sábado, janeiro 28, 2006

COISAS QUE EU NÂO COMPRRENDO

"Don't ask, don't tell, don't pursue" or by the other hand, ASK

Estão verdes; não prestam: nem os cães as podem tragar*
Este não é um problema de fundo da nossa cultura, mas é sem dúvida um problema se tivermos em conta que traduz a forma de pensar de quem por ela responde.
O problema é o facto de hoje se encarar o bilhete para um espectáculo, neste caso, para uma peça de teatro, como um bem móvel, físico, palpável. Não nos parece difícil adquirir um bilhete para uma peça de teatro à nossa escolha desde que com a devida antecedência. Podemos fazê-lo junto da casa que recebe o espectáculo, nas casas de espectáculos que estão sob a mesma entidade promotora (exemplo do TNSJ e do TeCA), nas FNAC's, que prestam um serviço a essa mesma entidade, pela internet (por exemplo, no caso da Casa da Música que tem um site, pela ticketline, etc).
A compra de bilhetes pela ticketline requer o fornecimento a essa entidade de dados do intencional comprador que muitas vezes o mesmo não está disposto a dar. A reserva de bilhetes nas FNAC's (e isto é um aparte visto não estarmos a falar de reserva de bilhetes, mas de compra efectiva), parece as obras de Santa Engrácia ou para quem não conhece as de Santa Engrácia, as obras das Capelas imperfeitas deXXXX, tudo porque estes locais que como dissemos prestam um serviço, exigem que quem reservou bilhete o levante quase a seguir. Ora, quem reserva bilhete é porque não se pode deslocar de imediato ao local para o levantar. caso contrário, comprava-o.
Porém, a compra de bilhetes na FNAC para uma peça de teatro a ter lugar na localidade onde o bilhete é adquirido pode ser uma dor de cabeça ( e de pés se formos persistentes, e tivermos com o calçado errado). Tudo porque, como se encaram os bilhetes como materiais e não como referências (como acontece com os bilhetes para comboios Intercidades e Pendulares cuja aquisição pode ser feita em qualquer lugar do país e em caixas multibanco ficando o comprovativo e a marcação já na posse de quem adquiriu o lugar), a entidade promotora pode retirar das FNAC's os BILHETES. Isto obriga o interessado a deslocar-se até ao local onde a peça tem lugar, deparando-se aí com a impossibilidade de aquisição porque ... já não há bilhetes.
Se a compra de bilhetes para o teatro ou para o bailado fosse encarada como o é a compra de um bilhete para um dos comboios acima referidos, o bilhete seria não um papel, mas uma entidade abstracta, um número, uma referência, permitindo a todos o acesso a ver, entre outras "Esopaida ou Vida de Esopo". (Relembro que a compra de bilhetes para estes transportes públicos é feita de forma a que quem adquire, bloqueie no sistema central aquele lugar. Assim, e mediante o comprovativo multibanco ou bilhete adquirido junto da CP, o seu espaço já não é de ninguém.)
Não se trata de chegar mais cedo para adquirir mais cedo, mas antes de permitir que, com uma semana de antecedência se cumpra o que é prometido e a aquisição seja de facto possível nos locais indicados. Com ou sem papelinho, que não é isso que faz a peça, assim como não é isso que faz a viagem. Tive que me ficar pelo cinema. Não direi como a raposa referindo-se às uvas que se encontravam demasiado alto, fora do seu alcance, mas sinto nisto uma limitação injusta das minhas escolhas.

*Frase da fábula 48 de Esopo, ou fábula da "Raposa e as Uvas" escrita posteriormente por La Fontaine e que Bocage também pôs em verso.