sábado, setembro 29, 2007

- back to black -

Aos fins-de-semana há os axiomas do Manifesto Futurista de Marinetti. Rei morto, rei posto!

- "Nós declaramos que é preciso desprezar todas as formas de imitação e glorificar todas as formas de originalidade."
- não vai mais vinho para essa mesa -

chega à meia noite e é um sufoco! não sei se é a passagem de um dia para o outro, a noção da passagem do tempo. mas a certeza da solidão é. tal como o é a do vazio: qualquer coisa cá dentro que não está. só cá está o espaço.

sexta-feira, setembro 28, 2007

- o carteiro -

o verdadeiro significado de Globalização (enviado por mail pela Nancy. que é americana!)

Question: What is the truest definition of Globalization?
Answer: Princess Diana's death.
Question: How come?
Answer: An English princess with an Egyptian boyfriend crashes in a French tunnel, driving a German car with a Dutch engine, driven by a Belgian who was drunk on Scottish whisky, followed closely by Italian Paparazzi, on Japanese motorcycles; treated by an American doctor, using Brazilian medicines. This is sent to you by Indian, using Bill Gates's technology, and you're probably reading this on your computer, that use Taiwanese chips, and a Korean monitor, assembled by Bangladeshi workers in a Singapore plant, transported by Pakistan lorry-drivers, hijacked by Indonesians, unloaded by Sicilian longshoremen, and trucked to you by Mexican illegals...
- original soundtrack -


We strolled through fields all wet with rain
And back along the lane again
There in the sunshine
In the sweet summertime
The way that young lovers do

I kissed you on the lips once more
And we said goodbye just adoring the nighttime
Yeah, thats the right time
To feel the way that young lovers do

Then we sat on our own star and dreamed of the way that we were
And the way that we were meant to be
Then we sat on our own star and dreamed of the way that I was for you
And you were for me
And then we danced the night away
And turned to each other, say, i love you, I love you
The way that young lovers do
(…)

(The way that young lovers do, Van Morrison)
- não vai mais vinho para essa mesa -

com unhas vermelhas até se posta melhor
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

No Museu Mimara em Zagreb, Croácia há uma versão prévia ou posterior, não sei, à Tentação de Santo António que está no Museu Nacional de Arte Antiga, pintado por Bosch. A versão, segundo aquilo que sei, também foi pintada por Bosch, mas parece mais fraco. O peixe, na parte inferior do quadro é igual ao que está na pintura o MNAA, ou vice-versa. Não é um antes e depois, mas é talvez o primeiro "ars longa, vita brevis" com pintura de um museu português, uma pintura conhecida e uma versão, ao que parece, desconhecida.

Hieronymous Bosch
The Temptation of St Anthony (pormenor)
1500
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa


Hieronymous Bosch (?)
The Temptation of St Anthony (pormenor)
Mimara Museum, Zagreb
- o carteiro -



Van Gogh
Fifteen Sunflowers in a Vase

1888
National Gallery, London

Sabes que tenho quatro filhos. Claro que sabes, a gente baptizou-os, por isso sabes. Pois bem, o meu mais velho é que descobriu e mesmo assim foi ele que me levou naquela tarde a ver o mar. Não sei se ele já sabia. Às vezes olhava-me, já eu estava aqui prostrado a tentar convencer-te a levares-me, com uma espécie de frieza cruel nos olhos. Parecia que me dizia: “morre, morre pai. Morre depressa que eu sei de tudo, e poupas-me trabalho. Se morreres não tenho de te matar”. Mal ele sabe o quanto é difícil morrer nesta casa! Pois então foi esse que me levou a ver o mar, conto-te eu para ver se tu te enfadas e me levas de vez. A Eugeninha, que é a outra a seguir a ele, comprou a cadeira, mas aquilo de me levar a ver o mar foi ele. Levava o meu primeiro neto, filho dele, agarrado à perna e empurrou a cadeira pela duna acima. O dia estava tal e qual como eu gostava para ver o mar: frio, ventoso, a levantar uma poeira miudinha que nos obrigava a semicerrar os olhos para ver a espuma branca a rematar cada onda como se fosse um bordado. Não um bordado de flores, mas um bordado inglês. Foi no final de Setembro, ele parece que escolheu de propósito. E digo-Te de propósito, porque como não sei se ele realmente sabe ou não, não posso dizer que me levou naquela época para me agradar ou para me martirizar, para me provocar um ataque qualquer. Aquela mão que empurrava a cadeira tanto podia ser a de um companheiro como a de um carrasco. Quando cheguei lá acima – não me apercebi logo -, com o vento a bater no rosto, e vi o tal bordado e ouvi o silêncio ensurdecedor do rebentamento das ondas, percebi que nunca mais teria a visão do mar como outrora. Se o meu corpo me obedecesse, juro-Te que me tinha erguido da cadeira e pelo meu pé teria voltado para trás e apanhado o 78. Não podes imaginar o quanto é penosa a visão do mar quando sabemos que nunca mais vai voltar a ser nosso. É que mesmo que ele me leve lá 20 vezes, por 20 vezes vou sentir dor e não alegria. Sabes, queria ir embora aí para cima e poder dizer: “isso? Não sei, não vi.” Percebes o que Te quero dizer? Prefiro negar-me o prazer de algo que me apraz, para na hora em que me chamares – e eu ando à espera disso há muito tempo -, não tenha nada para recordar.


Já sei que achas que ele não fez nada para me magoar, nada de forma premeditada, mas eu bem sei o calafrio que sinto na espinha quando ele vem cá e vejo passar-lhe pelos olhos uma sombra de morte. Quando vejo aquilo nos olhos dele é que me sinto vivo, porque de facto sinto alguma coisa! E não é só ele; é ele e a certeza de que ele é o depositário do meu segredo. Sim, eu sei que ele não vai contar, o que no meu caso, no nosso caso, nem é nada bom. Eu devia entrar purinho para o reino dos Céus, não era? Mas quem é que entra? O que me aborrece é que mesmo que ele não fosse meu filho, não era o tipo de pessoa a quem eu contava. Não contava a ninguém, bem sabes. Tantos anos, quase tantos como ele sem que ninguém descobrisse e de repente o tipo fica a saber metade da minha vida. Um quarto da minha vida, vá lá, que metade já ele conhecia. Por isso é que digo que foi de propósito que ele me levou a ver o mar. Foi como se dissesse: ‘anos e anos a trazer a menina para a beira-mar de carrinho, a empurrar a saia da menina para cima e hoje, meu velho senil e imundo, sou eu quem te empurra o carro de rodas. E se quisesse, empurrava-te directamente duna abaixo. Era só deixar a mão escorregar, dizer ‘oops’ e ficar a ver-te esparramado na praia a respirar areia. Fingir que corria, que me doía a perna para alegar não poder socorrer-te rapidamente e quando chegar até ti ver-te com a boca que beijava a minha mãe e que lambia o pescoço da outra no banco da frente do carro, a soltar um pozinho de areia. Nem te chorava. Pai.’ Sim, talvez esteja a ser muito severo com ele, talvez ele compreenda que um homem precisa disto. E daí… Não sei se compreende. Acho que ele nunca pulou a cerca. Pelo menos por enquanto pode pulá-la sem ser apanhado pelo filho dele de dois anos. Isso sim, isso é ter sorte!


(in "O Simétrico")

quinta-feira, setembro 27, 2007

acabei a raposa. não me apetece comer. vou embora. já não está cá ninguém.
"Há mais marias na terra"
estou a detestar desenhar a raposa
- original soundtrack -



You sit there in your heartache
Waiting on some beautiful boy to
save you from your old ways
You play forgiveness
Watch it now ... here he comes!


He doesn't look a thing like Jesus
But he talks like a gentleman
Like you imagined when you were young


Can we climb this mountain
I don't know
Higher now than ever before
I know we can make it if we take it slow
Let's take it easy
Easy now, watch it go


We're burning down the highway skyline
On the back of a hurricane that started turning
When you were young
When you were young


And sometimes you close your eyes
and see the place where you used to live
When you were young


They say the devil's water, it ain't so sweet
You don't have to drink right now
But you can dip your feet
Every once in a little while
(….)

(When you were young, The Killers)

AM, por acaso não conhece nenhum site na internet onde possa ouvir a música dos The Triffids?

- não vai mais vinho para essa mesa -

ok, admito que possa não ter piada:
[1]
Brown não vem à Cimeira Europa-África, mas vem outro brown.

[2]
Aqui as "redes digitais são auto-estradas do conhecimento", no Zimbabwe, a única auto-estrada liga a casa do Presidente Mugabe ao aeroporto e é do conhecimento dele.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou "para falar a verdade, nem sei o que é pior: se o misticismo ingénuo da Vénus de Rossetti, pura e primaveril, se as peles caídas da sexagenária Joanna Frueh (nada quanto a velhice), mascarada de Vénus sem Botticelli com todos os acessórios do kitsch", ou, "venha o diabo e escolha...":

Dante Gabriel Rossetti
Venus Verticordia
1864-68
Russell-Cotes Art Gallery, Bournemouth, England


Joanna Frueh and Russell Dudley
Venus Verticordia
2005
- o carteiro -

Não coloco aqui a fotografia porque é demasiado chocante. No entanto não acho que a mesma fotografia colocada frente a um serviço de tratamento de doentes com doenças do comportamento alimentar, fosse servir de panaceia alienígena. Isto porque apesar de chocante a fotografia da nova campanha da marca de roupa Nolita da autoria de Olivero Toscano, não tem mais nenhuma intenção do que promover a própria marca com uma mensagem social tal como acontecia com a Benetton. Depois porque o objectivo esbarra na realidade: o que Toscani conta não é a doença em si, a história da anorexia (credo, parece nome de livro editado pela Difel!), mas antes a história daquela modelo uma vez que a mesma acabou por falar da sua experiência em entrevistas.
Não consta que as fotografias do conhecido fotógrafo em que víamos um doente com SIDA a morrer tenha impedido outros doentes de morrer e outras pessoas de contraí-la. Também não parece que o beijo entre o padre e a freira tenham impedido os abortos em conventos, nem acabado com o celibato da religião católica. Portanto, ao contar a história da modelo Toscani cai na tentação de hoje que consiste em compreender ou dar a entender uma situação particularizando-a. O exemplo dessa modelo não é a vida de cada doente e contá-lo não irá fazer nada por nenhum doente, assim como o padre e a freira não fizeram pelos padres e pelas freiras, nem o homem a morrer com SIDA fez pelos homens e mulheres que morreram com SIDA.

Se havia um tempo em que a ousadia de Toscani era tida como originalidade, hoje já não é mais que manipulação. Lembro uma conferência do fotógrafo aqui em Portugal em 2005, sobre a direcção em que corria o Mundo (não recordo o nome, mas sei que Carlos Magno era o moderador). No fim, antes da sessão de perguntas e respostas, Toscani mostrou um vídeo realizado por ele onde alternava imagens da vida desafogada dos brancos ocidentais e a vida de miséria dos negros subsaarianos. Terrível! Não podia ter sido mais gratuito, mais primário. Juraria que aquilo não lhe ocupou dois minutos de reflexão.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
olhá notícia fresquinha!
[1]
Francesco Vezzoli e a exposição "Francesco Vezzoli: A True Hollywood Story!" na Power Plant Gallery

[2]
Arte ou Bioterrorismo na Sirius. Entrevista com Steve Kurtz.
[3]
Dança das cadeiras também lá: sai Kathy Halbreich do Walker Art Center para o MoMA. sai o director do Guggenheim de Nova Iorque para a Sotheby’s.
[4]

Em reabilitação: antes eram feios e kitsch, agora até são aceitáveis, emocionais e comparáveis a Rembrandt.

- o carteiro -
Estes dois quadros de Caravaggio são, à semelhança do post de ontem na Formiga Bargante, mais um exemplo da duplicação de obras de arte. Muitos artitas fizeram-no não alterando nada, à excepção daquilo que a mão humana não podia deixar de alterar, mas neste caso a justificação existe e não é uma conjectura: Caravaggio copiava com frequência os seus próprios quadros, o que é uma benção para toda a humanidade. Como podemos ver, uma das versões está no Museu Capitolino em Roma e outra na galeria Doria Pamphili também em Roma. Quer dizer... os romanos ficam a ganhar mais do que nós. Mas há um Caravaggio em Espanha, no Thyssen-Bornemisza.

Caravaggio
St. John the Baptist

1600
Musei Capitolini, Rome


Caravaggio
St. John the Baptist

1600
Galleria Doria Pamphili, Rome

Notamos desde logo a semelhança na pose entre a personagem de São João Baptista e o Ignudi de Miguel Ângelo, no tecto da Capela Sistina que vai-se a ver, também é em Roma! (Vaticano). Há uma torção do corpo que é semelhante, embora Caravaggio tenha pintado São João segundo as suas próprias regras e princípios trabalhando através da observação de um modelo vivo. Vemos isso na forma como Caravaggio trabalha os músculos, menos definidos que os do Ignudi, menos robusto, mostrando mesmo um corpo misógino de um jovem. A própria posição não é a mesma, mas há uma identificação na forma como as figuras se apoiam: ambas usam o cotovelo (São João de Caravaggio usa o esquerdo – dele -, e o Ignudi usa o direito). São João finca-o em panejamentos para poder rodar o corpo e abraçar o carneiro, enquanto o Ignudi limita-se a um leve apoio nos frutos. A sua posição é muito menos natural e obriga a um esforço abdominal maior que no caso de São João. A iluminação a que foi sujeito é fria e dá-lhe uma aparência menos real. De resto, São João é completamente livre; só o cotovelo é ponto de força.

Michelangelo
Ignudi
1508-1512
Sistine Chapel, Vatican

O carneiro, como outros elementos em Caravaggio, emerge do fundo da pintura como se de repente tivesse sido iluminado por um holofote no palco de um teatro. Esse mesmo carneiro, animal sacrificial que representa Cristo quase toca o rosto do jovem. Outro elemento que relaciona o carneiro com Cristo é a videira, cujo sumo é o sangue de Cristo segundo a tradição bíblica.

Como sempre Caravaggio deixa no ar uma dúvida: se não fosse o carneiro e as uvas, este quadro seria apenas o quadro de um rapaz na puberdade que entre o atrevido e o envergonhado mostra o corpo.

quarta-feira, setembro 26, 2007

- original soundtrack -

não sei quanto a vocês, mas isto dá-me vontade de dançar:

A little less conversation, a little more action please
All this aggravation ain't satisfactioning me
A little more bite and a little less bark
A little less fight and a little more spark
Close your mouth and open up your heart and baby satisfy me
Satisfy me baby

Baby close your eyes and listen to the music
Drifting through a summer breeze
It's a groovy night and I can show you how to use it
Come along with me and put your mind at ease

A little less conversation, a little more action please
All this aggravation ain't satisfactioning me
A little more bite and a little less bark
A little less fight and a little more spark
Close your mouth and open up your heart and baby satisfy me
Satisfy me baby

Come on baby I'm tired of talking
Grab your coat and let's start walking
Come on, come on
Come on, come on
Come on, come on
Don't procrastinate, don't articulate
Girl it's getting late, gettin' upset waitin' around
(...)

(A little less conversation, Elvis Presley vs Jxl)
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois:

Pieter Bruegel
Peasant wedding
1568
Kunsthistorisches Museum, Vienna


Publicidade da Coke light
2007
- o carteiro -

Vilhelm Hammershøi
De fire stuer
1914
Ordrupgaard, Dinamarca
- não vai mais vinho para essa mesa -

todos os dias penso em ti. és a primeira coisa que penso quando acordo. "coisa" não é um termo bonito. antes eras a última coisa em que pensava antes de adormecer, mas percebi que tinha de fazer algo porque não conseguia dormir. agora digo os reis e cognomes da monarquia portuguesa e adormeço num instante. também penso, quando acordo, que a culpa foi minha, foi qualquer coisa em mim que eu tinha ou que não tinha (ainda não descobri bem, mas penso com tanta intensidade que um dia destes vou descobrir), que eu não era interessante o suficiente, alta o suficiente, que me recusei, que morava longe, que tinha cinco dedos nos pés e cinco nas mãos... sei que não gostaste na altura e também não é agora que vais gostar. mas pode ser que o problema não seja só meu e é nisso que penso o resto do dia. egozinho masturbado?

terça-feira, setembro 25, 2007

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

- o que é que eu vos disse? eu não disse para não se meterem na pastilha, nem nas "rodinhas"? será que é preciso dizer muitas vezes que isso vos faz mal? uma flagelaçãozinha? 'ah e tal, isso dói'; fazer uns cilícios? 'ah e tal, a gente não tem tempo'; rezar um rosário? 'ena pá, isso é muito. não pode ser só uma avé-maria abreviada?'. assim não pode ser! menina Teresa, essas poses?!

Gian Lorenzo Bernini
The Ecstasy of Saint Therese
1647-52
Cappella Cornaro, Santa Maria della Vittoria, Rome


- então 'dad', tá-se? 'tou-te' a ver man. estou a sentir um calor cá dentro... será a menopausa?
- não blasfeme menina ou retiro-lhe o sucesso do Castelo Interior. I'm gonna make your life a living hell. oops! e o sr., sr. Francisco? muito bonito, sim senhor. onde é que foi a noitada, pode saber-se?

Caravaggio
St. Francis in Ecstasy
1595
Wadsworth Atheneum, Hartford, Connecticut
- fomos todos ao Alcântara-Mar!
- Alcântara-Mar!? Estão excomungados por falta de gosto. e foi com esse hábito horroroso?
- não tinha outro, a Ordem é pobre.
- mas tinha dinheiro para as pastilhas.
- foi tudo de graça: o porteiro conhece-nos, as bebidas foram pelas alminhas do purgatório e as pastilhas foram a menina da promoção dos iogurtes que nos ofereceu.
- e a dona Catarina que era filha de um rei? nem a sua ascendência...

Bernardo Cavallino
The Ecstasy of St Cecilia
1645
Museo Nazionale di Capodimonte, Naples

- nem vale a pena falar desse tipo que era meu pai. era, era. já não é. sabe que é ele que tem o monopólio das pastilhas no norte do país?
- portanto, o negócio fica em família.
- original soundtrack -

lá fora "venta" muito (não existe, mas é um neologismo à Mia Couto). esta noite a água sairá dos canais.

Love me love me love me
Say you do
Let me fly away
With you
For my love is like
The wind
And wild is the wind

Give me more
Than one caress
Satisfy this
Hungriness
Let the wind
Blow through your heart
For wild is the wind

You...
Touch me...
I hear the sound
Of mandolins
You...
Kiss me...
With your kiss
My life begins
You’re spring to me
All things
To me

Don’t you know you're
Life itself
Like a leaf clings
To a tree
Oh my darling,
Cling to me
For were creatures
Of the wind
And wild is the wind
So wild is the wind

Wild is the wind
Wild is the wind

(Wild is the wind, versão de David Bowie)
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois, ou "já sei que vão dizer que 'não é parecido e tal'. mas a analogia não é apenas minha (aliás, para mim havia uma outra relação e que era entre este banhista e um rapaz com bola de Picasso, mas como não tenho certeza, fica aqui a dúvida que procurarei esclarecer). a relação foi estabelecida nesta exposição onde encontramos o trabalho de Rineke Dijkstra, mas também Cindy Sherman e Barceló:

Paul Cezanne
The Bather
1885-1887
The Museum of Modern Art, New York


Rineke Dijkstra
Odessa
1993
- não vai mais vinho para essa mesa -
a esta hora a gráfica já começou a imprimir os cartazes. o Sol vai distribuí-los. se correr bem óptimo, se tiverem ficado mal, o mínimo erro, e posso começar a tirar as medidas para o caixão.
- não vai mais vinho para essa mesa –

a lutar aqui com o cérebro para não voltar ao mesmo
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
- olhe, era para levar esta.
- vou fazer um embrulho especial.
- não embrulhe! é para levar na cabeça já pelo caminho.
- o carteiro -

Pessoal, todos à Tate:
A Tate fez o balanço do último ano (de Abril de 2006 a Abril de 2007): 7,7 milhões de pessoas visitaram a Tate. A Tate Modern recebeu cerca de 5,2 milhões de visitantes e cerca de 3 milhões visitaram a Tate Britain. A Tate Modern só ficou atrás da Blackpool Pleasure Beach, como lugares mais visitados de Inglaterra. Estes números devem-se a um grande interesse pelo edifício da Tate, ao interesse geral pela arte e, crê-se que pela boa escolha dos nomes para as exposições bem como um contexto sério das mesmas

Homos, todos para San Francisco:
A Esteban Sabar Gallery apresenta uma exposição que promete mexer (parcialmente) com os americanos. Parcialmente porque a galeria não é muito conhecida e os artistas que integram a exposição também não são. No entanto, Full Frontal: A Male View of the Male Figure propõe uma visão do corpo do homem, tão aceite pela Igreja, o que é compreensível, mas igualmente mal recebida pela sociedade em geral. Só na estatuária grega é possível admirar o desenho do corpo masculino da mesma forma que se admira o feminino. Depois disso, e quanto mais real se tornava a arte, o corpo masculino nu foi praticamente banido, à excepção de alguma fotografia. Senhoras, e alguns senhores, comprem o vosso bilhete.
Heteros, todos para o Irão:
Na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, o presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad respondeu a algumas perguntas sobre o Holocausto, tergiversou sobre a origem do Homem, fugiu à pergunta sobre se o seu governo pretendia arrasar Israel, se o Irão armava as milícias Xiitas do Iraque e foi acusado de ser ditador. Para além de fugir politicamente às questões mais periclitantes, quando questionado sobre a forma como o Irão tratava as mulheres e os homossexuais privando-os de alguns direitos básicos, Ahmadinejad respondeu: “no Irão não há homossexuais”. Mais fica!

segunda-feira, setembro 24, 2007

- não vai mais vinho para essa mesa -
(a falar de uma sala para a outra com voz grave e autoritária)
- sr. azevedo?
- sim, sim, sou eu.
- daqui fala a professora maria joão castro da escola XXXX e era para lhe dizer que a sua presença é exigida imediatamente aqui na escola.
- p-porquê?
- porquê? porquê sr. azevedo? porque os testes não estão a funcionar, os miúdos estão a desfazer-me a sala e eu exigo uma explicação e resolução do problema da vossa parte.
- ...
- sr. azevedo?
- sim?
- ouviu o que lhe disse? exijo a sua presença aqui na escola já! vocês desenvolveram o projecto, implementaram-no e agora têm de prestar toda a assistência necessária. os miúdos não conseguem realizar os testes.
- mas o que é que acontece?
- terei de me repetir sr. azevedo? os testes não funcionam! os computadores vão abaixo. se o sr. não estiver aqui dentro de 5, 10 minutos, eu terei de falar com o professor XXX ou com o Amaral. Ou então tomar medidas mais drásticas e fazer queixa de si por escrito.
- ...
- estão a gozar comigo...
- a gozar sr. Azevedo? vocês é que estão a gozar comigo. vou relembrá-lo: o meu nome é maria joão castro. peça ao porteiro da escola informações sobre a sala onde estou e dirija-se imediatamente para cá.
- eu, eu peço as minhas desculpa.
- não peça, evite-as.
(risos e mais risos. pelo menos não tive de fazer de prostituta como uma vez foi sugerido. "tu tens jeito para isso", "eu?", "sim, tens aquele ar", "obrigadinho, hã")
- original soundtrack -


What you want Baby, I got
What you need
Do you know I got it?
All I'm askin' Is for a little respect when you come home (just a little bit)
Hey baby (just a little bit) when you get home
(just a little bit) mister (just a little bit)

I ain't gonna do you wrong while you're gone
Ain't gonna do you wrong 'cause I don't wanna
All I'm askin'
Is for a little respect when you come home (just a little bit)
Baby (just a little bit) when you get home (just a little bit)
Yeah (just a little bit)

I'm about to give you all of my money
And all I'm askin' in return, honey
Is to give me my profits
When you get home (just a, just a, just a, just a)
Yeah baby (just a, just a, just a, just a)
When you get home (just a little bit)
Yeah (just a little bit)
(…)

(Respect, Aretha Franklin)
- o carteiro -
importam-se?!
A corrida para as eleições presidenciais americanas está a tomar proporções que ultrapassam qualquer campanha de marketing. Aconselhados ou não, os candidatos; ou melhor, as suas respectivas esposas andam numa azáfama a revelar pormenores os casamentos com aquele que poderá ser o próximo presidente dos EUA.

Já antes tínhamos revelado aqui no Belogue a importância da idade das mulheres de alguns candidatos. Depositamos toda a nossa confiança nos casamentos por amor, no sexo só para procriar e nos violinos de Chopin, mas a realidade é que alguns candidatos eram casados com mulheres muito mais jovens. E mostrá-las nas suas roupas mais ou menos reduzidas, mas sempre com sorrisos solícitos e capazes de derreter mais icebergues que o aquecimento global, é uma forma de transmitir uma mensagem: somos homens dinâmicos e com espírito jovem e por isso estas mulheres escolheram-nos. Vocês americanos também podem depositar o vosso voto em nós. (Diz-se até "homem velho e mulher nova, filhos até à cova).

A campanha não se concentra, como seria o mínimo requerido, nas questões de fundo: economia americana, política externa, sistema de saúde, desigualdades sociais... Nos últimos dias tem-se falado de intimidade. A esposa de Rudy Giuliani (cuja vida amorosa e pessoa foi devassada nos meios de comunicação americanos devido aos seus três casamentos e à alegada má relação com as filhas), confessou que o marido era um romântico, mas uma bomba de testosterona. Com isto talvez se pretenda dizer ao povo dos EUA que se o candidato for eleito não será moldável, nem haverá escândalos gay, e que o país terá um líder forte.


Michelle Obama parece ter ido longe de mais no que diz respeito a intimidades; confessou que Barack ressona, que tem mau hálito matinal, que deixa as meias sujas pelo quarto e que fala sobre o período menstrual com as suas filhas. (sobre o período menstrual delas, esperemos). É claramente uma forma de dizer aos americanos que o futuro presidente é um homem como eles. Não há engano, é uma bandeira a acenar a toda a gente e não apenas à comunidade negra.


A John Edwards foi perguntado se a fractura na anca que a sua mulher sofreu terá sido provocada por um valente apertão (mais do que abraço). O candidato nem disse que sim nem que não, o que até faz sentido. É uma forma de manter em aberto a imagem de casal activo apesar do problema da mulher.


Ninguém se esqueça de Hillary Clinton nem de Al Gore. Sobre Hillary pouco haverá a dizer sobre o companheiro que o país não saiba: o escândalo sexual e a revelação pelo próprio na MTV que gostava de usar boxers. Também o companheiro poderá revelar pouco sobre ela uma vez que tal seria fatal para a campanha. Por ser mulher e pelos antecedentes do marido, os pormenores mais insignificantes sobre Hillary iriam ser empolados e ditariam de imediato a sua derrota. Al Gore que não se assumiu como candidato pedimos que seja mais contido nos beijos à esposa...
- não vai mais vinho para essa mesa -

(...)
I stay up clean the house
At least I'm not drinking
Run around just so I don't have to think about thinking
That silent sense of content
That everyone gets
Just disappears soon as the sun sets

His face in my dreams, seizing my guts
He floods me with dread
Soaked to the soul
He swims in my eyes by the bed
Pour myself over him
Moon spilling in
And I wake up alone
(...)
(Wake up alone, Amy Winehouse)
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou "sôr charles, o senhor para mim está para a moda, como El Greco para a pintura. com a agravante de que El Greco teve um papel importante na história da pintura e o senhor não tem papel nenhum na moda, isto retirando os anos 80. está numa posição inferior a Paco Rabanne. percebe o quão grave isso é?":

Keith Haring
Icon (Radiant Beauty)
1990


Jean Charles Castelbajac
Electric Saga
2002-2003

sexta-feira, setembro 21, 2007

- ars longa, vita brevis -
hipócrates
pensava que as estações se encadeavam nos dias 21: 21 de Setembro, 21 de Dezembro, 21 de Março, 21 de Junho. Mas afinal o Outono é a dia 22 de Setembro ou a 21 se o ano for bissexto. E este não é. A imagem não é nova e para fim-de-semana bem podia ter escolhido uma menina meio despida, meio vestida (cada um vê pelo lado que quer), mas achei que o Arcimboldo merecia. Foi uma figura esquecida que nasceu no meio da aristocracia italiana do século XVI, pintou temas variados e não apenas imagens enigmáticas como esta e tão fora do cânone renascentista, e até ao século XX com os surrealistas que se interessaram pela sua obra, permaneceu desconhecida. Dizem que foi o primeiro artista moderno (diz-se isso de todos os artistas, ninguém acredite), que criou a ruptura com os símbolos do Renascimento, que tinha até sentido de moda na forma como criava os chapéus nas suas séries de elementos e de estações do ano, partindo de arranjos de flores e peixes. E mais; multifacetado! A exposição da sua obra no Museu do Luxemburgo inclui pinturas, desenhos e tapeçarias.


Giuseppe Arcimboldo
Autumn
1573
Louvre, Paris, France

desesperadamente à espera dos textos.

- original soundtrack -


In one single moment your whole life can turn 'round
I stand there for a minute starin' straight into the ground
Lookin' to the left slightly, then lookin' back down
World feels like it's caved in - proper sorry frown
Please let me show you where we could only just be, for us
I can change and I can grow or we could adjust
The wicked thing about us is we always have trust
We can even have an open relationship, if you must
I look at her she stares almost straight back at me
But her eyes glaze over like she's lookin' straight through me
Then her eyes must have closed for what seems an eternity
When they open up she's lookin' down at her feet

Dry your eyes mate
I know it's hard to take but her mind has been made up
There's plenty more fish in the sea
Dry your eyes mate
I know you want to make her see how much this pain hurts
But you've got to walk away now It's over
(...)

(Dry your eyes, The Streets)
- o carteiro -

Que nunca mais se fale mal deste país à beira-mar plantado. Que mordam as línguas bífidas essas bestas da maledicência que proliferam nos blogs. Que Nosso Senhor (chamei e não foi em vão, não te preocupes), lhes faça cair todos os dentes menos um, e esse que doa aos guardiães do falatório. Este país é o Éden. E avançado, ainda por cima. Aqui ainda se discute e decide sobre a Licenciatura do Senhor Primeiro Ministro (como está, passou bem? E a família, e os meninos?), uma coisa nobre. Mais nobre que isto só mesmo se o Nosso Primeiro tivesse tirado uma pós graduação em inglês “a lot of” técnico no Politécnico da Guarda. Na América estão tão atrasados que a esta altura da evolução humana ainda discutem a nota de uma cadeira do Presidente Bush.
Numa conferência na Casa Branca e quando indagado pelos jornalistas sobre o risco de recessão na economia americana, Bush disse “precisam de falar com os economistas” e “eu penso que tive um B a Economia 101”. Bush graduou-se em Yale e Yale já veio dizer que Bush não teve um B, mas um C menos. Para quem não sabe as notas na América vão do A (mais alta) ao F (mais baixa).
O respeitinho pelos (países) mais velhos é muito bonito e eu gosto!
- não vai mais vinho para essa mesa -

Chiça, que saudades!
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

depois e antes (nas datas) e antes e depois (na ordem natural da vida):

Francisco de Goya
A Woman Reading a Letter (As jovens)
1812-14
Musée des Beaux-Arts, Lille, France


Francisco de Goya
Time of the Old Women (As velhas)
1810-12
Musée des Beaux-Arts, Lille, France

Primeiro Goya pintou as velhas, depois (talvez arrependido a precisar de sangue novo, crise de meia idade aos 70 anos?!), pintou as jovens. São alegres, coloridas, atrevidas as moças. Têm pose, talvez tenham posses, talvez uma seja criada da outra. As velhas são cinzentas, cadavéricas, uma antevisão de Ensor. Aqui ninguém parece criado, ninguém parece patrão porque segundo aquilo que se diz, na morte são todos iguais.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
Caro AM, claro que não me importo. Mas não me perdoo. Por isso, porque pago um boi para não entrar numa luta e uma manada para não sair dela, faço novo post sobre Picasso e Braque, numa outra proposta:

Antes e depois ou “ambos os quadros são denominados “Mulher com guitarra”, embora o de Picasso seja mais conhecido por “Ma Jolie”. Picasso, como sabemos era espanhol da Andaluzia, enquanto Braque era francês. Em Picasso há invocações árabes, procura de formas naturais estilizadas e reduzidas ao mínimo geométrico (Mondrian e os estudos a partir da árvore) e a tentativa de criar um universo sem pontos de relação com o real, embora esse mesmo universo possa ser materializado. A inscrição “Ma Jolie” dá um género ao quadro; é feminino, mas o que lá está representado não tem nada de feminino. No entanto, a própria inscrição, as cores, as linhas e a ideia podem ter parceiro no mundo tridimensional da cerâmica, da escultura, da arquitectura… Já Braque como francês que é, educado na tradição da escola francesa de pintura do século XIX, tem uma relação com as formas que é bastante orgânica, mas também muito abstracta. Tenta apenas traduzir no plano todas as dimensões, daí conhecermos tão bem esta descrição daquilo que é o cubismo. O cubismo francês, claro. Este quadro de Braque é mais focado no tema, mais directo que o de Picasso. Extrai do tema associações directas: cada cor exprime um sentimento, uma forma, uma sonoridade.”

Pablo Picasso
Ma Jolie
1911-12
MoMA, New York



Georges Braque
Woman with a Guitar
1913
Musee National d'Art Moderne
A Rita (nome fictício) terminou a relação com o João (nome fictício) isto após saber, entre outras coisas, que uma amiga de longa data que andava a arrastar a asa ao rapaz lhe enviou por mail um poema sugestivo (de mau gosto, era Florbela Espanca) sobre o amor, essa grande entidade imaterial que todos almejam. Terminou a relação por telemóvel. Antes disso a Rita tinha tido um namorado de seu nome Filipe (nome fictício) com quem terminou a relação por carta, isto após ter lido o historial de uma conversa gravada no messenger com uma pessoa que lhe descrevia a relação sexual mantida dois dias antes. As novas tecnologias são a salvação da dignidade humana e as principais culpadas pelo elevado número de lágrimas choradas nos países com acesso ilimitado à internet. Eu cá não conto apaixonar-me por ninguém. Mesmo que me obriguem. Chegou uma vez, ninguém me obrigou e acho que quase aconteceu. Não terminou via novas tecnologias porque nunca começou: é que eu acho que era transparente e ainda hoje penso que sou pouco mulher.

quinta-feira, setembro 20, 2007

ai que telha...
- original soundtrack -


(Van Lear Rose*, Loretta Lynn)

*foi o melhor vídeo que consegui arranjar
- não vai mais vinho para essa mesa -



Van Gogh
Fifteen Sunflowers in a Vase

1888
National Gallery, London

Quando a minha idade era outra que não esta, a minha avó era padeira. Bem, eu não privava muito com a minha avó, mas sabia lavar as tripas de um porco, sabia amassar o pão e debulhar o milho. Não falávamos em parte porque ela era uma pessoa de poucas palavras, sempre preocupada com o bicarbonato de sódio para a caldeirada, com conspirações da vizinhança, com o mandar talhar o ar, com o sacrificial rito de matança de uma galinha para agradar a um Deus que nunca lha tinha pedido, nem era conhecido que alguma vez fosse fazer uso de tal manjar embora se aplique com frequência a expressão “manjar dos deuses”. Não falávamos muito porque a sua rudeza se estendia às mãos: era agreste até no sacudir das mesmas e abraçá-la, toda ela compacta, musculada e rija, era como abraçar o tronco de um pinheiro, e encostar a face à face dela, como lavar o rosto com agulhas. Mas era e é uma mulher como poucas, sem queixas, sem achaques, sem choros.
Não privávamos muito, agora não privamos nada porque lhe vi descer e tapar o rosto o véu da inveja que espero não ter herdado e da maldade até, se mo é permitido dizer. Porque se esparramou e espreguiçou no seu íntimo, da mesma forma como escorregava a massa do pão sobre a masseira, a obsessão pela vida dos outros, a ida às capelinhas, o disse-que-disse-que-disse, as visitas regulares a senhoras que mesmo sem turbante viam em olhos de boi e tripas de coelho o futuro, o passado, o presente e todos o pretéritos e gerúndios que mais fossem requisitados. Bastava pedir e a madame que era amiga de todos e como se sabe não tinha grande lucro porque ninguém é juíz em causa própria, quase passava recibo e a minha avó que não era mulher de se ficar, quase lho pedia.

Ao fim da tarde levava as vacas à ordenha, sempre com o credo na boca, não fosse o sol deitar-se mais tarde, a “Malhada” não dar o leite que o úbere dizia ter e ficar-se pelo meio canedo, a “Pintas” recusar-se a subir para o estrado, um bando de malucos sair do meio do mato e atacar quatro vacas indefesas com o seu corpanzil bicolor e uma mulher rija como uma árvore que temia perante tudo como um menino de bibe. Invocava Deus e Nosso Senhor em cada frase, terminava-as dando graças a esse homem que fazia com que vivesse na parte velha de uma casa adjacente à nova, por pudor e temor de que os vizinhos a vissem à solene janela da casa nova onde em dia da procissão se sacodiam com gestos secos e únicos as colchas de tecido lavrado, e por respeito a Deus que amava os pobres pois era deles o reino dos céus. E a par de amassar o pão com precisão e de fazê-lo como ninguém, a minha avó trabalhava arduamente para entrar nesse reino pela porta da frente com a roupa domingueira.
- o carteiro -

Nós não somos racistas, só não gostamos daquela gente que tem uma cor mais escura que o azul

Um talk show americano dito "de negros" (nesse caso a Oprah também seria, mas adiante...) vai promover um debate presidencial chamado "All American Presidential Forum". O Tavis Smiley tem agendado para dia 27 o debate que levanta nova polémica. Vários candidatos republicanos recusaram-se a ir e a pedir o voto dos negros (o que é uma expressão ridícula porque por essa ordem de ideias teriam de pedir o voto dos asiáticos, dos latinos, dos que não têm uma perna, dos cães de estimação e das french fries). Rudolph W. Giuliani, o governador Mitt Romney, o senador Fred D. Thompson e o senador John McCain, não concordaram em participar no debate por incompatibilidade de agenda e o facto de Setembro ser um mês difícil para a angariação de fundos. A recusa já lhe está a valer muitas críticas dos membros Democratas do Congresso, uma vez que o debate tinha sido organizado com o tempo de antecedência necessário, mas também dos próprios Republicanos que acham esta fuga o desperdício de uma oportunidade para esclarecer o ponto de vista dos candidatos sobre o assunto crucial: a emigração. (Em 2004 Bush recebeu 40% de votos de latinos.) Esta recusa acontece no mesmo mês em que McCain declinou o convite para participar num debate na Univision, o canal de televisão dedicado aos hispânicos, mais visto dos Estados Unidos. Apesar de terem muito menos convites que os adversários Democratas, os candidatos Republicanos recusam o confronto. E talvez percam votos.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou "os dois ao mesmo tempo", ou "descubra as diferenças" ou "ó Braque, se não fosses meu amigo movia-te um processo", "mas o que é que fiz Pico?", "eh pá, já te avisei que Pico é só para as noites em Montparnasse.", desculpa, mas o que é que eu fiz?", "andas agora a copiar-me a obra, a espreitar por cima do ombro, a vasculhar quando eu não estou...?", "eu? estás doido? a minha linguagem é muito diferente da tua", "talvez seja por isso que eu não me faço entender":

Pablo Picasso
Ma Jolie
1911-12
MoMA, New York


Georges Braque
Woman with a Guitar
1913
Musee National d'Art Moderne
- não vai mais vinho para essa mesa -

pára de chorar sua anormalóide. pára. parou, acabou, xiu. até pareces a Floribella da blogosfera.

quarta-feira, setembro 19, 2007

puff.... não consigo ter uma única ideia digna desse nome. looser!
- não vai mais vinho para essa mesa -

[Síndrome de Vénus de Milo]

"Um dia és o pombo, no outro a estátua."
- original soundtrack -

hoje e porque é quarta, na Formiga Bargante...
- o carteiro -
[please don't taser me, officer]
Um estudante da Universidade da Florida foi preso no passado dia 17, segunda-feira, durante uma conferência com o Senador Jonh Kerry na mesma Universidade. Andrew Meyer de 21 anos passou a noite na prisão e foi presente a tribunal no dia seguinte acusado de dois crimes: desobediência à autoridade e desrespeito face à Assembleia de alunos e oradores. Mas o que terá motivado a sua prisão que não consta das notícias nacionais, mas colocou o vídeo no youtube (aqui e aqui com toda a intervenção), nas notícias americanas e no site do próprio? Na minha opinião foi a violência usada contra ele e o teor da sua intervenção que no conteúdo não tem nada de ofensivo nas sociedades ditas democráticas, mas que sucumbe à tentação da palavra ("blowjob" não é um bom termo para aplicar numa intervenção) politicamente incorrecta.

Após a intervenção de Kerry que parece ter durado duas horas segundo o que se ouve no vídeo, foi dito que os presentes poderiam colocar questões ao Senador e a Andrew que ele seria o último pois já não havia mais tempo. Quando chegou a sua vez o jovem recomendou um livro a Kerry, um livro que o mesmo disse já ter lido. Retrata, assim como outros livros (palavras de Andrew) a noite das eleições em que Kerry perdeu para Bush. Fala do habitual: votos não contados, erros nas listas de recenseados... Enfim, Kerry é dado por muitos como vencedor e é interrogado sobre a sua inacção na noite das eleições face ao que já se sabia: que os resultados tinham sido forjados. É também questionado quanto ao facto de, enquanto congressista democrata e sendo agora o congresso de maioria democrata, nunca ter pedido o afastamento de Bush. É claro que pelo meio Andrew tem um tom agressivo, desafiador, esbraceja e fala bastante alto. Mas atrás dele estão cinco polícias e um deles aproxima-se do jovem antes mesmo de este colocar a pergunta. E são necessários cinco polícias para arrastar da sala um rapaz de 21 anos. Não o conseguindo, veja-se no vídeo o que foi "necessário" fazer.
- não vai mais vinho para essa mesa -

antes e depois. qualquer semelhança entre o antes e o depois não me parece ser pura coincidência
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
um antes e depois ou um quadro dentro de um quadro, como o vídeo dos White Stripes, ou dos Red Hot ou como os contos das Mil e Uma Noites ou nos Pilgrim's Tales. Claudio Parmiggiani, um conceptualista veterano pretende com as suas obras estudar o que está no origem da arte do seu tempo e por isso vai buscar referências à História da arte. Neste quadro dentro do quadro, convida-nos a ser observadores.

Dosso Dossi
Jupiter, Mercury and the Virtue
1530

Kunsthistorisches Museum, Viena


Cláudio Parmiggiani
Sinédoque
1976 (instalação de 1988)
Kunsthistorisches Museum, Viena

terça-feira, setembro 18, 2007

- não vai mais vinho para essa mesa -
- então o cartaz?
- está a ser feito.
- ainda não está pronto?
- não.
- porquê?
- porque tive de corrigir os modelos de Português, que ninguém me avisou que só podiam ter 30kb, e estou a fazer os modelos de Física, e os das actividades.
- mas o cartaz é prioritário.
- então deviam ter-me dito isso antes. aliás, tudo é prioritário. era prioritário que me enviassem versões finais dos textos para não ter de estar sempre a corrigi-las. era prioritário que me enviassem os textos...
- e o cartaz?
- está a ser feito.
- posso matar-te?
- agora?
- tenho de ir buscar a minha filha às 6 e já não volto hoje.
- então combinamos a minha morte aí para as 5:30h. Pode ser?
- pode. queres que seja violenta ou mansinha?
- mansinha. eu merendo antes e posso ficar mal-disposta.
- original soundtrack -

Tira a mão do queixo, não penses mais nisso
O que lá vai já deu o que tinha a dar
Quem ganhou, ganhou e usou-se disso
Quem perdeu há-de ter mais cartas para dar
E enquanto alguns fazem figura
Outros sucumbem à batota
Chega aonde tu quiseres
Mas goza bem a tua rota

Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar

Todos nós pagamos por tudo o que usamos
O sistema é antigo e não poupa ninguém, não
Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
E a liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo

Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar

Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar

(A gente vai continuar, Jorge Palma)
- não vai mais vinho para essa mesa -

não deixei de ir onde me apetecia, de estar com quem queria, não emagreci um quilo...
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

hoje não há antes e depois. só a história destes dois quadros. quem quiser lê, quem não quiser, vê:

Pierre Auguste Renoir
Madame Josse Bernheim-Jeune et son fils Henry
1910
Musée d'Orsay, Paris, France


Uma das famílias de marchands mais reputadas do mundo da arte é a família Bernheim. Começou por ser um negócio do fundador, Joseph Bernheim, que comercializava materiais de pintura. Por sugestão de Courbet, o filho de Joseph, Alexandre Bernheim começa a apostar no mercado de arte, na compra, venda de obras e promoção de artistas. Nesta última vertente do negócio, são porém os netos do fundador, Josse e Gaston quem pratica um apoio directo, um mecenato quase florentino do qual Bonnard foi o principal beneficiário. O pai, Alexandre preferia os paisagistas e realistas francesas, bem como os representantes da Escola de Barbizon. A escolha não foi feliz sob o ponto de vista do lucro: na querela entre realistas e impressionistas estes levavam a melhor e em breve e inevitavelmente novos estilos se iriam instalar no território artístico e mesmo social. Josse e Gaston viram isso. Para não se colocarem na posição de canibais do negócio do próprio pai, fundaram a sua própria galeria de nome Bernheim-Jeune (jovem). Apostavam em Cézanne e Picasso, Seurat e Signac, Toulou-se Lautrec e Bonnard.

Em 1910 os dois irmãos encomendaram a Renoir o retrato das respectivas famílias. Num deles, no retrato que representava a mulher de Josse-Bernheim e o seu filho Henry, a senhora Mathilde-Bernheim mostrou desagrado pelo braço pintado por Renoir por achá-lo demasiado gordo. Mathilde fala do seu desagrado a Rodin e com a intenção de que este faça Renoir mudar de ideias e retocar o braço, convida os dois para um almoço de família. Rodin pede então no término do repasto para ver o tão falado retrato e estudando-o elogia largamente Renoir dizendo: "Este é o melhor braço que já pintaste". Renoir concorda e responde: "É verdade, gosto de carne!". O quadro não foi retocado e permanece assim no Museu de Orsay. (No livro "A Relíquia" de Eça de Queirós uma das personagens, dizia "Quero regalar a carne")



Pablo Picasso
Gertrude Stein
1906
The Metropolitan Museum of Art, New York

Durante o Inverno de 1906 Gertrude Stein posou para Picasso. Foram 80 sessões. Isso mesmo, 80 sessões que não devem ter sido só de trabalho, mas também de muita conversa e troca de ideias. Ao fim de 80 sessões, Picasso apagou a cabeça de Gertrude Stein. Stein usou sempre o mesmo fato castanho que aqui podemos ver. O pintor disse que já não a podia ver e partiu para Espanha. Estávamos no período azul. Quando voltou, Picasso pintou novamente a cabeça de Gertrude Stein sem uma única sessão, sem a ver. Mais tarde Stein fez um corte de cabelo tão estranho que ficou apenas com uma calota na cabeça, provocando a ira no mestre. Picasso terá gritado: "Então e o meu retrato?". Mas retorquiu em seguida: "Ao fim e ao cabo está lá tudo."
- o carteiro -

[Pimp my bear]
Misha, ou Mikhail Potapych Toptygin que chorou no encerramento dos Jogos Olímpicos de Moscovo em 1980, foi criado pelo ilustrador Victor Chizikov. O urso ainda comunista quando se realizaram os Jogos era tão amado que se for ao Museu do Comunismo em Praga, um dos souvenirs que pode adquirir na loja é este bloco de apontamentos com o Misha, que não leu jornais depois de 1986 e passou o ano em coma alcoólico, a empunhar uma Kalashnikov. E chegou em boa hora.

[O grande Educador]

Os Municipais do Porto vêm por intermédio deste blog pedir desculpa ao Altíssimo por existirem. Ainda lembram que caso Sua Eterna Misericórdia que habita o firmamento sobre Lisboa decida incluí-los na próxima reencarnação, eles aceitam reencarnar em fezes de cão arraçado de Perdigueiro com Podengo. Caniche vá lá.

quinta-feira, setembro 13, 2007

- 2 anos de Belogue -
discurso, discurso, discurso!!!
Inexplicavelmente o Belogue faz dois anos. Inexplicavelmente pois pensei por muitas vezes acabar com o Belogue (dito assim até me parece pecado) que é fonte de prazer mas também de insegurança. Por isso, porque hoje passam dois anos da noite em que postei pela primeira vez, porque o Belogue se tem mantido com uma regularidade quase diária e porque embora e por vezes fique um pouco a dever à excelêcia, não será assim mau de todo, quero agradecer:

À família por…gostarem de mim, acho eu. Ao Jimi, à Rita, à Rita grande, à Ana, à Ana Teresa, ao Pedro, ao Orlando, à Formiga Bargante, à Ana Farias, ao Eduardo, ao AM e ao João Barbosa, que eu sei que vêm ao Belogue, pelos comentários, pelas conversas, pelos risos e também por me limparem as lágrimas, admito. Aos outros que devem vir cá e eu conheço, por não se esquecerem, mesmo que não recordem. Aos outros que devem vir cá e eu não conheço, por encontrarem o caminho sem saber a morada. À Beluga por se ter prestado a isto. A mim, porque eu mereço.
- não vai mais vinho para essa mesa -

querer não implica ser querido

quarta-feira, setembro 12, 2007

- não vai mais vinho para essa mesa -

minha nossa senhora! fiquei tão mal na fotografia que a polícia em vez de me reter por suspeitas de tráfico de droga, vai-me impedir de ir por certeza de consumo de droga.
- original soundtrack -
Vale mesmo a pena ouvir:

O Arnesto nos convidô prum samba, ele mora no Brás
Nóis fumo e não encontremos ninguém
Nóis vortemo cuma baita duma reiva
Da outra veiz nóis num vai mais
Nóis não semos tatu!

Outro dia encontremo com o Arnesto
Que pidiu descurpa mais nóis não aceitemos
Isso não se faz, Arnesto, nóis não se importa
Mais você devia ter ponhado um recado na porta

Anssim: "Ói, turma, num deu prá esperá
A vez que isso num tem importância, num faz má
Depois que nóis vai, depois que nóis vorta
Assinado em cruz porque não sei escrever Arnesto

" Cais, cais, cais, cais, cais, cais, cais..."

(Samba do Arnesto, Adoniram Barbosa)
Quem escreveu esta, também escreveu esta.