sábado, janeiro 30, 2010

- back to black -

"Do you know that women who are chaste remain much fresher than those who are not?" - Miguel Ângelo

quarta-feira, janeiro 27, 2010

- e o burro sô eu? -

[aos 5 minutos]


24% Serviço Nacional de Saúde
19% Segurança Social
17% Juros Dívida Pública
9% Pensões
7% Autarquias
4%Contribuições
18% Despesas
______________
98% é diferente de 100%
- não vai mais vinho para essa mesa -

eh pá... não sei porquê, mas sinto-me down. tenho de ir ouvir qualquer coisa mexida.

terça-feira, janeiro 26, 2010

"enquanto se capa não se assobia." e enquanto se vectoriza um girassol e se estuda para TMCI, não se posta. embora isto já seja um post. humm... será isto um pleonasmo falacioso?

segunda-feira, janeiro 25, 2010

- não vai mais vinho para essa mesa -

[conversa ouvida no comboio]
...
- o meu miúdo amanhã num bai à iscola.
- tá doente, o catraio?
- náão bai ao dótor.
- intão, mas tá doente ou náão, mulher?
- bai ser óprado ós...
- ós olhos? num sabia que bia mal.
- náão. bai ser oprado aos... grões.
- hã?
- lá in baixo... tu sabes

sexta-feira, janeiro 22, 2010

- original soundtrack -

Raul Seixas (o equivalente brasileiro ao nosso António Variações, ou vice-versa), aqui sem Paulo Doelho, felizmente:


Enquanto você
Se esforça pra ser
Um sujeito normal
E fazer tudo igual...

Eu do meu lado
Aprendendo a ser louco
Maluco total
Na loucura real...

Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez...

Vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza...

E esse caminho
Que eu mesmo escolhi
É tão fácil seguir
Por não ter onde ir...

Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez
Eeeeeeeeuu!...


Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez

Vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com toda certeza
Maluco, maluco beleza...


(Maluco Beleza, Raul Seixas)
- não vai mais vinho para essa mesa -


- sim?
- boa tarde. eu estou a falar da XXX.
- sim.
- queria saber como se chama.
- está-me a telefonar da minha operadora para perguntar como é que me chamo?
- sim por favor.
- então... não sabe o meu nome? vocês não têm isso nas vossas bases de dados?
-... ah... é que... o seu número foi marcado à mão...
- à mão?
- chama-se YYYYY?
- sim, entre outros.
- obrigada

[e desligou o telemóvel. não fosse eu conhecer-me muito bem e saber que nem estou para pitonisa para me pôr aqui a adivinhar, nem para femme fatale e isto seria coisa de mulher enciumada]

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou como desta ninguém se lembrou. Nem o próprio Chagall. Acho que nunca postei nada sobre o Chagall, mas isso deve ser porque não admiro substancialmente a obra dele. Estava à procura de imagens para ilustrar o "carteiro" sobre as limitações do Sabbath original que os judeus se impunham quando vi que esta imagem era muito parecida com

The Sabbath Rest
Samuel Hirszenberg
1894

esta. Quer dizer, por acaso foi ao contrário. Esta é que era parecida com a de cima. "Ora porquê", foi o que pensei. "Porque é que o Chagall pinta tantas cenas que se relacionam com o judaísmo?", pensei eu, como se isso interessasse a alguém, o que não quer obrigatoriamente dizer que a coisa não era interessante. É interessante partindo do princípio que não sabia nada de Chagall. Muito bem: era judeu, nasceu numa família russa de origem judaica, tímido e gago, o que não é nada auspicioso. Em 1910 quando pinta este quadro já estava em Paris e parece que a mãe nunca lhe impôs limites à sua paixão pela arte, o que era uma raridade no seu tempo e tendo em conta a vida modesta que a família levava. Incentivou-o a entrar na escola de arte de São Petersburgo. Em Paris foi muito influenciado pelo Cubismo e pelas cores fortes do Expressionismo, pelo Orfismo de Delaunay, mas parece, pelo que li, que Chagall e Malevitch não se davam muito bem. Malevitch não lhe perdoava o figurativismo que era totalmente oposto aos princípios do Suprematismo e Chagall não lhe perdoava... que ele não o perdoasse. Quando vejo os quadros de Chagall (que confundo sempre com Matisse), lembro-me do Brueghel que dizia: pinta a tua aldeia e pintarás o mundo". Parece-me verdade: os quadros de Chagall estão repletos de figuras que parecem vindas directamente de uma lenda regional, que contam histórias típicas. Contam histórias da Rússia, do gueto, onde Chagall, como judeu viveu enquanto permaneceu na Rússia ou até do judaísmo hassídico. E com todas estas influências Chagall criou um estilo de uma pessoa só, não totalmente descritivo pois os seus quadros contam momentos, não descrevem o que os antecedeu, e criou as bases para o Surrealismo. Enquanto a pintura de Samuel Hirszenberg se chama Sabbath Rest, Chagall chamou-lhe apenas Sabbath, como se o descanso fosse sinónimo de Sábado e por isso, desnecessária a sua menção. Atente-se também na cena que muito deve a The Cafe Terrace on the Place du Fórum de Van Gogh na escolha das cores e no significado do tempo. Aqui as cores têm um papel muito importante, ou não fosse Chagall um expressionista extremamente influenciado, como vimos, pelas histórias da sua cultura e religião. Por isso as cores conferem ao quadro a dimensão espiritual que ele possui. Vejamos que há um foco luminoso (formado pelo candeeiro e pelas velas que se encontram em cima da mesa) que faz com que toda a cena se concentre ali, não obstante a presença de outras pessoas. O centro da sala com a mesa está destacada a vermelho e amarelo, cores quentes, enquanto o relógio na parede, a personagem mais à direita e a janela possuem cores que nos afastam desses pontos. Mas o que importa para Chagall são as personagens que se encontram à mesa a descansar, a orar ou simplesmente obrigadas a repousar por ser Sábado, e é nelas que está o espiritual do quadro. Nelas e no único objecto presente no quadro: o relógio que marca o tempo físico e o tempo psicológico, como se a sala estivesse toda em silêncio a ver passar o seu dia dedicado ao Senhor.
Samuel Hirszenberg por seu lado estava fixado na história dos judeus no mundo, sempre vistos como aqueles que deveriam ficar à parte e com os quais nenhuma religião se devia misturar. Os católicos, a meu ver misturaram-se mais com os muçulmanos pelo menos durante a divisão da Igreja em Católica do Ocidente e do Oriente do que com os judeus que, quer-me parecer faziam sombra à palavra do Deus católico. Era um pintor académico e a pintura que hoje mostramos não pode ser propriamente uma referência no mundo artístico: não tem profundidade, não tem tessitura. É o que o título diz: o típico Sabbath com mais velhos a descansar, os assim-assim a olhar e os doentes a "doentar" como mandava o Mizrá.
Marc Chagall
The Sabbath
1910
Ludwig Museum, Colónia
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

em vez de fazermos aqui um top 10 das exposições de 2009 ou da década passada (já passou ou ainda vai passar?), o Belogue apresenta as exposições que você não vai querer perder (não querer perder, mas vai perder porque a vida está cara) neste ano de 2010 que já começou, mas que ainda é brindado com um "Bom ano" e com as Janeiras. Cá estão elas:
Chris Ofili Tate Britain em Londres, de 27 de Janeiro a 16 de Maio. Este artista é "o verdadeiro artista". Ganhou notoriedade quando uma vez Rudy Giuliani, o então mayor de Nova Iorque considerou uma das suas obras presentes do Brooklyn Museum, doentia. Na Tate teremos oportunidade de ver alguns dos seus trabalhos mais espirituais desde 1990 até aos nossos dias em cerca de 45 pinturas e aguarelas.
“Utopia Matters: From Brotherhoods to Bauhaus” é uma exposição que estará patente no Museu Guggenheim de Berlim, de 23 de Janeiro a 11 de Abril. Nunca as ideias utópicas acerca da sociedade e do futuro da mesma estiveram tão em voga, não só no que diz respeito ao pensamento sociológico, mas também no que à estética concerne. A exposição segue o percurso da Bauhaus e dos movimentos utópicos ao longo de 130 anos desde o século XIX até 1933 quando Hitler mandou fechar a escola e mostra os nazarenos, os Nabis, os Pré-Rafaelitas, os Arts and Crafts de William Morris, o Neo Impressionismo, o Modernismo, o Construtivismo Russo e a Bauhaus. Há também um passeio até às novas sociedades utópicas, sedeadas na internet e aos artistas contemporâneos.
No Den Frie Center of Contemporary Art e no National Museum da Dinamarca, de 8 de Janeiro a 14 de Fevereiro será possível apreciar a exposição “Tupilakosaurus: Pia Arke’s Issue with Art, Ethnicity, and Colonialism, 1981-2006,”. É uma exposição acerca do pós-colonialismo e de como este faz a ponte com a arte pós-moderna. É também uam exposição essencialmente sobre a Dinamarca, a sua localização geográfica, a sua história como nação colonizadora que contribuiu para o seu isolamento, e tudo isso vem ao de cima pela mão de uma artista dinamarquesa já falecida que mistura a fotografia, a instalação, o vídeo e a pintura.
De 20 de Março a 3 de Junho (é pouco tempo, eu sei) pode ir até à Polónia, Varsóvia para ver no Zacheta National Gallery of Art a exposição “Gender Check: Femininity and Masculinity in the Art of Eastern Europe”, que me parece, só pelo nome, ser muito bom. Esta exposição mostra como evoluiu o papel dos géneros na sociedade: primeiro com privilégios para o homem, depois com a emancipação feminina e agora com crescente coro, formado por homens e mulheres que reclama um regresso da mulher ao lar. Ao longo de obras de cerca de 200 artistas e 400 trabalhos será possível explorar a primeira grande exposição que fala dos papéis de género na Europa desde os anos 60.
Em Paris, na Fundação Cartier estará exposta a mostra Beat Takeshi Kitano de 11 de Março a 12 de Setembro. Como o nome diz, é uma exposição sobre o realizador, actor, poeta, comediante, professor e pintor japonês que tem sempre uma tendência sádica nos seus filmes e nas suas pinturas. A exposição inclui vídeos, filmes, objectos, pinturas que exploram os clichés através dos quais o Japão se mostra e os outros o percebem.

Por fim, a exposição homónima de Felix Gonzalez-Torres, Specific Objects without Specific Form, estará patente no WIELS Contemporary Art Centre em Bruxelas até 25 de Abril. Felix Gonzalez-Torres não foi muito conhecido e para além disso teve vida e obra breves. Os seus trabalhos essencialmente conceptuais são no entanto conhecidos: uma vela deixada para os visitantes dos museus, fotografias que mostram uma cama e duas almofadas, luzes brancas de Natal pela rua fora... Talvez o título da exposição diga mais sobre ela do que a própria: Objectos específicos sem uma forma específica, mas para já fica a garantia desta exposição ter um carácter itinerante e interactivo. Não é uma exposição terminada pois nos diferentes países um artista completará a mostra.
- o carteiro -

já vimos aqui como por vezes, dentro de um quadro há outro ou outros quadros. Hogarth, Velásquez e um outro cujo nome não me recordo, mas que sei que é muito importante (vou ver se me lembro). Mas o que não vimos, e ainda não tinha conseguido notar que isso poderia ser uma tendência, foi a presença de quadros nos grandes romances ingleses e franceses. O Belogue já tinha falado da presença de Vermeer em Proust, mas relendo umas partes notamos que para além de Vermeer, cuja selecção no contexto da obra coincide com o momento da morte de Bergotte, Proust fala de muitos outros autores como Botticelli (Cenas da vida de Moisés) quando descreve Odete de Crécy, Whistler (Vista de Trouville) quando descreve o seu quarto em Balbec e Manet (A Bunch of Asparagus) quando Proust fala de um serão em casa dos Guermantes, uma família aristocrática. Nessa altura a senhora de Guermantes que apreciava o local onde habitava, mas desdenhava as obras de arte e a decoração para se mostrar uma mulher de espírito e para que os outros valorizassem a sua casa referiu-se em tom depreciativo a uma das obras que estava na parede. Era o quadro a Bunch of Asparagus de Elstir (o pintor das relações de todos) que, segundo ela, havia imitado de Manet. Na realidade, Proust desenvolve uma história dentro da história e da História, uma vez que o quadro foi de facto pintado originalmente por Manet, mas a inspiração de trazê-lo até ao livro, até ao terceiro volume da Recherche foi o facto (penso eu) de uma das personagens da obra de Proust, Charles Ephrussi ter de facto existido. Este Charles Ephrussi foi um crítico de arte daquele tempo e, diz-se, a pessoa que posou para o Dejeuner sur l’herbe. Foi também a pessoa (não a personagem porque este relato não surge no livro, mas na História) que ao ver o quadro de Manet gostou tanto dele que deu ao pintor mais 200 francos para além dos 800 pedidos. Manet acabou por vender-lhe o quadro e pintou um outro de um só espargo, que vemos aqui e que ele fez acompanhar de um bilhete dizendo mais ou menos isto : «Faltava um espargo do molho que levou ».

Edouard Manet
Bundle of Asparagus
1880
Wallraf-Richartz Museum, Colónia


Proust descreve a cena em que a duquesa de Guermantes se refere com desdém ao quadro de Elstir revelando assim uma natureza filisteia:
« disse-me agitando ao de leve o leque de plumas, de tal modo estava consciente naquela ocasião que exercia plenamente os seus deveres de hospitalidade e, para não violar nenhum, fazendo também sinal para que me servissem outra vez espargos com molho de mousseline -, olhe, acho que Zola escreveu justamente um estudo sobre Elstir, esse pintor de quem ainda agora este a ver alguns quadros, aliás, os únicos dele de que eu gosto – acrescentou. Na realidade, ela detestava a pintura de Elstir, mas achava de uma qualidade única tudo o que estava em sua casa. Perguntei ao senhor de Guermantes se sabia o nome do cavalheiro que estava de cartola no quadro popular, e que eu reconhecera como sendo o mesmo de quem os Guermantes possuíam mesmo ao lado o retrato solene, que datava mais ou menos daquele mesmo período em que a personalidade de Elstir ainda não estava completamente definida e se inspirava um pouco em Manet. (…) Swann tinha o atrevimento de querer que comprássemos um Molho de Espargos. Até estiveram cá em casa alguns dias. Mas o quadro só tinha isso, um molho de espargos precisamente iguais aos que o senhor está neste momento a engolir. Mas eu recusei-me a engolir os espargos do senhor Elstir. Pedia pore les trezentos francos. Trezentos francos por um molho de espargos ! Um luís, é o que vale, mesmo temporãos ! »(Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido, vol. III – Do lado de Guermantes, pág. 504-505)


Manet
Bunch of Asparagus
1880
Wallraf-Richartz Museum


No livro de Henry James “Retrato de uma senhora” foi com surpresa que li o seguinte:“A menina Stackpole pode parecer mais entusiástica na sua procura da beleza artística do que pareceu até agora, mas, afinal de contas, tinha as suas preferências e admirações. Uma das últimas era o pequeno Correggio da Tribuna – a Virgem ajoelhada diante do Menino sagrado, que está deitado num leito de palha e a bater palmas para ela, enquanto se ri e grita de alegria”. (James, Henry, Retrato de uma Senhora, Publicações Europa-América, 1996, pág. 441-442)
E quando vemos as obras de Correggio deparamo-nos com esta pequena maravilha sob o ponto de vista da representação da Natividade como algo muito humano. Escrevo “pequena maravilha” porque o quadro, não sendo aparentemente nada de extraordinário, trata o tema da Natividade com uma proximidade à realidade que não era apanágio da Igreja desde a Idade Média, quando o Nascimento era retratado como uma cena de quarto, com a Virgem em convalescença deitada na cama. Deixo aqui um exemplo. Após isso, a Igreja decidiu que o nascimento de Cristo, diferente de todos os outros nascimentos não deveria ser retratado como igual e por isso a condição dos intervenientes tinha de sobrevalorizada para que exaltasse da pintura a sua origem divina.


Correggio
The Adoration of the Child
1518-20
Galleria degli Uffizi, Florença


Por fim, num romance de Sir Walter Scott chamado “Peveril of the Peak” e que fala da saga de uma família e dos seus vizinhos e amigos durante as guerras civis do século XVII. O livro é um dos menos conhecidos de Walter Scott foi escrito por volta de 1823 e no capítulo XXI encontramos o seguinte:

“The horses of both guests were brought forth; and they mounted, in order to depart in company. The host and hostess stood in the doorway, to see them depart. The landlord proffered a stirrup-cup to the elder guest, while the landlady offered Peveril a glass from her own peculiar bottle. For this purpose, she mounted on the horse-block, with flask and glass in hand; so that it was easy for the departing guest, although on horse-back, to return the courtesy in the most approved manner, namely, by throwing his arm over his landlady's shoulder, and saluting her at parting.”

Alexander George Fraser
Figures outside an Inn
Tate Gallery, Londres
Se notarmos bem, a descrição de Walter Scott corresponde na perfeição à imagem pintada por Alexander George Fraser que se intitula “Figures outside na Inn” que apesar de ter sido referida no site da Tate Gallery (local onde a obra se encontra) como ilustração do Peveril of the Peak, tem data desconhecida.


terça-feira, janeiro 19, 2010

14. Se isto é nota que eu me apresente.

segunda-feira, janeiro 18, 2010

- o carteiro -
afinal havia outro...
[e eu sem nada saber, sorriiiiia
e por ele andava louca,
pra ser sua mulher
um diiiiiia... (livra, Mónica Sintra!)
afinal havia outra
uma família, um lar uma caaaasa (no Afeganistão)
eu era afinal de contas
o photoshop das horas vagas (chuiff, chuiff)]
ou como com serviços secretos assim ninguém precisa de serviços declarados. Porque afinal havia um outro Bin Laden. Não aquele que resulta de apurado tratamento gráfico do FBI, mas aquele de resulta do fraco tratamento gráfico do FBI e uma fotografia do político espanhol Gaspar Llamazares, El Mundo dixt. O FBI confessou que retirou da internet uma imagem de Llamazares e que o rosto deste político já havia sido utilizado para construir o retrato de um terrorista líbio.
Fiquei aqui a pensar no método do FBI para procurar suspeitos... Será que o FBI googolou "Bin Laden" ou procurou por ele no Facebook?
diz o povo e diz bem "depois do Natal, saltinho de pardal"; ou seja, após o Natal anoitece mais devagar. Anoitece menos depressa, porque para mim nunca é suficientemente devagar. O Inverno custa-me muito pois a minha massa adiposa, cada vez mais inexistente, não me põe a salvo do frio. Por falar em frio e em ser fria, o que eu queria dizer mesmo era que não me interpretassem como sendo uma pessoa fria (nas primeiras impressões, sim), ou céptica, de mal com a vida. Mas não compreendo esta febre solidária no Haiti. Compreendo a urgência do caso, compreendo, mesmo não estando lá, que é uma catástrofe sem precedentes, mas quantos sabiam onde ficava o Haiti? Quantas pessoas não mudariam de canal se não fosse o apelo constante da televisão? Quantas pessoas lamentaram a morte de um ser humano sequer no Haiti, quando há algum tempo houve uma revolta popular após fraude eleitoral? O que seria hoje o Sudão, a Serra Leoa ou São Tomé em Princípe, se em vez de guerras tribais tivessem tido um terramoto? Chamem-me céptica, desmancha prazeres, comentadora-de-blog, mas isto não será um acto de contrição de um mundo que até há pouco tempo, até se falar do fim dos tempos, das catástrofes naturais e das crises mundiais ser um mundo pouquíssimo solidário?

sexta-feira, janeiro 15, 2010

- original soundtrack -

I feel you
Your sun it shines
I feel you
Within my mind
You take me there
You take me where
The kingdom comes
You take me to
And lead me through
Babylon

This is the morning of our love
It's just the dawning of our love

I feel you
Your heart it sings
I feel you
The joy it brings
Where heaven waits
Those golden gates
And back again
You take me to
And lead me through
Oblivion

This is the morning of our love
It's just the dawning of our love

I feel you
Your precious soul
And I am whole
I feel you
Your rising sun
My kingdom comes

I feel you
Each move you make
I feel you
Each breath you take
Where angels sing
And spread their wings
My love's on high
You take me home
To glory's throne
By and by

This is the morning of our love
It's just the dawning of our love

(I Feel You, Depeche Mode)
- não vai mais vinho para essa mesa -

[No comboio a fazer de conta que não estava a ouvir a conversa ao telemóvel do senhor que estava à minha frente:]
-És tu?
-…
-Quem és tu?
-…
-Eu bi que tu tinhas amándado uma mensage e fiquei assim co’a pulga atrás d’órelha?
-…
-E cumé que sabias o meu nunbro de télemobe?
-…
-E a gente póde-se incontrar?
-…
-Pode ser hoje? Mas eu num sei onde moras. Cumé queu sei qués tu?
-…
- Cume que sabes isso de mim?
-…
- Ai num digas isso queu inté fico inbergonhádo!
-…
- Num me chames fofo queu fico inbergonhado. É berdade que sou! E tu és bonita?
-…
- Intão bou aí ter agora.
-…
- Tába no cumboio, mas bou sair aqui e bou apanhar outro prá’i. Espera por mim. Fofinha!
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
antes e depois ou como este tipo é muito bom ou como este post é muito deprimente. Quem é muito bom não é o Friedrich que sim, é bom, mas não me enche as medidas. Acho-o muito frio para pintor romântico. E para frio já basta este Inverno. Onde estão as cores fortes, as paisagens exóticas, os orientalismos e os animais selvagens? Bem sei que aos movimentos, o direito às variações geográficas, mas isto é tão deprimente… Ele também não teve uma vida muito fácil. Aos treze anos, quando estava esquiar sobre água gelada, o gelo partiu-se e ele caiu. Valeu-lhe a ajuda do irmão Christoph, que salvou Friedrich mas acabou por morrer afogado. Talvez seja por isso o tema recorrente do “mar gelado” e das paisagens inóspitas onde nenhum ser humano gostaria de viver. Nos seus quadros há sempre, ou quase sempre (digamos que com muita frequência) figuras humanas, mas estas são tão pequenas que apenas acentuam o quão hostil é o espaço e quão pequeno é o Homem face à grandiosidade da Natureza. Acho que Friedrich não o fazia por responsabilidade social, para honrar a Natureza ou o seu irmão morto, mas porque na Natureza, que é neutra, ele podia pintar uma parte da espiritualidade de que estava embebido e que ele sabia ser condição dessa mesma Natureza. Para ele as montanhas, as águas, o sol, as tempestades eram alusões religiosas tal como foram para muitos pintores as caveiras, os frutos amadurecidos, os animais, os espelhos, etc. Aqui sim, ele é romântico com toda a sua nostalgia e sentimentalismo. Nostalgia, tal como os outros românticos, por um tempo passado. Talvez o tempo em que a Alemanha ainda era o Sacro Império. Nostalgia pelo passado arqueológico que se descobriu em parte no Romantismo (eram frequentes as pinturas de ruínas). Nostalgia pelo Bom-selvagem desconhecido e provavelmente inexistente em que se acreditava. Sentimentalismo por oposição ao racionalismo das Luzes e por um certo exotismo com que as civilizações daquele tempo catalogavam o Cristianismo primitivo. Daí a presença de uma força espiritual nos seus quadros.

Diz-se que este quadro não é da autoria de Friedrich pois nesta época a técnica que mais utilizava era o desenho a sépia e que por isso este pode não ser um quadro dele, mas de um estudante. Quero crer que não existiam naquele tempo duas pessoas com ideias que dessem tantos arrepios na espinha e que por isso, bastava um Friedrich, mas a tese se non è vero, è ben trovato!

E um dia, ao passear virtualmente pelos lugares de eleição, encontrei os trabalhos de Peter Callesen que merecia, não um, não dois, não três estalos e um mortal encarpado à retaguarda, mas duas facadas nas mãos para aprender a não humilhar os pobres assim. Ide lá pastorinhos, ide, e fiquei como eu, perplexa perante as maravilhas do senhor (Peter).

Caspar David Friedrich
Wreck in the Sea of Ice

1798
Kunsthalle, Hamburgo


Peter Callesen
Eismeer
2006
- o carteiro -


Este é o dia que o Senhor fez (áléluia, áááléluuuuia) ou "mais vale uma mão inchada que uma enxada na mão":


Este é um post de elogio ao descanso por isso já sabem, se estiverem cansados... não leiam. Estava eu "cácomigo" quando ouvi uma história sobre as proibições de trabalhar ao Sábado. Sei que os adventistas descansam ao Sábado, mas quem não descansa ao Sábado também não fica proibido de trabalhar. Ou seja, o descanso divino dado aos mortais, pensava eu, era uma opção, uma oferenda. Quem quisesse descansava, quem não quisesse, descansava. Mas por aquilo que li, quando a lei foi concebida o povo judeu levantou muitas dúvidas sobre o que podia ser considerado descanso e aquilo que era trabalho, uma vez mesmo o que fosse uma actividade de relaxamento, como um banho, implicava trabalho, como aquecer a água.

Tudo começou nos Génesis quando Deus, depois de criar as plantas, o Dia e a Noite, a Água e a Terra, o homem e a mulher, descansou (E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que Deus criara e fizera). E como é que descansava Deus? Depois de um trabalho destes deve ter sido um grande descanso! Ou será que Deus, por temer a ociosidade foi comedido no seu descanso. Na comunidade judaica o descanso divino levantou muitas dúvidas até porque esta não é a única passagem bíblica onde se fala do Sábado e do descanso. No Êxodo voltamos a encontrar-lhe duas referências: E ele disse-lhes: Isto é o que o SENHOR tem dito: Amanhã é repouso, o santo sábado do SENHOR; o que quiserdes cozer no forno, cozei-o, e o que quiserdes cozer em água, cozei-o em água; e tudo o que sobejar, guardai para vós até amanhã(Êxodo 16; 23) e Seis dias se trabalhará, porém o sétimo dia é o sábado do descanso, santo ao SENHOR; qualquer que no dia do sábado fizer algum trabalho, certamente morrerá. E mais tarde, no Deuteronómio (5; 14) encontramos isto: "Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR teu Deus; não farás nenhum trabalho nele, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu boi, nem o teu jumento, nem animal algum teu, nem o estrangeiro que está dentro de tuas portas; para que o teu servo e a tua serva descansem como tu". Como vemos, para além de ser proibido aos homens trabalhar, também era proibido fazer os animais trabalharem e todos os que trabalhassem seriam castigados. Tudo isto começou devido a alguns atropelamentos ao Sábado enquanto dia de descanso que os judeus não respeitaram principalmente durante o exílio como vemos em Ezequiel: Mas a casa de Israel se rebelou contra mim no deserto, não andando nos meus estatutos, e rejeitando os meus juízos, os quais, cumprindo-os, o homem viverá por eles; e profanaram grandemente os meus sábados; e eu disse que derramaria sobre eles o meu furor no deserto, para os consumir, até que profetas como Ezequiel começaram a manifestar-se contra esta nova forma de viver a religião. Era até comum, antes do período da Restauração, não se respeitar quer dia, quer noite de Sábado e coube aos profetas, através da palavra, restabelecer a ordem das coisas como nos conta Neemias (13; 15 a 22).

Samuel Hirszenberg
The Sabbath rest
1894

Os mesmos profetas conseguiram criar uma tendência generalizada na sociedade judaica que proibia e reprovava o trabalho nos Sábados. De uma visão que se pretendia apenas moral, foi possível criar um corpo teórico de proibições, variações e respectivos castigos para cada um dos trabalhos. O Mikrá fala do conceito de trabalho para os judeus. Aos Sábados, segundo o Mikrá os judeus não podiam: acender o fogo (mas também não podiam apagar ou avivar o fogo), tecer (e quando se diz tecer, diz-se tecer dois fios. A partir de dois fios - que é o mínimo - já não se podia tecer), preparar comida ou transportar objectos ou pessoas (ver aqui). Mas para alguns ortodoxos estas especificações não eram suficientes. Levantaram-se então questões como: curar aos Sábados era permitido, ou devia o médico deixar morrer? Mudar o assento de um sítio para o outro era transportar? E que se comia ao Sábado se não era possível cozinhar? Eis que surgiram as minudências. Cada uma daquelas 39 proibições da Mikrá tem sub-divisões. Por exemplo: era proibido escrever duas cartas, mas os judeus estavam autorizados a escrever uma por cada Sábado. Era possível carregar um objecto do peso de um figo, mais já era uma violação da lei. O que quer dizer que quando um doente ou um moribundo que necessitava dos cuidados de um médico era levado no seu leito até ao curandeiro, estava a ser transportado e por isso, a transgredir: "Então os judeus disseram àquele que tinha sido curado: É sábado, não te é lícito levar o leito". Também não era permitido que o médico fosse ter com o doente, como nos conta Lucas (6; 7), nem que ao mesmo fosse prescrito um medicamento na sexta se este medicamento apenas começasse a fazer efeito no Sábado. Não era permitido colher uma espiga que fosse (Marcos 2; 23-24), ou mesmo cozinhar. Por isso às sextas, antes do Sol se pôr os judeus preparavam o alimento para o Sábado.

As proibições eram de tal forma meticulosas que, da comida que não era pura ou judeus podiam apenas comer o equivalente a um azeitona. E chegou-se a este ridículo: uma pessoa podia comer o equivalente a meia azeitona, vomitar e comer novamente o equivalente a mais meia azeitona e isto constituía crime segundo o Mikrá. Tudo porque o paladar ao todo provou comida do tamanho de uma azeitona. A carga transportada, como vimos podia ser do peso equivalente a um figo. Mas se uma pessoa transportasse peso equivalente a meio figo, colocasse num local e depois o retirasse de lá, isso não constituía crime pois o corpo pegou sempre em "meio figo". Não era permitido levar nada de um local público para um local privado ou vice-versa. Mas para desespero vosso, não havia uma definição daquilo que era o público: o mar, um metro de terra ao lado de uma propriedade, um vale... Pior: o que podia acontecer a uma pessoa que transportasse um objecto com peso equivalente ao de meio figo de um local público para um privado (ou ao contrário), duas vezes? Estas duas acções combinadas eram crime? E por qual dos dois deveria o judeu ser condenado? Se um objecto que devia ser usado à frente caísse para trás, ninguém estava a incorrer em erro pois era a acção do vento que o determinava. Mas se o mesmo objecto caísse para a frente havia crime pois esse movimento era provocado pela acção humana. Se um judeu apanhasse a água da chuva, não estava a pecar, mas se apanhasse a água da chuva que caiu de uma caleira, então estava a pecar. Um professor não podia permitir aos seus alunos que lessem se ele próprio olhasse para o livro, o que me leva a pensar que isto é um exagero pois ninguém devia ter aulas ao Sábado.

As mulheres não podiam olhar-se ao espelho pois se vissem um cabelo branco sentiriam o impulso de tirá-lo, o que constituía falha. Mas os homens não podiam usar qualquer instrumento para ver pois isso era indigno (fosse em que dia fosse). Uma mulher podia andar na rua e em casa com cabelo falso, mas um homem não podia andar com um sapato sequer que tivesse sido confeccionado pela mão humana. Muito se discutia se a tira de uma sandália deveria ser arranjada ao Sábado. A resposta é não. Era apenas possível colocar lá o suficiente para conseguir caminhar com a sandália nesse Sábado. Tudo o resto era "melhorar" a sandália, implicava trabalho e movimentação e isso não era permitido.

A dada altura as restrições não existiam para restabelecer a fé e a ordem espiritual - não há nelas nada de espiritual - mas apenas para regular um conjunto de minudências que, quando não cumpridas, permitiam aos vizinhos acusarem-se mutuamente.

- o carteiro -

em 1972 Geoffrey Hoyle achava que 2010 seria assim:


em 2010 achamos que o passado será assim:





e que tal viver o presente, hã?



quarta-feira, janeiro 13, 2010

fica para amanhã que eu hoje estou muito cansadinha

segunda-feira, janeiro 11, 2010

- não vai mais vinho para essa mesa -
(ou que Deus Nosso Senhor me perdoe por estar a gozar com ela)
Margarida Rebelo Pinto tem um livro novo (quem não tem, no Natal, um livro novo?) que se chama “O dia em que te esqueci”. Chamem-me atrasada mental, mas não percebo o título. Se ela se lembra do dia em que o esqueceu, então lembra-se e dele. Logo, não o esqueceu, não é?
- o carteiro -
Uma conspiração de Estúpidos:

Há uns anos, depois do 25 de Abril, quando Mário Soares era Primeiro-Ministro disse uma vez qualquer coisa como isto: é preciso salvar o nosso Nabeiro referindo-se, claro está a Rui Nabeiro, o empresário de Campomaior. Vivia-se um período em que a fuga aos impostos estava a ser posta a descoberto e muitos que passavam a sua mercadoria de forma ilegal viam-se ameaçados. Rui Nabeiro, ao que consta era um deles. Diz-se até que uma vez se denunciou propositadamente, dizendo que pela estrada X ia passar mercadoria ilegal, quando ao mesmo tempo, o grosso de todo o material estava a passar pela estrada Y.

Ora isto fez-me lembrar, não sei bem porquê, mas já digo, o caso Face Oculta. Godinho é o “elo mais fraco” da cadeia, se é que isto é cadeia porque também já ouvi falar em polvo. Era sabido que tinha enriquecido muito, mas muito mais do que aquilo que um negócio de sucata, por melhor gerido que fosse, poderia enriquecer. Era sabido também que tinha a conivência do poder local uma vez que não houve consequências do seu negócio de ananases. [Godinho pediu à Câmara um terreno para plantar ananás, terreno esse que lhe foi concedido. Uma vez na sua posse, a frente do terreno foi preenchida com ananases e na parte de trás Godinho enterrava sucata.] Também era sabido que não primava nem pelo bom gosto, nem pela inteligência: a casa junto da praia que adquiriu havia pertencido a um habitante de Ovar que cometeu o mesmo crime pelo qual Godinho está agora a ser acusado. Portanto, se a sociedade não te molda, as casas moldam-te. E sabe, quem já provou o robalo de Ovar, desculpem, o Pão-de-Ló de Ovar que o que Godinho oferece a Vara num parque de estacionamento, dentro de um saco de papel, não é nada mais que Pão-de-Ló que Godinho, por ser diabético, não pode comer.

Tendo o direito ao ónus da prova, Godinho é, até que se prove o contrário, inocente, tal como Vara. O espanto não está na negação das acusações ou nas minudências dos valores. Está na forma como as pessoas, principalmente os habitantes de Esmoriz de onde é natural, trataram Godinho e os que o acusavam: [O Fortuna de Carl Orff, maestro] um homem forjado na pobreza, no suor e no trabalho. Um exemplo. Um benemérito para o clube. Um homem disposto a ajudar quem pedia. A meu ver, um homem que dá uma infinitésima parte daquilo que tem, não é um benemérito. É um homem que… dá uma infinitésima parte daquilo que tem. Um benemérito, quando faz bem, ninguém sabe. Um benemérito não dá o que tem, dá o que não tem ou o que lhe faz falta. Por isso me espantou ver notícias como esta. E que também me entristece quando penso no estado em que se encontra a nossa estatuária urbana, entregue à opinião do povo moldado pelos periódicos e pelas parangonas. Ainda se pensa que não interessa que alguém seja corrupto desde que contribua sempre que lhe é pedido, vá à missinha, não esqueça a terra onde nasceu e beije a testa da mulher.

sábado, janeiro 09, 2010

- back to black -

"Art has to move you and design does not, unless it's a good design for a bus." -David Hockney

quinta-feira, janeiro 07, 2010

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

- Ei Ofélia! Tá-se?
- Tá tudo e vocês, onde vão?
- Vamos comprar gelados. Queres vir?

Frederic Bazille
Summer Scene
1869
Fogg Art Museum, Cambridge, Massachusetts


- Não. A água está boa. Vão lá, eu depois vou.
- Tens a certeza? Olha que vais ficar engelhadinha!
- Nã… A água está mesmo boa!
- Tá-se! Tamos no ir. Queres alguma coisa?
- Não. Tá-se bem.
- ...

Millais
Ophelia
1851-52
Tate Gallery, Londres


- Ei Ofélia!
- Diz! Ainda não foram? Já disse que não quero nada! Mas quem é que está aí?
- Sou eu.
- Desaparece miúdo.
- A água está boa, não está?
- Está, desaparece.
- Está quentinha, não está.
- Simmm…
- Pudera, eu fiz xixi!

terça-feira, janeiro 05, 2010

- original soundtrack -

A long December, and there's reason to believe
Maybe this year will be better than the last
I can't remember the last thing that you said as you were leavin'
Now the days go by so fast

And it's one more day up in the canyon
And it's one more night in Hollywood
If you think that I could be forgiven....
I wish you would

The smell of hospitals in winter
And the feeling that its all a lot of oysters, but no pearls
All at once you look across a crowded room
To see the way that light attaches to a girl

And it's one more day up in the canyon
And it's one more night in Hollywood
If you think you might come to California...
I think you should

Drove up to Hillside Manor sometime after two a.m.
And talked a little while about the year
I guess the winter makes you laugh a little slower,
Makes you talk a little lower about the things you could not show her

And its been a long December, and there's reason to believe
Maybe this year will be better than the last
I can't remember all the times I tried to tell myself
To hold on to these moments as they pass

(...)
(A Long December, Counting Crows)
- não vai mais vinho para essa mesa -

o meu nome é Beluga. Se eu podia viver sem o Belogue? Podia, mas não era a mesma coisa.
Estive a rever e guardar os arquivos: as imagens, os textos, os comentários... Nunca se sabe se a internet acaba em 2012 ou se essa previsão é só para o Mundo e não para a internet nem para os Jogos Olímpicos. Achei esquisito estar a ver aquilo. Sempre a falar na primeira pessoa do singular, sempre muito opinativa, num tom inabalável, ofendidíssima com os deslizes do mundo da arte e por fim, já a escrever mais para quem lê do que para mim. Penso que repeti músicas e alguns posts. Penso também que sim, que podia viver sem o Belogue, mas aqui com os meus botões, não seria a mesma coisa.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

Antes e depois ou “como diga-se o que se quiser” ou como “Blame it on Rio é simultaneamente o nome de um filme de 1984 do realizador Stanley Donen e deste ensaio fotográfico de Steven Klein para a revista W de Março de 2009 e que teve Madonna e o seu Jesus como principais protagonistas. O nome não é casual: a sessão foi realizada no Hotel Glória no Rio de Janeiro e é conhecida a ideia de alguns músicos em relação ao Brasil. Veja-se o caso dos Duran Duran. Mas como diz a estilista Arianne Philips que orientou o guarda-roupa na sessão, a estética do conjunto das fotografias não foi a estética do filme de Donen, mas do filme “La Baie des Anges” de Jacques Demy, datado de 1963, como se pode comprovar pelo guarda-roupa retro que muito me agrada. Madonna interpreta o papel de Jeanne Moreau e Jesus Luz de Claude Mann. Os papéis não caberiam melhor a estas duas personagens: no filme a actriz francesa interpreta uma mulher de meia-idade viciada no jogo que vive de hotel em hotel, de roleta em roleta e que me faz lembrar a música dos The Divine Comedy “A lady of a certain age”. Entre roletas conhece aquele que viria a tornar-se o seu jovem amante, um empregado de banco e juntos vão fazer estragos. Apesar de alguns sites como este, ou este estabelecerem mais relações visuais entre o filme e a sessão, deixo apenas duas fotografias de cada que me parecem bem ilustrativas:"
Jacques Remy
La Baie des Anges
1963


Steven Klein
Blame it on Rio
2009


Jacques Remy
La Baie des Anges
1963



Steven Klein
Blame it on Rio
2009
- o carteiro -


Van Gogh
Fifteen Sunflowers in a Vase
1888
National Gallery, Londres


Quando a minha idade era outra que não esta, o meu bisavô, que Deus Nosso Senhor levou no ano da graça de mil novecentos e carqueja, e no seu seio o conservou para evitar estragos irreparáveis, pousou a mão experiente e traquejada no alvo ombro da minha estimada bisavó e sem demoras, complacências ou desagravos posteriores depositou no silêncio familiar da sala o dito seguinte:
“Vamos morar para Espinho, junto ao mar”. O meu bisavô voltava de mais um dos seus périplos laborais como maquinista da CP o que lhe permitia um conjunto de regalos da carne e do espírito, alguns conhecidos outros não. À frente na máquina conduzia os destinos dos passageiros adormecidos com os bilhetes embolsados, sandes de torresmos e tachinhos de batatas solteiras, que se aventuravam pelo país em busca de companhia para as ditas a partir de Vila Nova da Barquinha. O meu bisavô, que Nosso Senhor conserve sempre assim como nunca lembro pois não tive o prazer de com ele privar, houvera passado por Espinho e teria achado algum encanto à vivência junto ao mar e talvez relativizado o cheiro da maré baixa junto às pedras do paredão onde os mariscos botavam crescedura. Minha bisavó chorou: dois filhos deitados ao Mundo, vida posta na cidade, amigos, a rotina habituada, a vidinha da Igreja, os nomes e as visões… tudo isso em troca do mar sargacento de Espinho, como ela achava que iria ser. Já se imaginava Ofélia marafona a flutuar sem sopro de vida numa pequena poça de mar fora dos roteiros infantis, com a bênção de Cristo que muito penou e que não deixaria tal mulher sofrer tamanha dor, ela que sempre lhe limpou os pés da imagem pascal e que lhe ruminava um rosário diário enquanto desfiava as malhas do tricot…

Meu avô, de egrégia graça Afonso, foi instruído no mester de seu pai, que era carinhosamente tratado por “paizinho”, trabalhando de sol a sol nos caminhos de ferro portugueses, trabalho que só largou quando um dia, por obrigação governamental, teve de ceder lugar aos inexperientes face à inevitabilidade de algo chamado aposentação, que ele abominou até ao doloroso fim dos seus dias rematados por um cancro que lhe levou próstata, intestino e dignidade. A divisa aeróstata foi tomada como um insulto pela família dos “do ourives” (nome pelo qual era conhecida a família de minha bisavó, avó e mãe, até ao aparecimento das lojas de bijuterias), pois afinal o ofício carecia de experiência e muita preparação verbal somente dada com verdade de um pai para um filho. Tal como disse um dia a minha bisavó quando a minha mãe a confrontou com a chegada do Homem à Lua: “Ai menina, eles que brinquem lá em cima que um dia avariam tudo”. Conhecedora embora na ignorância do seu saber, minha bisavó, tratada pela família como “avozinha”, à semelhança das personagens masculinas de Dostoievsky, marcava assim o destino dos homens faltosos para com o devido respeito às normas sabiamente instituídas desde tempos imemoriais.

Os haveres foram empacotados e cambiados para a salgada morada salpicada pelo rebentar das ondas junto aos palheiros. Meu avô pôs-se homem entre as suas idas e vindas ferroviárias e nos entremeios travou conhecimento com minha avô, uma senhora de carnes protuberantes que passou a desenhar jóias para os “do ourives” até que a maternidade e a obesidade lhe tivessem levado a vontade de se dedicar à imaginação, optando assim por uma existência mais doméstica mas nem por isso mais pacífica. Botou ao mundo dez filhos e entre os paridos, seis morreram para deixar espaço no Mundo à primogénita dos sobreviventes: minha mãe. Minha avó desmultiplicava-se em várias aias imaginadas para manter a descendência nutrida, sadia, obedecida e crescida rapidamente como porcos que se querem engordados e prontos a deixar de fazer despesa em casa do carrasco. O tempo havia-lhe moldado as carnes moles e quentes em músculo duro e ao cabo de uns pares de anos, aquilo que era doçura e languidez transformou-se em ordem, rispidez e uma certa tendência para a autoridade em doses sobrenaturais, autoridade essa que se traduzia pelo acentuar de uma ruga que lhe descia da aba do nariz bárbaro até ao lábio superior e que se afundava sempre que mostrava desagrado com o asseio do lar, a pauta escolar da eterna infância que trazia atracada às saias e ao destino e a ausência de meu avô preocupado com a lide das máquinas e os horários e os passageiros e o arranjo da linha e o salário emagrecido face à iminência das tecnologias. As do ourives deixaram o labor mercê de um primo que à guisa de uma dívida de jogo foi depauperando o tesouro familiar até o deixar chupado como um maracujá engavetado.

Minha mãe que nessa altura da vida era perfeitamente dispensável por minha avó uma vez que dava despesa e não houvera atingido a idade de andar à jorna e adivinhando-se entre as duas fêmeas um duelo de malfeitorias pelo estranho e inexplicável efeito “Bispo de Fell” foi recambiada para casa de minha bisavó o que se diga, em prol de uma prosa que faça justiça às partes, o melhor que poderia ter acontecido às mesmas. Pela primeira vez na sua ainda curta vida, minha mãe recebia os calores e as ternuras de um beijo voluntário, de um agrado do corpo, de uma satisfação dos desejos que minha avó lhe negara por maldade para com aquela que era o rosto da sua obrigação de parideira ou talvez por incapacidade de lida com a sua meninice. O rosto de minha bisavó confunde-se com a imagem da sua generosidade e da generosidade de meu bisavô. Este trazia das suas viagens às duas senhoras da casa marmelada em cubinhos, bolachas recheadas, pelica, sapatos com sola de couro, bacalhaus e outras mordomias que só dois tipos de pessoas poderiam adquirir; os contrabandistas e os membros ilustres da sociedade. Meu bisavô não se encontrava em nenhuma das categorias, mas fazia com prazer o gosto à lambarice da criança e da bela esposa, que lá isso, minha bisavó sempre foi mesmo nas rugas e maleitas e desabafos do corpo que a levaram. Partiu em Paz e com a certeza que não sendo exactamente um exemplo de santidade pela sua mortalidade, era aquilo que hoje se pode aproximar de uma personagem divina em toda a sua beleza. Deixou a minha mãe a recordação de uma travessa de arroz doce que fazia invariavelmente no dia dos seus anos e bordava a canela com as iniciais M.R., em homenagem à aniversariante.

Minha mãe conheceu as amarguras do regresso ao lar materno, aos seus irmãos quase desconhecidos, à obrigatoriedade da partilha do espaço, da poupança da luz, dos rigores nas brincadeiras. Fez-se mulher com desgostos vários como o incentivo de minha avó para que sem fim nem meio fosse castigada pelo respirar e no medo constante de ser tomada como faltosa no meio de tanta virtude aparente de que mais tarde ficou a conhecer a verdadeira face: minha avó conservava – e conserva à data em que me encontro a propalar este rosário – uma tendência para o rigor com receio que a sua verdadeira tendência para o hedonismo fosse descoberta e dela brotasse o desrespeito de que julgava merecedora. Por isso, nos anos finais em que ainda conservava alguma clareza verbal, afastava os amigos e recebia de braços abertos os que não lhe conheciam os vícios.
- o carteiro -

Nóssa! Eu tô até um pôco sem jeito pá falá isso pá ocês, num sabe? Seu num falá bem, disculpa eu, mais é qui eu tô na saudádji dji ppostá e acho que já nem sei mais como fáiz.Os investigadores descobriram – ou acham que descobriram – a razão pela qual Van Gogh cortou a orelha. Ao que parece não foi por ciúmes de Gaughin. No quadro Still Life with Drawing Board, Pipe, Onions and Sealing-Wax

Vincent Van Gogh
Still Life with Drawing Board, Pipe, Onions and Sealing-Wax
1889
Kröller-Müller Museum, Holanda

foi encontrada a resposta: uma carta pintada na tela que Theo Van Gogh deverá ter escrito ao seu irmão Vincent a dizer que estava apaixonado por Jo, Johanna. Isto nada teria de mal para o pintor se ele não tivesse visto neste “rabo de saia” uma ameaça à disponibilidade de Theo o ajudar financeira e emocionalmente. No quadro, a letra do envelope é de Theo e a carta está endereçada a Vincent. Apesar de na pintura não ser totalmente visível o carimbo, consegue ler-se o número 67 que se referia, na altura à zona dos correios da Place des Abbesses em Montmartre, perto da residência de Theo. Mais, o que se consegue ler mostra-nos que lá está escrito “Jour de l’An”; ou seja, dia de Ano Novo o que queria dizer que a carta foi expedida antes do Ano Novo e podia ter chegado por volta do dia 23 de Dezembro, dia em que Van Gogh cortou a orelha. Uma acrata encontrada entre os documentos dos dois mostra que Theo deu a novidade a Van Gogh por carta enviada dia 21 de Dezembro. E quando Theo foi visitar Vincent ao hospital no dia de Natal e lhe perguntou se ele se opunha ao casamento do irmão com Johanna este terá dito que não, mas que o casamento não era coisa mais importante na vida. Pouco tempo depois de voltar a casa Van Gogh pintou este quadro.

Os símbolos nele presentes não são vinculativos desta teoria. Aliás o Musée de La Poste em Paris disse que apesar de a expressão “Jour de l’An” ser utilizada naquela época para os dias antes e depois do Natal, as marca era muito mais pequena e não do tamanho com que Van Gogh a pintou. Eu acho que até pode ser. Pelo menos tinha piada.
- não vai mais vinho para essa mesa -

o que acontece se o pessoal não pagar:



O Ministério da Cultura de Itália (chamam-se Assuntos para a Cultura) lançou uma campanha para sensibilizar as pessoas para a necessidade de pagarem a entrada no Coliseu (12 euros) ou para verem o David do Miguel Ângelo. Como diz o anúncio: "Si non lo visit, lo portiamo, via."
o que não acontecia se não se tivesse sabido:

A Vanity Fair publica agora (que oportuno!) fotografias de Tiger Woods tiradas há algums tempo por Annie Leibovitz.

o que acontecia se as nossas séries preferidas fossem posters:


só faltava aqui o Allô Allô, o Angels in America, o Will and Grace, o Sexo e a Cidade, o...