quinta-feira, dezembro 29, 2005

O CARTEIRO

Ainda a "Recherche..." ou "Nós estamos tãããão cultos"



Como foi publicado ontem no Belogue a leitura de Proust terminou, mas a obra não. Proust consegue uma série de ramificações a outros autores (ou não tivesse ele dado início ao romance moderno, juntamente com Italo Calvino porque privilegia a forma em detrimento do conteúdo – aquela história de Swann e Odette de Crecy que me fez ficar agarrada todo o primeiro volume e que nunca mais desenvolvia), principalmente a James Joyce. Os dois devem disputar depois de mortos o espaço nas prateleiras das nossas bibliotecas e devem disputar também o maior número de citações por parte de quem nunca as leu. São livros que ficam “sempre bem”.

[Eu acho que há uma narrativa metafísica em Proust, com o microcosmos do autor a ser a representação do macrocosmos que é a obra. Não acha?]
[Sim, não podia estar mais de acordo consigo, mas penso que Joyce consegue isso melhor porque incorpora um tempo físico.]

(Ontem no programa “Livro Aberto”, de Francisco José Viegas, discutiam-se os livros do ano. Quando alguém diz que recomenda, é porque leu, é porque viu, é porque experimentou. Dizer que “é muito bom” implica conhecimento de causa. Fiquei a pensar: “Será que esta gente lê mesmo isto tudo? “ Acho que não!)

Voltando a Proust e a Joyce, e como escrevi no outro post, eles encontraram-se , mas o encontro pode classificar-se como decepcionante: Joyce expansivo e Proust comedido; Joyce fumador e Proust asmático; Joyce caloroso, Proust irritadiço. Para a posteridade Joyce foi saudado, enquanto Proust ficou esquecido durante cerca de 30, 40 anos. Proust era snob, mas quando morreu despertou um círculo de amigos e admiradores que reconheciam nele o mundo dos salons da belle-époque e o facto desta escrita estar afastada das vanguardas. O próprio facto de ser judeu (algo que de certa forma é retratado no livro com o caso Dreyfuss) fez com que não tenha sido aceite até aos anos 70 .

Daqui a nada, vamos ver o seu encontro em pormenor (imaginado, claro, que o meu conhecimento de Proust esgota-se aqui).