- o carteiro -
estava para colocar esta curiosidade num "antes e depois" mas, "como eu istô pôdendo", vou colocar aqui. No dia 13 de Maio o New York Times noticiava a descoberta de uma estátua de uma deusa da fertilidade com mais de 35 mil anos. O título era "Ancient figurine of voluptuous woman is found". (Voluptuoso vem do latim - volutas - e quer dizer "prazer") Vários sites, que recolhem os artigos mais importantes de jornais e agências de publicidade publicaram o artigo do New York Times. Eis senão quando (adora esta expressão!), o New York Times muda o título "Ancient figurine of voluptuous woman is found" (aqui, aqui e aqui) por este menos sensualista, mas também menos interessante (já sabem como é, desce o nível, mas sobe o interesse): "Full-Figured Statuette, 35,000 Years Old, Provides New Clues to How Art Evolved". Poderia pensar-se que estamos perante uma actualização do artigo, mas não. Se compararmos vemos que o texto do primeiro link, do segundo e do terceiro é exactamente o mesmo que o texto original do New York Times. E vemos também que se seguirmos os links dentro dos sites indicados que levam ao artigo no New York Times, o título mudou. Parece que lá para aqueles lados os títulos já começaram a comer "corpos Danone" (Volta Rubens, estás perdoado!)
Quem também emagreceu muito neste últimos tempos foram os jornais franceses, em comparação com a volúpia (cá está!) dos jornais brasileiros. Vamos lá ver: "Aujourd'hui en France" vs "O Globo",
e "Libération" vs "Correio Braziliense".
Perante as tragédias há sempre a tentação de usar termos como "inexplicável", "indizível", "catastrófico" ou "não há palavras para descrever". Os jornais franceses levaram esta tendência tão a sério que, apesar de os "olhos comerem" pelas fotografias das capas, a informação é nula. Os dois jornais franceses falam de mistério. Isto para mim é o jornalista a eximir-se da sua função de informar usando como subterfúgio de costas largas, o mistério. Grandes fotografias, mas títulos pobres emagrecem muito o interesse de um jornal. Ainda assim prefiro o estilo brasileiro: mais popularucho, é certo, mas com mais conteúdo. É que eu quero um jornal com o peito cheio como uma rola na época do acasalamento.
Hoje, abre-se uma revista, liga-se a televisão, vai-se ao blog e está-se logo a levar com publicidade para emagrecer, para ficar com o corpo perfeito, sem estrias, sem celulite, sem centímetros a mais, sem poros... Não sei se já repararam, mas na fotografia publicitária as senhoras nunca têm poros no corpo. Nem sinais. Apesar das dietas de Verão, e da manteiga magra, e da água com fibras e dos iogurtes com bífidos e dos auto-bronzeadores adelgaçantes e das sapatilhas que emagrecem só de se olhar para elas, e dos pudores no palavreado, "Some like it hot" (nunca vistas da mulher mais bonita de sempre).
Eu cá tenho de desemagrecer, o que é uma grande chatice. Acima de tudo porque está calor e isto de desemagrecer é coisa que dá muito trabalho. Depois porque não sei se quero. Depois porque quando uma pessoa desemagrece, os celerados da linguagem dizem logo "estás tão bem! Estás mais gorda". Ora esta é a palavra com que uma pessoa não quer levar quando está a ser atacada em duas frentes: à sua frente a publicidade e atrás de si a suas omoplatas salientes. Eh pá controlem-se!
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