sexta-feira, janeiro 15, 2010

- ars longa, vita brevis -
hipócrates
antes e depois ou como este tipo é muito bom ou como este post é muito deprimente. Quem é muito bom não é o Friedrich que sim, é bom, mas não me enche as medidas. Acho-o muito frio para pintor romântico. E para frio já basta este Inverno. Onde estão as cores fortes, as paisagens exóticas, os orientalismos e os animais selvagens? Bem sei que aos movimentos, o direito às variações geográficas, mas isto é tão deprimente… Ele também não teve uma vida muito fácil. Aos treze anos, quando estava esquiar sobre água gelada, o gelo partiu-se e ele caiu. Valeu-lhe a ajuda do irmão Christoph, que salvou Friedrich mas acabou por morrer afogado. Talvez seja por isso o tema recorrente do “mar gelado” e das paisagens inóspitas onde nenhum ser humano gostaria de viver. Nos seus quadros há sempre, ou quase sempre (digamos que com muita frequência) figuras humanas, mas estas são tão pequenas que apenas acentuam o quão hostil é o espaço e quão pequeno é o Homem face à grandiosidade da Natureza. Acho que Friedrich não o fazia por responsabilidade social, para honrar a Natureza ou o seu irmão morto, mas porque na Natureza, que é neutra, ele podia pintar uma parte da espiritualidade de que estava embebido e que ele sabia ser condição dessa mesma Natureza. Para ele as montanhas, as águas, o sol, as tempestades eram alusões religiosas tal como foram para muitos pintores as caveiras, os frutos amadurecidos, os animais, os espelhos, etc. Aqui sim, ele é romântico com toda a sua nostalgia e sentimentalismo. Nostalgia, tal como os outros românticos, por um tempo passado. Talvez o tempo em que a Alemanha ainda era o Sacro Império. Nostalgia pelo passado arqueológico que se descobriu em parte no Romantismo (eram frequentes as pinturas de ruínas). Nostalgia pelo Bom-selvagem desconhecido e provavelmente inexistente em que se acreditava. Sentimentalismo por oposição ao racionalismo das Luzes e por um certo exotismo com que as civilizações daquele tempo catalogavam o Cristianismo primitivo. Daí a presença de uma força espiritual nos seus quadros.

Diz-se que este quadro não é da autoria de Friedrich pois nesta época a técnica que mais utilizava era o desenho a sépia e que por isso este pode não ser um quadro dele, mas de um estudante. Quero crer que não existiam naquele tempo duas pessoas com ideias que dessem tantos arrepios na espinha e que por isso, bastava um Friedrich, mas a tese se non è vero, è ben trovato!

E um dia, ao passear virtualmente pelos lugares de eleição, encontrei os trabalhos de Peter Callesen que merecia, não um, não dois, não três estalos e um mortal encarpado à retaguarda, mas duas facadas nas mãos para aprender a não humilhar os pobres assim. Ide lá pastorinhos, ide, e fiquei como eu, perplexa perante as maravilhas do senhor (Peter).

Caspar David Friedrich
Wreck in the Sea of Ice

1798
Kunsthalle, Hamburgo


Peter Callesen
Eismeer
2006

3 Comments:

Blogger alma said...

Obrigada, Beluga!
sempre me maravilhou os trabalhos em papel !

15/1/10 5:52 da tarde  
Blogger Belogue said...

Mas isto não são origasmos (origamis para o Dia dos Namorados). Os origamis não podem levar cortes. O que este tipo faz é com cortes e o site é de uma pessoa se mandar ao ar. Os trabalhos dele são muito bons e (espero)acho que não são feitos com cortantes.

18/1/10 12:10 da manhã  
Blogger alma said...

Fico sempre pasmada com o talento...
Origasmos :) grande nome !

20/1/10 12:04 da manhã  

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