terça-feira, novembro 08, 2005

TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

[Na esquadra da polícia]

- Queria falar com o comandante, por favor.
- Um momentinho. (...)
- Sim? Quem deseja falar comigo?
- Sou eu senhor comandante.
- O que foi, o que deseja?
- É um assunto complicado...
- Pode falar que os meus subordinados são de confiança.
- É o seguinte... Ai que vergonha...
- Fale. Deseja um copo de água com açucar? Um cafézinho?
- Não, não, obrigada. O meu problema é que... eu tenho sido assediada no meu local de trabalho e de uma forma obscena: apalpam-me, dizem que sou a coisa mais bem feita do mundo. Um dia, veja bem, estavam dois tipos a olhar para mim e a comentar: "É boa". E o outro: "Sim, é muito boa". E isto não é tudo, as condições de trabalho são péssimas: o que recebo é gerido por outras pessoas, estou todo o dia de pé, na mesma posição e a minha idade, como pode ver, já não é o que era...
- Mas está muito bem conservada.
- Obrigado. Mas isso são eles que me obrigam a fazer. Não posso ir um dia mais desleixada...
- Ora tem razão, tem muita razão. Isso não é só assédio sexual como quebra do contrato de trabalho. Vai apresentar queixa?
- Vou.
- Nome do seu patrão?
- Estado francês. Ou mais concretamente, Museu do Louvre.
- O seu nome?
- Vénus de Milo. Com um "l" só. Os Millo com dois "l's" são de Toulose.


Vénus de Milo
130-120A.C
Museu do Louvre, Paris