quinta-feira, dezembro 08, 2005

TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

(Esta imagem já foi postada no Belogue, mas surge agora em outro contexto. Have a nice day.)


Egon Schiele
Embrace (Lovers II)
1917
Osterreichische Galerie, Viena



Ternura
Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

(Ternura de David Mourão Ferreira in Os Quatro Cantos do Tempo)