segunda-feira, dezembro 21, 2015

- o carteiro -
Querido Pai Natal:

Escrevo-te esta carta - e trato-te por querido - que é para não te esqueceres de mim. Para evitar que me ofereças mais brincos e lenços da Parfois, deixo-te aqui uma lista do que queria este ano. Sei que é cedo para listas de presentes. Parece que as pessoas já não passam sem uma "celebraçãozinha". Claro que é o comércio que nos impinge o Natal em Outubro, o dia dos Namorados durante uma semana, o Carnaval, a Páscoa, o dia do Pai, o dia da Mãe, o dia da mulher, o dia da criança, o Verão (desmultiplicado), o regresso às aulas, o Halloween, and so on... Dizem-nos que nunca estamos bem no tempo em que estamos (como o "Meia Noite em Paris" do Woody Allen) e que nunca estamos bem com o que temos. É possível e necessário ter mais e melhor: quando chega o novo modelo de telemóvel, porquê ter o antigo? Temo que um dia isso se estenda às pessoas: porquê ter a mulher/marido velho, quando posso ter uma/um nova/novo?
Não me queria desviar do propósito desta missiva. Eis a minha lista de Natal. Alguns já li, mas não tenho.

- Thomas Mann, Dr. Fausto;
- Thomas Mann, As três últimas novelas;
- Robert Musil, O homem sem qualidades (dois volumes);
- Thomas Bernhard, Autobiografia;
- Nikolaus Wachsmann, KL;
- Jacques Le Goff, A História deve ser dividida em pedaços?;
- Gustave Flaubert, A educação sentimental;
- Dostoievsky, Os irmãos Karamazov;
- Dostoievsky, Os demónios;
- Celine, Viagem ao fim da noite;
- Albert Camus, O mito de Sísifo;
- Balzac, A comédia humana;
- Hans Küng, O Cristianismo;
- Eça de Queirós, O conde de Abranhos;
- Eça de Queirós e Ramalho Ortigão, O mistério da estrada de Sintra;
- Robert Graves, Conde Belisário;
- Edmund de Waal, The hare with amber eyes;
- Slajov Zizek, qualquer um, excepto "Violência"
- Paul Celan, Não sabemos mesmo o que importa;
The Byzantine Rite;
- Masterpieces in Detail: Early Netherlandish Art from van Eyck to Bosch;
- Antonin Artaud, Van Gogh, o suicidado da sociedade;
- História Universal da Música 1 e 2;
- Alberto Caeiro, Poesia;
- Daniel Faria, Poesia;
- Susan Sontag, Olhando o sofrimento dos outros;
- Hannah Arendt, As Origens do Totalitarismo;
- Jay Parini, Every time a friend succeeds something inside me dies (biografia de Gore Vidal) 

9 Comments:

Blogger Belogue said...

Querida beluga:

Escrevo este comentário e trato-te por querida porque sou irónico. A tua lista - que parece um relatório de uma consulta de psicanálise, diz tudo sobre ti. Gostas de romances do século XIX, mas tentas com todas as tuas forças contornar o teu romantismo (que achas piroso e de que te envergonhas), pedindo ao Pai Natal (eu) que te ofereça uns quantos nomes difíceis na área da filosofia e "intelectualidade". Preferes a prosa à poesia porque o teu neurónio é pequenino e não tem capacidade de fazer muito com pouco. Gostas de arte, mas andas um bocadinho desligada; escolhes livros que começam por "História de...." porque queres compreender o mundo. Achas que, enquanto estiveres a ler isso, não te vais ter de pensar na tua solidão. Um abraço do Pai Natal

13/11/15 1:44 da tarde  
Anonymous pedro b. said...

Querida Beluga-Pai Natal,
não é a sua lista que parece um relatório de psicanálise. São estes comentários de autoanálise que parecem relatórios médicos de transtorno dissociativo de identidade (também conhecido por "dupla personalidade" na linguagem popular). Haverá quem prefira falar de esquizofrenia, mas nesse caso o diagnóstico refere-se a uma fractura no funcionamento normal do cérebro (um neurónio? como pode isso ser fracturado?), mais do que a uma coexistência de duas ou mais personagens num mesmo indivíduo. Por outro lado, o diagnóstico de transtorno dissociativo de identidade permanece controverso entre a comunidade médica, com muitos psiquiatras considerando que não existem suficientes provas empíricas do mesmo.
Analisando agora a sua lista, com mais detalhe:
O rol é extenso, haverá tempo para tempo para ler isto tudo? (já para não falar no dinheiro que se gasta na conta de electricidade). “A comédia humana” , por exemplo, é o título pelo qual Balzac decidiu chamar todo o conjunto da sua obra (com excepção de alguns escritos iniciais de qualidade duvidosa), e que engloba hoje “…95 obras concluídas e 48 inconclusas, em sua maior parte romances, novelas e contos, que retratam principalmente a ascensão da burguesia, ocorrida à época da Restauração francesa.”
Haverá aqui alguma ironia escondida? Talvez um trocadilho com o título da obra?

16/11/15 10:24 da tarde  
Anonymous pedro b. said...

este sistema de filtragem é humilhante (pior que a franco-maçonaria!). Tive de selecionar todas as imagens com biscoitos, e ainda por cima falhei!
p.s. - encontrei hoje a Ana C no de.c.a.

16/11/15 10:27 da tarde  
Blogger Belogue said...

Caro professor:

olá, como está?
Não, não tenho dupla personalidade. Uma já me dá muito que fazer, quanto mais duas! Gosto é de pensar sobre o pensar... and so on. Claro que isso dá cabo da paciência a um santo.
Acho que a Civilização (Editora) tinha publicado "A Comédia Humana" no Balzac (todos os volumes). Vi isso em qualquer sítio, mas depois quando tentei ver se a editora tinha, aparece-me como "esgotado" ou qualquer coisa assim.
Posso de facto correr o risco de não conseguir ler tudo, como já acontece. Tenho aqui livros que nunca li. Mas quero ler e hei-de ler. Os japoneses têm uma palavra para esses livros que estão na prateleira e que nunca chegamos a ler: tsundoku. Mas eu sou pouco "tsundokua": mais cedo ou mais tarde, leio os livros que comprei.
Nunca mais estive com a A.C. Às vezes combinamos um chá, falamos por mensagem, email. Eu conto-lhe as minhas coisas; ela dá a opinião avalizada.

Sistema de filtragem com biscoitos?

Abraços, beijos e até um dia destes

16/11/15 10:52 da tarde  
Anonymous pedro said...

"Prove que não é um robot": da última vez apareceram-me imagens de biscoitos misturados com saladas, tiramisús, etc.
(E este sistema de comunicação por iniciais? faz lembrar aquelas mensagens cifradas de um filme de espiões:
p.s. pedro b. vs. ana c. no de.c.a.

17/11/15 10:08 da manhã  
Anonymous pedro b. said...

“A tua casa, sendo o lugar onde lês, pode dizer-nos que lugar ocupam os livros na tua vida, se são uma defesa que pões à frente para manteres afastado o mundo exterior, um sonho em que mergulhas como numa droga, ou se são pontes que lanças para o exterior, para o mundo que te interessa tanto que queres dilatar e modificar as suas dimensões através dos livros. (…)”

Italo Calvino, Se Numa Noite De Inverno Um Viajante (trad. José colaço Barreiros), Porto: Público /Mil Folhas, 2002, pp. 120-1

Peguei neste livro hoje de manhã. Lio-o em Setembro de 2015 (anotação a lápis na primeira página) e ia agora arrumá-lo na estante, quando deparei com uma passagem sublinhada. Os meus livros estão sempre em atraso. Neste momento estou a ler um outro adquirido na Feira do livro de 1994 (certamente numa compra de ocasião). Ou seja, retomo o livro mais de 20 anos depois, com as páginas já amarelecidas pelo tempo. Mas é raro anotar a data em que os comprei. Uma vez por outra tem piada, fazê-lo por sistema tornar-se-ia demasiado deprimente. Há livros que apodrecem nas prateleiras há 20 e 30 anos, talvez mais, perseguindo-me de casa para casa.
A tua casa, o lugar onde lês… mas Jorge Luís Borges diz que leu toda a Divina Comédia (que não humana), de Dante no metro, a caminho do trabalho. Como era bibliotecário, muitos livros leu-os também de pé, entre as estantes da biblioteca. E outros nunca os leu; dizia que provavelmente nunca leu um romance inteiro, do princípio ao fim. Limitava-se a folhear e ler passagens. Por isso escrevia contos, e nunca o tentou a forma romance. Em contrapartida, leu muitos livros duas vezes; ou, melhor dito, alguns livros inúmeras vezes.
Calvino diz que para saber que lugar ocupam os livros na tua vida, devemos começar… pela cozinha. “A cozinha é a parte da casa que mais coisas pode dizer-nos a teu respeito”, etc., etc. (refere-se a Ludmilla, uma personagem feminina portanto. Enfim, uma afirmação talvez um pouco machista, mas vale a pena meditar sobre o assunto). Tsundoku? Não conhecia, pensei que se tratasse de uma mania especificamente ocidental, esta coisa de comprar livros e lê-los anos depois.

17/11/15 10:55 da manhã  
Blogger Belogue said...

Não é maravilhoso? Abrir um livro e o que lá está, fazer sentido naquela situação? Li esse livro há alguns anos. Não me lembro do assunto/tema do mesmo, o que quer dizer que não devo ter gostado grande coisa...
Na cozinha só tenho revistas de culinária, que confesso, gosto muito de ler principalmente quando estou a tomar o pequeno almoço. Bem, no geral gosto de ler revistas de culinária (e dar a minha opinião, com os meus botões: "eu não fazia isto assim", "ena, tanto queijo", coisas...)

Parece que os japoneses também têm problemas com o tempo: pouco tempo para tudo o que gostavam de ler...

Até breve, professor.

17/11/15 10:23 da tarde  
Blogger Belogue said...

Querido Pai Natal
Tenho um comentário ao teu comentário: "A moderna literatura é uma literatura de masturbadores" ( Ricardo Reis)
Beijos e abraços, beluga

18/11/15 8:50 da manhã  
Blogger Belogue said...

Querida Beluga, sou eu, o Pai Natal

Respondeu apenas a uma pequena parte do meu comentário, e mesmo assim, de forma errada. Como saberá - creio - a modernidade já passou. Deverei aguardar resposta à outra parte do comentário? Até breve, Pai Natal

(Não será antes "Toda a literatura moderna é uma literatura masturbatória"?)

18/11/15 7:58 da tarde  

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