domingo, dezembro 27, 2015

- o carteiro -

resoluções de ano novo

1 - link
2 - dizer mais vezes "não".
3 - ler mais, ir mais vezes ao cinema e ao teatro e escrever mais.
4 - ser branda para comigo (não me culpar por não ter o corpo que desejava, nem estar sempre a julgar-me pelo que digo, faço ou penso)

segunda-feira, dezembro 21, 2015

- original soundtrack -

o que é que posso dizer do nick cave que não tenha já dito?... as músicas dele são uma mistura de Novo Testamento, Elvis Presley, alcolismo, evangelização das almas perdidas, marinheiros, depressão, tragédia sublime e literatura da boa. nick, se me estiveres a ler, queria pedir-te que voltasses a fazer um concerto em portugal. obrigada. sempre tua, b.



















(...)
Stand back baby, stand back and let me breathe
I think I fallin’ outta’ here
I can hear the grass grow
I can hear the melting snow
I can feel your breath against my ear
I might just disappear
Yeah, wouldn't that be nice?
Yeah, wouldn't that be nice?
Well, wouldn't that be nice?

(...)

(Shoot me down, Nick Cave)


P.S. - estou em falta relativamente à nossa música de Natal, aqui no blog. O que é que também posso dizer acerca dela que não tenha dito anteriormente? É tão mau que até é bom: tem "dor de cotovelo", "galanço protocolar", "dores de crescimento", "amores mal resolvidos" e moda dos anos oitenta que diz quase tudo. a música deve obedecer a uma fórmula qualquer, porque entra no ouvido e não sai.
- não vai mais vinho para essa mesa -

pai - vou fazer um chá, queres?
eu - vais fazer um charro?
pai - não, um chá. queres?
eu - de que é que vai fazer?
pai - do que quiseres.
eu - de canabis.
pai - não temos.
eu - raiz de cogumelo mágico.
pai - hum... também não temos...
eu-... então pode ser de frutos vermelhos.
- o carteiro -

Eu devia ter 16 anos, talvez 15, não sei bem. Fui de férias para o Algarve e levei uma amiga, a Vera. A Vera era o sonho de qualquer adolescente: alta, gira, divertida, corpo perfeito... nós até queríamos convencê-la a entrar no concurso Miss Praia Nova Gente. Felizmente, ela nunca quis. A Vera foi o meu primeiro beijo (sim, o meu primeiro "selinho" foi a uma mulher). Ao entramos no quarto de banho, e perante o espelho, a Vera baixou as calças, contraiu o rabiosque e disse: "estás a ver, isto é que é celulite". Fiz o mesmo e percebi que também tinha celulite, o que muito me entristeceu. As coisas passaram: eu voltei a comer o que sempre comi, nas horas e quantidades que me aprazia. Lembro-me de ter enfardado um pastel de nata, sem culpa, no dia em que descobri que tinha celulite. O pastel deve ter pensado "ah-ah, vou directamente para as tuas nádegas, cabra ocidental!". E eu com isso! Mas chegada a casa, vinda do Algarve, eis que me deparo, nas bancas, com o último número da Ragazza (uma revista para adolescentes, com muita imagem e pouco texto, comme il faut). E nesse último e especail número de Verão, a Ragazza presenteava os seus leitores com um plano alimentar para ficar... comme il faut. E foi assim que aconteceu. Não aconteceu logo. Primeiro começou por ser uma preocupação com a alimentação, mas aos 18 anos, transformou-se em algo mais. Não houve um momento específico. Nesta preocupação obsessiva com comida saudável, caía, por vezes no oposto, principalmente aos fins-de-semana. Se durante a semana ingeria alimento em quantidade suficiente para não sentir fome, ao fim-de-semana, porque tinha tempo para me punir e me odiar bastante, comia tudo o que aparecia: começava com pão, e geralmente ao jantar. depois era mais uma colher de arroz, arroz às escondidas na cozinha, sobremesa, bolachas, bolachas, pão... às vezes, uma hora após o final do jantar, ainda estava a comer. Não tinha fome; tinha receio do sentimento de culpa que viria quando parasse. Então dizia a mim própria "só comes até serem 21:35h". Quando chegavam as 21:35h, adiava para as 21:40h. Enquanto fazia isto ia dizendo a toda gente: "sou horrível, não sou? mas não consigo parar". Os outros riam-se. Uma vez saí de um jantar de aniversário a correr: tinha acabado o jantar e eu queria chegar a casa para continuar a comer. Depois... era dormir com as nádegas contraídas, apertar as ancas até ficar com elas marcadas e no outro dia voltar à ginástica, à água (bebia tanta que ficava com dores de cabeça, desorientada, sem conseguir pensar. Chamava-se hiponatremia e foi minha companheira em vários dias pós orgia), à comida racionada. Eram noites infernais, com pesadelos, em que transpirava e acordava frequentemente. Tentei vomitar várias vezes, mas nunca consegui. pensava "merda, até nisto sou uma azelha!". Bem, felizmente era boa em deixar de comer, o que é muito melhor do que vomitar, porque vomitar implica depois limpar, ficar com ácidos na boca que dão cabo dos dentes... uma maçada.
 
Chegou a faculdade e mais dois quilos. Quando percebi que não conseguia caber nas calças, decidi que a partir daí tudo ia ser diferente. E foi. Aos poucos, fui comendo cada vez menos. Às 7:30h: leite e três bolachas integrais; às 13h: sopa, meio pão integral e uma peça de fruta; às 17: leite e uma bolacha integral; às 20h: acompanhada, tinha de comer arroz e tudo o mais, mas em quantidades minúsculas. Os outros pensavam que era cansaço, preocupação, trabalho. E pensaram bem porque com pouco peso era mesmo isso: cansaço, preocupação em comer ainda menos e muito trabalho. É que eu queria ser melhor numa área para a qual não estava talhada. Tudo era um trabalho enorme. Pesava-me às quintas-feiras, na balança de casa e sentia uma felicidade enorme quando via o ponteiro da balança a descer cada vez mais cada semana. Nas semanas em que o ponteiro não me devolvia o número desejado, eu castigava-me, comendo ainda menos. Convém dizer que fazia exercício físico. Bastante exercício físico. Levaram-me a um médico de clínica geral que me deu as panaceias do costume, incluindo um xarope muito espesso que devia ter até extractos de nabo e fazia levantar um morto. Mas eu, que vi no rótulo as calorias daquilo pensei "credo, que vou engordar!" e decidi tomá-lo diluído em água, dia sim, dia não, só por causa das coisas. Levaram-me a um nutricionista, bruto como uma parede. Disse-me: "gosta de tudo?", respondi: "sim" (de facto gostava e gosto de tudo, mas não comia de nada). Ele rematou: "então coma. coma de tudo e muito". Levaram-me a uma psicóloga na capital. Três horas de comboio para a moça, bonita mas talvez pouco preparada, me dizer que preferia analisar-me através de desenhos que eu pudesse fazer. Eu já tinha 8 horas de aulas de desenho por semana, na faculdade. não queria desenhar mais. Apanhei uma intoxicação alimentar, deixei a psicóloga. O peso descia cada vez mais e quando não descia eu tratava de me tratar mal, porque se o peso não descia era porque eu me tinha desleixado. Quem é que eu pensava que era para me desleixar?! Não cabia nas calças 32 e por isso a roupa passou a ser comprada na secção de criança: calças para 12 anos (porque não tenho "altura de perna!). Nunca vistam calças de uma criança de 12 anos. Aliás, as crianças deviam saltar dos 11 para os 13. A pele esfarelava-se ao toque, tinha nódoas negras nos ossos mais salientes: cóccix, ilíacos e aqueles dois ao fundo das costas. No rosto duas feridas que não saravam porque a pele estava muito seca, o cabelo caiu. Os calcanhares ficaram inchados com falta de proteínas. À noite acordava sobressaltada com falta de ar e abria todas as janelas. Pensava que ia morrer. Acho que eram pequenas paragens cardíacas. Levaram-me ao psiquiatra. Quando entrei e me deparei com o cliché (candeeiro a meia luz, divã, arte bruta nas paredes) sentei-me e disse:
- não pense que lhe vou contar a minha vida, deitada no divã a chorar.
- não estou à espera disso.
-....
- porque é que veio cá?
- porque me trouxeram.
- não acha que tem um problema?
- não o considero um problema. aliás, posso sempre voltar atrás quando quiser.
- mas não quer.
- não, não quero.
- porquê?
- porque tudo faz sentido assim. tudo está ordenado. consigo gerir tudo, controlar tudo.
- tem o período menstrual?
- não.
- há muito tempo?
- sim.
- meses?
- anos.
Deixei as aulas para ficar em casa porque não tinha grande força e em casa sempre me podiam vigiar. mas às 6h da manhã, antes que alguém acordasse, fazia uma hora de ginástica às escondidas. só para não perder o jeito. E para aquecer, já que estávamos em Novembro. Um mês depois e com o peso sempre a descer, ele diz-me após uma pesagem: "30kgs. acho melhor interná-la, antes que saia daqui num caixão. Que me diz?". Eu pensei: "digo-te que és um bocado "drama queen", mas o que respondi foi diferente: "faça como quiser. Estou cansada de contar calorias e de pensar naquilo que não vou comer". E estava: eram muitas contas e eu sou mais dada às letras...

Estive um mês no serviço de psiquiatria de um hospital público. Lá não havia  ninguém com quem falar. As pessoas estavam drogadas, ou a dormir, ou a ressacar, ou a gritar, ou deprimidas, ou acreditavam que eram Deus. Era-me dado um tratamento pouco ortodoxo: humilhação (como vigiarem o banho e as refeições, inspecionarem os bens, soltarem um "coitadinha" quando me viam sem roupa) e concessões (tu dás-me meio quilo e eu deixo-te fazer um telefonema; atinges este patamar e podes receber uma visita...). Mas fiz ginástica; fiz ginástica às escondidas. Saí de lá no fim do ano, com 33,300Kgs. E claro, embora aliviada, sentia-me gorda, balofa, nojenta. Na realidade a minha questão com o corpo nunca foi eu não gostar dele, apesar de, de facto, não gostar dele. A verdade é que eu não gostava de mim, achava-me um erro, mas expressei esse descontentamento através do corpo que é perfeito: não lhe falta nada, não sofre de nenhuma maleita. Quando sentia uma frustração o meu escape era comer pouco ou fazer muita ginástica ou beber muita água porque pelo menos nisso, eu era melhor que ninguém.

Cá fora, aumentei de peso até aos 36 quilos. Para mim, era um exagero viver com 36 kgs; um desperdício de quilos. Um dia, após me ter pesado no médico e ter visto um aumento de peso, saí do consultório, almocei lulas grelhadas, cheguei a casa e cortei um pulso. Não muito, só o suficiente para me sentir melhor, para o peso ganho sair por ali. Depois enfaixei o pulso e fui à aula de ginástica. Deixei o psiquiatra e voltei aos 32 quilos. Nessa altura estava outra vez a estudar e percebi que professores e colegas me olhavam com condescendência, com alguma pena, e que as conversas eram guiadas por isso, por esse "desconto" que me davam. Não queria a pena deles e não necessitava de conselhos para aumentar de peso. Lutei muitas vezes contra a tentação de comer comida para cão. Se a minha cadela comia aquilo e não engordava, podia ser que eu também não. Resisti, mas comi muita comida para bébé. A lógica era... nenhuma. Recuperei de peso até aos 36 e contactei o psiquiatra:
"Desculpe incomodá-lo. Sei que deixei as consultas por minha vontade, mas preciso de regressar. Acha que me pode voltar a atender? Caso não possa, compreendo perfeitamente"
Voltei e ainda lá estou. Agora quase nunca falamos de comida, de peso, embora o peso esteja sempre presente. Falamos de outras questões; as questões que estiveram na origem de tudo. Ele é o melhor psiquiatra que me podia ter "calhado na rifa". O ministério da saúde percebe da coisa! Não me passa a mão pela cabeça, não me fala de "baixa auto-estima" nem parvoíces parecidas, não me diz coisas agradáveis. Quando choro:
- m****, estou a chorar.
- não faz mal.
- ainda por cima não choro nada bem, como no cinema.
- olhe que se está a safar...

Há pouco tempo comecei a comer bananas, após o treino, que era algo que não comia há cerca de 20 anos. Nunca vou ter uma relação despreocupada com a comida, mas vai-se vivendo. Era pior um dedo espetado no olho! Quer dizer, não me falta nada, sou perfeitinha. No ginásio os espelhos fazem-me sentir uma merda e as outras pessoas, também, mas tenho tudo no sítio. Há dias em que me sinto linda por dentro e por fora; há outros em que me sinto nojenta.

E assim acontece.
Beijinhos às famílias e tudo e tudo e tudo.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

Olá a todos. Tudo bem com vocês? Felizes? Eu cá ando a ler uma coisa que se chama "Uma história da Felicidade". No comboio as pessoas pensam que é um livro de auto-ajuda, mas não é. Acho que aquelas capas para livros - algumas em tecido às flores - são uma coisa horrível. Mas compreendo, agora, que os japoneses as usem (se bem que num sentido diferente daquele pelo qual se usam aqui . aqui usamos porque "é fofinho..."): a leitura é algo pessoal. Este livro "Uma história da Felicidade", fala daquilo que ao longo dos tempos se entendeu por felicidade. Primeiro, e para os gregos, ser feliz era ter uma vida longa, ver os filhos e netos crescerem, e ser um cidadão da pólis, cumpridor das suas dinâmicas. Para os romanos, que assistiram a momentos muito mais sanguinários que os gregos, ser feliz era sobreviver às limpezas partidárias, era o falo de Pompeia (de facto, se a vida tinha um limite tão apertado, convinha vivê-la tirando partido dos prazeres do corpo). Com o cristianismo, e até por oposição a esta visão imediata da felicidade, optou-se pela via contrária: optou-se pelo ascetismo e pela fuga à mundaneidade para se chegar mais perto do divino. Até ao século XVII foi assim: mesmo quando os diferentes filósofos abriam mais o campo de acção do Homem e o seu papel no alcance da felicidade, a felicidade continuava a ser o divino. Só com a Reforma Protestante, que deslocou do divino para o humano o ónus da felicidade, é que a separação entre felicidade e religião, entre deus e felicidade começou a nascer. No século XVIII isso vai ao limite com o povo (a mais baixa classe social que até aí não tinha direitos como esses), essencialmente, a reivindicar o seu direito à felicidade.

Bom, não sei porque escrevi isto. Na verdade queria falar-vos de um autor/historiador de que gosto muito, o Mosche Barasch. Foi através dele que percebi um pouco mais a linguagem das mãos na escultura da Idade Média. Um dia hei-de falar-vos disso. Foi também através dele que descobri este Isaías na Igreja da Abadia de Santa Maria de Souillac. É um Isaías atípico que me lembra, à primeira vista, uma divindade hindu, principalmente nas ancas. Eu sei que vocês vão dizer "lá está ela a forçar comparações", mas olhem para isto e para a imagem de Isaías. Para além de ser uma representação atípica para uma escultura ocidental, ainda é mais atípica porque se trata da representação de um profeta. As imagens que temos de figuras do cristianismo são rígidas, hieráticas, estáveis e por tudo isso, dignas. Este Isaías é plástico, em pose orgânica, fluída; ou seja, é quase um dançarino. Pode ser comparado com outra imagem, muito anterior a ela. Trata-se de uma pequena estatueta grega de uma bailarina, datada do século IV ou III a.C. Pode ter acontecido uma de três coisas: o autor do Isaías de Souillac podia conhecer réplicas da estatueta grega, podia não conhecer nada e esta ser apenas uma coincidência, ou esta postura de Isaías podia vir de uma qualquer tradição em representar desta forma. Não acredito nesta última hipótese: não acredito que esta pose seja iconograficamente documentada e justificada. Para o século XII, quando este Isaías foi esculpido, um profeta e uma bailarina estavam em pontos opostos: ele tinha uma natureza quase divina enquanto ela está relacionada com o prazer, a secularidade, a prostituição e a feitiçaria. Mas sabemos agora, no século XXI, que no século XII, as figuras dançantes eram também usadas para ilustrar capitéis relacionados com os 24 anciãos do Apocalipse (Apocalipse 4:4). Claro que o Isaías não é um dos 24 anciãos do Apocalipse; é pelo contrário uma figura do Antigo Testamento, mas o que queria mostrar é que estes dois lado aparentemente opostos (a bailarina e o profeta) podem tocar-se por caminhos menos ortodoxos, porém sérios!
Pronto, era isto.




















Veiled dancing greek woman,
Século IV, III a.C.
 Boiotia, Grécia
[fonte]





















Anónimo
The Prophet Isaiah
1120-35
Sainte-Marie, Souillac
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
 
abençoados Mann e Visconti que muitas alegrias me dão...
- o carteiro -
Querido Pai Natal:

Escrevo-te esta carta - e trato-te por querido - que é para não te esqueceres de mim. Para evitar que me ofereças mais brincos e lenços da Parfois, deixo-te aqui uma lista do que queria este ano. Sei que é cedo para listas de presentes. Parece que as pessoas já não passam sem uma "celebraçãozinha". Claro que é o comércio que nos impinge o Natal em Outubro, o dia dos Namorados durante uma semana, o Carnaval, a Páscoa, o dia do Pai, o dia da Mãe, o dia da mulher, o dia da criança, o Verão (desmultiplicado), o regresso às aulas, o Halloween, and so on... Dizem-nos que nunca estamos bem no tempo em que estamos (como o "Meia Noite em Paris" do Woody Allen) e que nunca estamos bem com o que temos. É possível e necessário ter mais e melhor: quando chega o novo modelo de telemóvel, porquê ter o antigo? Temo que um dia isso se estenda às pessoas: porquê ter a mulher/marido velho, quando posso ter uma/um nova/novo?
Não me queria desviar do propósito desta missiva. Eis a minha lista de Natal. Alguns já li, mas não tenho.

- Thomas Mann, Dr. Fausto;
- Thomas Mann, As três últimas novelas;
- Robert Musil, O homem sem qualidades (dois volumes);
- Thomas Bernhard, Autobiografia;
- Nikolaus Wachsmann, KL;
- Jacques Le Goff, A História deve ser dividida em pedaços?;
- Gustave Flaubert, A educação sentimental;
- Dostoievsky, Os irmãos Karamazov;
- Dostoievsky, Os demónios;
- Celine, Viagem ao fim da noite;
- Albert Camus, O mito de Sísifo;
- Balzac, A comédia humana;
- Hans Küng, O Cristianismo;
- Eça de Queirós, O conde de Abranhos;
- Eça de Queirós e Ramalho Ortigão, O mistério da estrada de Sintra;
- Robert Graves, Conde Belisário;
- Edmund de Waal, The hare with amber eyes;
- Slajov Zizek, qualquer um, excepto "Violência"
- Paul Celan, Não sabemos mesmo o que importa;
The Byzantine Rite;
- Masterpieces in Detail: Early Netherlandish Art from van Eyck to Bosch;
- Antonin Artaud, Van Gogh, o suicidado da sociedade;
- História Universal da Música 1 e 2;
- Alberto Caeiro, Poesia;
- Daniel Faria, Poesia;
- Susan Sontag, Olhando o sofrimento dos outros;
- Hannah Arendt, As Origens do Totalitarismo;
- Jay Parini, Every time a friend succeeds something inside me dies (biografia de Gore Vidal) 

quarta-feira, dezembro 16, 2015

Aíana (a Ana) avisou-me ontem que não conseguiu comentar aqui no blog. Se isso voltar a acontecer, por favor avisem-me para beluga@portugalmail.com
Obrigadinhos

quinta-feira, dezembro 10, 2015

acordar, sorrir, mentir, fingir, reflectir, arrepender, culpar, comer, comer, comer, comer, prosseguir, dormir

repetir

terça-feira, dezembro 08, 2015

- o carteiro -

A Imaculada Concepção ou "porque é que não tenho feriado"

Hoje quando se levantarem, às 12h, 13h, 14h e pensarem, enquanto bocejam: "ai que bom! hoje é feriado!", lembrem-se porque é que estão em casa. Vão responder: "porque é o dia de Nossa Senhora da Conceição" (Nossa Senhora da Conceição é rainha de Portugal desde que em 1640 D. João IV pediu a sua intercessão na Guerra da Restauração. A partir daí tornou-se rainha de Portugal e os reis após D. João IV passaram a ser representados, não com a coroa na cabeça, mas com a coroa numa banqueta ao lado, já que a coroa é para a rainha, Nossa Senhora da Conceição). 
Simplício Rodrigues de Sá
Retrato de D. João VI

Miguel António do Amaral
Retrato de D. José I

John Simpson
Retrato de D. Maria II

Também podem responder: "ah e tal, porque hoje é dia da Imaculada Conceição". Aí eu vou ter de dizer "Imaculada Conceição ou Imaculada Concepção. Mas atenção que neste dia não se celebra a concepção imaculada de Jesus. Se assim fosse Jesus tinha nascido a 8 de Setembro; ou seja, 9 meses após a concepção. A Imaculada Concepção de Jesus festeja-se a 25 de Março, 9 meses antes de 25 de Dezembro e dia em que se celebra a Anunciação. Foi neste dia 25 de Março que o anjo Gabriel disse a Maria: "Moça, faz a lista na Mustela pois vais ficar com bebé na barriguinha!". Não, o que se festeja neste dia 8 de Dezembro é a imaculada concepção de Maria. Ah pois é...

Nem sempre foi assim. Até ao século XIX Maria não era tida nem achada. Nunca se questionaram porque é que a Bíblia não fala mais sobre Maria, nem fala, por exemplo, da infância de Jesus? Pois, não é que não exista informação acerca disso, mas essa informação foi preterida aquando a escolha dos textos que deviam constituir a Bíblia. Eles existem: são textos apócrifos ou textos de autores romanos, mas não contribuíam para a imagem que se pretendia que a Bíblia passasse aos crentes. Só no século XIX é que o Papa não-sei-quê deu a Maria um lugar mais digno e declarou que Maria foi concebida sem pecado. Esta expressão merece análise:

concebida - naqueles idos tempos, um ser humano passava a existir não no momento em que o espermatozóide fecundava o óvulo; ou seja, não no momento em que havia cópula frutífera, mas quando era tocado, no útero da mãe, pela chama divina que lhe dava alma. Isso acontecia depois da fecundação, mas antes ainda desse ser estar na posse da razão. 

sem pecado - esta coisa se ser concebido sem pecado estava só reservado para Cristo, desde Santo Agostinho que definiu, com muita oposição de seitas consideradas heréticas e da igreja católica a oriente, que após Adão e Eva todos os seres tinham sido concebidos no pecado e pelo pecado. A excepção era Cristo. Mas se assim fosse, isto queria dizer que a sua mãe estava manchada pelo pecado, mesmo que sem ter culpa disso. A pressão para dar a Maria o lugar devido (e que levou a que, só no século XX a Igreja tenha resolvido a questão da vida divina de Maria após a sua morte - Assumpção de Nossa Senhora e não Ascensão de Nossa Senhora. Nossa Senhora é admitida no céu após a morte e ocupa lugar privilegiado ao lado do filho. Sobe aos céus com a ajuda de anjos. Jesus ascende sozinho) levou a que a Igreja reconsiderasse e cedesse espaço - e razão - a textos apócrifos que dizem que Maria para além de ter sido concebida sem pecado, foi liberta dele. Mesmo que Maria desejasse pecar, ela havia nascido sem essa possibilidade, dentro dela.

É nos textos apócrifos que encontramos referência à concepção imaculada de Maria. Os seus pais, São Joaquim e Santa Ana. Felizes porém desgostosos por não terem filhos, são abençoados com Maria. Não ter filhos era sinal de descontentamento divino. Joaquim, triste com esta ideia, refugia-se numa montanha. Mais eis que Deus lhes envia um anjo que lhes anuncia o nascimento de Maria. A São Joaquim, diz que este deverá abandonar a montanha e ir para as portas douradas de Jerusalém. A Santa Ana diz o mesmo. A concepção de Maria fica selada quando os dois se encontram nas portas douradas de Jerusalém. 
Giotto
Legend of St Joachim, Meeting at the Golden Gate, 
1305
Capela Scrovegni

Como ainda não fui evangelizada nem por padres jesuítas nem por cavaleiros templários, não tenho direito a Imaculada Conceição e por isso vou ter de ir trabalhar...