quinta-feira, novembro 29, 2012

- o carteiro -

cromo para troca:
AM, ontem na aula tive uma visão: o interior do palazzo grimani parecia-me, assim visto pela primeira vez uma coisa muito semelhante ao vestíbulo da biblioteca laurenciana do Miguel Ângelo. A fotografia não é boa, mas acho que estou certa. pelo menos senti-me certa (como se nestas coisas houvesse o "certo" e o "errado")














Miguel Ângelo
Biblioteca Laurenciana
1523-1559
Florença















Michel Sanmicheli
Palazzo Grimani
Veneza
após 1527

sexta-feira, novembro 23, 2012

- original soundtrack -










Lascia ch'io pianga
mia cruda sorte,
E che sospiri la libertà!
E che sospiri,
e che sospiri la libertà!
Lascia ch'io pianga
mia cruda sorte,
E che sospiri la libertà!

Il duolo infranga
queste ritorte
de miei martiri
sol per pietà,
de miei martiri
sol per pietà.

Lascia ch'io pianga
mia cruda sorte,
E che sospiri la libertà!
E che sospiri,
e che sospiri la libertà!
Lascia ch'io pianga
mia cruda sorte,
E che sospiri la libertà!

(Lascia ch'io pianga, George Frideric Handel)
- não vai mais vinho para essa mesa -

o soneto e a emenda

- Olá Sandra. Vou deixar aqui em cima da mesa um presentinho que lhe trouxe de Londres. Não é grande coisa.
- O que é?
- É um chá.
- Obrigada. Então foste a Londres?
- Fui, fui a Atenas e depois a Londres. E depois voltei.
- E gostaste?
- Adorei Atenas, apesar de estar muito descuidada e suja. E os monumentos são mesmo aquilo que vemos nos livros!
- Atenas é Itália, não é?
- ... Não, Atenas é Grécia, Sul da Europa.
- Ah... Desculpa lá, é que eu nunca fui muito boa a História.
- ars longa, vita brevis-
hipócrates


antes e depois ou como já não há nada para inventar. estava aqui a ver uns frescos para Santa Maria Novella, do Alberti, quando descobri esta Verónica (aquela que deu a Jesus, quando este estava a caminho do calvário, um pano para ele limpar o rosto. o rosto dele ficou impresso no pano. talvez por isso - acho que já disse isto aqui - Verónica quer dizer "vero ícone", a verdadeira imagem. E santa Verónica é a padroeira dos fotógrafos). o que me chamou a atenção na Verónica foi a posição dela, de joelhos, mas com as pernas afastadas. não está portanto a rezar, mas antes em equilíbrio, como se estivesse a levantar-se, mas também a mostrar ao pessoal (desculpem, é uma maneira de dizer) a imagem de Cristo no pano. Não sei... ela podia fazer isto com o pano frente ao corpo, mas deslocá-lo para o lado como se estivesse a dizer "vejam o que aconteceu", parece ter muito mais impacto. Não tive estas considerações no momento. No momento lembrei-me apenas, como se tivesse acendido um fusível aqui dentro da minha área relacional (é o nome que dou a esta parte do cérebro que estabelece relações entre as coisas, só de olhar. tenho a certeza que tem um nome esquisito, mas por agora, fica assim), lembrei-me então e apenas que esta posição, já eu a tinha visto numa outra pintura. O meu palpite ía para uma cena de Millet com uma camponesa a peneirar cereais. Millet!!! Bem revirei a obra dele de alto a baixo e nada. Então pensei: "pode não ser o Millet, mas é parecido e é um realista". Realistas, realistas... Só me lembrava do Daumier, mas era um realista menos sarcástico. Foi então que cheguei ao Courbet que apesar de ser um realista tem uma obras a puxar para o sentimento: umas banhistas que parecem Vénus, uns retratos idealizados. Mas de facto, a presença na obra dele de vulvas abertas (pelo menos duas, se bem me lembro), se não o tornam um realista, tornam-no quase um ginecologista. Ou um Larry Flint!

Bem, na obra de Courbet que aparece aqui, as raparigas são irmãs do pintor (Zoe e Juliette) e o rapaz é filho dele, Désiré Binet. Uma das raparigas, a que se encontra de costas para nós está exactamente na mesma posição que a Verónica de Pontormo. E apesar de estar de costas, não consigo retirar nada a esta relação pois a posição em que ambas se encontram é rara. Por isso as relaciono. A de Pontormo vibrante e maneirista, a de Courbet trabalhadora e anónima. bem, e foi isto. rendinhas e coisas bonitas.




















Pontormo
Veronica
1515
Santa Maria Novella















Gustave Courbet
The Winnowers
1855
Musée des Beaux-Arts, França

- o carteiro -

hoje trago-vos um post à la mode, um post como os blogs "fixes", os blogs que toda a gente lê, os blogs onde uma imagem vale mais que mil palavras porque ninguém tem duas para dizer. É um post onde o mais importante é a imagem, ou pelo menos, uma parte da imagem. Nem todas a imagens que aqui apresentamos são do século XV, XVI nem da Flandres, mas há muitas que são. Sabemos que as pinturas deste tempo e espaço são caracterizadas pelo gosto do pormenor. Por cada Anunciação há uma janela que se abre ao fundo, através da qual é possível ver a cidade e os telhadinhos e as aves. Há uma rendinha no traje da Virgem, um livro aberto, uma fita a cair do livro, o início de um versículo. Há uma miríade de pormenores que são o reflexo do gosto do artista por mostrar o seu virtuosismo técnico. Também os havia italianos, mas menos. E em tantos pormenores que podiam ser retratados, os artistas deste tempo escolheram o mais pequeno: moscas!

cá no meu mundo, mandar uma pessoa "encher-se de moscas" é mandá-la ir "dar uma volta ao bilhar grande". mas eu queria que vocês ficassem até ao fim. depois podem ir encher-se do que quiserem. As moscas são o insecto mais sujo, mais porquinho que conheço. Andam no cocó, o que me parece suficiente para não gostarmos delas. (O meu pai odeia formigas. Segundo ele as formigas são "umas vacas"). As moscas, na pintura, são consideradas muitas vezes a representação do diabo. Aliás, no Evangelho de São Mateus confunde o deus dos Amoritas (Baal Zebub, sendo que Baal quer dizer Príncipe) com o Deus das Moscas (Baal Zebul). 

Parte do que aqui vou escrever encontra-se aqui. As moscas fazem parte da nossa vida e fariam parte da nossa morte caso pudessem. Thank God! Quando estamos mortos, fazem-nos o mesmo que fazem ao cocó; ou seja, fazem de nós cocó. E depois vão colocar ovos em bifes! (Isto é um trauma que tenho porque uma vez uma mosca pousou sobre um bife que estava temperado para o almoço e deixou lá alguns ovos brancos. Coisa nojenta!) Em vida, chateiam-nos e desconcentram-nos, pairam sobre a nossa cabeça e atrás das orelhas mesmo a irritar. As moscas não nos permitem focalizar o pensamento e por isso são inimigas do pensamento, ou como dizia Steiner, inimigas de Sinnlichkeit. 

Na Bíblia, e desde o Êxodo existe um conjunto de situações em que as moscas aparecem, quase sempre com conotações negativas. Há pelo menos nove situações em que as moscas são referidas: cinco no Êxodo e na parte referente às moscas como uma praga (igual às rãs); duas vezes nos Salmos pelo mesmo motivos, uma no Eclesiastes relativa à putrefacção da carne, uma em Isaías para referir que Deus tem poder sobre elas. Para além da Sagrada Escritura, o mosquedo figura nas Fábulas de Esopo e de La Fontaine, em Erasmo de Roterdão, em Montaigne, em Alberti, em William Golding, na música de Rimsky Korsakov, nas Quatro Estações de Vivaldi e mais não sei. 

Moscas nos quadros é que são uma coisa admirável. Ao que parece, tudo começou com Giotto, que segundo conta Vasari, pintou moscas para brincar com o mestre Cimabue. É que Giotto foi um percursor da pintura do Renascimento, eliminando os fundos dourados da pintura bizantina, reproduzindo a natureza e dando às personagens santas um semblante e expressões menos hieráticas. A par dos anjos que choram, das árvores que despontam atrás de uma procissão, das arquiteturas com pormenor, as moscas faziam parte de uma realidade profana que agora passava a figurar em temas sacros, sem que nem o que era secular nem o sacro ficasse prejudicado. Encontrei as moscas destas pinturas, mas em algumas foi impossível, não porque as moscas não estivessem lá (tenho a certeza que estão), mas porque simplesmente não sei do rasto das pinturas em questão. Além disso, Andor Pigler já fez esse trabalho, um trabalho que eu gostaria de ter feito; ou seja, o levantamento da representação da mosca em toda a pintura. 

Podemos pensar que os autores pintaram moscas para nos alertar quando às vaidades terrenas (no caso de Naturezas mortas), para colocarem nos quadros segredos, pormenores que só eles conheciam, para brincar connosco, para parodiar o seu tempo...





























Sebastiano del Piombo
Cardinal Bandinello Sauli
1516
National Gallery of Art, Washington









Lorenzo Lotto
Giovanni Agostino della Torre and his son Niccolo
1515
National Gallery, Londres























Lucas Cranach
The III-Matched Couple
1532































Giovanni Santi
Man of Sorrows
1490
Szépmûvészeti Múzeum, Budapeste











Jacopo de' Barbari
Portrait of Fra Luca Pacioli and an Unknown Young Man
1500s
Museo Nazionale di Capodimonte, Nápoles

Cima di Conegliano
Annunciation
1495
Hermitage, São Petersburgo

Giorgio Schiavone
The virgin and child enthroned
1456-1461
National Gallery, Londres


Francesco Benaglio
Saint Jerome
1470-1475
National Gallery of Art, Washington








Master of Frankfurt
Portrait of the artist and his wife
1496
Royal Museum of Fine Arts, Antuérpia








Carlo Crivelli
Maria e o Menino
1480
Victoria and Albert Museum, Londres



















Carlo Crivelli
Maria e o Menino
1473
Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque










Petrus Christus
Potrait of a Carthusian
1446
Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque









Anónimo
Portrait of a Woman of the Hofer Family
1470
- o carteiro -

[1]
Casanova de Fellini

[2]
Tim Walker

segunda-feira, novembro 19, 2012

as minhas ancas enormes cabem na mão, mas não no espelho. e quando tiver recuperado o peso todo? o que é que eu sou? 

domingo, novembro 18, 2012

reunião da maleta vermelha.
nunca me senti
tão ridícula.
e quase a comprar isto

quinta-feira, novembro 01, 2012

- não vai mais vinho para essa mesa -









Masaccio
Tribute Money
1426-27
Cappella Brancacci, Santa Maria del Carmine, Florença

"Entrando em Cafarnaúm, aproximaram-se de Pedro os cobradores do imposto do templo e disseram-lhe: «O vosso Mestre não paga o imposto?» Ele respondeu: «Paga, sim». Quando chegou a casa, Jesus antecipou-se, dizendo: «Simão, que te parece? De quem recebem os reis da terra impostos e contribuições? Dos seus filhos, ou dos estranhos?» E como ele respondesse: «Dos estranhos», Jesus disse-lhe: «Então, os filhos estão isentos. No entanto, para não os escandalizarmos, vai ao mar, deita o anzol, apanha o primeiro peixe que nele cair, abre-lhe a boca e encontrarás lá um estáter. Toma-o e dá-lho por mim e por ti.»" (Mateus 17: 24-27)