terça-feira, janeiro 31, 2006

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

O Belogue vem por este meio convidar todos os seus leitores, comentadores, curiosos, simpatizantes, antipatizantes e outros que não me lembro para votarem nos prémios BELOGUE – 6 meses.

O Belogue vai atribuir um Sevruga (medalha de bronze), um Osetra (medalha de prata) e um Beluga (medalha de ouro), a cada um dos posts escolhidos nas categorias: “Tão líricos que nós estamos”, “Coisas que eu não compreendo”, “O Carteiro”, “Discos Pe(r)didos” e, caso se justifique, para uma rubrica já terminada “Eu sou assim” e uma outra recorrente que se chama “Sem título”. Ou seja, vamos atribuir um Beluga, um Osetra e um Sevruga para o “Tão líricos que nós estamos”, e assim sucessivamente para as outras rubricas.

Para votar basta dar uma volta pelo Belogue (nos meses passados também, claro) e escolher aquele que acham o melhor post em cada uma das categorias, indicando a denominação, o dia e o mês. A votação pode ser feita nos comentários deste post, isto para evitar que as pessoas se retraiam, como provavelmente aconteceria se os votos apenas fossem aceites por e-mail. Também são aceites por mail, pois este já foi corrigido. Está mesmo aqui em cima, no cabeçalho. Todos os posts, mesmo os mais recentes contam, por isso cada pessoa pode fazer várias escolhas.

Mais uma vez digo que este blog não tem um counter, por isso nunca saberemos quem votou e em quê. Haverá igualmente um Belogue Carreira para os posts Beluga colocados na formiga Bargante e que podem ser consultados lá nos arquivos da Formiga.No dia 13 de Março, dia em que o Belogue faz 6 meses de existência (e acreditem que foi muito difícil chegarmos até aqui), os resultados da votação serão publicados.
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

Fernado Namora morreu no dia 31 de Janeiro de 1989 (para muitos ainda não é tempo suficiente para ser considerado digno de uma efeméride). Aqui fica "Professia":

Nem me disseram ainda
para o que vim.
Se logro ou verdade
Se filho amado ou rejeitado.
mas sei
que quando cheguei
os meus olhos viram tudo
e tontos de gula ou espanto
renegaram tudo
e no meu sangue veias se abriram
noutro sangue....
A ele obedeço,
sempre,
a esse incitamento mudo.
Também sei

que hei-de perecer, exangue,
de excesso de desejar;
mas sinto
sempre,
que não posso recuar.
O CARTEIRO

Match Point ou "A Obra de Arte Total"(II)

A Obra de Arte Total, na sua génese, mais não é que o totalitarismo estético: juntam-se diferentes formas de arte com aspectos siameses entre si, enquadradas nos mesmnos princípios e com elas faz-se um espectáculo - e não a festa (porque a festa implica o público, a sua participação e o espectáculo tem um carácter pedagógico, paternalista, quase).
Há coisas que me escapam quando vejo um filme e que só mais tarde aprrendo. Há outras que me escapam e cujo conhecimento só chega até mim por aquilo que leio; ou seja, jamais seria capaz de descobri-las por mim, ou por défice na formação ou por deformação na mesma.
Mas neste Match Point senti Woody Allen como a reencarnação do próprio Wagner, na sua obstinação em ser bestial sem ser besta. Se a Obra de Arte Total é a união de várias artes sob o mesmo signo e cujo objectivo é elevar o herói, Match Point consegue isso.
A meu ver a história resume-se a uma imagem que é a leitura de "Crime e Castigo", logo no início do filme: o nosso herói é o instrutor de ténis, um herói que começa por ser atípico, tímido, mas que se engradece nos mais pequenos pormenores (o uso do relógio de tamanho monumental é disso exemplo), mas é também o anti-herói de Crime e Castigo, aquele que erra mas sai beneficiado e curado pelo poder do amor.
Depois, e aí sim, surge a arte: a pintura na Tate, na primeira saída do instrutor e Chloe, nas vezes que o instrutor telefona a Nola, com grandes telas como pano de fundo, quando sabe da notícia da sua morte. A representação surge através das idas à ópera (que têm qualquer coisa de filme de época), no facto de Nola ser uma candidata a actriz, sempre sem concretização, sempre sem sorte (algo que marca a diferença entre esta e o instrutor pois ele aceita a promoção familiar e ela, ou por falta de talento ou por falta de ofertas não tem essa protecção). A música está presente em todos os momentos, principalmente num lindíssimo "Desdémona" (ou seria "Una furtiva lagrima"?) com que o crime é perpetrado. A literatura que marca desde o início o destino do herói ("Crime e Castigo", o livro procurado na biblioteca da casa de campo e que é o mote para o primeiro encontro com Nola, o diário que o denuncia)...
Não sei, foi só uma ideia. Este post nem será lido, mas eu achei que valia a pena uma observação mais atenta.
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO

ou, "Palavra de ordem: nunca ficar doente"


Edward Kienholz
Hospital do Estado
1966
Museu de Arte Moderna, Estocolmo

A imagem não podia estar mais de acordo com aquilo que não compreendo. Passa uma pessoa um dia inteiramente mau, dado a achaques femininos, para no fim da noite dar entrada na urgência de um hospital público. A dor a subir, a paciência a diminuir e o tempo a passar. No processo o paciente entrou às 8 horas. É chamado para entrar para a triagem às 9:00h. É visto por um médico às 9:22h. O médico esquece-se e a enfermeira tem de espetar o paciente novamamente para lhe tirar sangue. Duas horas depois chega o resultado das análises sanguíneas: nada. O paciente volta para casa cerca da meia-noite com as mesmas dores, sono, falta de paciência e um papelinho (ao qual chamam receita, mas eu não vou nessa) onde indicam o nome de um medicamento. Lida a bula já depois da meia-noite, o paciente decide-se por não tomar os pózinhos.
Tudo isto até nem seria muito grave não fosse:
- o serviço de urgências ser um pré-fabricado provisório há uma data de anos.
- as casas de banho serem indescritíveis a nível da falta de limpeza
- o atraso para o atendimento ser enorme
- a falta de coordenação entre os diferentes profissionais que apesar de parecerem excelentes no seu trabalho, não o são em equipa
- aquela mania do português de fazer tudo às pinguinhas como se estivessem a bater pu****** a grilos
- a taxa moderadora de 6,20 euros, não pelo dinheiro, mas sim pela falta de justificação para o mesmo

segunda-feira, janeiro 30, 2006

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

O Belogue vem por este meio convidar todos os seus leitores, comentadores, curiosos, simpatizantes, antipatizantes e outros que não me lembro para votarem nos prémios BELOGUE – 6 meses.
O Belogue vai atribuir um Sevruga (medalha de bronze), um Osetra (medalha de prata) e um Beluga (medalha de ouro), a cada um dos posts escolhidos nas categorias: “Tão líricos que nós estamos”, “Coisas que eu não compreendo”, “O Carteiro”, “Discos Pe(r)didos” e, caso se justifique, para uma rubrica já terminada “Eu sou assim” e uma outra recorrente que se chama “Sem título”. Ou seja, vamos atribuir um Beluga, um Osetra e um Sevruga para o “Tão líricos que nós estamos”, e assim sucessivamente para as outras rubricas.
Para votar basta dar uma volta pelo Belogue (nos meses passados também, claro) e escolher aquele que acham o melhor post em cada uma das categorias, indicando a denominação, o dia e o mês. A votação pode ser feita nos comentários deste post, isto para evitar que as pessoas se retraiam, como provavelmente aconteceria se os votos apenas fossem aceites por e-mail. Também são aceites por mail, pois este já foi corrigido. Está mesmo aqui em cima, no cabeçalho. Todos os posts, mesmo os mais recentes contam, por isso cada pessoa pode fazer várias escolhas.
Mais uma vez digo que este blog não tem um counter, por isso nunca saberemos quem votou e em quê. Haverá igualmente um Belogue Carreira para os posts Beluga colocados na formiga Bargante e que podem ser consultados lá nos arquivos da Formiga.No dia 13 de Março, dia em que o Belogue faz 6 meses de existência (e acreditem que foi muito difícil chegarmos até aqui), os resultados da votação serão publicados.
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

Devido a uma forte indisposição matinal (que ainda não passou), o Belogue encontra-se atrasado. Depois de almoço - se conseguirmos almoçar alguma coisa - voltamos aos assuntos que nos interessam. Até lá, votem.

domingo, janeiro 29, 2006

TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

...e com tanto frio. Bom Domingo.


Andrew Wyeth
Winter
1946
North Carolina Museum of Art, Raleigh
sem título


"Love or Lust", "Love and Lust". O raio do filme fez match point no meu coração. Partindo do princípio que não se pode ter o melhor de dois mundos, escolher a emoção ou a razão? E não poderá existir um meio termo?
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

Diário de Portvgalius
o seu diário da Idade Média
Sol vai passar a nascer só para alguns
A partir do segundo trimestre do corrente ano, a expressão "O Sol quando nasce é para todos", vai deixar de fazer sentido. Quem o avança é o gabinete do Ministério da Economia do governo de João Platão que considera esta uma medida essencial para "travar os consumos excessivos de energias não renováveis e dosear o consumo de energias renováveis"....»

sábado, janeiro 28, 2006

COISAS QUE EU NÂO COMPRRENDO

"Don't ask, don't tell, don't pursue" or by the other hand, ASK

Estão verdes; não prestam: nem os cães as podem tragar*
Este não é um problema de fundo da nossa cultura, mas é sem dúvida um problema se tivermos em conta que traduz a forma de pensar de quem por ela responde.
O problema é o facto de hoje se encarar o bilhete para um espectáculo, neste caso, para uma peça de teatro, como um bem móvel, físico, palpável. Não nos parece difícil adquirir um bilhete para uma peça de teatro à nossa escolha desde que com a devida antecedência. Podemos fazê-lo junto da casa que recebe o espectáculo, nas casas de espectáculos que estão sob a mesma entidade promotora (exemplo do TNSJ e do TeCA), nas FNAC's, que prestam um serviço a essa mesma entidade, pela internet (por exemplo, no caso da Casa da Música que tem um site, pela ticketline, etc).
A compra de bilhetes pela ticketline requer o fornecimento a essa entidade de dados do intencional comprador que muitas vezes o mesmo não está disposto a dar. A reserva de bilhetes nas FNAC's (e isto é um aparte visto não estarmos a falar de reserva de bilhetes, mas de compra efectiva), parece as obras de Santa Engrácia ou para quem não conhece as de Santa Engrácia, as obras das Capelas imperfeitas deXXXX, tudo porque estes locais que como dissemos prestam um serviço, exigem que quem reservou bilhete o levante quase a seguir. Ora, quem reserva bilhete é porque não se pode deslocar de imediato ao local para o levantar. caso contrário, comprava-o.
Porém, a compra de bilhetes na FNAC para uma peça de teatro a ter lugar na localidade onde o bilhete é adquirido pode ser uma dor de cabeça ( e de pés se formos persistentes, e tivermos com o calçado errado). Tudo porque, como se encaram os bilhetes como materiais e não como referências (como acontece com os bilhetes para comboios Intercidades e Pendulares cuja aquisição pode ser feita em qualquer lugar do país e em caixas multibanco ficando o comprovativo e a marcação já na posse de quem adquiriu o lugar), a entidade promotora pode retirar das FNAC's os BILHETES. Isto obriga o interessado a deslocar-se até ao local onde a peça tem lugar, deparando-se aí com a impossibilidade de aquisição porque ... já não há bilhetes.
Se a compra de bilhetes para o teatro ou para o bailado fosse encarada como o é a compra de um bilhete para um dos comboios acima referidos, o bilhete seria não um papel, mas uma entidade abstracta, um número, uma referência, permitindo a todos o acesso a ver, entre outras "Esopaida ou Vida de Esopo". (Relembro que a compra de bilhetes para estes transportes públicos é feita de forma a que quem adquire, bloqueie no sistema central aquele lugar. Assim, e mediante o comprovativo multibanco ou bilhete adquirido junto da CP, o seu espaço já não é de ninguém.)
Não se trata de chegar mais cedo para adquirir mais cedo, mas antes de permitir que, com uma semana de antecedência se cumpra o que é prometido e a aquisição seja de facto possível nos locais indicados. Com ou sem papelinho, que não é isso que faz a peça, assim como não é isso que faz a viagem. Tive que me ficar pelo cinema. Não direi como a raposa referindo-se às uvas que se encontravam demasiado alto, fora do seu alcance, mas sinto nisto uma limitação injusta das minhas escolhas.

*Frase da fábula 48 de Esopo, ou fábula da "Raposa e as Uvas" escrita posteriormente por La Fontaine e que Bocage também pôs em verso.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO

"Com um simples vestido preto eu nunca me comprometo"
E com um simples bilhete para ouvir duas sinfonias de Mozart?
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

"Antes e depois", ou "A confirmação da teoria dos arquétipos de Jung" ou "Como uma Encíclica cai por terra"

Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma...Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.

Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.

E em duas bocas uma língua..., - unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.

Depois... - abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!

(Soneto de Amor, José Régio)

Girl it's all on you
Have it your way
And if you want you can decide
And if youll have me
I can provide
Everything that you desire
Said if you get a feeling
Feeling that I am feeling
Won't you come closer
To me baby
Youve already got me where you want me baby
I just want to be your man

How does it feel (x5)

I wanna stop silly little games you and me play
And I'm feeling right on
If you feel the same way baby
Let me know right away
I'd love to make you wet
In between your thighs
Cause I love when it comes inside you
I get so excited when I'm around you

(Untitled-How does it feel, D'Angelo)
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA
O Belogue vem por este meio convidar todos os seus leitores, comentadores, curiosos, simpatizantes, antipatizantes e outros que não me lembro para votarem nos prémios BELOGUE – 6 meses.
O Belogue vai atribuir um Sevruga (medalha de bronze), um Osetra (medalha de prata) e um Beluga (medalha de ouro), a cada um dos posts escolhidos nas categorias: “Tão líricos que nós estamos”, “Coisas que eu não compreendo”, “O Carteiro”, “Discos Pe(r)didos” e, caso se justifique, para uma rubrica já terminada “Eu sou assim” e uma outra recorrente que se chama “Sem título”. Ou seja, vamos atribuir um Beluga, um Osetra e um Sevruga para o “Tão líricos que nós estamos”, e assim sucessivamente para as outras rubricas.
Para votar basta dar uma volta pelo Belogue (nos meses passados também, claro) e escolher aquele que acham o melhor post em cada uma das categorias, indicando a denominação, o dia e o mês. A votação pode ser feita nos comentários deste post, isto para evitar que as pessoas se retraiam, como provavelmente aconteceria se os votos apenas fossem aceites por e-mail. Também são aceites por mail, pois este já foi corrigido. Está mesmo aqui em cima, no cabeçalho. Todos os posts, mesmo os mais recentes contam, por isso cada pessoa pode fazer várias escolhas.
Mais uma vez digo que este blog não tem um counter, por isso nunca saberemos quem votou e em quê. Haverá igualmente um Belogue Carreira para os posts Beluga colocados na formiga Bargante e que podem ser consultados lá nos arquivos da Formiga.No dia 13 de Março, dia em que o Belogue faz 6 meses de existência (e acreditem que foi muito difícil chegarmos até aqui), os resultados da votação serão publicados
O CARTEIRO

[No momento em que os olhos começaram a fechar e a confundir a linha de cima com a de baixo, a trocar a visão literária pela involuntária produzida pelo sono, misturei a "Beata Beatrix" com "Mariana in the Moated" que é o mesmo que dizer que misturei o Dante Gabriel Rossetti com o John Millais, que é o mesmo que dizer que antes de adormecer vi "Orlando" sob o ponto de vista de dois pintores, nenhum deles próximo da obra.]

Dante Gabriel Rossetti
Beata Beatrix
1864-1870
Tate Gallery, Londres


John Millais
Mariana in the Moated Grange
1850-1851
Colecção Privada


“Quem ?” perguntava, elevando as mãos ao mesmo tempo que se ajoelhava junto à janela, dando então a ideia de ser a própria imagem da feminilidade suplicante. “Em quem me poderei apoiar?” As palavras formavam-se sozinhas, as mãos uniam-se involuntariamente, da mesma forma que a pena escrevera por sua vontade. Não era Orlando quem faltava, mas o espírito da época.”(…)

(in Orlando, Virginia Woolf)

O CARTEIRO

“O que se leva desta vida, é o que se come e o que se bebe”

Sabe, quem conhece o Belogue, que não podíamos discordar mais desta frase, mas o fatalismo d’ O CORREIO não deixa margem para dúvidas (outra expressão que toda gente utiliza, é muito elucidativa, mas, tal como o clip, ninguém sabe quem inventou). Querem que comece por onde? Ora bem, existe de facto uma ligação entre a comida e a morte. Tentamos vê-la aqui, não nos termos em que o senso comum a coloca, mas estabelecendo as devidas relações.

Willem Kalf
Still-life with a Nautilus Cup
1662
Thyssen-Bornemisza Collection, Madrid

a) A Última Ceia é o exemplo disso por excelência, mas não a primeira, segundo o paganismo. Neste campo temos Tântalo, temos Zeus que comia os próprios filhos para que nenhum sobrevivesse e lhe fosse superior, temos o fígado do Prometeu. (Por falar nisso, na mitologia irlandesa há uma passagem semelhante entre dois guerreiros. Quando um apunhala o outro, o apunhalado – tal como na ópera em que se demora no mínimo dois minutos a morrer efectivamente – pede para beber água de um riacho. Ata-se em seguida a uma pedra para morrer de pé (isto tudo depois de ter sido atingido uma vez, hã) e uma ave poisa no seu ombro. Aí é desferido o golpe final.
[Mas onde é que anda a Câmara de Lisboa que não dá a pílula à passarada?]

b) Em “Orlando” de Virgínia Woolf, o homem torna-se mulher após um magnífico jantar que originou uma espécie de morte e ressurreição. Na Costa dos Murmúrios de Lídia Jorge, o que se bebe é a morte – não se leva a bebida desta vida, mas é a bebida que leva a vida. Em Dona Flor e seus dois maridos de Jorge Amado existe uma relação entre a comida e o defunto – Dona Flor reencontra o seu marido morto e aquele que lhe dava a emoção, ao contrário do outro que apenas lhe proporcionava segurança, após a festa do primeiro ano de casamento com o farmacêutico Teodoro. E em Proust (desculpem lá, mas tinha de ser), cada repasto, cada jantar no Hotel em Balbec, na casa dos pais em Paris, a debicar frutas nas Tulheries com Albertine, o banquete em casa dos Verdurin, antecedem momentos de tensão: a descoberta de um rosto que muda o rumo da história, o beijo de despedida da mãe que molda o carácter fleumático do narrador, a desconfiança de que Albertine se dava a mulheres, a zanga entre Morel e Charlus em frente a todos os convivas e que altera a linha hierárquica.


Man Ray
Proust on deathbed
1922
Paul Getty Museum, Los Angeles


c) Lembrei-me de um verso, talvez o mais genial, para mim que não percebo de música, de uma senhora de quem já falei. Embora não concorde com o estilo “Mulher abandonada que é mais e que vai vencer e ser feliz embora nunca te vá esquecer nem perdoar desculpa lá mas é mesmo assim e descansa que não vais encontrar melhor, ah não vais não”, há um verso na música “Com açúcar, com afecto” de Maria Bethânia (não é dela, é do Chico Buarque, mas ela canta-a). Se não na morte física, na morte de uma relação:
"Com açucar, com afecto
fiz seu doce predilecto
pra você parar em casa
qual o quê
com seu terno mais bonito
você sai e não acredito
quando diz que não se atrasa"(...)
[tirem a faca do punho dessa senhora, por favor!!!]

d) E por fim, nas peças de teatro cuja frequência tenho de dosear por risco de overdose cultural e taquicardia amorosa, lembro “Sangue em pescoço de gato” (título que ainda estou a dissecar porque os gatos não são fáceis de apanhar e ninguém quer matá-los.) Todas as personagens morrem a beber, numa festa onde os seus clichés, repetidos fora do contexto criam o caos e, a morte.

sábado, janeiro 21, 2006

sem título


Edward Steichen
Greta Garbo (fotografia para a revista Vanity Fair)
1928
Museum of Modern Art, Nova Iorque
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA




Intenções de voto:
[No balneário da piscina]
- Em quem votas?
- Ai eu não digo que é segredo.
- Ai eu voto no Cavaco que é o mais jeitoso.
- Para mim é o Alegre.
(O eleitorado feminino dos balneários vota no candidato mais "giro")
[Na paragem do autocarro junto a uma escola secundária]
- Eh pá, domingo não vai dar pá gente ir porque não posso sair de cá.
- Porquê?
- Porque é dia dileições-
- Vais botar?
- Tás doido? Achas que eu me meto com esses tipos? Passa-me mas é a broca?
(versão feminina:)
- Ai aquele cartaz do louçã tá tão feio!
- A camisa não combina com a camisola. E o outro, o Soares... que velho!
- Ai eu não voto num velho.
- Nem eu. Quero gajos novos!
(Os jovens não votam por medo ou porque os candidatos são velhos ou porque têm falta de gosto)
[No comboio]
- Bocê bai botar?
- Bou, bou, mas inda num sei in queinhe.
- Se houbesse uma mulher como na China (a senhora queria dizer Chile), eu botaba numa mulher. Assim boto no Jerónimo de Sousa.
- Porquê?
- Bocê num biu a casa dele na TBI? Era a mais pequena, num era como a dos outros. Não, que ele beio de baixo. Era um home pobre cuma gente.
- Eu num sou do PC.
- Eu também náão, mas bou botar nele porque é o mais pobre.
- Eles querem todos é mamar.
- Ah isso é!
(O eleitorado adulto vota nos pobrezinhos porque os pobrezinhos são honestos e não querem mamar como os que lá estão que também foram eleitos porque eram pobrezinhos e não queriam mamar e...)
[Na Avenida dos Aliados]
Aqui não se vota, e com razão.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Irra! Até arde.
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

A nadar, a nadar que a vida são dois dias e um já é hoje. Amanhã não há Belogue, por isso vemo-nos no Sábado.
- Então a vida não são dois dias?
- Mau!!! Tu aqui?
- What a shame!
- What a shame o quê?
- Dizer uma coisa, depois dizer outra...
- Só não muda de ideias quem não as tem.
- Que lindo..., a frase feita.
- Para neurónio não achas que estás a abusar?
- Para teu ÚNICO neurónio, não.
- Vai lá dentro ao hipotálamo ver se eu estou na secção das pulsões sexuais.
- (Ai não estás não!)
- Eu ouvi...
- Já estou a ir... Bloggers!
- Neurónios!


Andre Derain
Bathers
1907
MoMa, Nova Iorque


Paul Cézanne
Large Bathers
1900-1905
The Barnes Foundation, Pensylvania


Dominique Rey
The Bathers
2002
Gallery One One One


Karl Schmidt Rottluff
Bathers
Los Angeles County Museum of Art, Los Angeles
O CARTEIRO

People change



(...)Miséria do Corpo, tormento da Vontade, fastio da Inteligência — eis a Vida! E agora aos trinta e três anos a sua ocupação era bocejar, correr com os dedos desalentados a face pendida para nela palpar e apetecer a caveira. Foi então que o meu Príncipe começou a ler apaixonadamente, desde o «Ecclesiastes» até Schopenhauer, todos os líricos e todos os teóricos do Pessimismo. Nestas leituras encontrava a reconfortante comprovação de que o seu mal não era mesquinhamente «jacíntico» — mas grandiosamente resultante de uma Lei Universal. já há quatro mil anos, na remota Jerusalém, a Vida, mesmo nas suas delícias mais triunfais, se resumia em Ilusão. já o rei incomparável, de sapiência divina, sumo Vencedor, sumo Edificador, se enfastiava, bocejava, entre os despojos das suas conquistas, e os mármores novos dos seus templos, e as suas três mil concubinas, e as rainhas que subiam do fundo da Etiópia para que ele as fecundasse e no seu ventre depusesse um deus! Não há nada novo sob o Sol, e a eterna repetição das coisas é a eterna repetição dos males. Quanto mais se sabe mais se pena. E o justo como o perverso, nascidos do pó, em pó se tornam. Tudo tende ao pó efémero, em Jerusalém e em Paris! E ele, obscuro no 202, padecia por ser homem e por viver — como no seu trono de ouro, entre os seus quatro leões de ouro, o filho magnífico de David.(...)
(in, A Cidade e as Serras)



"With everything that we do, we desire more or less the end; we are impatient to be done with it and glad when it is finished. It is only the end in general, the end of all ends, that we wish, as a rule, to put off as long as possible."Arthur Schopenhauer (1788-1860) "Psychological Remarks"

(...)
– Oh! Jacinto, e quando nós andávamos por Paris com o Pessimismo às costas, a gemer que tudo era ilusão e dor? O meu Príncipe, que o cabrito tornara ainda mais alegre, trilhava a grandes passadas o soalho, enrolando o cigarro: – Oh! Que engenhosa besta, esse Schopenhauer! E a maior besta eu, que o sorvia, e que me desolava com sinceridade! E todavia, – continuava ele, remexendo a chávena – o Pessimismo é uma teoria bem consoladora para os que sofrem, porque desindividualiza o sofrimento, alarga-o até o tornar uma lei universal, a lei própria da Vida; portanto lhe tira o carácter pungente duma injustiça especial, cometida contra o sofredor por um Destino inimigo e faccioso! Realmente o nosso mal sobretudo nos amarga, quando contemplamos ou imaginamos o bem do nosso vizinho: – porque nos sentimos escolhidos e destacados para a infelicidade, podendo, como ele, ter nascido para o Fortuna. Quem se queixaria de ser coxo – se toda a humanidade coxeasse? E quais não seriam os urros, e a furiosa revolta do homem envolto na neve e friagem e borrasca dum Inverno especial, organizado nos Céus para o envolver a ele unicamente – enquanto em redor, toda a humanidade se movesse na luminosa benignidade duma Primavera? (...)
(in, A Cidade e as Serras)
Manet
Portrait of Emile Zola
1868
Musee d'Orsay, Paris

«Je n'ai qu'une passion, celle de la lumière, au nom de l'humanité qui a tant souffert et qui a droit au bonheur.» Emile Zola, "J'acuse!"
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

Na grafonola Ryan Adams, Don Carlo (como eu gosto disto: "Ella giamma m'amo!") e depois José Mário Branco.
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO

Tanta gente sem casa, tanta casa sem gente...


Caravaggio
The incredulity of Saint Thomas
1601-1602
Neus Palais, Potsdam

[“Eu expilico e você só compilica”]
“Tudo o que eu faço se baseia (estamos a falar brasileiro?) em quatro triângulos. Um pequeno triângulo que liga a matemática à língua e à música, que são os instrumentos e as disciplinas de treino do cérebro, que quando se alargam a uma dimensão superior formam o triângulo do conhecimento – arte, ciência e filosofia. Esse triângulo, em termos sociais, traduz-se na memória do passado, na capacidade de intervir no presente e de ficcionar o futuro, acabando naquilo que inquieta o Homem, que é o que se passa no Universo, o que se passa dentro de nós ao nível do cérebro e o que se passa no centro da Terra, tudo coisas que desconhecemos totalmente.”
(Carlos Fragateiro, novo director do D. Maria numa entrevista à Actual)

[Mesmo assim faltam dois triângulos]
“Tudo o que eu faço se baseia em quatro triângulos. Um pequeno triângulo que liga a matemática à língua e à música, que são os instrumentos e as disciplinas de treino do cérebro, que quando se alargam a uma dimensão superior formam o triângulo do conhecimento – arte, ciência e filosofia. Esse triângulo, em termos sociais, traduz-se na memória do passado, na capacidade de intervir no presente e de ficcionar o futuro, acabando naquilo que inquieta o Homem, que é o que se passa no Universo, o que se passa dentro de nós ao nível do cérebro e o que se passa no centro da Terra, tudo coisas que desconhecemos totalmente.”
(Carlos Fragateiro, novo director do D. Maria numa entrevista à Actual)

[Que alívio!!!]
“Em termos sociais, a minha preocupação é que o grande défice é o da inteligência e da sensibilidade. A grande luta é a da invenção”
(Carlos Fragateiro, novo director do D. Maria numa entrevista à Actual)

[Onde é que esta gente arranja dinheiro?]
“No Museu de Etnologia abriram esta semana as reservas visitáveis das Galerias da Amazónia, onde se conserva a totalidade os objectos procedentes das sociedades ameríndias (…)”
(Notícia da Actual)
É ir aqui (http://www.ipmuseus.pt/pt/museus/F553/GL.aspx) e ver se esta gente merece o dinheiro que lhes é atribuído.

[Volta Anabela Mota Ribeiro, estás perdoada]
“Rumo ao Porto, direita a Serralves. Perco-me, como é hábito, nos jardins antes de ir ver a exposição (…). À tarde, dou uma volta no cinema Passos Manuel (…) Depois sigo para a Casa da Música, para ouvir o Mozart de Artur Pizarro” (…). “Revejo a Casa de Chá, de Siza Vieira, e volto à experiência única de estar no Estádio de Braga, de Souto Moura. Deambulo pelos jardins do Buçaco. (…) ainda há tempo para visitar o Centro de Artes Visuais de Coimbra” (…)
(Guta Moura Guedes em “A semana de …” no suplemento Cartaz.pt do Expresso)

[As grutas de sabão amarelo de Guta]
“Quanto a filmes, dose dupla: “A Noiva Cadáver de Tim Burton e “Odete” de João Pedro Rodrigues, cuja banda sonora já habita os meus dias”.
(Guta Moura Guedes em “A semana de …” no suplemento Cartaz.pt do Expresso)

[Designer é uma pessoa que chega a um projecto no qual lhe dizem: “Eu vou pagar por uma coisa que tem duas cores e meia dúzia de linhas? Não pode encher mais?” “O preço é o mesmo. Posso encher mais, mas não significa que fique melhor.” “Hummm… está bem, desde que dê dinheiro! Dá dinheiro?”]
Guta Moura Guedes – Designer e Gestora Cultural”
(Profissão com que Guta Moura Guedes é apresentada no suplemento Cartaz.pt do Expresso)

quarta-feira, janeiro 18, 2006

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

Hoje há Belogue na Formiga Bargante.

terça-feira, janeiro 17, 2006

O CARTEIRO

"Em Busca de qualquer coisa perdida" ou "Picar o ponto cultural" ou como "Eu hoje não estou muito bem disposta por isso desamparem-me a loja"
Quando iniciei a leitura de Proust, dei-me conta que a obra de arte total que este clássico é – não confundir com “obra de arte total” segundo Wagner – era para todos. Ou seja; toda a gente enchia a boca para falar de Em Busca do Tempo Perdido, mas eram poucos aqueles que de facto a tinham lido. Professores, alunos a fazer tese sobre Proust, qualquer senhor que me via com o volume branco na mão e ar perdido, se achava no direito de dizer “Proust? Em Busca do Tempo Perdido? Conheço." (Ar cúmplice na face como existisse uma sociedade secreta dos que leram Proust. E o homem até nem tem "muitas obras" , ele que escreveu apenas mais dois manuscritos: Contre Saint-Beuve e Jean Santeuil – que deixou por terminar – e ainda, agora me lembro, Les plaisirs et les jours.).
Toda a gente opina, toda a gente sabe o que é, sobre o que é. Recordo aqui que mal saiu a Mancha Humana de Phillip Roth, a Beluga comprou-o e começou a lê-lo logo nos primeiros dias. Numa ida ao alergologista (sim, vocês não sabem o que é dar 8 espirros ao acordar e 8 ao deitar, sendo que ao deitar é muito pior porque já vou cansada. Até tenho abdominais de tanto espirrar! E uma colecção de lenços de papel em todos os locais por onde passo. O pior é mesmo no teatro e no cinema, quando tenho de conter 8 espirros seguidos para não perturbar ninguém e para que não me mandem embora por suspeitas da gripe das aves.). Então, o senhor doutor, ao ver-me à espera da consulta com ar tão compenetrado e dedicado à leitura diz olhando para a capa:”A mancha Humana? Muito bom, está a gostar?” “Estou. Leu?” “Sim, há muito tempo”. [Mas como, se o livro saiu agora?]
Outra situação: Beluga a ler Crime e Castigo de Dostoievsky na versão inglesa. Um senhor simpático e velhinho senta-se ao meu lado e diz: “Crime e Punimento?” (O título em inglês é Crime and Punishment”.) Respondo que sim. “Não é muito pesado? Gosta disso?” “Até ver, não tenho sentido dores nas costas, parece-me que não é assim tão pesado. São só folhas de papel”, respondi com o humor a sair para o sarcástico.
É o típico "picar o ponto cultural": tem um título sugestivo? Foi prémio de qualquer coisa? Vendeu muito? Embora lá. No fim, é sempre bom, mesmo quando não nos sabe a nada. E temos vergonha de dizer que gostamos de coisas sem nome sonante.
Para os que não leram Proust, um conselho: não leiam, principalmente se forem como eu e não gostarem de leituras paralelas. Demora muito tempo e se calhar deve ficar para um momento da vida em que esta já tem uma carga de sabedoria que torna a obra mais compreensível, em que se pode perceber o efeito do Tempo, sem dizer de cor: "O Tempo cura tudo". É difícil compreender certas relações entre as personagens, o modo como fazem o que fazem e o porquê, se ainda não se viveu o necessário. Mas para quem mesmo assim quer ler, ou para aqueles que como o alergologista e o senhor de idade, já leram tudo só de desfolhar, fiquem-se pelos resumos dos capítulos, que fica sempre bem saber para numa festa, uma soirée, um cocktail, responder ao seu interlocutor: "não, está enganado, foi no volume III."

I Volume (Do lado de Swann) – É um relato da infância do narrador em casa dos pais em Paris e de alguns familiares em Combray, no campo. É neste volume que conhece e começa a fantasiar com Gilberte, filha de Swann e Odette de Crecy, utilizando essas duas personagens para fazer um flashback e contar a história do romance entre os dois.

II Volume (À sombra das raparigas em flor) – Neste volume Marcel, que é Proust e que é o narrador, dá-nos a conhecer o mundo das mulheres que venera, bem como a forma como o seu amor por Gilberte se vai desfazendo perante a variedade de criaturas do sexo feminino que o apreciam. Conhece aqui Albertine.
III Volume (Do lado de Guermantes) – Este volume é marcado pela avó do narrador, que ele adorava. É também aqui que se torna possível observar as movimentações das classes sociais para a ascensão de determinadas pessoas. Entre elas, Proust que desde criança tinha vontade de pertencer e ser apreciado pelos senhores de Guermantes.
IV Volume (Sodoma e Gomorra) – É um dos mais reveladores da obra, pois nele ficamos a saber “sem meias palavras” dos comportamentos homossexuais de algumas personagens, como o Barão de Charlus e a própria Albertine, namorada de Proust. A forma como a homossexualidade nos é dada a conhecer, sem sátira, sem gozo, é um exemplo para MUITAS PESSOAS QUE VÃO VER O “ODETE” E RIEM DURANTE O FILME TODO. Neste volume também ficamos a conhecer o comportamento da sociedade da época perante os judeus, através dos constantes comentários ao caso Dreyfus que colocou a França em alvoroço. (Zola chegou a estar preso devido a um manifesto publicado em favor de Dreyfus que foi condenado à morte com base em provas falsificadas, num assunto militar que colocava a sua instituição em causa)
V Volume (A prisioneira) – Aqui Proust descreve em pormenor a forma como vigia Albertine, e como se tortura perante o facto de ela ser lésbica, a fuga dela e o escândalo social que se torna a relação entre o barão de Charlus e Morel.
VI Volume (A Fugitiva) – Quem começar a ler este volume fica “agarrado” porque logo nos primeiros instantes se apercebe da morte de Albertine, o que transtorna muito Proust. Mas a sua dor é aliviada rapidamente, mais rapidamente até do que estávamos à espera. O Barão de Charlus e Morel terminam a relação e este último inicia um romance com Saint Loup, o melhor amigo de Proust. Descobrimos depois que Gilberte, a primeira paixão do narrador, casa com Saint Loup (este mantinha a relação com o amante).
VII (O Tempo Reencontrado) – Este volume e o anterior retratam a Primeira Guerra Mundial e a forma como esses acontecimentos acelararam a passagem do tempo. O último volume é passado em casa dos Verdurin, cuja senhora se tornou por casamento a nova Princesa de Guermantes. Numa festa dada pela Princesa, Proust revê a maior parte das personagens relevantes nos outros volumes e a forma como o Tempo as modelou e como cabe a ele imortalizar esses momentos através da obra de arte.
Isto é chato, não é?
sem título, porque isto não são "Banhos" (alguém percebe o que estou a dizer?)


Frédéric Bazille
Bathers (Summer Scene)
1869
Fogg Art Museum, Harvard

segunda-feira, janeiro 16, 2006

DISCOS PE(R)DIDOS

Quando compreender esta letra, coloco o poema todo. Por hoje e enquanto faço serão, vou pensar neste pedacinho que não faz sentido nenhum.

Vem que o amor não é o tempo
nem é o tempo que o faz
vem que o amor é o momento
em que eu me dou e que te dás.

(Canção do Engate, António Variações)
sem título


Edouard Manet
Le Dejeuner sur l'herbe
1863
Musee d'Orsay, Paris
- Olha mirones!!!
- Pois é!
- Ó Joaninha, anda cá que temos visitas!
- Deixa estar, ficamos aqui os três a falar. Eu estava a dizer que acho isto muito parecido com as "Meninas do Velasquez".
- Eu cá não percebo nada disso. Nem disso nem de arte.
- Isto é arte, amorzinho.
- Ah... Está bem. Ó Joaninha, anda aqui que estes tipos estão a olhar para nós. Nunca viram?
- Ó amorzinho, sê simpática para os senhores. Oferece-lhes frutas...
- Como eu estava a dizer, nas Meninas o pintor é um pouco narcisista uma vez que no fundo da tela há um espelho onde ele se auto retrata. Isto lembra-me...
- Ai que amigo tão aborrecido que troxeste moranguinho!
- Amorzinho comporta-te que eu vim aqui para fazer negócio.
- A quem o dizes... A gente levanta-se, põe pó-de-arroz, e temos de estar aqui nuas a ouvir falar de política e de Meninas. Como se não houvesse mulheres em número suficiente. Deves achar que és o maior. Vou mas é ali ter com a Joaninha. E diz a esses senhores para não me devorarem a rectaguarda.
O CARTEIRO

Saturno, Saturno, Saturno!!!!

Saturno era (é) filho do Céu e da Terra e pertencia a uma geração de Titãs. Casou com Rea e adoptou o hábito de comer os filhos quando eles nasciam. Porém, quando Rea dá à luz Zeus, esconde-o e dá a Saturno uma pedra para comer. Mais tarde, já adulto com o seu BI e alguma presunção conferida pela autoridade de ser o Deus dos Deuses, Zeus prende Saturno.

Saturno é um dos planetas mais afastados do Sol neste nosso sistema solar, é desconhecido, hostil, é o astro do saber, da obscuridade e do talento e é também aquele que se encontra preso entre anéis. Digamos que mesmo que Saturno quissesse comer mais, ficar maior, tinha ali aquela “banda gástrica” que não o permitiria sair dos eixos.

Deve ser por esta razão que se liga o carácter melancólico e excêntrico dos artistas a Saturno. Hipócrates já falava dos quatro humores do corpo humano (com isto dá para fazer maravilhas: os quatro rios do paraíso, as quatro idades da vida, os quatro evangelistas, as quatro estações do ano, and so on), humores esses que são a bílis amarela, a fleuma, o sangue, a melancolia ou ‘atra bílis’ (acho eu), Galeno, dos humores e da psicologia. Aristóteles é o primeiro a ligar o humor melancólico ao talento extraordinário dos criadores. Fissino achava que a melancolia se desenvolvia em dois patamares: o da saturnidade e o da inspiração que cria o modelo criativo. Hoje, isto é um dado adquirido: quem cria é tomado de uma melancolia bem vista e potenciadora, mesmo quando é negativa.

Na Idade Média esta forma negativa de criação ligada à obscuridade era mal vista. O Homo-melancolicus foi colmatado também no Renascimento com entretenimentos como a música como acontecia com a música de Farinelli.

Portanto, dêem-nos música ou uma banda gástrica e mandem-nos para o espaço. Alguns Saturnos para ler.

Susan Sontag
Under the sign of Saturn

Rudolf and Margot Wittkower
Born Under Saturn


Klibansky, Panofsky, Saxl
Saturn und Melancholie (existe em francês e em espanhol)
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

Banhos, com o frio que está
ou
Este tema nunca mais acaba
ou
Temos "pano para mangas"
ou
Não fosse uma pessoa nadar sem roupa
ou
Mau!!!
ou
Vai lá postar as imagens.
ou
Vá lá postar as imagens, que eu não andei consigo na escola
ou
Tu queres ver!!! São banhos e acabou.


Ernest Ludwig Kirchner
Bathers at Moritzburgm
1909-1926
Tate Gallery, Londres


Henri Matisse
Bathers with a turtle
1908
Saint Louis Art Museum


Pablo Picasso
The Bathers
1918
Musee Picasso


Renoir
Large Bathers
1887

sexta-feira, janeiro 13, 2006

TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

(cansados e incoerentes)

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

(...)

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

(O que há em mim é sobretudo cansaço, Álvaro de Campos)
COISAS QUE NÃO COMPREENDO
[Na piscina]
Há quem utilize a piscina para o engate. Compreende-se. Há quem utilize para o exercíco físico. Compreende-se. Na Roma Antiga utilizavam as termas (o banho era composto por três partes: frigidarium - banho frio, tepidarium - banho em água morna, e caldarium - banho em água quente) para fazer negócios. (e engates, digo eu). Compreende-se. Não sabia é que se podia utilizar a piscina para fazer a nadar, aquilo que as pessoas fazem quando vão aos casamentos parolos: andam em marcha lenta e buzinam, dizem olá uns aos outros. Alguém os avisa que É PARA UTILIZAR SEMPRE O LADO DIREITO DA PISTA!
[No trabalho, ainda a conversa sobre homens, mas desta vez só entre a loira e a morena]
- Tu não sejas parva, não lhe ligues.
- Ai eu não. Ele agora que sofra.
- "Ráis" parta esta raça.
- Aposto que ele já está a ligar a outra.
(Depeche Mode nos ouvidos e tu-tu-tu-ru-tu-tu, lá lá lá...)
[Na minha cabeça já há muito tempo]
Como é que alguém pode considerar as obras de El Greco de "bonitas". (não se trata de uma discussão sobre se é ou não um bom pintor, mas se as obras são boas sob o ponto de vista estético. Podem ser boas enquanto salto no Maneirismo, mas bonitas. É o pintor que mais detesto.)
El Greco
The opening of the fifth seal of the Apocalypse
1608-1614
Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA
Todo o homem é importante em sua casa, à hora de jantar
Este é um post Carrie Bradshaw, uma das protagonistas da série "O Sexo e a Cidade", semelhante na forma e no facto de ambos serem feitos a partir de um portátil. No caso da personagem não sei, mas neste, o post é feito no novo portátil da Beluga, portátil esse que a Beluga se ofereceu. Porque a vida de Beluga é difícil, ofereci-me um portátil e penso seriamente nos Manolo Blanik embora as ruas desta cidade sejam um pouco mais acidentadas que as de Nova Iorque.
Começo por dizer que todo o homem é importante na sua casa à hora de jantar ou melhor, que só é importante em sua casa à hora de jantar. Este blog hoje faz quatro meses e interrogo-me sobre estas mensagens em garrafas que os bloggers deitam na blogosfera. Deito as minhas e se não coloquei um counter é porque não me interessa saber quem as lê, embora saiba que são poucos, tão poucos que quase não justificam a existência do Belogue. Embora um portátil e um par de Manolo Blanik nos pés mudem a perspectiva que se pode ter.
Pergunto-me também porque é que me meti nisto: porque dava espreitadelas nos outros blogs e pensei que também tinha algo a dizer, mesmo que as minhas mensagens, a maior parte das vezes, sem qualquer sentido, a roçar o niilismo, não fossem lidas. Pensava até que podia fazer melhor, ou pelo menos (melhor "it's a little bit too much"), diferente. Aliás, a princípio o único feed-back era o pessoal dos "enlargement pennis" e dos "credit loans".
Um homem também é importante se jantar sozinho todos os dias? E se a casa não for sua? E um homem só é importante se tiver o nome do seu blog no "edit me" dos outros blogs? E ser importante é tratar por tu pessoas que não conhecemos, criar um microcosmos de amizades quase maçónicas, como se fosse impossível vermo-nos à luz do dia?
E mais importante, talvez porque estou a ouvir Leonard Cohen (não sei se a Carrie ouviria, mas não me interssa), uma pessoa só é importante - no sentido de fazer falta a alguém - se esses que o rodeiam forem dos seus, do seu sangue? Faremos falta a mais alguém, ou estarei a empolar o quão especial cada um de nós pode ser? Porque a Liliana morreu há dois anos e ninguém fala dela e eu temo ir-me, numa altura em que não sei se quero ficar devido às mais variadas razões - e não, não perciso que me passem a mão pelo pelo porque tenho mãozinhas, obrigado, - sozinha numa mesa, em casa, à hora de jantar. Se assim for, quero os meus Manolo Blanik.
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

Banhos ou "Ontem fui nadar"ou "A notícia da minha morte foi um exagero", ou "Posto aquilo que me apetecer" ou "Este blog tem um livro de reclamações e um link para comentários" ou "O livro de reclamações está mesmo no cabeçalho: beluga@portugalmail.com" ou "Tenho andado ocupada com outras coisas", ou "Olhem, nem sempre uma pessoa está in the mood nem sem conjuntivites"

Bom dia.


Gustave Courbet
The bathers
1853
Musee Fabre, Montpellier


Sonia Delaunay
Girls in swimming costumes
1928
Colecção particular


Henri Matisse
Bathers by a river
1909, 1913, 1916
The Art Institute of Chicago


Adolphe William Bouguereau
The Bathers
1884
The Art Institute of Chicago

domingo, janeiro 08, 2006

Um Homem sente-se bem quando conqusita uma mulher.

"Sangue no pescoço do gato" de Rainer Fassbinder

sexta-feira, janeiro 06, 2006

O CARTEIRO

Excluídos, ou "Antes, depois e e muito depois" ou...
[Não achas que te estás a armar aos cucos?]
[Como?]
[Aqui em cima. Neurónio chamando...]
[É um Carteiro. Há correspondência, tu é que não percebes.]
[Eu sou tu, por isso, aquilo que eu não perceber, tu não percebes. E eu percebo. E tu?]
[Eu percebo.]
[Então põe as imagens, mas eu não concordo. Acho rebuscado.]
[Talvez habites o crânio errado.]
[Como?]
[Nada. Vai ver como estão os glóbulos e depois a gente fala.]


Pieter Brueghel, the Elder
The Beggars
1568
Museu do Louvre, Paris


Tod Browning
Freaks/Monstros
1932


John Galliano
Colecção de Pronto-a-Vestir 2006

TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.

Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...

Para mim é sempre ontem,
Não tenho amanhã nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem.

(...)

(Dispersão, Mário de Sá-Carneiro)
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO

[Hoje de manhã, antes mesmo das 11h]
Duas representantes do sexo feminino, uma loira e outra morena, as duas frente à minha secretária com este discurso de bombardeamento (notar que eu não abri a boca para o tema ser este)
- Tu vai por mim, os homens não prestam nada, nada, nada. Nenhum.
(más experiências?)
- Os homens são muito estranhos, acredita. Muito estranhos.
- Querem e não querem, e depois só pensam em sexo.
(mas isso faz parte da estatística...)
- Tratam-nos como se fôssemos mercadoria.
(hummm, o que é que eu seria? Um cabaz de Natal? Um caixote de camisolas de cashemira?)
- Tu vê bem que eles até comentam como é o nosso mamilo!
(????. Eu também comentava o mamilo da Stella Warren no anúncio do perfume do Jean Paul Gaultier. Era cor-de-rosa, parecia fiambre.)
- Eles fazem uma coisa que se chama "operação camarão"!
("Operação Camarão"?)
- "Operação camarão"?
- Sim.... Sabes como é que se come camarão? Tiras a cabeça e comes o resto inteirinho.
(Bem, depende do tamanho do camarão, se for 60/80...)
- Não há um homem que preste.
- Se tiverem oportunidade de trair, traem.
E lá continuaram a conversa as duas, ignorando-me completamente. Eu que tinha tanto em que discordar. Os homens são como as mulheres. Querem querer e ser queridos, acho eu. A única diferença é na proporção. Sei lá. Eu nem sabia o que era a "Operação Camarão"!

[Só uma curiosidade]
Porque é que nos anúncios a pensos higiénicos e tampões, o fluxo é sempre azul?

[Se isto não é pimba, eu mando-me ao ar]
O calçado nos meus pés
Eu comprei
As roupas que estou a usar
Eu comprei
Os diamantes que eu estou a ostentar
Eu comprei
Porque eu dependo de mim

Se eu quiser o relógio que estás a usar
Eu comprarei
A casa onde eu moro
Eu comprei
O carro que estou a conduzir
Eu comprei
Eu dependo de mim
(Eu dependo de mim)

Todas as mulheres que são independentes
Agitem as mãos sobre mim
Todas as queridas que fazem seu própio dinheiro
Agitem as mãos sobre mim
Todas as mães que ganham dólares
Agitem as mãos sobre mim
Todas as mulheres que realmente me sentem
Agitem as mãos sobre mim

(Destiny's Child, Independent Woman, música da banda sonora de Os Anjos de Charlie)
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades ou "Depois de morto um homem é sempre santo, tal como antes de nascer"



Antes de lerem queriam que soubessem:
a) não sou anti-semita nem anti-sionista
b) sou contra a ocupação israelita da faixa de Gaza (que como se sabe é um pedaço de quintais que durante anos – desde o fim da Segunda Guerra Mundial – foram disputados ao milímetro)
Agora que Sharon luta contra a morte, e mesmo quando Arafat lutava, os meios de comunicação social fizeram das “bestas”, seres bestiais. Assim, Arafat nunca incentivou o terrorismo (tal como o entendo, a perpetração de crimes contra inocentes – o Mal Absoluto). Não sou tolinha; compreendo que para quem vê a sua liberdade cortada todos os dias nas coisas mais pequenas, como sair de sua casa para atravessar a rua, encher uma garrafa de água na fonte em frente e regressar, esta seja a única forma de luta possível. Depois da morte, ou perante ela, aqueles que contribuíram para a História sofrem uma operação de lift de carácter. Com Sharon passa-se o mesmo. Enquanto Ministro da Defesa de Israel, nunca permitiu que os falangistas do Líbano entrassem nos campos de refugiados de Sabra e Shatila em Beirute, em 1982 e matassem 2000 palestinianos em cerca de 40 minutos.

Vi muitas notícias de 2005 nos jornais e revistas portuguesas, neste fim/início de ano. Não vi nada, mas mesmo nada em relação à retirada da de judeus da Faixa de Gaza. O método de Sharon foi maquiavélico: primeiro virou judeus contra judeus durante o mês de Agosto. E quando civis e militares estavam esgotados emocional e fisicamente, foi possível fazê-los acreditar que a culpa era unicamente do povo palestiniano, que para eles terem um processo de paz, alguém ficaria sem casa e sem “pátria”. Por fim, Sharon saiu e deixou um território destruído, sem “rei nem rock”, órfão e pobre.



Este foi para mim o pior acontecimento de 2005. O outro, a nível nacional, foi a eleição de Fátima Felgueiras.

quinta-feira, janeiro 05, 2006

Isto custa mais das 17:30h às 7:00h. O resto....
A nadar.
O CARTEIRO

Antes, depois e muito depois
Os CTT são assim: deixam a correspondência aos "pinguinhos". Um dia destes postamos as duas primeiras imagens. Hoje descobrimos uma terceira que bem pode fazer parte desta rubrica dedicada às correspondências do mundo. Ora vejam lá (e não reclamem!)



Rembrandt
Boi esventrado
1655
Museu do Louvre, Paris


Chaim Soutine
Boi esquartejado
1925
The Minneapolis Institute of Arts


Hermann Nitsch
Action
1968
(Performance)