quinta-feira, junho 04, 2009

- o carteiro -

Jesus ou o Rei-Lagarto

Este post não é sobre Jim Morrison, mas sim sobre o Basilisco enquanto criatura mitológica e animal “national geographicamente” falando. Enquanto animal, é este aqui também conhecido por Jesus Lizard. O nome deriva de basilískos, vem do grego e quer dizer “pequeno rei”. O que é que tem uma coisa com a outra? Como viram no vídeo o basilisco tem como principal característica o “poder” de correr sobre a água, quase da vertical e rapidamente. Jesus caminhou sobre água, daí o nome “Lagarto Jesus” ou “Jesus Lizard” ou “Pequeno Rei” (para Santo Agostinho, o Basilisco era “rei das serpentes” como o Diabo era “rei dos demónios”).
Mas para a religião este animal, enquanto ser mitológico não tinha nada de agradável, apreciável ou comparável com Cristo. Era até considerado como fazendo parte do grupo de entidades do mal como a Quimera, o Diabo, a Serpente ou Dragão. Não tem uma referência bíblica, mas existe na iconografia das nossas igrejas, como fruto da imaginação dos artistas. Aliás, se repararmos, estes animais ou seres movem-se rastejando, ou rastejando uma parte do corpo e logo aí notamos a conotação com todos os animais que passaram a rastejar depois do castigo no Éden.
O Basilisco nasceu de um ovo de galo chocado por um sapo, nascendo por isso com corpo de serpente e cabeça de pássaro. Segundo as descrições da literatura zoológica fantástica, o Basilisco seria muito baixo, mas possuía um silvo estridente que colocava a milhas de distância todos os outros répteis. O veneno era poderoso e fatal, tanto para as outras espécies como para o homem, para a terra e para o ar. Só a doninha é capaz de matar o Basilisco graças ao cheiro ainda mais pestilento que o seu anûs larga, ou o galo (pai) com o seu canto. Mais, o basilisco é tão mortal que o seu olhar fulmina e a terceira forma de o matar era portanto colocá-lo à frente de um espelho. Da sua origem estranha herda, para a iconografia o aspecto larvar, como um girino, um batráquio ou as duas. Tem também cabeça e patas de galo, asas de dragão, corpo de ofídeo, crista ou coroa, bico e plumagem facial. Do sapo herda a natureza cnótica, a venenosidade e o olhar fulminante. Estranho mesmo é que um monstro com estas características “baixe a crista” ao canto do galo. Isto quer dizer que numa escala de silvos, o Basilisco perde para um galináceo. Em vez de ser um super monstro, é um pseudo galináceo. Há então no Basilsisco uma dualidade que se pensa haver em Cristo. Lúcifer era o irmão de Cristo que segundo Irineu era um anjo celeste que sentiu inveja do homem criado e se revoltou. Há quem fale de uma progenitura entre Jesus e o Diabo; que ambos partilhavam a mesma origem. Mas esta posição herética é criticada e erradicada logo no Antigo Testamento. Se o anjo celeste sentiu inveja e caiu em pecado, porque se torna esse pecado irreversível, uma vez que o Mal vem do Bem e vice-versa. São dois opostos que se reconhecem e que só existem na ausência do outro. Isto quer dizer que quando o Bem se vê ao espelho, vê também o Mal, pois eles são parte da mesma natureza.




Anónimo
Christ
c. 1220
Cathedral, Amiens

Esta dualidade de Cristo nunca foi bem explicada ou pelo menos nunca foi bem mostrada pela Igreja. Veja-se quando Ele fala, na presença de Tomé, sobre o comportamento que um apóstolo deve ter diz: Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas.(Mateus 10; 16) Isto poderá indicar a referida aproximação entre Cristo e o Diabo, pois os seguidores de Nosso Senhor tão depressa se mascaram de Bem como de Mal. Aliás, existe um texto apócrifo, os Actos de Tomé sobre a sua viagem à Índia e a descrição da sua morte. Nele apresenta-se um episódio em que o Diabo tenta seduzir uma jovem mulher apenas porque esta pretende manter-se fiel a um “homem jovem e belo”, o Diabo assume a forma de uma serpente negra e envenena a dita mulher. Tomé enfrenta a serpente e vence-a, por palavras, obrigando-a a reabsorver o próprio veneno que ela tinha destilado no corpo da mulher. Quando nota que a sua identidade foi posta a nu, o diabo recrimina Tomé por ousar apresentar-se perante os homens como o companheiro de Cristo, aquele que veio à Terra como um homem vulgar quando na verdade era o filho de Deus e cuja carne serviu de alimento. Mesmo sendo um texto apócrifo, nota-se a semelhança entre Cristo e o Demónio.

Anónimo
São Miguel a matar o Basilisco
1295


A relação com o Basilisco vem deste poder de transformação e confrontação. O Basilisco é essencialmente um animal de chão que só é defrontado pela doninha (à excepção do galo, mas o galo tem um poder parietal sobre o Basilisco, logo não conta). A doninha no entanto reúne mais características predatórias: tanto se desloca debaixo da terra como sobe às árvores ou caça peixes nos rios. Ela atinge o Alto e o Baixo. Visto que ambos exalam cheiros pestilentos, o do Basilisco é venenoso, logo é podre, enquanto a doninha pode até ter um hálito fresco. Quando era mordida a doninha ingeria arruda, uma erva muito falada pela suposta capacidade de afastar o mau-olhado. A arruda também é utilizada para aumentar o fluxo sanguíneo, para aumentar a potência sexual ou para combater o escorbuto graças a forte presença de vitamina C. Isto quer dizer que o par Doninha/Arruda se opõe com maior eficácia ao par Basilisco/Silvo/Olhar/Cheiro. O par Cristo/Basilisco (que só morre se se olhar no espelho, se notar a sua presença, que só morre pela acção do Pai) opõe-se por isso ao par Diabo/Doninha.

Anónimo
The basilisk and the weasel
Universidade de Toronto

3 Comments:

Blogger João Barbosa said...

basilisco lembra nome de patriarca da igreja ortodoxa ou de imperador de Bizâncio... ihihihih
.
ok! reconheço que foi só vontade de dizer qualquer coisa sem ter nada para dizer... não resisti.

4/6/09 5:00 da tarde  
Blogger Belogue said...

Caro João Barbosa:
o basilsico lembra-me o basílico, a planta aromática, que fica muito bem em pastas.

Espero que pelo menos tenha lido o post. Sei que metade daquilo que escrevo ninguém lê, mesmo quem comenta. só peço é que aqueles que vêm e comentam, que leiam.

5/6/09 12:17 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Li seu post, muito interessante. Aliás o basilisco, na minha opinião, é o animal fantástico mais interessante da mitologia grega! Ele mata só com o olhar e não se pode ver no espelho , porque isso causaria sua própria morte. Certa vez li que só as mulheres podem tocá-lo. E que existem algumas espécies diferenciadas de basiliscos, há o basilisco sem patas, que foi um ovo de galinha chocado por uma cobra e há o Cocatrice, que foi um ovo de galinha chocado por uma rã, este possui patas e todos são carnívoros. Mas, falando sinceramente, não vi semelhança alguma entre Jesus e o Basilisco. Eu acho que em questões de hibridismo, podem assemelhar-se ao basilisco, o ornitorrinco, o centauro, o lobisomen, o Hércules (principalmente este, pois além de ser semi-deus tem força descomunal e é "perigoso" para os inimigos). P.S.: Continue postando assuntos sobre mitologia. É sempre bom beber um pouco da fonte inspiradora de toda a literatura fantástica moderna.

1/12/09 4:41 da tarde  

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