"Sou do tamanho do que vejo!" Cada vez que penso esta frase com toda a atenção dos meus nervos, ela me parece mais destinada a reconstruir consteladamente o universo. "Sou do tamanho do que vejo!" Que grande posse mental Vai desde o poço das emoções profundas até às altas estrelas que se refletem nele, e, assim, em certo modo, ali estão. "E já agora, consciente de saber ver, olho a vasta metafísica objetiva dos céus todos com uma segurança que me dá vontade de morrer cantando. "Sou do tamanho do que vejo!" E o vago luar, inteiramente meu, começa a estragar de vago o azul meio-negro do horizonte. Tenho vontade de erguer os braços e gritar coisas de uma selvajaria ignorada, de dizer palavras aos mistérios altos, de afirmar uma nova personalidade largal aos grandes espaços da matéria vazia. Mas recolho-me e abrando. "Sou do tamanho do que vejo!" E a frase fica-me sendo a alma inteira, encosto a ela todas as emoções que sinto, e sobre mim, por dentro, como sobre a cidade por fora, cai a paz indecifrável do luar duro que começa largo com o anoitecer." (pág. 65 Desassossego) Simões
Bom dia Beluga. Faça-me o favor de não publicar nada disto. Obrigado. Estou a ler " A muralha " de Agustina Bessa- Luís. Uma maravilha! Parece que Agustina leu bem o Hamlet de Shakespeare. Outra coisa não seria de esperar. Eu estou no ponto em que Tamar e Gerson vão fazer um passeio pelos baldios da Rotunda, que começam a urbanizar-se( cap. IV da minha edição): dois fantasmas à procura da palavra que quebre o sortilégio. Hei-de reler todo este capítulo porque estou com a curiosidade de saber se há algo no andar dum fantasma que denuncie a sua condição. Enfim...cada maluco com a sua mania. Escreve Agustina que a acção é a condição primitiva da vontade. Devemos entender com isto que os actos dum fantasma, quando arranha a corda dum violino ou pinta retratos de princesas decapitadas, são pura acção, sem vontade. O fantasma do pai de Hamlet parece ter esta característica singular: tem uma grande vontade, quer vingança. Precisava ser assm. Há muitas maneiras como um grande dramaturgo passa a culpa e a dor das suas personagens para os espectadores. Percebi isto no " Amor de D. Perlimpim." Desconfio que Lorca é um dos grandes! Desconfio também que o papel do príncipe Hamlet na peça é de ser o intermediário desse passa-culpas. Está entre o pai, que se imagina um fundo e o espectador, que se imagina em frente. E quando levanta a caveira de Yorick e diz o celebérrimo " To be ou not to be" , parece estar a dizer para o espectador _ Estás aqui ou estás ali? E isto são truques de grande dramaturgo e não apenas truques de grande psicanalista. Quero pedir-lhe formalmente desculpas por a ter importunado tantas vezes. Faça-me o favor de desculpar. Fica a minha culpa atenuada se lhe disser que muitas vezes tentei encontrar outros blogs que fossem tão inteligentes, divertidos e estimulantes como o seu. Não encontrei nenhum. Agora compreendo porquê. Quem sai aos seus...Já percebeu que eu sou um grande solitário. Fique descansada que eu levo o seu segredo para o túmulo...ÚUUUUUUUhhhhh.... E agora vou ler outros dramaturgos que desconfio que também leram Hamlet.
FRIEZA "Os teus olhos são frios como as espadas, E claros como os trágicos punhais, Têm brilhos cortantes de metais E fulgores de lâminas geladas. Vejo neles imagens retratadas De abandonos cruéis e desleais, Fantásticos desejos irreais, E todo o oiro e o sol das madrugadas! Mas não te invejo, Amor, essa indiferença, Que viver neste mundo sem amar É pior que ser cego de nascença! Tu invejas a dor que vive em mim! E quanta vez dirás a soluçar: "Ah, quem me dera, Irmã, amar assim!..." Sonetos Completos..Florbela Espanca Simões
Pois. A Beluga praticou aqui um pequeno ilícito, talvez até criminal. Se o seu leitor Hemoglobin lhe pediu para não publicar, é porque era for your eyes only. Tá feita😁😁😁
11 Comments:
"Sou do tamanho do que vejo!" Cada vez que penso esta frase com toda a
atenção dos meus nervos, ela me parece mais destinada a reconstruir
consteladamente o universo. "Sou do tamanho do que vejo!" Que grande
posse mental Vai desde o poço das emoções profundas até às altas estrelas
que se refletem nele, e, assim, em certo modo, ali estão.
"E já agora, consciente de saber ver, olho a vasta metafísica objetiva dos
céus todos com uma segurança que me dá vontade de morrer cantando.
"Sou do tamanho do que vejo!" E o vago luar, inteiramente meu, começa a
estragar de vago o azul meio-negro do horizonte.
Tenho vontade de erguer os braços e gritar coisas de uma selvajaria
ignorada, de dizer palavras aos mistérios altos, de afirmar uma nova
personalidade largal aos grandes espaços da matéria vazia.
Mas recolho-me e abrando. "Sou do tamanho do que vejo!" E a frase fica-me sendo a alma inteira, encosto a ela todas as emoções que sinto, e sobre
mim, por dentro, como sobre a cidade por fora, cai a paz indecifrável do luar
duro que começa largo com o anoitecer."
(pág. 65 Desassossego)
Simões
Bom dia Beluga. Faça-me o favor de não publicar nada disto. Obrigado.
Estou a ler " A muralha " de Agustina Bessa- Luís.
Uma maravilha! Parece que Agustina leu bem o Hamlet de Shakespeare. Outra coisa não seria de esperar.
Eu estou no ponto em que Tamar e Gerson vão fazer um passeio pelos baldios da Rotunda, que começam a urbanizar-se( cap. IV da minha edição): dois fantasmas à procura da palavra que quebre o sortilégio. Hei-de reler todo este capítulo porque estou com a curiosidade de saber se há algo no andar dum fantasma que denuncie a sua condição. Enfim...cada maluco com a sua mania.
Escreve Agustina que a acção é a condição primitiva da vontade. Devemos entender com isto que os actos dum fantasma, quando arranha a corda dum violino ou pinta retratos de princesas decapitadas, são pura acção, sem vontade.
O fantasma do pai de Hamlet parece ter esta característica singular: tem uma grande vontade, quer vingança. Precisava ser assm. Há muitas maneiras como um grande dramaturgo passa a culpa e a dor das suas personagens para os espectadores. Percebi isto no " Amor de D. Perlimpim." Desconfio que Lorca é um dos grandes!
Desconfio também que o papel do príncipe Hamlet na peça é de ser o intermediário desse passa-culpas. Está entre o pai, que se imagina um fundo e o espectador, que se imagina em frente. E quando levanta a caveira de Yorick e diz o celebérrimo " To be ou not to be" , parece estar a dizer para o espectador
_ Estás aqui ou estás ali?
E isto são truques de grande dramaturgo e não apenas truques de grande psicanalista.
Quero pedir-lhe formalmente desculpas por a ter importunado tantas vezes. Faça-me o favor de desculpar. Fica a minha culpa atenuada se lhe disser que muitas vezes tentei encontrar outros blogs que fossem tão inteligentes, divertidos e estimulantes como o seu. Não encontrei nenhum. Agora compreendo porquê. Quem sai aos seus...Já percebeu que eu sou um grande solitário.
Fique descansada que eu levo o seu segredo para o túmulo...ÚUUUUUUUhhhhh....
E agora vou ler outros dramaturgos que desconfio que também leram Hamlet.
https://youtu.be/FiWJWLCoH2M?si=UXXhkiDJarn725YN
Hemoglobin, seu leitor dedicado.
Obrigadinho.
É da maneira que não volto mais a este blog.
Yours truly
Hemoglobin
https://www.youtube.com/watch?v=FBig5p0yBNE
FRIEZA
"Os teus olhos são frios como as espadas,
E claros como os trágicos punhais,
Têm brilhos cortantes de metais
E fulgores de lâminas geladas.
Vejo neles imagens retratadas
De abandonos cruéis e desleais,
Fantásticos desejos irreais,
E todo o oiro e o sol das madrugadas!
Mas não te invejo, Amor, essa indiferença,
Que viver neste mundo sem amar
É pior que ser cego de nascença!
Tu invejas a dor que vive em mim!
E quanta vez dirás a soluçar:
"Ah, quem me dera, Irmã, amar assim!..."
Sonetos Completos..Florbela Espanca
Simões
https://www.youtube.com/watch?v=aDnW9kVXwSI
https://www.youtube.com/watch?v=nLO_2_QoHwE&list=RDnLO_2_QoHwE&start_radio=1
Parece-me que falta aqui uma rima com prima😄😄😄
Pois. A Beluga praticou aqui um pequeno ilícito, talvez até criminal. Se o seu leitor Hemoglobin lhe pediu para não publicar, é porque era for your eyes only. Tá feita😁😁😁
O mar, o mar, o mar...
O navio, o navio, o navio...
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