O CARTEIRO

O Natal é uma ejaculação precoce ou "como amanhã por esta hora eu estou tããããão excomungada"

O Natal já não sabe a Natal. E não é por crescermos e termos o nosso primeiro "amor", frustrado como todos os primeiros amores. É porque há uma máquina que por alturas de Setembro vomita o Natal.

Em Agosto os meios de comunicação social ainda nos falam da necessidade de "preparar o corpo para o Verão", há novas colecções, há programação televisiva de Verão (de fugir!!!). Em Setembro falam-nos do rescaldo, do "como prolongar o bronzeado". Nas colecções as roupas continuam a ser ridiculamente reduzidas. Vê-se que quem as desenha, desenha dentro de um atelier onde é Verão todo o ano. Em Outubro "organize o seu guarda-roupa", ou "ajude-os a voltar à escola". As lojas recebem as colecções novas, mas há uma relação inversamente proporcional entre a quantidade de tecido e o preço. E aqui já começam a acenar-nos com o Natalzinho em promoções de chocolates e brinquedos de folhetos de supermercado. Chegamos a Novembro com as prendas todas compradas porque arranjamos mil pretextos para dar corda ao cartão de crédito (perdão, para a maioria, de débito). Dezembro é mais um mês e o Natal, porque anda a ser festejado há muito tempo, não sabe a Natal.

Agora o Verão começa em Abril e o Natal em Outubro. Quando a minha idade era outra que não esta, no Verão a minha avó despia a cinta na casa de banho e vestia o fato de banho azul escuro. Deixava a cinta em cima do bidé como o molde de gesso preto de uma deusa da fertilidade. Hoje a minha avó é um corpo morto numa cama que não é a dela. Muito parecida, para quem entra no quarto e a vê nua, com as figuras femininas dos nus de Lucian Freud.


Lucian Freud
Naked portrairt with reflection
1980

Mas eu não sou saudosista, nem pessimista, e gosto de roupas reduzidas. Tanto me agrada o cheiro do Pizbuin como da Nivea, tanto como bacalhau com todos, como só com alguns. Só não engulo essa coisa das renas. Não engulo. O Pai Natal, ainda vá lá, mas as renas?...