- ars longa, vita brevis -
hipócrates
da China com amor
Aconteceu na China o que aconteceu aqui em Portugal depois de 2004. Após a “febre dos estádios”, que nos levou a construir mais estádios de futebol do que aqueles que efectivamente necessitávamos e que exigiam uma manutenção superior às capacidades das autarquias, os mesmos entraram num período de decadência. No estádio do Boavista joga um clube que esteve para terminar, em Leiria as ervas acumulam-se e em Aveiro, como o clube não sai da “cepa torta” e povo também não está para sair de casa e deslocar-se até à zona industrial para ver o Beira-Mar perder. Na China, após o muito falado e apreciado Ninho de Pássaro ter enchido o olho do mundo e o ego da China, deixou à sua obra o mesmo tratamento a que são votadas outras obras olímpicas: a negligência e o esquecimento. O estádio está vazio na maior parte das vezes que ali se realiza alguma competição, de tal forma que no mês passado a organização do estádio teve de baixar os preços dos bilhetes. Será da crise? Também, mas as receitas neste momento são tão magras que já há projectos para transformar partes da obra num centro comercial. Entretanto também se estuda a possibilidade da realização de óperas e espectáculos de entretenimento como a ópera Turandot encenada por Zhang Yimou (que foi concebida para celebrar os 60 anos no poder do Partido Comunista Chinês). Mas será isto suficiente? São 90 mil lugares. Qual é a probabilidade de se ouvir bem uma ópera? Ou uma peça de teatro? Ou de se ver bem e sentir interesse por um espectáculo de dança? Mais ou maior, neste caso, não é necessariamente melhor ou mais prático. Num momento em que cada vez tudo fica mais pequeno e concebido para um (os espaços de habitação, os automóveis, os telemóveis, etc), vai ser difícil encontrar alguma coisa grande para meter lá dentro.
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