quarta-feira, dezembro 21, 2005

COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO

É ver para crer ou "Não reclamem, por favor"


Caravaggio
The incredulity of Saint Thomas
1601-1602
Neus Palais, Potsdam

Qual despesa pública, qual quê. Os problemas do país estão nos ofícios.
Imagine que vai a um sítio qualquer por exemplo, um Museu do Estado, e necessita de fazer uma reclamação. reenche um papel que tem duas vias; uma azul (à qual eles chamam verde) e uma amarela. A amarela segue para o DGAP e a azul segue para o Ministério da Cultura. Faz-se uma cópia do azul e envia-se também para o senhor director do IPM. Cada uma destas três cartas tem de ir acompanhada da resposta que lhe enviaram do Museu sobre a própria reclamação. Ao todo são quatro cartas: uma para o Ministério da Cultura (com dois anexos), uma para o IPM (com dois anexos), uma para o DGAP (com dois anexos) e uma para si próprio com a resposta à sua reclamação. É dobrar e colocar nos envelopes.
E quanto tempo demora a fazer isto? Uma hora! Porquê? Porque é a "administração pública" disse-me quem sabe destas coisas.
Fazer um ofício (neste caso quatro) na Administração Pública é abrir uma matrioska. Primeiro é preciso apontar num livro de merceraria o número do ofício, depois é preciso fazê-lo com computador segundo um modelo já definido. Não esquecer de mudar o número do processo que pode ter até quatro dígitos (vai do 1.1. até ao 7.2.1.2). Depois imprime. A folha sai torta. Volta a imprimir. A folha sai com muita tinta. Fica borratada. Volta a imprimir enquanto vai lavar as mãos. Vai para tirar cópias, mas já não há folhas na máquina. Vai buscar folhas. Espera. Faz duas cópias, uma para o copiador (eu chamo-lhe sempre contador, não sei porquê), outra para o processo. Faz duas cópias dos anexos. Não há folhas na fotocopiadora. Alguém reclama que é preciso poupar. Espera. Fotocopia. Confere se tudo bate certo (Se não bater é necessário novo processo). Dobra. Mete nos envelopes. Tira a fitinha do envelope. Fecha. Expede.
Uma hora para enviar quatro cartas. Os ofícios senhores! O problema é dos ofícios e das matrioskas.