segunda-feira, dezembro 05, 2005

O CARTEIRO

Sempre que o Homem claudica, o Mundo pula e avança




A versão original diz que sempre que "o Homem sonha, o Mundo mundo pula e avança". mas o Homem só sonha porque viu, porque viveu; não posso escolher entre o "nada" e o "coisa nenhuma". E entre a apresentação das opções e a decisão, o Homem claudica. Hesita como Jasão entre o velocino de ouro e o Amor; como Teseu, entre a glória e a ambição; como o Jacinto de "A cidade e as serras", entre a leitura pessimista de Schopenhauer e a esperança do Ecclesiastes; como José (não o de Arimateia), entre a omissão e a vida; como Cristo, entre Deus e o Diabo.

Jesus claudicou e foi escolhido por Deus, José preferiu uma existência pacata e apagada; Jacinto encontrou o meio termo, Teseu ficou sem nada, Jasão ficou com tudo.

Vem esta história a propósito de "Os encantos de Medeia" em cena no Teatro Nacional de S. João e baseado na obra de António José da Silva, o Judeu.

No final do livro Memorial do Convento, Saramago encena um auto-de-fé- na praça do Rossio, encaminhando onze vítimas para a fogueira. Entre essas vítimas está António José da Silva, o judeu.