segunda-feira, janeiro 11, 2010

- o carteiro -
Uma conspiração de Estúpidos:

Há uns anos, depois do 25 de Abril, quando Mário Soares era Primeiro-Ministro disse uma vez qualquer coisa como isto: é preciso salvar o nosso Nabeiro referindo-se, claro está a Rui Nabeiro, o empresário de Campomaior. Vivia-se um período em que a fuga aos impostos estava a ser posta a descoberto e muitos que passavam a sua mercadoria de forma ilegal viam-se ameaçados. Rui Nabeiro, ao que consta era um deles. Diz-se até que uma vez se denunciou propositadamente, dizendo que pela estrada X ia passar mercadoria ilegal, quando ao mesmo tempo, o grosso de todo o material estava a passar pela estrada Y.

Ora isto fez-me lembrar, não sei bem porquê, mas já digo, o caso Face Oculta. Godinho é o “elo mais fraco” da cadeia, se é que isto é cadeia porque também já ouvi falar em polvo. Era sabido que tinha enriquecido muito, mas muito mais do que aquilo que um negócio de sucata, por melhor gerido que fosse, poderia enriquecer. Era sabido também que tinha a conivência do poder local uma vez que não houve consequências do seu negócio de ananases. [Godinho pediu à Câmara um terreno para plantar ananás, terreno esse que lhe foi concedido. Uma vez na sua posse, a frente do terreno foi preenchida com ananases e na parte de trás Godinho enterrava sucata.] Também era sabido que não primava nem pelo bom gosto, nem pela inteligência: a casa junto da praia que adquiriu havia pertencido a um habitante de Ovar que cometeu o mesmo crime pelo qual Godinho está agora a ser acusado. Portanto, se a sociedade não te molda, as casas moldam-te. E sabe, quem já provou o robalo de Ovar, desculpem, o Pão-de-Ló de Ovar que o que Godinho oferece a Vara num parque de estacionamento, dentro de um saco de papel, não é nada mais que Pão-de-Ló que Godinho, por ser diabético, não pode comer.

Tendo o direito ao ónus da prova, Godinho é, até que se prove o contrário, inocente, tal como Vara. O espanto não está na negação das acusações ou nas minudências dos valores. Está na forma como as pessoas, principalmente os habitantes de Esmoriz de onde é natural, trataram Godinho e os que o acusavam: [O Fortuna de Carl Orff, maestro] um homem forjado na pobreza, no suor e no trabalho. Um exemplo. Um benemérito para o clube. Um homem disposto a ajudar quem pedia. A meu ver, um homem que dá uma infinitésima parte daquilo que tem, não é um benemérito. É um homem que… dá uma infinitésima parte daquilo que tem. Um benemérito, quando faz bem, ninguém sabe. Um benemérito não dá o que tem, dá o que não tem ou o que lhe faz falta. Por isso me espantou ver notícias como esta. E que também me entristece quando penso no estado em que se encontra a nossa estatuária urbana, entregue à opinião do povo moldado pelos periódicos e pelas parangonas. Ainda se pensa que não interessa que alguém seja corrupto desde que contribua sempre que lhe é pedido, vá à missinha, não esqueça a terra onde nasceu e beije a testa da mulher.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Muito Bom!
Essa história de Campo Maior é verídica, mas apenas 0,1% de tudo o que se lá passou e continua a passar!

11/1/10 11:22 da manhã  
Blogger Belogue said...

Caro(a) Anónimo(a):
Obrigada. Pois olhe, eu sei isto e pouco mais. Imagino o resto, mas não quero ser a estraga festa: sempre a falar mal deste e daquele. Provavelmente o homem fará muito pela terra, mas isso, conforme diz o texto, não desculpabiliza ninguém pelo mal que faz.

14/1/10 12:19 da manhã  

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