quinta-feira, outubro 24, 2013

- o carteiro -
uma fotografia, lindíssima, da madonna em início de carreira






















(vi aqui)

quarta-feira, outubro 23, 2013

- original soundtrack -

esta música faz-me lembrar os meus quinze anos, altura em que apesar da vida ser bastante mais difícil, havia a esperança de ainda nada ter sido feito. todas as potencialidades: 

















Sheets of empty canvas, untouched sheets of clay
Were laid spread out before me as her body once did.
All five horizons revolved around her soul as the earth to the sun
Now the air I tasted and breathed has taken a turn

Ooh, and all I taught her was everything
Ooh, I know she gave me all that she wore

And now my bitter hands chafe beneath the clouds of what was everything.
Oh, the pictures have all been washed in black, tattooed everything...

I take a walk outside, I'm surrounded by some kids at play
I can feel their laughter, so why do I sear?
Oh, and twisted thoughts that spin round my head, I'm spinning, oh,
I'm spinning, how quick the sun can drop away

And now my bitter hands cradle broken glass of what was everything
All the pictures have all been washed in black, tattooed everything...

All the love gone bad turned my world to black
Tattooed all I see, all that I am, all I'll be... yeah...

Uh huh... uh huh... ooh...

I know someday you'll have a beautiful life,
I know you'll be a star in somebody else's sky,
But why, why, why can't it be, can't it be mine?

(Black, Pearl Jam)
- não vai mais vinho para essa mesa -

[na aula]
- então diga lá.
- na aula passado o professor falou que...
- eu não falei, o professor não fala. quem fala é o Zaratustra.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes ou depois. já sei que vocês me vão dizer: "ah, isso não tem nada a ver". mas tem. para quem vem aqui de vez em quando, ou só veio uma vez e não conhece nada de arte é natural que diga "isto é tão desinteressante". parece. mesmo hoje parece desinteressante. mas há que ver o contexto: estamos a sair do minimalismo (como quem diz, porque ainda há muita gente a trabalhar dentro do minimalismo); estamos a trabalhar com novos paradigmas. e dizem vocês "lá está ela com esta linguagem. pensa que nós somos tótós". Nos anos 60 e 70 os minimalistas colocaram uma hipótese (fria e quase hostil, mas necessária): e se a obra de arte fosse tudo menos expressão do interior do artista? como é que seria essa arte? e se em vez de se pensar a obra de arte quanto à sua recepção (quem vê, como vê, em que contexto), se pensasse a obra de arte quanto à sua produção? foi isso o que estes artistas da arte minimal fizeram. começaram a pensar mais a relação do observador com o espaço e da arte com o espaço. se olharmos para a obra de ellsworthy kelly vemos que é mais do que uma tela. é uma tela no chão e por isso portadora das implicações inerentes a um percurso diferente por parte do observador. é uma tela dupla, o que joga com o nosso conceito de tela. é uma tela que está no chão, o que nos desafia pois geralmente uma tela é uma coisa que está na parede pendurada com um prego. colocada no chão deixa de ser bidimensional para passar a ser tridimensional e por isso deixa de ser pintura para passar a ser escultura. é uma tela em vermelho e em azul, cores que são acentuadas pela presença da outra cor. um exemplo para as senhoras: se quiser que a sua boca fique destacada, com os dentes mais brancos e o interior mais encarnado, então experimente usar um baton transparente com reflexos azuis. para além disso, e esta é uma das características do minimalismo, é adoptada a repetição de uma estrutura. o donald judd, o dan flavin e até o robert morris faziam isso: repetiam estruturas em materiais simples como a madeira, o aço ou os espelhos e os vidros, o que permitia a transparência e a repetição de espaços cheios e vazios sem hierarquia. se a escultura é a arte do espaço, podemos dizer que esta escultura - se for escultura, não sei bem. algumas destas obras não são propriamente classificáveis - é também arte do tempo porque nos obriga a percorrê-la. relembro uma obra de robert morris: uma caixa de madeira acompanhada, em exposição, pela gravação sonora do seu processo de construção (serrar, lixar, martelar...). não é uma obra que se apresenta, é vista e depois cada um vai para sua casa. estas obras, até pela sua colocação no espaço - muitas vezes desafiando os limites desse espaço e aquilo que se entende por limites dentro de espaços de exposição - obrigam-nos a percorrê-las, a ouvi-las (no caso de Morris), a esperar para ver de outra perspectiva. pelo menos é o que eu acho. apesar de poderem dizer que não tem a ver, que o ellsworth kelly não tem nada a ver com o José Rodrigues eu insisto: tem. mesmo que o josé rodrigues não conhecesse o trabalho do ellsworth kelly, conheceria a relação de contrastes entre o azul e o vermelho. adeus, até à próxima, não façam asneiras . 

















Ellsworth Kelly
Blue, Red
1966













José Rodrigues
Medeia
TEC
2007
- o carteiro -

arte em frança durante a ocupação - primeira parte

Quer pelo lendário bigode quer pela ideologia execrável, Hitler foi e continua a ser alvo de muitas anedotas e histórias. Hoje contamos duas histórias verdadeiras acerca do Führer, mas que nem por isso são dotadas de menos interesse que as anedotas. A primeira leva-nos a recuar até o dia 28 de Junho de 1940, dias antes da assinatura do Armistício, quando Hitler, numa clara demonstração de poder se passeia por Paris. O arquitecto Speer que nos conta este episódio nas suas memórias diz-nos que o ditador alemão visitou o Louvre e mostrou ser conhecedor daquele espaço, algo que fazia frequentemente quando se encontrava acompanhado. Entre as várias obras que Hitler e a sua comitiva puderam observar não se encontrava uma que pouco tempo depois veio a fazer parte da colecção pessoal do Führer e que em 1982 foi integrada no Louvre: O Astrónomo de Vermeer.

Hitler era, tal como Göring um apaixonado por Arte e Arquitectura. De facto, Hitler havia estudado arte na sua juventude, antes de decidir transformar-se no mais terrível ditador que a história recorda. Mas, e após duas tentativas falhadas de admissão à Academia, desistiu da sua paixão e o mundo, infelizmente, perdeu um mau artista. No entanto, mesmo no campo político o Führer sempre usou a arte como forma simbólica de exercer poder. Relativamente ao Astrónomo, que é a primeira das nossas histórias, o quadro era geralmente acompanhado de um outro, O Geógrafo do mesmo autor, quadro com a mesma tipologia temática e tratamento pictórico. O Astrónomo representa um homem junto a uma janela, a consultar o globo terrestre e a proceder a inúmeras marcações, tendo por cenário uma divisão decorada com um quadro, quadro esse intitulado Moisés Salvo das Águas. O mesmo quadro encontra-se também no mesmo contexto (ou seja, a servir de pano de fundo a uma cena) na tela Senhora Escrevendo uma Carta com a sua Aia, igualmente de Vermeer. O que Hitler nunca percebeu no quadro é que este mostra o salvamento das águas de Moisés; uma cena do Antigo Testamento em que se baseia o Judaísmo, para além de mostrar o próprio percursor do Judaísmo que sendo salvo, deu origem a esta religião.

















Vermeer
The Astronomer
c. 1668
Musée du Louvre, Paris


















Vermeer
The Astronomer (pormenor)
c. 1668
Musée du Louvre, Paris


















Vermeer
Lady Writing a Letter with Her Maid
c. 1670
National Gallery of Ireland, Dublin
















Vermeer
Lady Writing a Letter with Her Maid (pormenor)
c. 1670
National Gallery of Ireland, Dublin

A outra história é-nos relatada por Ernest Hanfstaengl, um amigo de Hitler antes de este se transformar no orador que conhecemos. Um dia, no início dos anos 20, ao percorrer a Galeria Nacional de Berlim, Hitler maravilhou-se com o quadro Homem com Capacete de Ouro de Rembrandt. O ditador discorre acerca de Rembrandt dizendo que não obstante o pintor holandês ter pintado frequentemente os bairros judeus era na realidade um verdadeiro ariano e um alemão. Hitler busca também na mesma galeria um outro autor que admira: Miguel Ângelo. Na realidade a galeria não possuía nenhuma obra deste autor, mas perante São Mateus e o Anjo de um outro Miguel Ângelo, Michelangelo Merisi da Caravaggio – Hitler estaca e encomia a pintura. O que nos mostram estas duas histórias? Que não obstante Hitler ser um apreciador de arte, era um apreciador de arte limitado, como um falso amante que se dedica ao ser amado e não à arte de amar em si. De facto, e ao longo de anos de regime nazi, veremos que os gostos pessoais do Führer e as suas concepções acerca do belo o limitam, bem como limitam os seus seguidores, nas imensas possibilidades que a arte moderna abre. Vemos assim como Hitler tenta obnubilar a relação indubitável existente entre os pintores holandeses e a comunidade judaica, bem como confunde “a rima com a poesia” ao confundir dois dos maiores pintores italianos.

Quando instituído o Governo de Vichy após a rendição francesa, o regime nazi viu-se no melhor dos mundos: uma cidade (Paris), centro do mercado artístico da época, repleta de colecionadores e galerias de arte; ou seja, a coutada ideal para o caçador perseguir as presas. As presas eram as dezenas de colecionadores de arte, uma boa fonte de abastecimento de obras para o regime conseguir dar resposta a um sonho de Hitler: criar um museu de verdadeira arte em Linz, e limpar assim o mundo das perniciosas obras de arte degenerada, ou seja, arte moderna que englobava, segundo as preferências do Führer, o Dadaísmo, o Cubismo, o Surrealismo, mas também o Impressionismo e o Pós Impressionismo bem como todas as realizações de artistas judeus. Entre esses colecionadores estavam nomes como Paul Rosenberg, Alphonse Kann, os Rothschild, os Bernheim-Jeune e os David Weill, entre muitos outros que a história não recordou como estes. O esquema parecia simples mas na realidade era de uma complexidade que demonstrava o quão importante era a arte para o regime, tanto que quando começou o julgamento de Nuremberga uma das acusações que pesava sobre os réus era a da espoliação cultural. Tudo começava pelo próprio estatuto do habitante em França durante a Ocupação: os habitantes podiam ser despojados de tudo quanto possuíam. Nesse sentido, as mais belas casas e palácios foram ocupados pelas forças nazis que aí instalavam o seu lar ou ministérios, e o seu recheio totalmente saqueado. Após a purga, milhares de peças de arte degenerada ou não, como quadros, esculturas, bandeiras, cerâmica, milhões de manuscritos e até roupa de cama, foram levadas para armazéns localizados um pouco por toda a Paris. Um desses armazéns era o Museu Jeu de Paume. Eram três as entidades que procediam à confiscação: a Direcção Militar para a Protecção da Arte, a Embaixada Alemã em Paris e o ERR, ligado a Göring, sendo este ultimo o que mais eficazmente e de forma mais marcadamente sistemática despojou os franceses dos seus bens artísticos. Inicialmente o ERR era um pequeno serviço que confiscava as bibliotecas dos opositores políticos do Partido. Porém através de um decreto de 1940 passou a estar responsável pela confiscação de obras de arte na zona mais rica da França ocupada. Contava com cerca de 60 funcionários, entre historiadores de arte, fotógrafos, camionistas e galeristas colaboracionistas que venderam por muito pouco os autores que representavam. Após a chegada das obras ao Jeu de Paume as mesmas eram classificadas: as boas obras de arte, segundo os conceitos alemães, ocupavam as primeiras e mais amplas salas do museu enquanto as obras de arte degenerada eram relegadas para aquilo a que se chamava, em tom jocoso, Sala dos Mártires, no fundo do museu. Todas elas eram classificadas quanto à sua proveniência: por exemplo “ka 8”; ou seja, a oitava obra do lote pertencente a Alphonse Kann, mas também quanto à data, dimensões e título provável da obra. Uma prova de que “quem nunca comeu melaço, quando come se lambuza” foi a forma como alguns quadros foram classificados. Assim, a Mulher de Vermelho e Verde de Léger foi descrita como Cavaleiro com Armadura, o que mostra que os oficiais nazis não só não possuíam qualquer conhecimento da arte moderna como também da de Léger em particular, um autor que nunca pintou qualquer quadro com essa temática, e por fim, que estavam orientados para um pensamento bélico, incapazes por isso de ver para além da aparência. Em seguida eram retiradas dos lotes as obras destinadas a Hitler. Para se certificar que tinha tudo o que desejava, o próprio Führer percorria o Jeu de Paume indicando as obras que lhe apraziam.
















Fernand Léger
La Femme en rouge et vert
1914














Jeu de Paume
Sala dos Mártires
Segunda Guerra Mundial

sábado, outubro 12, 2013

- original soundtrack -
Lascia ch'io pianga
mia cruda sorte,
e che sospiri la libertà.
Il duolo infranga queste ritorte
de' miei martiri sol per pietà.

quarta-feira, outubro 09, 2013

- o carteiro -

(...)
Triste é comprar castanhas depois da tourada
entre o fumo e o domingo na tarde de novembro 
e ter como futuro o asfalto e muita gente 
e atrás a vida sem nenhuma infância
revendo tudo isto algum tempo depois 
A tarde morre pelos dias fora 
É muito triste andar por entre Deus ausente
(...)

(Ruy Belo, Mão no Arado)

terça-feira, outubro 08, 2013

que telha!
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou como isto está mesmo fraquinho. bocês sabeindes c'agora ando sem tempo. mas bou-bos preparar umas coisas memo bouas. só que não posso postar agora ou posso ser acusada de me auto plagiar. sabem que já postei trabalhos, pesquisas e depois apercebo-me que os meus professores começam a fazer perguntas estranhas sobre os trabalhos? pois é. hoje o antes e depois é uma analogia muito rebuscada. por isso quem não quiser ler, não leia. a primeira imagem é da lebre do Dürer. E vocês perguntam: mas o que é que ainda não foi dito da lebre que tu possas dizer. de facto nada. mas lembrei-me que os olhos da lebre mostram lá dentro uma janelinha reflectida. o que quer dizer que o Dürer não a desenhou no campo, mas num local fechado, talvez o seu atelier. ora isto lembrou-me uma outra coisa que já postei aqui que era também sobre o reflexo. o reflexo do pintor jan van eyck na tela da virgem e o cónego van der paele, em que a imagem do pintor aparece reflectida na armadura de uma das personagens. andei duas semanas para conseguir ver aquilo. estive para desistir, mas a minha fonte era peremptória. e escrevia para o Guardian, o que foi quase um argumento tão bom como a certeza da escritora. Vocês sabem que o Dürer era um mestre. lembram-se daquele auto-retrato nu que ele fez e que funcionou quase como forma de diagnóstico para  médico? Pois é, uma pessoa sublima sempre estes autores, mas este gajo era mesmo bom a retratar as coisas tal como elas eram. vejam, para além dos olhos, como é que ele pintou, em aguarela o pelo, com pinceladas brancas na extremidade para dar a ideia de brilho. ou como as orelhas estão no ar apesar da lebre parecer estar em repouso. como de facto acontece. mas o que interesse são os olhos. geralmente é dito, com alguma piroseira (desculpem, estou do contra), que os olhos são o espelho da alma. se calhar, Dürer não sabia se as lebres tinham alma ou não e por isso em vez de pintar um céu de cenouras e vegetais, pintou as janelas da sua casa. a propósito disto lembrei-me também de outra coisa do Van Eyck, o espelho do casamento dos arnolfini que reflete o espaço do pintor; ou seja, o nosso espaço porque nós, tal como o pintor, estamos de fora da cena. e depois disso, lembrei-me de uma obra de um artistas conceptual que se chama Giuseppe Penone. já sei, vão dizer "e isto é arte?" se para quem faz é arte, então é arte. não sei, não tenho uma teoria acerca disso e é por isso que cada vez posto menos. o Giuseppe penone é um artista  de Arte Povera. vocês sabem, foram talvez os tipos que retiraram os materiais nobres da arte, que fizeram arte com ramos, com espelhos, com terra... o penone fez coisas com espelhos. uma dessas coisas que ele fez foi esta...coisa. não se se pode ser chamada de performance, pois não o trabalho não compreende nenhuma acção. colocou lentes espelhadas nos olhos o que fazia com que os olhos deixassem de ser o espelho da alma para passarem a ser o espelho do mundo. e a partir do momento em que ele colocou as lentes deixou de ter percepção do mundo através do que via para passar a ter de outra forma (cheiro, tacto...). para além disso pode concentrar-se mais na sua visão interior do que no exterior, o que é um bocado individualista, mas vocês sabem... desde o romantismo a coisa passou a ser muito individualista. olhem, vou dormir. estou chateada. sinto a celulite a abrir buracos no meu rabiosque como se isto fosse um campo de golfe. vou pôr Avéne no rosto, Roc nos olhos e Natura na "covinha dos ladrões" (aka nuca) para dormir melhor. beijinhos e cafunés.


















Dürer
Young Hare
1502
Graphische Sammlung Albertina, Vienna






















Dürer
Young Hare (pormenor)
1502
Graphische Sammlung Albertina, Vienna





















Giuseppe Penone
Rovesciare i propri occhi
1970
Turim 

quinta-feira, outubro 03, 2013

- o carteiro -
deixo-vos aqui algumas imagens de um dos cadernos de esboço de Van Gogh. Chamar-lhes esboços é insulto.


























Van Gogh
View of the Sea at Scheveningen

1882



















Van Gogh
Congregation Leaving the Reformed Church at Nuenen
1884

(vi aqui)

terça-feira, outubro 01, 2013

- o carteiro -

tinha tanto para dizer... tenho tanto para dizer, para falar a verdade. mas não posso fazê-lo aqui. se vocês soubessem o que se passa na minha cabeça. e no meu corpo... a minha cabeça diz que não, o meu corpo diz que sim. numa situação normal a minha cabeça venceria, mas acho que neste caso é o cansaço que me vence. como está a chover e como não tenho tido tempo para preparar posts - com muita pena e preocupação minha - deixo-vos um quadro que toda gente já conhece. posto-o não pelas figuras em primeiro plano, mas pelo fundo. acho que nunca ninguém repara no fundo e o fundo é o melhor. vejam como o Caillebotte pintou a água da chuva entre as pedras. este gajo merecia um estalo!  

















Gustave Caillebotte
Paris Street, Rainy Day
1877
Art Institute of Chicago