquidérmico (não tem a curvinha do tornozelo), as unhas mal arranjadas, os dedos dos pés parecem leitõezinhos (os meus também, mas eu não poso) e os pelos das pernas já aparecem. Neste caso recomendava-se já uma modelo de pés, pois aquilo é inadmissível.


A marca dividiu a parte “Pulseiras” em “Bracelets” (exactamente como está escrito). Ora eu queria saber o que distingue uma pulseira de uma bracelet, porque para mim, que chamo as carteiras pelos nomes (uma Birkin, uma Louis Vuitton Patchwork, uma Giant Envelope Baleciaga), uma bracelete e uma pulseira são a mesma coisa. Mas vá, sejamos benevolentes no preciosismo, até porque no português ainda há muito a apontar. A fotografia das bracelets dava emprego a mais uma modelo sem problemas de pigmentação ou pele seca. É o que faz ser poupadinho!


A megalomania ronaldesca não passa despercebida, principalmente para quem prestar atenção aos colares/ terços – porque pelos vistos a CR7 vende bracelets para mulher, mas não vende colares, vende terços. No local onde deveria estar uma “Salve Rainha” está o símbolo CR7. Ele é Deus? É porque se é Deus, também deve ser Rei. Atente-se na fotografia do boné. O boné está pousado num banco, numa almofada. Que eu saiba, em Portugal quem pousa o que cobre a cabeça numa almofada é o Rei porque a coroa é dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Se calhar o Ronaldo é o D. Sebastião do paroquialismo e nós não sabemos.




Temos que falar abertamente mal do logótipo CR7. Com aquele itálico feito em Corel (you wish!) eu já estou a ver o logótipo a sair do cabeçalho do site, da fivela dos cintos e das costas das t-shirts para publicitar um carro, dar nome a uma banda portuguesa, ou indicar um apartamento em Armação de Pêra. Qualquer dia aparecerá um Ronaldo Action Man ou um Hello Cristy, pronto a manter relações íntimas com a Barbie Veterinária, com a Polly Pocket até com a Popota.Por fim, o português: expressões como “camisola largona”, “top de amarrar atrás”, “Castanho puxando o cinza” e “carteira em pele genuína” quando esta custa trezentos euros é um atentado à nossa língua que já sofre o suficiente com as mensagens de telemóvel. Uma mala que custa trezentos euros tem de ser de pele genuína.
Sei que estão a pensar "mas isso nem interessa ao Menino Jesus" (que Deus Nosso Senhor o tenha lá em cima a desafiar eternamente a lei da gravidade na unidade do Espírito Santo, Amén, Graças a Deus, Graças a Deus, Ide em Paz e que o Senhor vos acompanhe), mas não consigo, não acho normal. É impossível que ainda se façam coisas destas!

quarta-feira, junho 10, 2009

- original soundtrack -


Wild thing...
you make my heart sing...
You make everything
Groovy
I said wild thing...

Wild thing, I think I love you
But I wanna know for sure
Come on, hold me tight
I love you

Wild thing...
you make my heart sing...
You make everything
Groovy
I said wild thing...

Wild thing, I think you move me
But I wanna know for sure
So come on, hold me tight
You move me

(Wild Thing, The Troggs)
- não vai mais vinho para essa mesa -

- Tou sim?
- Sim?
- Ólhe daqui é a dona Cristina... É da betrinária, num é? Ólhe dótôra é que... lembra-se do gato? Tá cheio de pulgas...
- Não, não é do veterinário.
- Ó dótôra Cristina...
- Não, não sou doutora.
- Mas olhe, o gato tá cheio de pulgas e eu inté já lhe cumprei o remédio, mas o gato tá cheio de pulguedo... Tou... é da betrinária, num é? Daqui é a dona do gato...
- Hei, hei, hei [já a perder a paciência]. Eu não sou veterinária e não sou a doutora Cristina. Está a ligar para o número errado.
- Ai istou?
- Está
- É ingano?
- É.
- ... intão... agora o qué queu faço ao gato?
- Coce-o.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou como, "não, não vi o musical do La Feria e não gostei" ou como "mais uma viagem pelo mundo de outras artes, a saber, pela sétima arte (o cinema) e pela fotografia, a oitava arte (pós-definição de Ricciotto Canudo). Afinal de contas, enquanto cá estou vou-me divertindo.

O antes é uma imagem retirada do prólogo de filme West Side Story quando os Jets tentam marcar território frente aos Sharks. Riff dança com os seus colegas dos Jets na cena de abertura do filme.

Em baixo podemos ver uma produção da Vanity Fair com a Jennifer Lopez, o Rodrigo Santoro e a objectiva de Mark Selinger, a propósito da estreia de mais uma revisitação do musical nos palcos da Brodway. Não há muito a dizer. As fotografias desta produção estão boas (um bocadinho photoshopadas a mais), ainda não percebi o que é que o Rodrigo Santoro está a fazer lá, e acho que devia postar isto.

Jerome Robbins
West Side Story
1961



Mark Selinger
Vanity Fair
2009
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

este post bem podia intitular-se "diz-me que cão tens e dir-te-ei o teu grau nobiliárquico". Mas não. Vai chamar-se "onde há cães, há pulgas", um provérbio a sério (o outro era adaptado) e que não deixa de ser verdade porque naquele tempo as pessoas não eram muito amigas do banho.


"onde há cães, há pulgas" (olha... isto seria um bom provérbio para Islão justificar a sua repulsa por cães. Chiça, ainda bem que eu não professo).

Primeiro comecei por achar que a presença de cães nas pinturas tinha qualquer misticismo associado. Um simbolismo "códigodavinciano", mas com bom gosto. Depois deixei-me disso porque percebi que não havia simbolismo imperceptível: o cão nas cenas caseiras tinha como o objectivo torná-las mais caseiras. Qual é a família posta que não tem uma Última Ceia na parede, bebés lesmas no chão e um cãozinho a coçar-se ou a lamber as partes pudibundas (eu sei, estou a ser má)? No entanto (porém, contudo...), havia quadros onde esta presença não se justificava: o retrato real. O que é que tinha a ver um cão no colo de um monarca. Se o monarca simboliza o poder divino (no caso do Absolutismo) e se a monarquia se serve de toda uma série de rituais e reserva para si um conjunto de privilégios, qual a razão para ver reis e rainhas em trajes catitas com um cão ao colo - prerrogativa que poucos humanos (às vezes nem mesmo os filhos) tinham? A razão é simples (depois de descoberta, é simples, claro). É que mesmo os cães são um símbolo de poder. Ou vocês pensam que os membros da monarquia posavam com qualquer rafeiro mal engendrado. Não senhor! Tudo com caninos com pedigree e raça reconhecida nos anais e nos quadros, que são como os anais (detesto esta palavra). A Monarquia preferia os cães de pequeno porte, miniaturizados, segundo se pensa a partir dos cães de grande porte. Os Greyhound italianos e as Miniatura Spaniel são versões mais pequenas do original. Eram esteticamente agradáveis, eram pequenos e por isso cabiam em qualquer colo e não faziam grandes asneiras. Eram portanto, cães decorativos. Hoje está provado que, mais do que serem decorativos, eram cães com capacidade para desenvolver afectos por humanos para além de terem um efeito benéfico sobre os idosos, os doentes e os deficientes. Em certos casos conseguem mesmo acelerar o processo de recuperação ou atenuar uma depressão. Mais, afagá-los pode diminuir a pressão arterial. Além disso, são tão protectores em relação aos donos, que os latidos estridentes afastam qualquer intruso (tamanho não é qualidade). Mas nem todas as raças foram desenvolvidas com o objectivo de decorar: o Spaniel Tibetano foi usado para rodar as caixas cilíndricas com orações gravadas, a troco de uma moeda. O Turnspit, como o nome indica foi criado para fazer rodar o espeto no qual se assava um animal de caça. Entre os principais apreciadores, coroados, de cães realçamos a Rainha Maria da Escócia, a Rainha Vitória, Maria Antonieta, Madame Pompadour e Alexandra da Rússia. Mas já antes destas datas, na Idade Média era relativamente comum as pessoas levarem os seus pequenos cães à missa para estes lhes aquecerem os pés.


Uma das raças mais divulgadas e preferida pela monarquia europeia era o Bichon Frise que chegou à Europa vindo das ilhas Canárias, por volta do século XIV. No século XVI os Bichon Frise eram o "must have" das cortes francesas, que apreciavam igualmente raças de pequeno porte. os cães de grande porte eram usados para caçar, nunca para posar. Excepto se o retrato pretendia dar a conhecer os dotes de predador do retratado. Foi com Francisco I de França e Henrique III (também de França) que os Bichon Frise tiveram o seu auge. Diz-se até que este último, o rei Henrique III gostava tanto do seu Bichon que o levava para todo o lado numa espécie de cesto que trazia ao pescoço preso por laçarotes. Como tudo o que o rei faz, os outros fazem, foi natural o aparecimento do Bichon Frise em outras cortes com um tratamento mais próximo do dado a uma boneca do que a um animal: o cão era mimado com massagens, perfumado e enfeitados de tal forma que os Bichon deram origem a um verbo; o verbo "bichonner" (que quer dizer "pôr-se bonito/a", "cuidar-se"). A moda dos Bichon Frise passou na corte francesa dos períodos referidos, mas voltou um pouco mais tarde com a corte de Napoleão III e era o preferido de muitos artistas.

Goya
Les Jeunes or the Young Ones
1812-14
Musée des Beaux-Arts, Lille


Goya
The Duchess of Alba
1795
Collection of the Duchess of Alba, Madrid





Goya
The Family of the Duke of Osuna
1788
Museo del Prado, Madrid



Ticiano
Federico Gonzaga, Duke of Mantua
1529
Museo del Prado, Madrid



Os Brussels Griffon , são cães de origem belga que vêm do Griffon Anão. Há variedades da Bélgica, de Brabante e de Bruxelas que se distinguem pela cor do pelo e pelo feitio do mesmo. (para perceber melhor a raça, ver o link). Como não podia deixar de ser, era o cão preferido do Rainha Astrid da Bélgica. Durante a Segunda Guerra Mundial esta raça esteve quase extinta, mas devido ao envolvimento da família real belga na criação de clubes dedicados aos griffon criados por iniciativa régia nos Estados Unidos e em Inglaterra, foi possível, depois da guerra, recuperá-la. Algusn criadores ingleses fizeram o necessário para reavivar a presença dos Brussels Griffon. Hoje a raça já é mais conhecida e podemos vê-la no filme "Melhor é Impossível" (lembram-se do cão do vizinho que Jack Nicholson atirou pela conduta do lixo?).
Rainha Astrid da Bélgica



Uma das rainhas mais dedicadas aos cães foi a Rainha Vitória, e entre os muitos cães que criou estava o Pug. Como aquilo que o rei usa é lei, os pug eram obrigatórios em qualquer casa de sociedade que se prezasse. Entre os vários apreciadores reais da raça estão, para além da Rainha Vitória, Henrique II de França, Maria Antonieta, a Imperatriz Josefina e uma cabeça não coroada, mas nem por isso menos importante: o pintor William Hogarth ("Trump" era o nome do cão do pintor que ele incluiu em vários trabalhos). O seu ponto de origem foi o Oriente, mas foram trazidos para Ocidente por mercadores que faziam a rota que passava pela China e mais curioso é que o seu nome, Pug, é uma palavra antiga que tanto quer dizer "duende" como "nariz arrebitado" ou "macaco pequeno". De facto uma das características do Pug é o seu focinho achatado. Na corte inglesa os Pug entraram pela mão de William III e pela Rainha Maria II da Escócia quando esta regeu o reino em 1689. Outros criadores famosos de pug foram a duquesa Charlotte of Mecklenburg-Strelitz, esposa do Rei Jorge III, que como alemã mantinha na corte inglesa pugs de origem alemã. Mas quem gostava mesmo dos Pug era a Rainha Vitória que tinha em Bully o seu cão preferido.


Hogarth
The Painter and his Pug
1745
Tate Gallery, Londres





Goya
Marqueza Pontejos
1786
National Gallery of Art, Washington



Mas aquela raça que mais prazer deu a investigar e a que acabou por dar o empurrãozinho que faltava para escrever este post foi a Cavalier King Charles Spaniel. Andava eu, já no tempo dos posts sobre a história da moda, a investigar como se vestia o rei Carlos qualquer coisa de qualquer lado, quando percebi que ele era muito parecido com um cão. Mas deixei-me estar. Em conversa com uma criadora de Labradores me mostrou o King Charles (cão). O King Charles tem o nome que tem devido ao rei Carlos II de Inglaterra, embora já existisse em outras cortes europeias. Mas é de facto com este monarca que o cão adquire o nome pelo qual viria a ser conhecido. O rei fez questão de ser pintado com os seus King Charles por Van Dyck. Já antes o pai de Carlos II, o rei Carlos I mostrou o seu afecto pelos cães, raramente era visto sem o seu King Charles, e passou-os aos filhos, como vemos na imagem. O filho Carlos II gostava tanto dos King Charles que decretou que cães desta raça não poderiam ser proibidos de entrar em nenhum lugar público, incluindo a Casa do Parlamento (Palácio de Westminster). No entanto, tanto a rainha Isabel I como a sua rival “Mary, Queen of Scotland” foram proprietárias de pugs. Existe até uma história que diz que a rainha Maria os mantinha por perto mesmo nos seus momentos mais íntimos. Não terá sido um momento íntimo, com o povo a vê-la ser decapitada, mas também se diz que depois de ser decapitada o executor descobriu um pug a sair da saia da rainha, ainda um pouco sonolento. Conta a história que tinha adormecido debaixo das saias da rainha.


Franz Cleyn
Three Eldest Children of King Charles I in 1635: King Charles II (1630-1683) when Prince of Wales, King James II and VII (1633-1701) when Duke of York, Mary, Princess of Orange (1631-1660)


Ticiano
Eleonora Gonzaga
1538
Galleria degli Uffizi, Florença


Velazquez
Infante Felipe Próspero
1660
Kunsthistorisches Museum, Viena




Por fim, para acabar uma lista de muitos, deixo-vos com o Papillon. O Papillon é engraçado pois o seu focinho, visto de frente tem a forma de um laçarote. Era o cão de colo favorito da nobreza espanhola e francesa. Podemos no cantinho da cama da Vénus de Urbino de Ticiano, ou, neste caso, no colo de uma duquesa europeia. Há outra história relacionada com os cães e a morte dos seus proprietários famosos. Enquanto pug adormeceu debaixo das saias de Maria da Escócia, o Papillon de Maria Antonieta foi levado ao colo por ela, enquanto ela se dirigia para a guilhotina.

Henrietta Anne - Duquesa de Orleans
XV
Musee Carnavalet, Paris
[
link]
- o carteiro -
O Cristo Abissínio:
Diz a História que em 1494 Duarte Galvão chega à Etiópia, reino também conhecido como Prestes João, onde se julgava estar um poderoso reino cristão no Oriente. Antes desta embaixada, já em 1495 o rei D. Manuel havia enviado Pêro da Covilhã para entrar em contacto com o único reino cristão no Oriente. Julgava-se que o Prestes João era um reino tão rico e tão exótico que teria a forma do Tabernáculo que por sua vez é uma réplica daquilo que seria o templo perfeito: imagem do Céu na Terra. Porém a terra revelou-se pobre e oprimida pelas nações circundantes que eram de maioria muçulmana. Mais tarde, e como foi dito, D. Manuel envia uma outra embaixada à Etiópia e desta vez, com oferendas valiosas para os etíopes. Entre elas leva o Cristo Abissínio, uma pintura cujo traço se desconhece a nacionalidade, mas que foi oferta do rei português e que representava um Cristo. A imagem adquiriu tal importância que era colocada à cabeceira da cama do monarca, era levada com estandarte na frente da linha de batalha e tinha já adquirido um estatuto simbólico (as populações depositavam na imagem muita devoção) quando a Etiópia foi “invadida” por ingleses. À volta do país existiam muitas colónias inglesas e alguém, informado do valor que o Cristo da Abissínia possuía, pilhou a imagem e levou-a para Inglaterra. Os etíopes entraram em contacto com os ingleses, já no reinado de Isabel II para que a imagem fosse devolvida à Etiópia, mas a Inglaterra negou conhecer sequer a existência de tal peça. Ela não só existia em território inglês como foi vendida por um assessor do reino à Christie’s. Ora a leiloeira que é muito cuidadosa na avaliação das peças e leva sempre a leilão obras devidamente identificadas, vendeu o Cristo Abissínio. A quem? A um comprador português, de Coimbra que entretanto faleceu. Os herdeiros têm o quadro e podiam, a meu ver, por uma questão de cordialidade cedê-la de novo à Etiópia. Legalmente, a família não tem que o fazer. A lei que ordena a devolução de obras de arte pilhadas ou adquiridas após pilhagem é de 1932, mas não tem efeitos retroactivos; ou seja, só abarca o que foi pilhado depois desse ano.

Mas na minha cabeça a Etiópia é um país pobre. A imagem que tenho desse país hoje é a mesma de há alguns anos, quando a seca e as constantes batalhas com países rivais faziam as parangonas dos telejornais. Ainda que o país tenha evoluído, o que é que vale mais: a preservação de uma obra de arte em local visitável, com boas condições de conservação da peça e sem grandes riscos de pilhagem ou destruição, ou no país de origem seja ele qual for. Outro exemplo é o Mali. Muitos dos leilões de obras de arte africanas são feitos com peças do Mali, algumas de proveniência e método de aquisição muito dúbio. No entanto, mesmo que o país tenha todo o direito a receber a peça, não tem de criar primeiramente, condições para a receber e manter com as condições mínimas?
- não vai mais vinho para essa mesa -



palavras que mais detesto:
- enxertar
- braguilha
- aquele palavrão que se refere ao órgão sexual feminino


palavras mais agradáveis:
- nuca
- massachussets

sábado, junho 06, 2009

- back to black -

"Porque afinal essa sua vida ("a vida de todos os dias") é a única que eu amo. Simplesmente não a posso existir... E orgulho-me tanto de não a poder viver... orgulho-me tanto de não ser feliz... Cá estamos: a maldita literatura..."

(A Confissão de Lúcio, Mário de Sá-Carneiro)

quinta-feira, junho 04, 2009

- original soundtrack -


(Summertime, Miles Davis)
- não vai mais vinho para essa mesa -


[no hotel]
- Hola!
- Olá.
- Has venido en coche?
- Não!!! Viemos de carro. Qual coche qual quê?


(Salvattore stupido, stupido, stupido)
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou como "tudo o que se ignora, se despreza (Sófocles) ", ou como "ainda há pouco tempo perguntaram-me: "gostas de fotografia?". Ao que respondi "sim". E que apesar de não ter muitos conhecimentos de nomes, gostava de fotografia de moda, de Ellen von Unwerth, de Tim Walker, Eugenio Recuenco, Helmut Newton e outros... Valha-nos santo Onofre que "caiu o carmo e a trindade": "Que não", "que ai Meu Deus", "Que ela é fútil", "Que bonitas são as fotografias de barcos a desmaiar ao pôr-do-sol, e de gaivotas a rasar a água". Pois eu acho que mesmo nas coisas ditas fúteis estão nos pequenos pormenores que separam os que olham dos que vêem. Por alguma razão a fotografia é arte e por alguma razão a moda, em certos casos também é arte.

No vídeo "Justify my love" da Madonna ("Ai Meu Deus, que ela é parola e gosta da Madonna"), o responsável foi Mondino. Não sou apreciadora da estética de Mondino, mas sei uma coisa: a Madonna pode não ser grande cantora, mas é uma grande artista e tem uma boa equipa atrás dela. O trabalho de Mondino para este vídeo está muito bom. É a prova de que 20 anos após o lançamento da música, Madonna continua tão actual como antes. O vídeo foi banido da MTV por conter cenas de sexo (considerado) explícito e por fazer alusões à homossexualidade, às orgias e ao voyeurismo. Ah... e ao Cristianismo que sendo muito bom para o povo, não se pode misturar com os outros "ismos". (Quem estiver atento nota que no vídeo aparecem pelos menos três crucifixos). A fórmula parece banal, mas na época foi chocante: uma mulher de roupa interior rendada e cinto de ligas a beijar vários homens e mulheres, a simular cenas de sexo, letra que, não fazendo muito sentido, sussurrada até parecia mel... Foi tão polémico que a cantora decidiu fazer um vídeo em VHS e vendeu-o como single. Até hoje foi o single neste formato mais vendido de sempre. Hoje, as princesas e as duquesas da pop continuam a aparecer despidas. Mas depois do preto/branco da Madonna a realeza pop apenas consegue esgares de cupidez e concupiscência já adivinhados. A fórmula é vencedora, não tenhamos dúvidas; é a prova que as pessoas emprenham pelos olhos, mas já não é a mesma coisa.
Quando o Mondino criou o vídeo não pensou apenas na Igreja Católica e no corpo da Madonna e no facto de a música não ser cantada mas suspirada. Pensou também no cinema italiano e mais concretamente neste filme: "Il Portiere di notte" de Liliana Cavani. É um filme italiano de 1974 com Charlotte Rampling fala de uma Europa pós-nazismo e em reconstrução, passando pelas transgressões sexuais como forma de sobreviver num meio que já não é o de guerra por intervenientes que apenas viveram das atrocidades que cometiam.


Liliana Cavani
Il Portiere di notte
1974



Madonna
Justify my love
1990


Liliana Cavani
Il Portiere di notte
1974



Madonna
Justify my love
1990
- o carteiro -

Jesus ou o Rei-Lagarto

Este post não é sobre Jim Morrison, mas sim sobre o Basilisco enquanto criatura mitológica e animal “national geographicamente” falando. Enquanto animal, é este aqui também conhecido por Jesus Lizard. O nome deriva de basilískos, vem do grego e quer dizer “pequeno rei”. O que é que tem uma coisa com a outra? Como viram no vídeo o basilisco tem como principal característica o “poder” de correr sobre a água, quase da vertical e rapidamente. Jesus caminhou sobre água, daí o nome “Lagarto Jesus” ou “Jesus Lizard” ou “Pequeno Rei” (para Santo Agostinho, o Basilisco era “rei das serpentes” como o Diabo era “rei dos demónios”).
Mas para a religião este animal, enquanto ser mitológico não tinha nada de agradável, apreciável ou comparável com Cristo. Era até considerado como fazendo parte do grupo de entidades do mal como a Quimera, o Diabo, a Serpente ou Dragão. Não tem uma referência bíblica, mas existe na iconografia das nossas igrejas, como fruto da imaginação dos artistas. Aliás, se repararmos, estes animais ou seres movem-se rastejando, ou rastejando uma parte do corpo e logo aí notamos a conotação com todos os animais que passaram a rastejar depois do castigo no Éden.
O Basilisco nasceu de um ovo de galo chocado por um sapo, nascendo por isso com corpo de serpente e cabeça de pássaro. Segundo as descrições da literatura zoológica fantástica, o Basilisco seria muito baixo, mas possuía um silvo estridente que colocava a milhas de distância todos os outros répteis. O veneno era poderoso e fatal, tanto para as outras espécies como para o homem, para a terra e para o ar. Só a doninha é capaz de matar o Basilisco graças ao cheiro ainda mais pestilento que o seu anûs larga, ou o galo (pai) com o seu canto. Mais, o basilisco é tão mortal que o seu olhar fulmina e a terceira forma de o matar era portanto colocá-lo à frente de um espelho. Da sua origem estranha herda, para a iconografia o aspecto larvar, como um girino, um batráquio ou as duas. Tem também cabeça e patas de galo, asas de dragão, corpo de ofídeo, crista ou coroa, bico e plumagem facial. Do sapo herda a natureza cnótica, a venenosidade e o olhar fulminante. Estranho mesmo é que um monstro com estas características “baixe a crista” ao canto do galo. Isto quer dizer que numa escala de silvos, o Basilisco perde para um galináceo. Em vez de ser um super monstro, é um pseudo galináceo. Há então no Basilsisco uma dualidade que se pensa haver em Cristo. Lúcifer era o irmão de Cristo que segundo Irineu era um anjo celeste que sentiu inveja do homem criado e se revoltou. Há quem fale de uma progenitura entre Jesus e o Diabo; que ambos partilhavam a mesma origem. Mas esta posição herética é criticada e erradicada logo no Antigo Testamento. Se o anjo celeste sentiu inveja e caiu em pecado, porque se torna esse pecado irreversível, uma vez que o Mal vem do Bem e vice-versa. São dois opostos que se reconhecem e que só existem na ausência do outro. Isto quer dizer que quando o Bem se vê ao espelho, vê também o Mal, pois eles são parte da mesma natureza.




Anónimo
Christ
c. 1220
Cathedral, Amiens

Esta dualidade de Cristo nunca foi bem explicada ou pelo menos nunca foi bem mostrada pela Igreja. Veja-se quando Ele fala, na presença de Tomé, sobre o comportamento que um apóstolo deve ter diz: Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas.(Mateus 10; 16) Isto poderá indicar a referida aproximação entre Cristo e o Diabo, pois os seguidores de Nosso Senhor tão depressa se mascaram de Bem como de Mal. Aliás, existe um texto apócrifo, os Actos de Tomé sobre a sua viagem à Índia e a descrição da sua morte. Nele apresenta-se um episódio em que o Diabo tenta seduzir uma jovem mulher apenas porque esta pretende manter-se fiel a um “homem jovem e belo”, o Diabo assume a forma de uma serpente negra e envenena a dita mulher. Tomé enfrenta a serpente e vence-a, por palavras, obrigando-a a reabsorver o próprio veneno que ela tinha destilado no corpo da mulher. Quando nota que a sua identidade foi posta a nu, o diabo recrimina Tomé por ousar apresentar-se perante os homens como o companheiro de Cristo, aquele que veio à Terra como um homem vulgar quando na verdade era o filho de Deus e cuja carne serviu de alimento. Mesmo sendo um texto apócrifo, nota-se a semelhança entre Cristo e o Demónio.

Anónimo
São Miguel a matar o Basilisco
1295


A relação com o Basilisco vem deste poder de transformação e confrontação. O Basilisco é essencialmente um animal de chão que só é defrontado pela doninha (à excepção do galo, mas o galo tem um poder parietal sobre o Basilisco, logo não conta). A doninha no entanto reúne mais características predatórias: tanto se desloca debaixo da terra como sobe às árvores ou caça peixes nos rios. Ela atinge o Alto e o Baixo. Visto que ambos exalam cheiros pestilentos, o do Basilisco é venenoso, logo é podre, enquanto a doninha pode até ter um hálito fresco. Quando era mordida a doninha ingeria arruda, uma erva muito falada pela suposta capacidade de afastar o mau-olhado. A arruda também é utilizada para aumentar o fluxo sanguíneo, para aumentar a potência sexual ou para combater o escorbuto graças a forte presença de vitamina C. Isto quer dizer que o par Doninha/Arruda se opõe com maior eficácia ao par Basilisco/Silvo/Olhar/Cheiro. O par Cristo/Basilisco (que só morre se se olhar no espelho, se notar a sua presença, que só morre pela acção do Pai) opõe-se por isso ao par Diabo/Doninha.

Anónimo
The basilisk and the weasel
Universidade de Toronto
- o carteiro -

estava para colocar esta curiosidade num "antes e depois" mas, "como eu istô pôdendo", vou colocar aqui. No dia 13 de Maio o New York Times noticiava a descoberta de uma estátua de uma deusa da fertilidade com mais de 35 mil anos. O título era "Ancient figurine of voluptuous woman is found". (Voluptuoso vem do latim - volutas - e quer dizer "prazer") Vários sites, que recolhem os artigos mais importantes de jornais e agências de publicidade publicaram o artigo do New York Times. Eis senão quando (adora esta expressão!), o New York Times muda o título "Ancient figurine of voluptuous woman is found" (aqui, aqui e aqui) por este menos sensualista, mas também menos interessante (já sabem como é, desce o nível, mas sobe o interesse): "Full-Figured Statuette, 35,000 Years Old, Provides New Clues to How Art Evolved". Poderia pensar-se que estamos perante uma actualização do artigo, mas não. Se compararmos vemos que o texto do primeiro link, do segundo e do terceiro é exactamente o mesmo que o texto original do New York Times. E vemos também que se seguirmos os links dentro dos sites indicados que levam ao artigo no New York Times, o título mudou. Parece que lá para aqueles lados os títulos já começaram a comer "corpos Danone" (Volta Rubens, estás perdoado!)
Quem também emagreceu muito neste últimos tempos foram os jornais franceses, em comparação com a volúpia (cá está!) dos jornais brasileiros. Vamos lá ver: "Aujourd'hui en France" vs "O Globo",




e "Libération" vs "Correio Braziliense".


Perante as tragédias há sempre a tentação de usar termos como "inexplicável", "indizível", "catastrófico" ou "não há palavras para descrever". Os jornais franceses levaram esta tendência tão a sério que, apesar de os "olhos comerem" pelas fotografias das capas, a informação é nula. Os dois jornais franceses falam de mistério. Isto para mim é o jornalista a eximir-se da sua função de informar usando como subterfúgio de costas largas, o mistério. Grandes fotografias, mas títulos pobres emagrecem muito o interesse de um jornal. Ainda assim prefiro o estilo brasileiro: mais popularucho, é certo, mas com mais conteúdo. É que eu quero um jornal com o peito cheio como uma rola na época do acasalamento.

Hoje, abre-se uma revista, liga-se a televisão, vai-se ao blog e está-se logo a levar com publicidade para emagrecer, para ficar com o corpo perfeito, sem estrias, sem celulite, sem centímetros a mais, sem poros... Não sei se já repararam, mas na fotografia publicitária as senhoras nunca têm poros no corpo. Nem sinais. Apesar das dietas de Verão, e da manteiga magra, e da água com fibras e dos iogurtes com bífidos e dos auto-bronzeadores adelgaçantes e das sapatilhas que emagrecem só de se olhar para elas, e dos pudores no palavreado, "Some like it hot" (nunca vistas da mulher mais bonita de sempre).
Eu cá tenho de desemagrecer, o que é uma grande chatice. Acima de tudo porque está calor e isto de desemagrecer é coisa que dá muito trabalho. Depois porque não sei se quero. Depois porque quando uma pessoa desemagrece, os celerados da linguagem dizem logo "estás tão bem! Estás mais gorda". Ora esta é a palavra com que uma pessoa não quer levar quando está a ser atacada em duas frentes: à sua frente a publicidade e atrás de si a suas omoplatas salientes. Eh pá controlem-se!
- o carteiro -

Caro AM:

Andava há muito tempo a namorá-lo (ao livro! Salvo seja!), mas não queria comprar nem a edição inglesa - porque achava que podia faltar alguma palavra no meu vocabulário que depois limitaria a compreensão da obra e recusava-me a adquirir a versão com a Nicole Kidman na capa porque... não acho a Nicole Kidman boa actriz (o difícil nos filmes não é chorar, o difícil é rir. Ver "Eyes Wide Shut"). Por isso lá andei à procura e encontrei esta capa mais bonitinha ainda que com um itálico aplicado no título, mas nada comparado com o que tinha visto até aí. É que os olhos também comem livros! E apesar de já estar com a leitura avançada para não consigo perceber a razão da recomendação.