Bom ano novo para todos. Vou nadar.
sexta-feira, dezembro 30, 2005
quinta-feira, dezembro 29, 2005
DISCOS PE(R)DIDOS
Senhor D.J. quero ouvir "Krafty" dos New Order, para dedicar aos meus familiares que estão no Luxemburgo, ao cabeleireiro Faty, às minhas amigas Joceline e Catherine Paiva que também estão no Luxemburgo, a todas as minhas colegas da fábrica de calçado e ao meu namorado Tó Jó que conseguiu emprego na Escócia e vai para lá agora no início do ano.
(...)
Just give me one more day (one more day)
Give me another night (just another night)
I need a second chance (second chance)
This time I'll get it right (This time I'll get it right)
I'll say it one last time (one last time)
I've got to let you know (I've got to let you know)
I've got to change your mind (I've got to change your mind)
I'll never let you go
(...)
Senhor D.J. quero ouvir "Krafty" dos New Order, para dedicar aos meus familiares que estão no Luxemburgo, ao cabeleireiro Faty, às minhas amigas Joceline e Catherine Paiva que também estão no Luxemburgo, a todas as minhas colegas da fábrica de calçado e ao meu namorado Tó Jó que conseguiu emprego na Escócia e vai para lá agora no início do ano.
(...)
Just give me one more day (one more day)
Give me another night (just another night)
I need a second chance (second chance)
This time I'll get it right (This time I'll get it right)
I'll say it one last time (one last time)
I've got to let you know (I've got to let you know)
I've got to change your mind (I've got to change your mind)
I'll never let you go
(...)
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS
(e aparvalhados)
- Senhor Proust?...
Jacques-Emile Blanche
Portrait of Marcel Proust
1892
- Sou eu, o Joyce.
(e aparvalhados)
- Senhor Proust?...
- Sim, sou eu. Quem me quer falar?
Jacques-Emile Blanche
Portrait of Marcel Proust
1892
- Sou eu, o Joyce.
- Joyce?... Não estou a ver, mas aproxime-se, sente-se aqui. Joyce? Joyce quê?
- Joyce, James Joyce.
- Não estou a ver. Havia uma família Joyce perto da minha antiga casa. Foi meu vizinho?
- Não senhor Proust. Eu sou escritor.
- Ah, também se dedica a estas miudezas. Pois é meu caro, as mulheres decoram a casa, colocam sanefas e laços em tudo quanto é sítio. Os homens escrevem. Já sei, veio aqui para eu ler um manuscrito seu, alguma história que escreveu. Deixe aí em cima da mesa.
- Acho que não compreendeu senhor Proust. Eu sou o Joyce, autor do "Ulisses". Se não sabe eu recordo-lhe que é talvez a obra mais pesada a seguir à sua.
- Já ouvi falar em si, seu sacana. Aquele que me queria tirar o título de escritor com a obra mais longa do mundo. Resmas e resmas de páginas…
- O número de páginas não lhe tirei, mas consegui dissecar a existência e o Tempo de uma forma que o senhor nunca conseguiu.
- E o que me quer? (Proust com o olho a tremelicar)
- Na biblioteca de Alexandria estão a precisar de espaço e pediram-me para falar consigo, para o convencer a tirar de lá três volumes da “Recherche” para ver se cabe o meu “Ulisses”.
- E porque é que eu haveria de fazer isso?
- Senhor Proust; está a ver a anca da Jennifer Lopez?
- Estou…
- E agora a da Shakira…
- Sim. Mas o que é que isso tem a ver?
- Acha que as duas cabem no mesmo ecrã de televisão?
- Não.
- Exacto. Não há espaço para nós os dois na Biblioteca de Alexandria.
- E porque é que vão tirar o meu livro?
- Não iam tirar a “Cidade de Deus” do Santo Agostinho. Para além disso, a minha personagem é tão famosa, que no dia 16 de Junho se festeja o Bloomsday, o dia em que tudo acontece na obra. A minha obra tem uma estrutura semelhante à Odisseia, condensa o seu livro e…
- Ok, compreendi. É por eu ser judeu, não é?
- Não senhor Proust. Eu também sou judeu.
(….)
- Então diga-me lá; acha que a minha “Recherche” é Jennifer Lopez ou é mais Shakira?
- Ah, também se dedica a estas miudezas. Pois é meu caro, as mulheres decoram a casa, colocam sanefas e laços em tudo quanto é sítio. Os homens escrevem. Já sei, veio aqui para eu ler um manuscrito seu, alguma história que escreveu. Deixe aí em cima da mesa.
- Acho que não compreendeu senhor Proust. Eu sou o Joyce, autor do "Ulisses". Se não sabe eu recordo-lhe que é talvez a obra mais pesada a seguir à sua.
- Já ouvi falar em si, seu sacana. Aquele que me queria tirar o título de escritor com a obra mais longa do mundo. Resmas e resmas de páginas…
- O número de páginas não lhe tirei, mas consegui dissecar a existência e o Tempo de uma forma que o senhor nunca conseguiu.
- E o que me quer? (Proust com o olho a tremelicar)
- Na biblioteca de Alexandria estão a precisar de espaço e pediram-me para falar consigo, para o convencer a tirar de lá três volumes da “Recherche” para ver se cabe o meu “Ulisses”.
- E porque é que eu haveria de fazer isso?
- Senhor Proust; está a ver a anca da Jennifer Lopez?
- Estou…
- E agora a da Shakira…
- Sim. Mas o que é que isso tem a ver?
- Acha que as duas cabem no mesmo ecrã de televisão?
- Não.
- Exacto. Não há espaço para nós os dois na Biblioteca de Alexandria.
- E porque é que vão tirar o meu livro?
- Não iam tirar a “Cidade de Deus” do Santo Agostinho. Para além disso, a minha personagem é tão famosa, que no dia 16 de Junho se festeja o Bloomsday, o dia em que tudo acontece na obra. A minha obra tem uma estrutura semelhante à Odisseia, condensa o seu livro e…
- Ok, compreendi. É por eu ser judeu, não é?
- Não senhor Proust. Eu também sou judeu.
(….)
- Então diga-me lá; acha que a minha “Recherche” é Jennifer Lopez ou é mais Shakira?
O CARTEIRO
Ainda a "Recherche..." ou "Nós estamos tãããão cultos"
[Eu acho que há uma narrativa metafísica em Proust, com o microcosmos do autor a ser a representação do macrocosmos que é a obra. Não acha?]
[Sim, não podia estar mais de acordo consigo, mas penso que Joyce consegue isso melhor porque incorpora um tempo físico.]
(Ontem no programa “Livro Aberto”, de Francisco José Viegas, discutiam-se os livros do ano. Quando alguém diz que recomenda, é porque leu, é porque viu, é porque experimentou. Dizer que “é muito bom” implica conhecimento de causa. Fiquei a pensar: “Será que esta gente lê mesmo isto tudo? “ Acho que não!)
Voltando a Proust e a Joyce, e como escrevi no outro post, eles encontraram-se , mas o encontro pode classificar-se como decepcionante: Joyce expansivo e Proust comedido; Joyce fumador e Proust asmático; Joyce caloroso, Proust irritadiço. Para a posteridade Joyce foi saudado, enquanto Proust ficou esquecido durante cerca de 30, 40 anos. Proust era snob, mas quando morreu despertou um círculo de amigos e admiradores que reconheciam nele o mundo dos salons da belle-époque e o facto desta escrita estar afastada das vanguardas. O próprio facto de ser judeu (algo que de certa forma é retratado no livro com o caso Dreyfuss) fez com que não tenha sido aceite até aos anos 70 .
Daqui a nada, vamos ver o seu encontro em pormenor (imaginado, claro, que o meu conhecimento de Proust esgota-se aqui).
Ainda a "Recherche..." ou "Nós estamos tãããão cultos"
Como foi publicado ontem no Belogue a leitura de Proust terminou, mas a obra não. Proust consegue uma série de ramificações a outros autores (ou não tivesse ele dado início ao romance moderno, juntamente com Italo Calvino porque privilegia a forma em detrimento do conteúdo – aquela história de Swann e Odette de Crecy que me fez ficar agarrada todo o primeiro volume e que nunca mais desenvolvia), principalmente a James Joyce. Os dois devem disputar depois de mortos o espaço nas prateleiras das nossas bibliotecas e devem disputar também o maior número de citações por parte de quem nunca as leu. São livros que ficam “sempre bem”.
[Eu acho que há uma narrativa metafísica em Proust, com o microcosmos do autor a ser a representação do macrocosmos que é a obra. Não acha?]
[Sim, não podia estar mais de acordo consigo, mas penso que Joyce consegue isso melhor porque incorpora um tempo físico.]
(Ontem no programa “Livro Aberto”, de Francisco José Viegas, discutiam-se os livros do ano. Quando alguém diz que recomenda, é porque leu, é porque viu, é porque experimentou. Dizer que “é muito bom” implica conhecimento de causa. Fiquei a pensar: “Será que esta gente lê mesmo isto tudo? “ Acho que não!)
Voltando a Proust e a Joyce, e como escrevi no outro post, eles encontraram-se , mas o encontro pode classificar-se como decepcionante: Joyce expansivo e Proust comedido; Joyce fumador e Proust asmático; Joyce caloroso, Proust irritadiço. Para a posteridade Joyce foi saudado, enquanto Proust ficou esquecido durante cerca de 30, 40 anos. Proust era snob, mas quando morreu despertou um círculo de amigos e admiradores que reconheciam nele o mundo dos salons da belle-époque e o facto desta escrita estar afastada das vanguardas. O próprio facto de ser judeu (algo que de certa forma é retratado no livro com o caso Dreyfuss) fez com que não tenha sido aceite até aos anos 70 .
Daqui a nada, vamos ver o seu encontro em pormenor (imaginado, claro, que o meu conhecimento de Proust esgota-se aqui).
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA
A Festa de Natal dos simpatizantes do Belogue (Eduardo, veja lá se trata da sua garganta porque por mais romântica que seja a ideia de cuspir sangue, não o queremos morto antes dos 80.)
Ai Meu Deus! Estou com uma:
Henri Toulouse-Lautrec
The Hangover (A ressaca)
1888
The national Gallery, Londres
de tomates-cereja e espargos. Não voltem a deixar aproximar-me desses alimentos, principalmente quando há um prato de massa com vegetais a seguir. E lembrem-me para não tornar a tomar banho em água fria às 2:00h. Nem consigo abrir os olhinhos e tenho uma visita para fazer em inglês.
A Festa de Natal dos simpatizantes do Belogue (Eduardo, veja lá se trata da sua garganta porque por mais romântica que seja a ideia de cuspir sangue, não o queremos morto antes dos 80.)
Ai Meu Deus! Estou com uma:
Henri Toulouse-Lautrec
The Hangover (A ressaca)
1888
The national Gallery, Londres
de tomates-cereja e espargos. Não voltem a deixar aproximar-me desses alimentos, principalmente quando há um prato de massa com vegetais a seguir. E lembrem-me para não tornar a tomar banho em água fria às 2:00h. Nem consigo abrir os olhinhos e tenho uma visita para fazer em inglês.
quarta-feira, dezembro 28, 2005
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA
A Beluga tem a informar que acabou a leitura de «Em Busca do Tempo Perdido» de Marcel Proust. A leitura dos sete volumes começou em 19 de Março de 2005 e acabou ontem, por volta das 0:10h. Quero por isso fazer alguns agradecimentos:
- Ao Proust, a quem vou voltar a propósito do seu encontro com James Joyce em “How Proust can change your life”, e a propósito de muitas outras coisas (Sodoma e Gomorra, a dissecação da existência, como se pode escrever tão bem…)
- Ao pai, à mãe e ao irmão pelo mecenato desta leitura
- À Fnac por ter patrocinado a maratona
- Às noites de solidão e tristeza porque potenciaram a leitura
- A esta equipa maravilhosa de sonoplastia, som, fotografia, aderecistas, assistentes de câmara, guionistas… (Ok, já estou a delirar, vou parar por aqui com os agradecimentos).
Referir ainda que de facto o nome do narrador é Marcel, embora não saibamos se é Proust. Esta referência ao nome do narrador só surge duas vezes em toda a obra e ambas no V volume, página 69: "«Meu» ou «Meu querido», seguidas em ambos os casos do meu nome de baptismo, o que, dando ao narrador o mesmo nome próprio do autor deste livro, daria:«meu Marcel», «Meu querido Marcel»." E também na página 49 "...me trouxe um bilhete dela a pedir-me que tivesse paciência e com aquelas simpáticas expressões que lhe eram usuais: «Meu caro, meu querido Marcel, chegarei não tão depressa como este ciclista...»".
Deixo-vos com o fim do livro para saberem como é que acaba:
“Mas, ao menos, se tais forças me fossem concedidas pelo tempo suficiente para realizar a minha obra, não deixaria acima de tudo de descrever nela os homens, ainda que tal os fizesse parecerem-se com uns seres monstruosos, uns seres que ocupam um lugar tão considerável comparado com o tão restrito lugar que lhes está reservado no espaço, um lugar de facto desmedidamente prolongado, visto que, como gigantes imersos nos anos, eles atingem simultaneamente épocas tão distantes, entre as quais tantos dias ocuparam o seu lugar: no Tempo.”
“Este é o dia que o Senhor fez. A-leluia, A-le-lui-a! »
A Beluga tem a informar que acabou a leitura de «Em Busca do Tempo Perdido» de Marcel Proust. A leitura dos sete volumes começou em 19 de Março de 2005 e acabou ontem, por volta das 0:10h. Quero por isso fazer alguns agradecimentos:
- Ao Proust, a quem vou voltar a propósito do seu encontro com James Joyce em “How Proust can change your life”, e a propósito de muitas outras coisas (Sodoma e Gomorra, a dissecação da existência, como se pode escrever tão bem…)
- Ao pai, à mãe e ao irmão pelo mecenato desta leitura
- À Fnac por ter patrocinado a maratona
- Às noites de solidão e tristeza porque potenciaram a leitura
- A esta equipa maravilhosa de sonoplastia, som, fotografia, aderecistas, assistentes de câmara, guionistas… (Ok, já estou a delirar, vou parar por aqui com os agradecimentos).
Referir ainda que de facto o nome do narrador é Marcel, embora não saibamos se é Proust. Esta referência ao nome do narrador só surge duas vezes em toda a obra e ambas no V volume, página 69: "«Meu» ou «Meu querido», seguidas em ambos os casos do meu nome de baptismo, o que, dando ao narrador o mesmo nome próprio do autor deste livro, daria:«meu Marcel», «Meu querido Marcel»." E também na página 49 "...me trouxe um bilhete dela a pedir-me que tivesse paciência e com aquelas simpáticas expressões que lhe eram usuais: «Meu caro, meu querido Marcel, chegarei não tão depressa como este ciclista...»".
Deixo-vos com o fim do livro para saberem como é que acaba:
“Mas, ao menos, se tais forças me fossem concedidas pelo tempo suficiente para realizar a minha obra, não deixaria acima de tudo de descrever nela os homens, ainda que tal os fizesse parecerem-se com uns seres monstruosos, uns seres que ocupam um lugar tão considerável comparado com o tão restrito lugar que lhes está reservado no espaço, um lugar de facto desmedidamente prolongado, visto que, como gigantes imersos nos anos, eles atingem simultaneamente épocas tão distantes, entre as quais tantos dias ocuparam o seu lugar: no Tempo.”
terça-feira, dezembro 27, 2005
O CARTEIRO
Filmes ou "Eu hoje não escrevo nada de jeito"
O filme “A noiva cadáver” de Tim Burton é absolutamente delicioso, principalmente nos pormenores. Há pormenores e associações no filme que são sublimes. Entre muitos, refiro três.
A primeira situação é quando Victoria, preocupada com o desaparecimento de Victor, cose no seu quarto uma colcha que depois usa para se libertar do mesmo quarto/masmorra, naquilo que me pareceu uma alusão ao tapete de Penélope.
A segunda, quase imperceptível dá-se quando o ancião, feiticeiro do mundo dos mortos abre o livro dos feitiços. Aí podemos ver e associar a personagem com Leonardo da Vinci, uma vez que uma das ilustrações do livro é “O Homem Vitruviano” de Leonardo, mas na versão esqueleto.
A última imagem do filme é a noiva cadáver, Emily a desfazer-se, pulverizar-se em borboletas, tal qual a Carolyn Murphy no anúncio da Estée Lauder ou a Madonna no vídeo-clip da música do anúncio.
Tal como Philip Roth (de quem duas páginas escritas valem mais que um livro de muitos escritores mais conhecidos) dizia (li isto na Actual embora seja uma citação retirada do Mil Folhas): “A quantidade de pormenores é o que dá a impressão de realidade na literatura. E o pormenor é um argumento contra a generalização. O romance em si é uma rebeldia contra as generalizações. Por isso não há nada mais ridículo do que teorizar sobre o romance. O romance é antiteoria, trata sempre de pormenores.”
Há quem diga, com carácter pejorativo, que o romance é o género literário da burguesia. Para mim que não sou deusa nem heroína, não me posso ver representada pela epopeia. Como não sou rainha não posso ser representada pela tragédia. Como não sou uma sacana, não posso ser representada pela sátira. Fico com o romance (dos outros) e fico muito bem, obrigado por perguntar.
Filmes ou "Eu hoje não escrevo nada de jeito"
O filme “A noiva cadáver” de Tim Burton é absolutamente delicioso, principalmente nos pormenores. Há pormenores e associações no filme que são sublimes. Entre muitos, refiro três.
A primeira situação é quando Victoria, preocupada com o desaparecimento de Victor, cose no seu quarto uma colcha que depois usa para se libertar do mesmo quarto/masmorra, naquilo que me pareceu uma alusão ao tapete de Penélope.
A segunda, quase imperceptível dá-se quando o ancião, feiticeiro do mundo dos mortos abre o livro dos feitiços. Aí podemos ver e associar a personagem com Leonardo da Vinci, uma vez que uma das ilustrações do livro é “O Homem Vitruviano” de Leonardo, mas na versão esqueleto.
A última imagem do filme é a noiva cadáver, Emily a desfazer-se, pulverizar-se em borboletas, tal qual a Carolyn Murphy no anúncio da Estée Lauder ou a Madonna no vídeo-clip da música do anúncio.
Tal como Philip Roth (de quem duas páginas escritas valem mais que um livro de muitos escritores mais conhecidos) dizia (li isto na Actual embora seja uma citação retirada do Mil Folhas): “A quantidade de pormenores é o que dá a impressão de realidade na literatura. E o pormenor é um argumento contra a generalização. O romance em si é uma rebeldia contra as generalizações. Por isso não há nada mais ridículo do que teorizar sobre o romance. O romance é antiteoria, trata sempre de pormenores.”
Há quem diga, com carácter pejorativo, que o romance é o género literário da burguesia. Para mim que não sou deusa nem heroína, não me posso ver representada pela epopeia. Como não sou rainha não posso ser representada pela tragédia. Como não sou uma sacana, não posso ser representada pela sátira. Fico com o romance (dos outros) e fico muito bem, obrigado por perguntar.
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO
[No cinema]
A "carneirada" a ir assistir a um filme com o mesmo espírito de quem vai ver um jogo de futebol. Levam as pipocas, as gasosas, a falta de respeito, o palavrão e a piada fácil na ponta da língua. Um dos "adeptos" chegou mesmo a soltar um:"és toda boa" a um boneco animado.
[Na rua]
Compreende-se que fosse dia seguinte ao dia de Natal. Compreende-se a "tolerância de ponto". Compreende-se a ausência de pessoas na rua, principalmente com a chuva que estava. Não se compreende que eu não tivesse tempo de soltar um "macaca" para ir desta para melhor. A solidão é mesmo a pior companhia.
[Operações matemáticas]
Deus disse para Adão e Eva: "crescei e multiplicai-vos". Mas sabendo nós que na multiplicação a ordem dos factores é arbitrária, então quer dizer que tanto faz ter sexo antes do casamento como depois, não é?
[No hospital]
Consulta marcada para as 12:30h embora só tenha entrado para o consultório às 16h (mais ou menos).
(...)
- E eu... acho que... penso, quer dizer, nunca passei por isto, não tenho a certeza, mas estou a sofrer.
(...)
- Desculpe estar a chorar.
- Pode chorar.
- Posso chorar, mas acho que não tenho jeito nenhum para chorar.
- Não, não se subestime. Até chora bem.
- Acha? Ah, então estou muito mais feliz.
[No cinema]
A "carneirada" a ir assistir a um filme com o mesmo espírito de quem vai ver um jogo de futebol. Levam as pipocas, as gasosas, a falta de respeito, o palavrão e a piada fácil na ponta da língua. Um dos "adeptos" chegou mesmo a soltar um:"és toda boa" a um boneco animado.
[Na rua]
Compreende-se que fosse dia seguinte ao dia de Natal. Compreende-se a "tolerância de ponto". Compreende-se a ausência de pessoas na rua, principalmente com a chuva que estava. Não se compreende que eu não tivesse tempo de soltar um "macaca" para ir desta para melhor. A solidão é mesmo a pior companhia.
[Operações matemáticas]
Deus disse para Adão e Eva: "crescei e multiplicai-vos". Mas sabendo nós que na multiplicação a ordem dos factores é arbitrária, então quer dizer que tanto faz ter sexo antes do casamento como depois, não é?
[No hospital]
Consulta marcada para as 12:30h embora só tenha entrado para o consultório às 16h (mais ou menos).
(...)
- E eu... acho que... penso, quer dizer, nunca passei por isto, não tenho a certeza, mas estou a sofrer.
(...)
- Desculpe estar a chorar.
- Pode chorar.
- Posso chorar, mas acho que não tenho jeito nenhum para chorar.
- Não, não se subestime. Até chora bem.
- Acha? Ah, então estou muito mais feliz.
segunda-feira, dezembro 26, 2005
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA
- Ontem havia um "Beluga ou a Formiga a quatro mãos" na Formiga Bargante. É ir ver. O que é que estão à espera? Vá. vão lá.
- Ontem havia um "Beluga ou a Formiga a quatro mãos" na Formiga Bargante. É ir ver. O que é que estão à espera? Vá. vão lá.
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO
Caravaggio
The incredulity of Saint Thomas
1601-1602
Neues Palais, Potsdam
(...) "O galo é o dono dos ovos
a galinha, da cozinha
ou se porta direitinha
ou apanha com a asa..."
Caravaggio
The incredulity of Saint Thomas
1601-1602
Neues Palais, Potsdam
A capa do Jornal Expresso desta semana dá destaque ao acordo conseguido entre o Primeiro Ministro José Sócrates e Joe Berardo no que diz respeito à fixação da colecção Berardo no CCB. A conversa decorreu juntamente com Isabel Pires de Lima na quarta feira. Embora tenha dado o seu aval na quarta, na segunda feira em entrevista ao suplemento Actual do mesmo jornal, mostrou-se intrasigente, dizendo mesmo (é a frase da reportagem): "não aceito ultimatos". Isto quer dizer que até quarta feira Isabel Pires de Lima estava a estudar a situação, não queria ser pressionada, mas na quarta, perante o "patrão", cedeu.
Só mesmo a "asa do galo" pode fazer mudar a relutância das entidades face à forma como a colecção Berardo vai ser gerida: uma gestão familiar (pelos filhos) com dinheiro dos contribuintes portugueses. Se não mudar a bem, muda a mal. Fraústo da Silva também se mostrava contra a passagem da colecção de Joe Berardo para o CCB. No fundo, até à intervenção de José Sócrates (quanto a mim despropositada pois cabia ao Ministério e não ao Primeiro Ministro dar a última palavra em negociações que estavam a ser levadas a cabo, infantilizando e desdemocratizando assim a questão) havia uma série de passos dados no sentido da conjugação de interesses. Sabem, como fazem as pesoas normais...
Com a asa de Sócrates a bater com força no cachaço da Ministra e a afagar a cabeça de Joe Berardo, coloca-se na minha cabeça uma questão. Até que ponto pode o Primeiro Ministro intervir nestes assuntos? E sob que pretexto? Que a colecção é muito boa e seria uma pena para os portugueses perderem a oportunidade de a terem por perto? Cabe ao governo, neste caso, a Sócrates, assumir um papel paternalista e dizer ao portugueses o que é melhor, quando nós sabemos que a colecção não vai ser vista pelos portugueses, mas sim pelos turistas estrangeiros que entre os Jerónimos e um pastel de nata visitam a colecção ("Oh, how lovelly indeed.")
E teremos o "Público" a apoiar cada passo do Museu/Fundação Berardo, como faz com Serralves (visto que Joe Berardo quer um modelo de gestão semelhante ao de Serralves)? E se sim, o que resta ao governo que permitiu e pagou? Será que o governo pode exigir algo em troca?
Acho que não sou a pessoa certa para fazer estas questões e muito menos para lhes dar resposta. Se calhar foi um post tolo. Tenho a certeza que em muitos Acidentais e Blasfémias, há gente mais "por dentro" que pode responder melhor. Mas caramba, a minha indignação conta. Ou não?
sábado, dezembro 24, 2005
O CARTEIRO
Efemérides
Egon Schiele
Semi-Nude girl, reclining
1911
Graphische Sammlung Albertina, Viena
Há 2005 anos nascia Jesus. Jesus só, porque acho de mau gosto chamar Cristo a uma criança recém nascida. Há seis anos o Sr. Dr. dava alta à paciente para passar o Natal em casa, mas com a notinha de voltar dia 26 e recuperar mais 300 gramas para acrescentar aos 33 quilos mínimos.
Durante quatro anos a paciente andou a decidir entre comer duas folhas de alface ou uma folha de alface, comida para gente ou para animal a deleitar-se com os quilos perdidos. Pensava na sua morte com insistência, principalmente no tipo de caixão e tentava apressar esse dia desejado porque viver, tal como no Fausto de Goethe, tinha-se tornado em enfado.
No livro "Mrs Dalloway" de Virginia Woolf, há uma frase que resume tudo: "between life and death, I've choose life". Mrs Dalloway sim, Virginia Woolf não e hipotecou o futuro com pedras no bolso.
Cada um escolhe o que mais lhe convém. Eu também escolhi a vida, embora em dias como este, fique na dúvida se não teria sido melhor apressar a chegada de uma bonita cerimónia de cremação. A nossa infelicidade (como uma personagem do Cinema Paraíso dizia) é muito maior quando colocada sobre o pano de fundo da felicidade dos outros.
I've choose life. Deve ter sido o melhor que fiz, embora ainda não tenha bem a certeza.
Efemérides
Egon Schiele
Semi-Nude girl, reclining
1911
Graphische Sammlung Albertina, Viena
Há 2005 anos nascia Jesus. Jesus só, porque acho de mau gosto chamar Cristo a uma criança recém nascida. Há seis anos o Sr. Dr. dava alta à paciente para passar o Natal em casa, mas com a notinha de voltar dia 26 e recuperar mais 300 gramas para acrescentar aos 33 quilos mínimos.
Durante quatro anos a paciente andou a decidir entre comer duas folhas de alface ou uma folha de alface, comida para gente ou para animal a deleitar-se com os quilos perdidos. Pensava na sua morte com insistência, principalmente no tipo de caixão e tentava apressar esse dia desejado porque viver, tal como no Fausto de Goethe, tinha-se tornado em enfado.
No livro "Mrs Dalloway" de Virginia Woolf, há uma frase que resume tudo: "between life and death, I've choose life". Mrs Dalloway sim, Virginia Woolf não e hipotecou o futuro com pedras no bolso.
Cada um escolhe o que mais lhe convém. Eu também escolhi a vida, embora em dias como este, fique na dúvida se não teria sido melhor apressar a chegada de uma bonita cerimónia de cremação. A nossa infelicidade (como uma personagem do Cinema Paraíso dizia) é muito maior quando colocada sobre o pano de fundo da felicidade dos outros.
I've choose life. Deve ter sido o melhor que fiz, embora ainda não tenha bem a certeza.
quinta-feira, dezembro 22, 2005
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS
Mais banhos ou
- Ainda essa história da roupa interior?
- Ah pois é!
- Irra, estás obcecada?
- Não, nem por isso!
- Mas se vai postar isto é porque vais nadar?
- Se conseguir tirar a roupa. Com o frio que está!...
[anda lá, deixa-te disso e insere as imagens]
[espera aí, tenho de falar com o tipo, a tipa...]
[isso não é nenhum tipo/tipa, é a tua imaginação]
[então o que é que tu és?]
[sou o teu neurónio. Despacha-te.]
- Bom, adeus.
- Que pedante!!!
Degas
Baigneuses sur l'herbe
1886-90
Museu d'Orsay, Paris
Jean-Honoré Fragonard
The Bathers
1772-1775
Museu do Louvre, Paris
Jean-Auguste-Dominique Ingres
Le Bain Turc
1862
Museu do Louvres, Paris
Georges Seurat
Bathers at Asniéres
1883-1884
National Gallery, Londres
Mais banhos ou
- Ainda essa história da roupa interior?
- Ah pois é!
- Irra, estás obcecada?
- Não, nem por isso!
- Mas se vai postar isto é porque vais nadar?
- Se conseguir tirar a roupa. Com o frio que está!...
[anda lá, deixa-te disso e insere as imagens]
[espera aí, tenho de falar com o tipo, a tipa...]
[isso não é nenhum tipo/tipa, é a tua imaginação]
[então o que é que tu és?]
[sou o teu neurónio. Despacha-te.]
- Bom, adeus.
- Que pedante!!!
Degas
Baigneuses sur l'herbe
1886-90
Museu d'Orsay, Paris
Jean-Honoré Fragonard
The Bathers
1772-1775
Museu do Louvre, Paris
Jean-Auguste-Dominique Ingres
Le Bain Turc
1862
Museu do Louvres, Paris
Georges Seurat
Bathers at Asniéres
1883-1884
National Gallery, Londres
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO
É ver para crer, ou "políticas que não estão ao alcance da nossa compreensão"
Imagine um Presidente da República eleito. Ao fim do seu mandato, como é óbvio, há eleições para escolher o mesmo ou um presidente diferente. Jamais lhe passaria pela cabeça que ao fim do mandato uma força superior dissesse: "João, Carlos ou António, ficas aí mais um mandato, apesar de eu saber que é necessário fazer eleições".
Confuso? Basta imaginar isto em escala pequena. Já consegue ver? Não? Então imagine que o candidato a director de um museu do IPM ganha o concuro e exerce o seu mandato por três anos, como manda a lei. Agora imagine que o senhor director do IPM, certamente preocupado com as contas públicas e para não gastar mais dinheiro, decide que não é necessário novo concurso ao fim de três anos e reconduz, quase no início do primeiro mandato, o novo director a mais três anos.
É isso que se passa.
E já agora, se entre dois candidatos ao cargo de director de um museu, um for preterido e para não criar problemas internos for destacado para outro espaço físico, e se entretanto lhe for oferecido um cargo mais "importante" e com mais visibilidade dentro do Ministério da Cultura, mas não dentro do museu, será que deve/pode acumular funções?
É ver para crer, ou "políticas que não estão ao alcance da nossa compreensão"
Caravaggio
The incredulity of Saint Thomas
1601-1602
Neus Palais, Potsdam
Imagine um Presidente da República eleito. Ao fim do seu mandato, como é óbvio, há eleições para escolher o mesmo ou um presidente diferente. Jamais lhe passaria pela cabeça que ao fim do mandato uma força superior dissesse: "João, Carlos ou António, ficas aí mais um mandato, apesar de eu saber que é necessário fazer eleições".
Confuso? Basta imaginar isto em escala pequena. Já consegue ver? Não? Então imagine que o candidato a director de um museu do IPM ganha o concuro e exerce o seu mandato por três anos, como manda a lei. Agora imagine que o senhor director do IPM, certamente preocupado com as contas públicas e para não gastar mais dinheiro, decide que não é necessário novo concurso ao fim de três anos e reconduz, quase no início do primeiro mandato, o novo director a mais três anos.
É isso que se passa.
E já agora, se entre dois candidatos ao cargo de director de um museu, um for preterido e para não criar problemas internos for destacado para outro espaço físico, e se entretanto lhe for oferecido um cargo mais "importante" e com mais visibilidade dentro do Ministério da Cultura, mas não dentro do museu, será que deve/pode acumular funções?
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA
Livraria Lello & Irmão
Lista de Natal
- O recheio da Fnac dentro da Lello & irmão no Porto.Livraria Lello & Irmão
- Um dia de sol para ver os vitrais da Lello.
- A La Perla dentro da minha gaveta (também pode ser a Agent Provocateur, ou a Intimissimi. Senhora Formiga, tem resposta ao seu post sobre roupa interior lá na Formiga Bragante).
- O "Orfeu e Eurídice" num CD a sério porque não dá para ouvir isto on-line.
- Tulipas, porque sim.
- Um Caravaggio, no mínimo, 60x40cm. Também pode ser um Klimt.
- Conhecer Mr. Love.
- A máscara e o sabre luminoso do Darth Vader
- Um Bolicao 100% fat free.
- O "Orfeu e Eurídice" num CD a sério porque não dá para ouvir isto on-line.
- Tulipas, porque sim.
- Um Caravaggio, no mínimo, 60x40cm. Também pode ser um Klimt.
- Conhecer Mr. Love.
- A máscara e o sabre luminoso do Darth Vader
- Um Bolicao 100% fat free.
quarta-feira, dezembro 21, 2005
Pergunta que eu sei que nunca vai ter resposta:
Uma mulher é menos mulher por se recusar? É errado recusarmo-nos?
Uma mulher é menos mulher por se recusar? É errado recusarmo-nos?
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO
É ver para crer ou "Não reclamem, por favor"
Caravaggio
The incredulity of Saint Thomas
1601-1602
Neus Palais, Potsdam
É ver para crer ou "Não reclamem, por favor"
Caravaggio
The incredulity of Saint Thomas
1601-1602
Neus Palais, Potsdam
Qual despesa pública, qual quê. Os problemas do país estão nos ofícios.
Imagine que vai a um sítio qualquer por exemplo, um Museu do Estado, e necessita de fazer uma reclamação. reenche um papel que tem duas vias; uma azul (à qual eles chamam verde) e uma amarela. A amarela segue para o DGAP e a azul segue para o Ministério da Cultura. Faz-se uma cópia do azul e envia-se também para o senhor director do IPM. Cada uma destas três cartas tem de ir acompanhada da resposta que lhe enviaram do Museu sobre a própria reclamação. Ao todo são quatro cartas: uma para o Ministério da Cultura (com dois anexos), uma para o IPM (com dois anexos), uma para o DGAP (com dois anexos) e uma para si próprio com a resposta à sua reclamação. É dobrar e colocar nos envelopes.
E quanto tempo demora a fazer isto? Uma hora! Porquê? Porque é a "administração pública" disse-me quem sabe destas coisas.
Fazer um ofício (neste caso quatro) na Administração Pública é abrir uma matrioska. Primeiro é preciso apontar num livro de merceraria o número do ofício, depois é preciso fazê-lo com computador segundo um modelo já definido. Não esquecer de mudar o número do processo que pode ter até quatro dígitos (vai do 1.1. até ao 7.2.1.2). Depois imprime. A folha sai torta. Volta a imprimir. A folha sai com muita tinta. Fica borratada. Volta a imprimir enquanto vai lavar as mãos. Vai para tirar cópias, mas já não há folhas na máquina. Vai buscar folhas. Espera. Faz duas cópias, uma para o copiador (eu chamo-lhe sempre contador, não sei porquê), outra para o processo. Faz duas cópias dos anexos. Não há folhas na fotocopiadora. Alguém reclama que é preciso poupar. Espera. Fotocopia. Confere se tudo bate certo (Se não bater é necessário novo processo). Dobra. Mete nos envelopes. Tira a fitinha do envelope. Fecha. Expede.
Uma hora para enviar quatro cartas. Os ofícios senhores! O problema é dos ofícios e das matrioskas.
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA
Kenneth Noland
Sol de Inverno
1962
Museu da Basileia
Chegou, mas é só o que antecede a Primavera.
- Alguém aqui ao lado ouve "We wish you a Merry Christmas". Na grafonola está Orfeu e Eurídice, mas daqui a nada Joy Division.
- O jantar de Natal dos simpantizantes do Belogue, bichas, bichos e outros deve ser, na minha opinião, dia 27 ou 28 no Porto. Acham que nos deixam ocupar o Triplex?
- A Beluga tem o último Postal de Natal na Formiga Bargante. E este é mesmo muito bonito.
Kenneth Noland
Sol de Inverno
1962
Museu da Basileia
Chegou, mas é só o que antecede a Primavera.
- Alguém aqui ao lado ouve "We wish you a Merry Christmas". Na grafonola está Orfeu e Eurídice, mas daqui a nada Joy Division.
- O jantar de Natal dos simpantizantes do Belogue, bichas, bichos e outros deve ser, na minha opinião, dia 27 ou 28 no Porto. Acham que nos deixam ocupar o Triplex?
- A Beluga tem o último Postal de Natal na Formiga Bargante. E este é mesmo muito bonito.
terça-feira, dezembro 20, 2005
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA
Estudo Belogue sobre o público feminino nas piscinas
Pedro Paulo Rubens
Helena Fourment
1638
Estudo Belogue sobre o público feminino nas piscinas
Pedro Paulo Rubens
Helena Fourment
1638
Kunsthistorisches Museum, Viena
Esta senhora de apenas 24 anos tornou-se a segunda mulher de Rubens aos 16. Retrata os ideias de beleza daquele tempo: pernas robustas, mãos delicadas, seio farto e rosto amendoado, olhos grandes e boca carnuda.
Esta senhora de apenas 24 anos tornou-se a segunda mulher de Rubens aos 16. Retrata os ideias de beleza daquele tempo: pernas robustas, mãos delicadas, seio farto e rosto amendoado, olhos grandes e boca carnuda.
E as mulheres de hoje? O Belogue publica um estudo realizado ao longo de cinco anos em balneários de piscinas públicas, a diferentes horas do dia. Neste estudo foram visadas... as visadas e procurou-se compreender como é que são as mulheres quando não há homens por perto e quando não se apercebem que há outras mulheres a prestar atenção ao que fazem. Assim, estes foram os resultados obtidos:
- 7 em cada 10 mulheres usa roupa interior desadequada (estes números são maiores na faixa etária dos 20 aos 30 e dos 50 para a frente)
- 9 em cada 10 mulheres tem celulite, flacidez, estrias ou gordura acumulada
- apenas 7 em cada 10 utiliza um creme para o corpo após o banho
- 2 em cada 10 sai do balneário sem roupa interior
- 5 em cada 10 mulheres nada menos depressa que os homens, mas aguenta mais tempo a nadar
- 3 em cada 10 mulheres fala de culinária enquanto se veste/despe
- 5 em cada 10 mulheres fala dos filhos enquanto se veste/despe
- 2 em cada 10 mulheres fala dos maridos, namorados enquanto se veste/despe
- 7 em cada 10 mulheres fala de dietas enquanto se veste/despe
- 7 em cada 10 mulheres encara a ida à piscina como uma obrigação para manter o corpo em forma
Caros senhores, mais não sei porque uma das regras de frequentar balneários femininos é nunca olhar para uma mulher mais de 10 segundos. Caso contrário podemos ser mal interpretados.
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS
Banhos artísticos, ou "Um bom pretexto para ver uma miúda nua" ou "Este blog parace uma Hustler"
Palma, O velho
Palma, O velho
Diana no banho
1525
Paul Cézanne
Bathers at rest
1875-1876
Pierre-Auguste Renoir
Bathers
1918
The Barnes Foundation, Merion, Pennsylvania
Edgar Degas
Peasant Girls Bathing in the sea at dusk
1875-1876
Colecção Privada, Irlanda do Norte
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO
[Na piscina, entre uma ida e uma vinda]
- A menina sente-se bem?
- Sim, muito bem, até! Porquê?
- É que quando está a nadar costas e mete o braço direito dentro de água, atrás da cabeça, faz como a Maria Sharapova?
- Como?
- Como a Maria Sharapova, aquela do ténis, quando bate na bola!... âh... âh...âh.
[Oh my God, what a shame! Voltei a fazer uma piscina costas só para ver. E não é que faço mesmo como a Maria?]
[No Jornal da meia-noite na RTPN porque a SIC Notícias estava a dar um programa sobre futebol]
Colin Powel e Bush são tão parecidos... Para o primeiro é normal para os seus amigos europeus receber voos com presos de guerra, sendo portanto "normal" os EUA utilizarem os nossos aeroportos e bases aéreas para fazer uma escalazinha entre torturas. Por já se ter verificado na História da Europa, os europeus não têm de se sentir indignados.
Já Bush encontra na Constituição Americana uma autoridade legal para fazer escutas aos cidadãos sem controlo de uma estância superior. Ele é a estância superior.
[No comboio, frente a duas morenas, embora uma delas tivesse madeixas...]
- Estás a ver?... O ano passado obriguei o meu namorado a comprar-me o Swatch dia dos Namorados. Edição limitada, vês?
- Eu já disse ao meu que enquanto eu estiver lá em casa o cão não entra. Não gosto do cão, não gosto! Mas isto vai mudar muito, vais ver.
- Ai com o meu também! Nada de futebóis aos Domingos e eu em casa à espera do menino... E já o avisei: "Meu querido, ou eu ou o ...."
[Nesta altura a Beluga mordeu o lábio para se conter, sangrou e ela lambeu. Enganou-se no Sudoku e disse baixinho: "estas p****"]
[Na piscina, entre uma ida e uma vinda]
- A menina sente-se bem?
- Sim, muito bem, até! Porquê?
- É que quando está a nadar costas e mete o braço direito dentro de água, atrás da cabeça, faz como a Maria Sharapova?
- Como?
- Como a Maria Sharapova, aquela do ténis, quando bate na bola!... âh... âh...âh.
[Oh my God, what a shame! Voltei a fazer uma piscina costas só para ver. E não é que faço mesmo como a Maria?]
[No Jornal da meia-noite na RTPN porque a SIC Notícias estava a dar um programa sobre futebol]
Colin Powel e Bush são tão parecidos... Para o primeiro é normal para os seus amigos europeus receber voos com presos de guerra, sendo portanto "normal" os EUA utilizarem os nossos aeroportos e bases aéreas para fazer uma escalazinha entre torturas. Por já se ter verificado na História da Europa, os europeus não têm de se sentir indignados.
Já Bush encontra na Constituição Americana uma autoridade legal para fazer escutas aos cidadãos sem controlo de uma estância superior. Ele é a estância superior.
[No comboio, frente a duas morenas, embora uma delas tivesse madeixas...]
- Estás a ver?... O ano passado obriguei o meu namorado a comprar-me o Swatch dia dos Namorados. Edição limitada, vês?
- Eu já disse ao meu que enquanto eu estiver lá em casa o cão não entra. Não gosto do cão, não gosto! Mas isto vai mudar muito, vais ver.
- Ai com o meu também! Nada de futebóis aos Domingos e eu em casa à espera do menino... E já o avisei: "Meu querido, ou eu ou o ...."
[Nesta altura a Beluga mordeu o lábio para se conter, sangrou e ela lambeu. Enganou-se no Sudoku e disse baixinho: "estas p****"]
segunda-feira, dezembro 19, 2005
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus
dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de
ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.
(Poema sobre a recusa, Maria Teresa Horta)
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus
dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de
ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.
(Poema sobre a recusa, Maria Teresa Horta)
domingo, dezembro 18, 2005
O CARTEIRO
Os labirintos e o saber
Escher
Os labirintos e o saber
Sei que tenho uma obsessão pel' "O Nome da Rosa" do Umberto Eco, mas é porque o livro está cheio de referências que por si davam um Carteiro. Uma vez numa conferência sobre o futuro da Europa ouvi um Carlos magno reverente a dizer em relação ao seu parceiro de conferência José Pacheco Pereira: "Eu gosto do Eco, como diria o Pacheco num dos seus livros". E gosto!
Alguém ainda se lembra do filme, de Jean-Jacques Annaud, com Sean Connery e o jovem Christian Slater no papel de Adso (Elementar meu caro Watson, elementar meu caro Adso). Se sim, podem continuar. Lembro-me que quando o jovem e o seu mentor finalmente conseguiram entar na parte vedada da biblioteca, aquela que supostamente escondia "A comédia" de Aristóteles, era em tudo semelhante a isto, de Escher:
Escher
Relativity
E que a planta da biblioteca era octogonal. Esta ideia de associação da área de conhecimento ao número parece estar igualmente relacionada com o mito de Teseu e do labirinto de Cnossos. O herói perdido no labirinto chega a um centro (o centro do problema onde se encontra o Minotauro) e de lá só sai com a ajuda exterior do fio de Ariane, ou seja, a ajuda do Amor. Eco foi influenciado pela "Biblioteca de Babel" de Jorge Luis Borges escrita em 1941, que apresenta o Universo; ou seja, a Biblioteca como uma relação infinita de galerias hexagonais. (Penso que Eco utilizava como forma base da planta da sua biblioteca o octógono).
A Biblioteca de Eco está repleta de referências platónicas e pitagóricas como por exemplo na disposição do espaço associado à ordem do Universo e esta ao número. Porém, nenhuma das personagens saiu de lá de dentro graças à força do Amor, como Teseu, mas antes graças ao poder da Inteligência.
Este post é uma chatice, não é?
E que a planta da biblioteca era octogonal. Esta ideia de associação da área de conhecimento ao número parece estar igualmente relacionada com o mito de Teseu e do labirinto de Cnossos. O herói perdido no labirinto chega a um centro (o centro do problema onde se encontra o Minotauro) e de lá só sai com a ajuda exterior do fio de Ariane, ou seja, a ajuda do Amor. Eco foi influenciado pela "Biblioteca de Babel" de Jorge Luis Borges escrita em 1941, que apresenta o Universo; ou seja, a Biblioteca como uma relação infinita de galerias hexagonais. (Penso que Eco utilizava como forma base da planta da sua biblioteca o octógono).
A Biblioteca de Eco está repleta de referências platónicas e pitagóricas como por exemplo na disposição do espaço associado à ordem do Universo e esta ao número. Porém, nenhuma das personagens saiu de lá de dentro graças à força do Amor, como Teseu, mas antes graças ao poder da Inteligência.
Este post é uma chatice, não é?
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA
Na altura eu e mamãe sorrimos, mas essa frase peregrina nunca mais me saiu da memória. Não que a partique, mas gostei: "eu estou bem, cada vez melhor". Não estou bem e melhor, talvez só daqui a muito tempo, mas não me vou desfazer em conjuntivites ao ritmo de duas por mês. Não pratico o "eu estou bem, cada vez melhor", mas quando sinto a tristesse, lembro-me sempre de duas frases feitas:
1- Ninguém morre disto.
2- A vida regenera-se.
Também me lembro do "certamente eu vou ser mais feliz" do Caetano, e como se prevê pela minha linha da vida, que a existência seja longa, é melhor ir começando a fazer por isso, agora. Não pensar. Um dia a vida vai encarregar-se de explicar isto melhor.
Na volta de uma das suas viagens ao Brasil, mamãe contou que num dos obrigatórios passeios pelo calçadão tendo do lado direito a praia de Copacabana, se deparou com um estranho grupo de pessoas. Estavam deitadas na areia de barriga para cima, com as pernas e os braços a fazer 90º com o tronco e diziam: "Eu estou bem, cada vez melhor, eu estou bem, cada vez melhor, eu estou bem, cada vez me...", até a ladainha deixar de ser ouvida pelos outros sons do Brasil e pelo afastar do passo.
Na altura eu e mamãe sorrimos, mas essa frase peregrina nunca mais me saiu da memória. Não que a partique, mas gostei: "eu estou bem, cada vez melhor". Não estou bem e melhor, talvez só daqui a muito tempo, mas não me vou desfazer em conjuntivites ao ritmo de duas por mês. Não pratico o "eu estou bem, cada vez melhor", mas quando sinto a tristesse, lembro-me sempre de duas frases feitas:
1- Ninguém morre disto.
2- A vida regenera-se.
Também me lembro do "certamente eu vou ser mais feliz" do Caetano, e como se prevê pela minha linha da vida, que a existência seja longa, é melhor ir começando a fazer por isso, agora. Não pensar. Um dia a vida vai encarregar-se de explicar isto melhor.
sexta-feira, dezembro 16, 2005
Eu tinha grandes coisas para vos dizer.
Porém não tenho tempo. Vou-me embora. Deixo-vos
com a vossa tristeza
mergulhada no vinho quieta envilecida.
Minha tristeza é mais pura
não se esconde no vinho não se esconde.
Precisa
de grandes gritos ao ar livre. De
partir à pedrada o copo
onde a vossa tristeza apodrece.
Precisa de correr. Apertar muitas mãos
encher as ruas de muita gente.
Precisa de batalhas
precisa de cantar.
(Estou triste, Manuel Alegre)
Até.
Porém não tenho tempo. Vou-me embora. Deixo-vos
com a vossa tristeza
mergulhada no vinho quieta envilecida.
Minha tristeza é mais pura
não se esconde no vinho não se esconde.
Precisa
de grandes gritos ao ar livre. De
partir à pedrada o copo
onde a vossa tristeza apodrece.
Precisa de correr. Apertar muitas mãos
encher as ruas de muita gente.
Precisa de batalhas
precisa de cantar.
(Estou triste, Manuel Alegre)
Até.
O CARTEIRO
"Antes e depois" ou "Como é que me levanto às 3:05h da manhã para escrever isto"
A cena de sexo oral entre a jovem e o barbeiro em "O Barbeiro" dos irmãos Coen é semelhante ao relato entre o professor universitário e a sua empregada em "A Mancha Humana" de Philip Roth. Em comum o local (automóvel), o facto de eles serem mais velhos e de a situação originar nos dois casos acidentes de automóvel.
As páginas envenenadas em "O Nome da Rosa" de Umberto Eco têm paralelo com as páginas envenenadas do livro "O caso Saint-Fiacre" de Simenon, Georges Simenon, e há descrições em Eco que se aproximam de "Zadig" de Voltaire. Mas prefiro o Eco
Desde que Nero pegou fogo a Roma, culpando em seguida os cristãos para assim poder persegui-los, nunca até Hitler um incêndio teve tanta importância política e social. A 27 de Fevereiro de 1933, sob ordem nazi ou não, o Reichstag foi incendiado. Este incêndio foi dado como mote, sinal de partida por parte dos nazis, para uma revolta comunista. Isto justificou que a 28 de Fevereiro Hitler, apoiado pela constituição alemã decretasse o fim de actividade do Partido Comunista.
"Antes e depois" ou "Como é que me levanto às 3:05h da manhã para escrever isto"
A cena de sexo oral entre a jovem e o barbeiro em "O Barbeiro" dos irmãos Coen é semelhante ao relato entre o professor universitário e a sua empregada em "A Mancha Humana" de Philip Roth. Em comum o local (automóvel), o facto de eles serem mais velhos e de a situação originar nos dois casos acidentes de automóvel.
As páginas envenenadas em "O Nome da Rosa" de Umberto Eco têm paralelo com as páginas envenenadas do livro "O caso Saint-Fiacre" de Simenon, Georges Simenon, e há descrições em Eco que se aproximam de "Zadig" de Voltaire. Mas prefiro o Eco
Desde que Nero pegou fogo a Roma, culpando em seguida os cristãos para assim poder persegui-los, nunca até Hitler um incêndio teve tanta importância política e social. A 27 de Fevereiro de 1933, sob ordem nazi ou não, o Reichstag foi incendiado. Este incêndio foi dado como mote, sinal de partida por parte dos nazis, para uma revolta comunista. Isto justificou que a 28 de Fevereiro Hitler, apoiado pela constituição alemã decretasse o fim de actividade do Partido Comunista.
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO
Eu até compreendo, mas... não compreendo.
A entrevista de Joe Berardo à Actual do Expresso é, para uma Beluga leiga como eu, um susto. Não conheço o percurso de Joe Berardo, nem o alcance que a qualidade da sua colecção (Colecção Joe Berardo? Não soa bem) poderá ter, mas há meia dúzia de frases na sua entrevista que me arrepiaram pelo tom arrogante. No fim fiquei com a ideia de um Joe Berado siciliano a ameaçar os protegidos em troca do "seu".
Resposta susto 1: "Não sou pessoa para fazer ultimatos, mas tenho decisões para tomar até ao fim do ano."
Resposta susto 2: "Quero saber com o que conto para poder resolver todas estas questões".
Resposta susto 3: "Mas quero que o Estado garanta um apoio directo e anual ao museu, para que possamos trabalhar com dinamismo e possibilitar a circulação de exposições."
Resposta susto 4: "Um orçamento que não dependa dos gostos pessoais de quem está no Governo".
Resposta susto 5: "Vou ter que ter um Conselho de Administração , temos que ter especialistas, direcção artística, programadores... Tudo isso dependerá de um orçamento aprovado pelo Parlamento."
Resposta susto 6: "Além disso, quero oferecer isto a Portugal, gostava de ver o país muito mais feliz e desenvolvido a nível cultural."
Resposta susto 7: "É. [A grande finalidade da instalação da colecção em Lisboa] E abrir os olhos aos governantes.
Resposta susto 8: "Claro que preocupa [investimentos em obras públicas de grande envergadura como a OTA e o TGV]. O país tem de acordar. Eu estou a contribuir para fazer um Portugal mais culto. Se não querem a minha contribuição, paciência."
Recado: Sr. Berardo, a "porta da rua é serventia da casa"; o Sr. não é o arauto da cultura em Portugal; há museus do Estado que só fazem uma exposição temporária por ano devido à falta de dinheiro. Quer contribuir?
Eu até compreendo, mas... não compreendo.
A entrevista de Joe Berardo à Actual do Expresso é, para uma Beluga leiga como eu, um susto. Não conheço o percurso de Joe Berardo, nem o alcance que a qualidade da sua colecção (Colecção Joe Berardo? Não soa bem) poderá ter, mas há meia dúzia de frases na sua entrevista que me arrepiaram pelo tom arrogante. No fim fiquei com a ideia de um Joe Berado siciliano a ameaçar os protegidos em troca do "seu".
Resposta susto 1: "Não sou pessoa para fazer ultimatos, mas tenho decisões para tomar até ao fim do ano."
Resposta susto 2: "Quero saber com o que conto para poder resolver todas estas questões".
Resposta susto 3: "Mas quero que o Estado garanta um apoio directo e anual ao museu, para que possamos trabalhar com dinamismo e possibilitar a circulação de exposições."
Resposta susto 4: "Um orçamento que não dependa dos gostos pessoais de quem está no Governo".
Resposta susto 5: "Vou ter que ter um Conselho de Administração , temos que ter especialistas, direcção artística, programadores... Tudo isso dependerá de um orçamento aprovado pelo Parlamento."
Resposta susto 6: "Além disso, quero oferecer isto a Portugal, gostava de ver o país muito mais feliz e desenvolvido a nível cultural."
Resposta susto 7: "É. [A grande finalidade da instalação da colecção em Lisboa] E abrir os olhos aos governantes.
Resposta susto 8: "Claro que preocupa [investimentos em obras públicas de grande envergadura como a OTA e o TGV]. O país tem de acordar. Eu estou a contribuir para fazer um Portugal mais culto. Se não querem a minha contribuição, paciência."
Recado: Sr. Berardo, a "porta da rua é serventia da casa"; o Sr. não é o arauto da cultura em Portugal; há museus do Estado que só fazem uma exposição temporária por ano devido à falta de dinheiro. Quer contribuir?
quarta-feira, dezembro 14, 2005
Vê como o Verão
subitamente
se faz água no teu peito
e a noite se faz barco,
e a minha mão marinheiro.
(Eugénio de Andrade, in Arte de Navegar, 1971)
Vemo-nos amanhã.
subitamente
se faz água no teu peito
e a noite se faz barco,
e a minha mão marinheiro.
(Eugénio de Andrade, in Arte de Navegar, 1971)
Vemo-nos amanhã.
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS
Sr. Deus e Dr. Zeus nos últimos retoques antes da mudança de MiMi
- Homem, eu estou possesso, possuído (bate na madeira).
- Calma Sr. Deus. Eu já estou a arrumar as minhas coisas. Estava a pensar ir embora no fim do ano para o Senhor começar o seu Cristianismo em 2006.
- Não é isso Dr. Zeus. Por Deus, por mim, abra os olhos...
- Então o que é?
- Laocoonte não lhe diz nada?
- Sim... Pois é aquele tipo a quem o meu MiMi teve de tratar da tosse. A ele e aos filhos.
- Mas ele era sacerdote! Sabe como isso era importante para mim? Podia reabilitá-lo, fazer dele um santo ou um sub-director... Sabe como está difícil arranjar tanto uma coisa como a outra, não sabe?
- Sim, mas ele era troiano. Olhe, era a mesma coisa que o Senhor Deus empregar aqui um filho do Demo (bate na madeira). Era contra os princípios do MiMi.
- Temos de fazer alguma coisa. Preciso desse Laocoonte. Não sei... vejo-lhe utilidade... Vá lá dentro buscar a "Legenda Áurea" e o "Livro dos Santos" da Irmã Wendy, por favor. Tem de me ajudar nisto.
(...)
- Passamos Laocoonte para... S. paulo. A insígnia passa a ser a espada para cortar a cobra...
- Não, já tenho um S. Paulo.
- Então vamos inventar uma história. Escreva aí... S. João...
- Já tenho...
- Evangelista...
- Não tenho...
- Morreu envenenado por uma cobra que foi colocada num cálice por uma moça lindíssima, perna torneada, peito...
- Acalme-se. Isto é a vida de um santo, não é o Arlequim.
- Ok, desculpe.
- moça...
- moça que põe dentro do copo a cobra, ele bebe e morre. Depois vem uma águia...
- Que confusão!
- Não interessa... Faça como no meu MiMi. Case-os uns com os outros, repita nomes e acima de tudo, muita imagem. O povo gosta da sua imagem e da sua novela ao fim do dia.
*O símbolo de S. João Evangelista é a águia, mas morreu envenenado por um dragão colocado no seu cálice. A pintura que ilustra este post refer-se a S. Jerónimo e não a Deus ou a Zeus.
Sr. Deus e Dr. Zeus nos últimos retoques antes da mudança de MiMi
- Homem, eu estou possesso, possuído (bate na madeira).
- Calma Sr. Deus. Eu já estou a arrumar as minhas coisas. Estava a pensar ir embora no fim do ano para o Senhor começar o seu Cristianismo em 2006.
- Não é isso Dr. Zeus. Por Deus, por mim, abra os olhos...
- Então o que é?
- Laocoonte não lhe diz nada?
- Sim... Pois é aquele tipo a quem o meu MiMi teve de tratar da tosse. A ele e aos filhos.
- Mas ele era sacerdote! Sabe como isso era importante para mim? Podia reabilitá-lo, fazer dele um santo ou um sub-director... Sabe como está difícil arranjar tanto uma coisa como a outra, não sabe?
- Sim, mas ele era troiano. Olhe, era a mesma coisa que o Senhor Deus empregar aqui um filho do Demo (bate na madeira). Era contra os princípios do MiMi.
- Temos de fazer alguma coisa. Preciso desse Laocoonte. Não sei... vejo-lhe utilidade... Vá lá dentro buscar a "Legenda Áurea" e o "Livro dos Santos" da Irmã Wendy, por favor. Tem de me ajudar nisto.
(...)
- Passamos Laocoonte para... S. paulo. A insígnia passa a ser a espada para cortar a cobra...
- Não, já tenho um S. Paulo.
- Então vamos inventar uma história. Escreva aí... S. João...
- Já tenho...
- Evangelista...
- Não tenho...
- Morreu envenenado por uma cobra que foi colocada num cálice por uma moça lindíssima, perna torneada, peito...
- Acalme-se. Isto é a vida de um santo, não é o Arlequim.
- Ok, desculpe.
- moça...
- moça que põe dentro do copo a cobra, ele bebe e morre. Depois vem uma águia...
- Que confusão!
- Não interessa... Faça como no meu MiMi. Case-os uns com os outros, repita nomes e acima de tudo, muita imagem. O povo gosta da sua imagem e da sua novela ao fim do dia.
*O símbolo de S. João Evangelista é a águia, mas morreu envenenado por um dragão colocado no seu cálice. A pintura que ilustra este post refer-se a S. Jerónimo e não a Deus ou a Zeus.
O CARTEIRO
Tese, Antítese e Síntese em Laocoonte (ou "Não tinhas mais nada para inventar?")
Hagesandro, Atenodoro e Polidoro de Rodes
Locoonte e seus filhos
25 a.C.
Museu do Vaticano
A noção hegeliana de História é teleológica: os movimentos surgem por oposição e tendem para um fim. Vemos isso com os movimentos artísticos: o Classicismo é a tese, o Barroco é a antítese e o Romantismo (a meu ver e porque só a partir do Romantismo é que se colocou o problema da cópia - até aí a cópia era benéfica para o artista "aprender"), a síntese.
Como sou supeita, resolvi fazer a experiência dentro de um "movimento": a arte grega da Antiguidade. A arte desse período divide-se em arcaica, clássica e helenística, sendo que esta última fase privilegia o artista que faz a "arte pela arte", utiliza os temas para explorar até ao limite as suas capacidades.
Ía no comboio a pensar no conjunto de Laocoonte...
[Ei, tão alternativa que ela é! Não há tragédia que te chegue numa carruagem de comboio suburbano?]
[Não]
... Este grupo representa uma cena descrita na Eneida de Virgílio e que é a do sacerdote troiano Laocoonte que, ao saber que o cavalo de tróia continha no seu interior soldados gregos, tentou avisar os seus companheiros. Os deuses, que eram gregos e temiam que os seus planos fossem destruídos por Laocoonte, mandaram vir do mar duas gigantescas serpentes marinhas para espartilhar, prender, sufocar e aniquilar com as suas voltas o sacerdote e os filhos.
Quando olhamos para o conjunto, todo ele é drama: as figuras contorcidas de dor, rostos sofridos, aflitos, tensão muscular, volume e sentimento. Mas seria necessário tanto realismo, um realismo quase mórbido? Possivelmente não, o autor queria era colocar em prática os seus conhecimentos.
Palmas para ele!
A diferença entre a tese, antítese e síntese de Hegel, é que esta teoria é feita de rupturas, enquanto a passagem dos períodos arcaico, clássico e helenístico é feito de forma evolutiva. No primeiro caso, das revoluções fizeram-se evoluções, no segundo, evoluiu-se.
Tese, Antítese e Síntese em Laocoonte (ou "Não tinhas mais nada para inventar?")
Hagesandro, Atenodoro e Polidoro de Rodes
Locoonte e seus filhos
25 a.C.
Museu do Vaticano
A noção hegeliana de História é teleológica: os movimentos surgem por oposição e tendem para um fim. Vemos isso com os movimentos artísticos: o Classicismo é a tese, o Barroco é a antítese e o Romantismo (a meu ver e porque só a partir do Romantismo é que se colocou o problema da cópia - até aí a cópia era benéfica para o artista "aprender"), a síntese.
Como sou supeita, resolvi fazer a experiência dentro de um "movimento": a arte grega da Antiguidade. A arte desse período divide-se em arcaica, clássica e helenística, sendo que esta última fase privilegia o artista que faz a "arte pela arte", utiliza os temas para explorar até ao limite as suas capacidades.
Ía no comboio a pensar no conjunto de Laocoonte...
[Ei, tão alternativa que ela é! Não há tragédia que te chegue numa carruagem de comboio suburbano?]
[Não]
... Este grupo representa uma cena descrita na Eneida de Virgílio e que é a do sacerdote troiano Laocoonte que, ao saber que o cavalo de tróia continha no seu interior soldados gregos, tentou avisar os seus companheiros. Os deuses, que eram gregos e temiam que os seus planos fossem destruídos por Laocoonte, mandaram vir do mar duas gigantescas serpentes marinhas para espartilhar, prender, sufocar e aniquilar com as suas voltas o sacerdote e os filhos.
Quando olhamos para o conjunto, todo ele é drama: as figuras contorcidas de dor, rostos sofridos, aflitos, tensão muscular, volume e sentimento. Mas seria necessário tanto realismo, um realismo quase mórbido? Possivelmente não, o autor queria era colocar em prática os seus conhecimentos.
Palmas para ele!
A diferença entre a tese, antítese e síntese de Hegel, é que esta teoria é feita de rupturas, enquanto a passagem dos períodos arcaico, clássico e helenístico é feito de forma evolutiva. No primeiro caso, das revoluções fizeram-se evoluções, no segundo, evoluiu-se.
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA
- Para começar temos Chopin a ecoar no gabinete. Quem não gostar pode sempre pôr os phones nos ouvidos e ouvir o último da Mariah Carey.
- Há um postal de Natal com o respectivo voto de Boas Festas para todos, da Beluga na Formiga Bargante, embora a Formiga tenha mais coisas: Paulo Nozolino, receitas, a saga do IPM...
- Por aqui vamos ter Sr. Deus e Dr. Zeus ainda com os MiMi's, Laocoonte e mãos. Tão líricos que nós estamos. Bom dia!
- Para começar temos Chopin a ecoar no gabinete. Quem não gostar pode sempre pôr os phones nos ouvidos e ouvir o último da Mariah Carey.
- Há um postal de Natal com o respectivo voto de Boas Festas para todos, da Beluga na Formiga Bargante, embora a Formiga tenha mais coisas: Paulo Nozolino, receitas, a saga do IPM...
- Por aqui vamos ter Sr. Deus e Dr. Zeus ainda com os MiMi's, Laocoonte e mãos. Tão líricos que nós estamos. Bom dia!
terça-feira, dezembro 13, 2005
DISCOS PE(R)DIDOS
Olá Sr. DJ. O meu nome é Beluga e gostaria de ouvir o "Sopro do Coração" dos Clã. Para dedicar a quem? Eu sei lá! Olhe, era para dedicar a mim, à Sevruga e à Osetra que a gente bem precisa.
Sim, o amor é vão
É certo e sabido
Mas então (Porque não)
Porque sopra ao ouvido
O sopro do coração
Se o amor é vão
Mera dor mero gozo
Sorvedouro caprichoso
No sopro do coração
(...)
Olá Sr. DJ. O meu nome é Beluga e gostaria de ouvir o "Sopro do Coração" dos Clã. Para dedicar a quem? Eu sei lá! Olhe, era para dedicar a mim, à Sevruga e à Osetra que a gente bem precisa.
Sim, o amor é vão
É certo e sabido
Mas então (Porque não)
Porque sopra ao ouvido
O sopro do coração
Se o amor é vão
Mera dor mero gozo
Sorvedouro caprichoso
No sopro do coração
(...)
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO
It's the LOGO, stupid ou "Como eu fiz a Via Condotti em 10 minutos" (este post, ao contrário do que pensam, não tem nada de fútil)
Michelangelo Merisi da Caravaggio
The incredulity of Saint Thomas
1601-1602
Neus Palais, Potsdam
Na explicação de Geometria Descritiva deixo sempre as meninas (18 anos) ouvir música. Elas escolhem, levam, ou ficamo-nos pela MTV. Um destes dias ficamo-nos pela MTV e o resultado foi o seguinte: primeiro Black Eyed Peas, depois Mariah Carey, Kanye West, Viet Thi.
Dos Black Eyed Peas:
They buy me all these ice-ys.
Dolce & Gabbana,
Fendi and then Donna
Karan, they be sharin'
All their money got me wearin'
Fly gearrr but I ain't askin,
They say they love my ass 'n,
Seven Jeans, True Religion,
Depois Mariah Carey:
See I grabbed all my diamonds and clothes
Just ask your momma she knows
You're gonna miss me baby
Hate to say "I told you so"
Well at first I didn't know
But now it's clear to me
You would cheat with all your freaks
And lie compulsively
So I packed up my Louis Vuitton
Kanye West:
Now Jean Paul Gaultier cologne fill the air, here
(...)
I'm the Gap like Banana Republic and Old Navy, and oooh
(...)
I'm Kan, the Louis Vuitton Don
Bought my mom a purse, now she Louis Vuitton Mom
Viet Thi:
It's got to be Armani
If you want a girl like me
It's got to be Versace
If you want a girl like me
(...)
Give me this Armani
Hand me that Versace
(...)
Pretty or ugly I don't care
Gucci Gucci watches are all I wear
Por fim, estes versos de Snoop Doggy Dog com Justin Timberlake. Não metem Logos, mas Vip's.
You'll have Sunday's with chiquitas
You'll see Venus and Serena, in the Wimbledon Arena
And I can take you (Uncle Charlie, preach!!)
[Na versão portuguesa seria mais ou menos isto:
Tens os Domingos com as garinas
Vês o Petit e o Simão
No Estádio do Dragão...]
Há uns anos atrás as televisões noticiavam casos de meninas japonesas que vendiam a sua "primeira vez" para poderem comprar uma carteira Prada. Algumas tinham que vender a "primeira vez" duas vezes, dependia da carteira. É isto que as nossas meninas ouvem. E adoram.
It's the LOGO, stupid ou "Como eu fiz a Via Condotti em 10 minutos" (este post, ao contrário do que pensam, não tem nada de fútil)
Michelangelo Merisi da Caravaggio
The incredulity of Saint Thomas
1601-1602
Neus Palais, Potsdam
Na explicação de Geometria Descritiva deixo sempre as meninas (18 anos) ouvir música. Elas escolhem, levam, ou ficamo-nos pela MTV. Um destes dias ficamo-nos pela MTV e o resultado foi o seguinte: primeiro Black Eyed Peas, depois Mariah Carey, Kanye West, Viet Thi.
Dos Black Eyed Peas:
They buy me all these ice-ys.
Dolce & Gabbana,
Fendi and then Donna
Karan, they be sharin'
All their money got me wearin'
Fly gearrr but I ain't askin,
They say they love my ass 'n,
Seven Jeans, True Religion,
Depois Mariah Carey:
See I grabbed all my diamonds and clothes
Just ask your momma she knows
You're gonna miss me baby
Hate to say "I told you so"
Well at first I didn't know
But now it's clear to me
You would cheat with all your freaks
And lie compulsively
So I packed up my Louis Vuitton
Kanye West:
Now Jean Paul Gaultier cologne fill the air, here
(...)
I'm the Gap like Banana Republic and Old Navy, and oooh
(...)
I'm Kan, the Louis Vuitton Don
Bought my mom a purse, now she Louis Vuitton Mom
Viet Thi:
It's got to be Armani
If you want a girl like me
It's got to be Versace
If you want a girl like me
(...)
Give me this Armani
Hand me that Versace
(...)
Pretty or ugly I don't care
Gucci Gucci watches are all I wear
Por fim, estes versos de Snoop Doggy Dog com Justin Timberlake. Não metem Logos, mas Vip's.
You'll have Sunday's with chiquitas
You'll see Venus and Serena, in the Wimbledon Arena
And I can take you (Uncle Charlie, preach!!)
[Na versão portuguesa seria mais ou menos isto:
Tens os Domingos com as garinas
Vês o Petit e o Simão
No Estádio do Dragão...]
Há uns anos atrás as televisões noticiavam casos de meninas japonesas que vendiam a sua "primeira vez" para poderem comprar uma carteira Prada. Algumas tinham que vender a "primeira vez" duas vezes, dependia da carteira. É isto que as nossas meninas ouvem. E adoram.
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA
- A partir de hoje temos um novo habitante aqui na mesa. Chama-se Jacinto, é um bolbo, é cor-de-rosa, foi um presente, mora num vaso verde e ainda estamos a estabelecer ligação. Caro Jacinto não leves a mal, mas é que eu sou mais tulipas e girassóis. Como dizia o outro "Eu é mais bolos". Não falamos muito porque não temos intimidade e nunca sei... se o rego muito ele pode achar que o quero ver morto, se o rego pouco ele pode achar...que o quero ver morto. Deixo a janela aberta ou fecho a janela? Tiro-o perto das colunas ou deixo-o ficar lá para ele ouvir música? Do lado direito ou do esquerdo? Fala!
- Hoje temos D. Carlo de Verdi a tocar aqui na grafonola (Ella giammai m'amo!), uma conjuntivite no olho esquerdo e dores por todo o lado: parte interna das coxas, músculos das nádegas, abdominais, as costas do princípio ao fim, músculos do peito, braços. A natação está a matar-me.
- Temos um "coisas que eu não compreendo" muito engraçado. Não é assim muito, mas tem alguma piada.
- A partir de hoje temos um novo habitante aqui na mesa. Chama-se Jacinto, é um bolbo, é cor-de-rosa, foi um presente, mora num vaso verde e ainda estamos a estabelecer ligação. Caro Jacinto não leves a mal, mas é que eu sou mais tulipas e girassóis. Como dizia o outro "Eu é mais bolos". Não falamos muito porque não temos intimidade e nunca sei... se o rego muito ele pode achar que o quero ver morto, se o rego pouco ele pode achar...que o quero ver morto. Deixo a janela aberta ou fecho a janela? Tiro-o perto das colunas ou deixo-o ficar lá para ele ouvir música? Do lado direito ou do esquerdo? Fala!
- Hoje temos D. Carlo de Verdi a tocar aqui na grafonola (Ella giammai m'amo!), uma conjuntivite no olho esquerdo e dores por todo o lado: parte interna das coxas, músculos das nádegas, abdominais, as costas do princípio ao fim, músculos do peito, braços. A natação está a matar-me.
- Temos um "coisas que eu não compreendo" muito engraçado. Não é assim muito, mas tem alguma piada.
segunda-feira, dezembro 12, 2005
DISCOS PE(R)DIDOS
Somos solteiras
somos miúdas modernas
ai ai quem nos quiser parar
tem de ter força nas pernas
(...)
Eu quero ser enfermeira
E eu advogada
E eu serei ????
E eu não quero ser nada
E eu serei doutora
de bata muito branca
e eu uma professora
do liceu de Vila Franca
(Ministars, nome da música é que não sei.)
Somos solteiras
somos miúdas modernas
ai ai quem nos quiser parar
tem de ter força nas pernas
(...)
Eu quero ser enfermeira
E eu advogada
E eu serei ????
E eu não quero ser nada
E eu serei doutora
de bata muito branca
e eu uma professora
do liceu de Vila Franca
(Ministars, nome da música é que não sei.)
O CARTEIRO
A propósito de "Where the wild roses grow" ou "este post é inútil, porque ninguém o vai ler e disso eu tenho a certeza tão certeza como tenho a certeza que estou aqui"
Uma imagem do vídeo-clip de "Where the wild roses grow"
Existe alguma coisa em comum entre esta Kylie Minogue pré-hot pants e a Ofélia Morta de Millais. No conteúdo é diferente da de Shakespeare. Se lermos a letra da canção que Minogue interpreta com Nick Cave, vemos que esta conta a história de um casal, ele obcecado pela beleza dela. Iniciam uma espécie de relação que ela conta mesmo depois de morta e que é feita de pequenos passos de enamoramento: as flores, os beijos, até ao desferir da pedra na cabeça. A semelhança com Shakespeare é que Cave fala dela como “a mulher certa”, tal como Hamlet via Ofélia. Como manda a tradição, Minogue diz que ele seria o seu “first man”. Presume-se que em Shakespeare a nossa Ofélia dissesse o mesmo do seu amado.
John Millais
Ofélia
1851-1852
Tate Gallery, Londres
A Ofélia morta de Millais, Minogue e a “Morte da Virgem de Caravaggio são de certa forma a mesma mulher. Minogue e Ofélia são as virgens que se enamoram: Minogue é assassinada, Ofélia mata-se por não conseguir viver com a frase de Hamlet que lhe ecoa no coração o “não te amo” e a Virgem de Caravaggio aparece morta. Retratada como uma prostituta, o corpo inchado e sem dignidade de Mãe do Criador.
Caravaggio
Death of the Virgin (detalhe)
1601-603
Museu do Louvre, Paris
Em todas há denominadores comuns: a água, a imagem do corpo morto que é a última que temos, a virgindade e a pureza.
Mas ainda há outra coisa que me surpreende na letra de Nick Cave: o crescendo nas acções: primeiro olha-a e tem a certeza que aquela “is a woman to love”:
From the first day I saw her I knew she was the one,
Depois no segundo dia levou-lhe uma flor que ainda acentuava mais a beleza dela:
On the second day I brought her a flower.
Ao mesmo tempo, Minogue vai dando a sua visão dos acontecimentos: reconhece quando ele lhe trouxe a flor, mas no terceiro momento, ela fala do rio, dos beijos e da pedra, enquanto ele se refere a esse terceiro momento como se a morte nunca tivesse acontecido:
On the last day I took her where the wild roses grow
And she lay on the bank, the wind light as a thief
As I kissed her goodbye, I said, 'All beauty must die
'And lent down and planted a rose between her teeth
Há uma música da Maria Bethânia onde se verifica este crescendo. É descrita a escolha do homem consoante aquilo que ele leva à sua amada:
O primeiro me chegou como quem vem do florista
Trouxe um bicho de pelúcia, trouxe um broche de ametista
Me contou suas viagens e as vantagens que ele tinha
Me mostrou o seu relógio, me chamava de rainha
(...)
O segundo me chegou como quem chega do bar
Trouxe um litro de aguardente tão amarga de tragar
Indagou o meu passado e cheirou minha comida
Vasculhou minha gaveta me chamava de perdida
(...)
O terceiro me chegou como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada também nada perguntou
Mal sei como ele se chama mas entendo o que ele quer
Se deitou na minha cama e me chama de mulher
Foi chegando sorrateiro e antes que eu dissesse não
Se instalou feito um posseiro dentro do meu coração
Conclusões:
- existe um poder libertador na água (sejam os quatro rios do paraíso, a água do baptismo os 4 rios da morte segundo a mitologia – um dos barqueiros que levava a alma dos mortos para o Inferno era Caronte. Há pouco tempo colocaram em órbita uma sonda com esse nome. Mas o que é que esta gente tem na cabeça?)
- as virgens têm tendências suicidas
- à terceira é de vez
- “As correspondências do Mundo” será o tema da minha tese de doutoramento
A propósito de "Where the wild roses grow" ou "este post é inútil, porque ninguém o vai ler e disso eu tenho a certeza tão certeza como tenho a certeza que estou aqui"
Uma imagem do vídeo-clip de "Where the wild roses grow"
Existe alguma coisa em comum entre esta Kylie Minogue pré-hot pants e a Ofélia Morta de Millais. No conteúdo é diferente da de Shakespeare. Se lermos a letra da canção que Minogue interpreta com Nick Cave, vemos que esta conta a história de um casal, ele obcecado pela beleza dela. Iniciam uma espécie de relação que ela conta mesmo depois de morta e que é feita de pequenos passos de enamoramento: as flores, os beijos, até ao desferir da pedra na cabeça. A semelhança com Shakespeare é que Cave fala dela como “a mulher certa”, tal como Hamlet via Ofélia. Como manda a tradição, Minogue diz que ele seria o seu “first man”. Presume-se que em Shakespeare a nossa Ofélia dissesse o mesmo do seu amado.
John Millais
Ofélia
1851-1852
Tate Gallery, Londres
A Ofélia morta de Millais, Minogue e a “Morte da Virgem de Caravaggio são de certa forma a mesma mulher. Minogue e Ofélia são as virgens que se enamoram: Minogue é assassinada, Ofélia mata-se por não conseguir viver com a frase de Hamlet que lhe ecoa no coração o “não te amo” e a Virgem de Caravaggio aparece morta. Retratada como uma prostituta, o corpo inchado e sem dignidade de Mãe do Criador.
Caravaggio
Death of the Virgin (detalhe)
1601-603
Museu do Louvre, Paris
Em todas há denominadores comuns: a água, a imagem do corpo morto que é a última que temos, a virgindade e a pureza.
Mas ainda há outra coisa que me surpreende na letra de Nick Cave: o crescendo nas acções: primeiro olha-a e tem a certeza que aquela “is a woman to love”:
From the first day I saw her I knew she was the one,
Depois no segundo dia levou-lhe uma flor que ainda acentuava mais a beleza dela:
On the second day I brought her a flower.
Ao mesmo tempo, Minogue vai dando a sua visão dos acontecimentos: reconhece quando ele lhe trouxe a flor, mas no terceiro momento, ela fala do rio, dos beijos e da pedra, enquanto ele se refere a esse terceiro momento como se a morte nunca tivesse acontecido:
On the last day I took her where the wild roses grow
And she lay on the bank, the wind light as a thief
As I kissed her goodbye, I said, 'All beauty must die
'And lent down and planted a rose between her teeth
Há uma música da Maria Bethânia onde se verifica este crescendo. É descrita a escolha do homem consoante aquilo que ele leva à sua amada:
O primeiro me chegou como quem vem do florista
Trouxe um bicho de pelúcia, trouxe um broche de ametista
Me contou suas viagens e as vantagens que ele tinha
Me mostrou o seu relógio, me chamava de rainha
(...)
O segundo me chegou como quem chega do bar
Trouxe um litro de aguardente tão amarga de tragar
Indagou o meu passado e cheirou minha comida
Vasculhou minha gaveta me chamava de perdida
(...)
O terceiro me chegou como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada também nada perguntou
Mal sei como ele se chama mas entendo o que ele quer
Se deitou na minha cama e me chama de mulher
Foi chegando sorrateiro e antes que eu dissesse não
Se instalou feito um posseiro dentro do meu coração
Conclusões:
- existe um poder libertador na água (sejam os quatro rios do paraíso, a água do baptismo os 4 rios da morte segundo a mitologia – um dos barqueiros que levava a alma dos mortos para o Inferno era Caronte. Há pouco tempo colocaram em órbita uma sonda com esse nome. Mas o que é que esta gente tem na cabeça?)
- as virgens têm tendências suicidas
- à terceira é de vez
- “As correspondências do Mundo” será o tema da minha tese de doutoramento
Canção em modo menor (Tom Jobim e Vinicius de Moraes)
Porque cada manhã me traz
O mesmo sol sem resplendor
E o dia é só um dia a mais
E a noite é sempre a mesma dor
Porque o céu perdeu a cor
E agora em cinzas se desfaz
Porque eu já não posso mais
Sofrer a mágoa que sofri
Porque tudo que eu quero é paz
E a paz só pode vir de ti
Porque meu sonho se perdeu
E eu sempre fui um sonhador
Porque perdidos são meus ais
E foste para nunca mais
Oh, meu amor
Porque minha canção morreu
No apelo mais desolador
Porque a solidão sou eu
Ah, volta aos braços meus, amor
O Belogue está em black-out. Vamos só postar um Carteiro para não dizerem: "Eh pá, tens um blog e não fazes nada." O que até é verdade.
Porque cada manhã me traz
O mesmo sol sem resplendor
E o dia é só um dia a mais
E a noite é sempre a mesma dor
Porque o céu perdeu a cor
E agora em cinzas se desfaz
Porque eu já não posso mais
Sofrer a mágoa que sofri
Porque tudo que eu quero é paz
E a paz só pode vir de ti
Porque meu sonho se perdeu
E eu sempre fui um sonhador
Porque perdidos são meus ais
E foste para nunca mais
Oh, meu amor
Porque minha canção morreu
No apelo mais desolador
Porque a solidão sou eu
Ah, volta aos braços meus, amor
O Belogue está em black-out. Vamos só postar um Carteiro para não dizerem: "Eh pá, tens um blog e não fazes nada." O que até é verdade.
domingo, dezembro 11, 2005
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA
- Interessante, muito interessante a intervenção de Jorge Silva Melo no programa "O Eixo do mal". O director artístico dos Artistas Unidos falou da necessidade do governo aplicar as leis em vigor. Note-se, não pediu leis novas, não fez referência à necessidade de grandes projectos, apenas alertou que sempre que um governo toma posse, sente um desígnio de mudança que na realidade nunca concretiza. As boas mudanças são aquelas que duram muito tempo. E como os governos não acompanham esse crescimento... Falou-se também da situação (privilegiada) dos directores da BN e do IPLB que têm cargos de confiança política, falou-se do IA e do Teatro Aveirense cuja substituição de director foi o fruto de um resultado eleitoral. Nunca em tão pouco tempo televisivo se falou tanto em cultura.
- menos interessante a entrevista de Maria Filomena Mónica a Francisco José Viegas no programa "Livro Aberto". A socióloga escreveu um livro (que ainda não li, por isso não posso dizer que sim nem que não), mas que levanta uma série de questões que não são só dela. Os problemas que MFM refere ainda hoje qualquer mulher os vive, e na época em que são retratados, muitas os viveram. Nem todas devem ter tido a oportunidade e capacidade de escrever sobre eles, mas elevar a socióloga a voz dessa classe, é um bocadinho demais. Confesso, não aguento o tom pedante da senhora.
- parcialmente interessante e para quem gostar, amanhã há a participação habitual da Beluga na Formiga Bargante, que ontem fez 6 meses de existência.
- nada interessante, para quem fica, mas a Beluga vai: PARTY!!!
- Interessante, muito interessante a intervenção de Jorge Silva Melo no programa "O Eixo do mal". O director artístico dos Artistas Unidos falou da necessidade do governo aplicar as leis em vigor. Note-se, não pediu leis novas, não fez referência à necessidade de grandes projectos, apenas alertou que sempre que um governo toma posse, sente um desígnio de mudança que na realidade nunca concretiza. As boas mudanças são aquelas que duram muito tempo. E como os governos não acompanham esse crescimento... Falou-se também da situação (privilegiada) dos directores da BN e do IPLB que têm cargos de confiança política, falou-se do IA e do Teatro Aveirense cuja substituição de director foi o fruto de um resultado eleitoral. Nunca em tão pouco tempo televisivo se falou tanto em cultura.
- menos interessante a entrevista de Maria Filomena Mónica a Francisco José Viegas no programa "Livro Aberto". A socióloga escreveu um livro (que ainda não li, por isso não posso dizer que sim nem que não), mas que levanta uma série de questões que não são só dela. Os problemas que MFM refere ainda hoje qualquer mulher os vive, e na época em que são retratados, muitas os viveram. Nem todas devem ter tido a oportunidade e capacidade de escrever sobre eles, mas elevar a socióloga a voz dessa classe, é um bocadinho demais. Confesso, não aguento o tom pedante da senhora.
- parcialmente interessante e para quem gostar, amanhã há a participação habitual da Beluga na Formiga Bargante, que ontem fez 6 meses de existência.
- nada interessante, para quem fica, mas a Beluga vai: PARTY!!!
sábado, dezembro 10, 2005
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS
(e tão SEM PALAVRÕES)
- it is heroic to try to stop time
- it is man's fate to outsmart himself
- it is a gift to the world not to have babies
- it's better to be a good person than a famous person
- it's better to be lonely than to be with inferior people
- it's better to be naive than jaded
- it's better to study the living fact than to analyze history
- it's crucial to have an active fantasy life
- it's good to give extra money to charity
- it's important to stay clean on all levels
(uma atenção especial para o terceiro e para o quinto truísmo)
(e tão SEM PALAVRÕES)
- it is heroic to try to stop time
- it is man's fate to outsmart himself
- it is a gift to the world not to have babies
- it's better to be a good person than a famous person
- it's better to be lonely than to be with inferior people
- it's better to be naive than jaded
- it's better to study the living fact than to analyze history
- it's crucial to have an active fantasy life
- it's good to give extra money to charity
- it's important to stay clean on all levels
(uma atenção especial para o terceiro e para o quinto truísmo)
sexta-feira, dezembro 09, 2005
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA
Ele há dias...
Entro na piscina toda lampeira, na pista de nado rápido e enquanto coloco os óculos no sítio vejo do outro lado uma senhora a ocupar a mesma pista. Ficou no ar aquele clima de duelo americano. Só que a senhora não sabia as regras do duelo: quem nada em pista para nado rápido, tem de nadar depressa e em qualquer pista tem de ir sempre pelo seu lado direito.
Saio da água após as 80 piscinas (desculpem mas eu tinha de escrever isto) em uma hora e preparo-me para o merecido duche. Azar dos azares, nem gel de banho, nem sabonete, nem uma mísera espuma de shampoo para espalhar. Lá tive de ir embora sem um banho decente .
Olho para o telemóvel e não tenho bateria. Azar dos azares deixei o carregador no emprego, bem como o Proust (salvo seja). Como na agenda manual estão apenas os contactos de trabalho, e não sei o número de ninguém de cor, este fim de semana sou eu, "A alma do homem sob o socialismo" do Oscar Wilde, muito pequenino, o Expresso e talvez um cinema. Já nem devo ir aqui.
Alguém me diz com frequência: "devia fazer menos coisas sozinha". Eu até gosto de fazer coisas sozinha e nem estaria aborrecida se pudesse fazê-las de livre escolha.
Ele há dias...
Entro na piscina toda lampeira, na pista de nado rápido e enquanto coloco os óculos no sítio vejo do outro lado uma senhora a ocupar a mesma pista. Ficou no ar aquele clima de duelo americano. Só que a senhora não sabia as regras do duelo: quem nada em pista para nado rápido, tem de nadar depressa e em qualquer pista tem de ir sempre pelo seu lado direito.
Saio da água após as 80 piscinas (desculpem mas eu tinha de escrever isto) em uma hora e preparo-me para o merecido duche. Azar dos azares, nem gel de banho, nem sabonete, nem uma mísera espuma de shampoo para espalhar. Lá tive de ir embora sem um banho decente .
Olho para o telemóvel e não tenho bateria. Azar dos azares deixei o carregador no emprego, bem como o Proust (salvo seja). Como na agenda manual estão apenas os contactos de trabalho, e não sei o número de ninguém de cor, este fim de semana sou eu, "A alma do homem sob o socialismo" do Oscar Wilde, muito pequenino, o Expresso e talvez um cinema. Já nem devo ir aqui.
Alguém me diz com frequência: "devia fazer menos coisas sozinha". Eu até gosto de fazer coisas sozinha e nem estaria aborrecida se pudesse fazê-las de livre escolha.
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS
Boy with thorn ("Spinario"
I a.C.
Palazzo dei Conservatori Museum, Roma
Lisbon Revisited
NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!
(...)
Álvaro de Campos
Boy with thorn ("Spinario"
I a.C.
Palazzo dei Conservatori Museum, Roma
Lisbon Revisited
NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!
(...)
Álvaro de Campos
O CARTEIRO
Arte e Técnica (ou "como eu tenho a certeza que este post não vai ter um só cometário")
A dicotomia Arte-Técnica tem raízes na Antiguidade. Na Ilíada de Homero, no canto 23 há a descrição de uma corrida de cavalos onde somos confrontados com dois cavaleiros: um forte, Menelau, a correr com uma égua e um jovem fraco, filho de Nestor que monta um cavalo frágil. Antes do começo da corrida, Nestor faz um discurso de encorajamento.
O filho era querido dos deuses e os deuses tinham-lhe ensinado tudo: a montar e a correr, embora o cavalo utilizado fosse fraco. Os outros concorrentes tinham cavalos mais rápidos, mas não tinham mais ideias que o filho de Nestor. Nestor faz um apelo à habilidade do filho que segundo ele, valia mais do que a força. Sem reflexão a corrida não podia ser bem sucedida. Dá indicações precisas ao filho sobre como conduzir o cavalo e as consequências de cada manobra.
Durante a corrida alguém grita para o jovem "conduzes como um louco". No Fedro de Platão, a loucura é apresentada como um bem quando vinda de Deus, tal como a Sibila possuia a arte de adivinhar o futuro. A loucura inspirada pelos deuses é superior à racionalidade inspirada por Deus, isto porque a loucura inspirou os ritos catárticos e iniciáticos.
Ao chamar ao corredor "louco", o espectador está a relacionar a palavra, não com o devaneio, como hoje a caracterizamos, mas com a habilidade, a manha; ou seja, metis. M+etis era também uma deusa, uma deusa austuciosa a quem Zeus, com medo que ela desse à luz filhos mais astutos do que ele, engole. De Métis nasceram Prometeu (aquele que vê antes) e Epimeteu (aquele que vê depois e que recompõe depois do erro consumado).
Esta é uma das perspectivas; a arte vem da inteligência prática feita de astúcia, manha e capacidade de tirar partido de situações difíceis. A outra diz que a arte vem da inspiração divina, deixando a possibilidade de concretização da mesma nas mãos dos deus. É uma teoria que se exime de "fazer".
[post chato, não é? Ainda por cima sem imagens...]
Arte e Técnica (ou "como eu tenho a certeza que este post não vai ter um só cometário")
A dicotomia Arte-Técnica tem raízes na Antiguidade. Na Ilíada de Homero, no canto 23 há a descrição de uma corrida de cavalos onde somos confrontados com dois cavaleiros: um forte, Menelau, a correr com uma égua e um jovem fraco, filho de Nestor que monta um cavalo frágil. Antes do começo da corrida, Nestor faz um discurso de encorajamento.
O filho era querido dos deuses e os deuses tinham-lhe ensinado tudo: a montar e a correr, embora o cavalo utilizado fosse fraco. Os outros concorrentes tinham cavalos mais rápidos, mas não tinham mais ideias que o filho de Nestor. Nestor faz um apelo à habilidade do filho que segundo ele, valia mais do que a força. Sem reflexão a corrida não podia ser bem sucedida. Dá indicações precisas ao filho sobre como conduzir o cavalo e as consequências de cada manobra.
Durante a corrida alguém grita para o jovem "conduzes como um louco". No Fedro de Platão, a loucura é apresentada como um bem quando vinda de Deus, tal como a Sibila possuia a arte de adivinhar o futuro. A loucura inspirada pelos deuses é superior à racionalidade inspirada por Deus, isto porque a loucura inspirou os ritos catárticos e iniciáticos.
Ao chamar ao corredor "louco", o espectador está a relacionar a palavra, não com o devaneio, como hoje a caracterizamos, mas com a habilidade, a manha; ou seja, metis. M+etis era também uma deusa, uma deusa austuciosa a quem Zeus, com medo que ela desse à luz filhos mais astutos do que ele, engole. De Métis nasceram Prometeu (aquele que vê antes) e Epimeteu (aquele que vê depois e que recompõe depois do erro consumado).
Esta é uma das perspectivas; a arte vem da inteligência prática feita de astúcia, manha e capacidade de tirar partido de situações difíceis. A outra diz que a arte vem da inspiração divina, deixando a possibilidade de concretização da mesma nas mãos dos deus. É uma teoria que se exime de "fazer".
[post chato, não é? Ainda por cima sem imagens...]
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA
- Hoje não há ninguém no gabinete, à excepção da Beluga para quem o trabalho tem o mesmo efeito das "copas". Começamos o dia com Arcade Fire, vamos passar por Madonna, por Andrew Bird, Anthony and the Johnson's, Dead Combo (.net), New Order, Erik Satie, and so on, and so on. Tudo com as colunas no volume certo.
- Uma cadeira com uma pilha de livros para ler e pelo menos dois inventários.
- Sonho desta noite: era a namorada de Paulo Pedroso. Um namoro que durou quatro minutos do sonho, visto a Beluga não suportar que o namorado lhe tocasse. [Coisas estranhas com que a gente sonha!]
- Hoje não há ninguém no gabinete, à excepção da Beluga para quem o trabalho tem o mesmo efeito das "copas". Começamos o dia com Arcade Fire, vamos passar por Madonna, por Andrew Bird, Anthony and the Johnson's, Dead Combo (.net), New Order, Erik Satie, and so on, and so on. Tudo com as colunas no volume certo.
- Uma cadeira com uma pilha de livros para ler e pelo menos dois inventários.
- Sonho desta noite: era a namorada de Paulo Pedroso. Um namoro que durou quatro minutos do sonho, visto a Beluga não suportar que o namorado lhe tocasse. [Coisas estranhas com que a gente sonha!]
quinta-feira, dezembro 08, 2005
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS
(Esta imagem já foi postada no Belogue, mas surge agora em outro contexto. Have a nice day.)
Egon Schiele
Embrace (Lovers II)
1917
Osterreichische Galerie, Viena
Ternura
Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...
Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...
Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!
(Ternura de David Mourão Ferreira in Os Quatro Cantos do Tempo)
(Esta imagem já foi postada no Belogue, mas surge agora em outro contexto. Have a nice day.)
Egon Schiele
Embrace (Lovers II)
1917
Osterreichische Galerie, Viena
Ternura
Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...
Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...
Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!
(Ternura de David Mourão Ferreira in Os Quatro Cantos do Tempo)
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO
[Coisas muito pensadas]
Porque é que quando um político de esquerda neste caso, Manuel Alegre, fala de um "défice de portugalidade" e apela à recuperação dos valores nacionais, está a ser patriótico; e quando é um político de direita o tomam por nacionalista?
(A Beluga não é direita nem de esquerda, é de quem a apanhar.)
[Numa superfície comercial]
Pausa para um café num daqueles cafés-quiosque. As chávenas eram as mesmas que estão na Casa da Música, porque a Delta pode fazer aquilo que lhe der na real gana. Só que desta vez mascarou-as com uma decoração que se assemelha a uma torta com cobertura de chocolate e recheio de creme de pasteleiro, mas daquele de pastelaria, que apresenta uma coloração esverdeada e não amarelinha. Pior do que aquele decor, só mesmo as meias brancas do Michael Jackson no "Billy Jean", ou o cabelo do Michael Bolton.
(Aceitam-se sugestões porque a Beluga ficou em estado de choque.)
[Coisas muito pensadas]
Porque é que quando um político de esquerda neste caso, Manuel Alegre, fala de um "défice de portugalidade" e apela à recuperação dos valores nacionais, está a ser patriótico; e quando é um político de direita o tomam por nacionalista?
(A Beluga não é direita nem de esquerda, é de quem a apanhar.)
[Numa superfície comercial]
Pausa para um café num daqueles cafés-quiosque. As chávenas eram as mesmas que estão na Casa da Música, porque a Delta pode fazer aquilo que lhe der na real gana. Só que desta vez mascarou-as com uma decoração que se assemelha a uma torta com cobertura de chocolate e recheio de creme de pasteleiro, mas daquele de pastelaria, que apresenta uma coloração esverdeada e não amarelinha. Pior do que aquele decor, só mesmo as meias brancas do Michael Jackson no "Billy Jean", ou o cabelo do Michael Bolton.
(Aceitam-se sugestões porque a Beluga ficou em estado de choque.)
quarta-feira, dezembro 07, 2005
DISCOS PE(R)DIDOS
Sr. DJ, o meu nome é António, sou enfermeiro e tenho 56 anos. Gosto da chuva e de comer iscas de fígado com arroz de tomate. Ponha aí a Norah Jones com "Day is done". Quero dedicar a música às minhas peónias; a única coisa viva perto de mim.
(...)
When the day is done
Hope so much your race will be all run
Then you find you jumped the gun
Have to go back where you began
When the day is done
When the night is cold
Some get by but some get old
Just to show life's not made of gold
When the night is cold.
(...)
Sr. DJ, o meu nome é António, sou enfermeiro e tenho 56 anos. Gosto da chuva e de comer iscas de fígado com arroz de tomate. Ponha aí a Norah Jones com "Day is done". Quero dedicar a música às minhas peónias; a única coisa viva perto de mim.
(...)
When the day is done
Hope so much your race will be all run
Then you find you jumped the gun
Have to go back where you began
When the day is done
When the night is cold
Some get by but some get old
Just to show life's not made of gold
When the night is cold.
(...)
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS
Maminha IV - Maminha artística
Mais de 20 seios presos ao corpo.
Bela Artemisa
Século II d.C.
Museu de Eféseo, Turquia
Esta não é a primeira fotografia em que Cindy Sherman parodia as pinturas do Renascimento. Aqui com um seio falso e uma gota de leite pendente.
Cindy Sherman
Untitled#225
1990
Eli Broad Foundation
Maminha IV - Maminha artística
Mais de 20 seios presos ao corpo.
Bela Artemisa
Século II d.C.
Museu de Eféseo, Turquia
Esta não é a primeira fotografia em que Cindy Sherman parodia as pinturas do Renascimento. Aqui com um seio falso e uma gota de leite pendente.
Cindy Sherman
Untitled#225
1990
Eli Broad Foundation