diz o povo e diz bem "depois do Natal, saltinho de pardal"; ou seja, após o Natal anoitece mais devagar. Anoitece menos depressa, porque para mim nunca é suficientemente devagar. O Inverno custa-me muito pois a minha massa adiposa, cada vez mais inexistente, não me põe a salvo do frio. Por falar em frio e em ser fria, o que eu queria dizer mesmo era que não me interpretassem como sendo uma pessoa fria (nas primeiras impressões, sim), ou céptica, de mal com a vida. Mas não compreendo esta febre solidária no Haiti. Compreendo a urgência do caso, compreendo, mesmo não estando lá, que é uma catástrofe sem precedentes, mas quantos sabiam onde ficava o Haiti? Quantas pessoas não mudariam de canal se não fosse o apelo constante da televisão? Quantas pessoas lamentaram a morte de um ser humano sequer no Haiti, quando há algum tempo houve uma revolta popular após fraude eleitoral? O que seria hoje o Sudão, a Serra Leoa ou São Tomé em Princípe, se em vez de guerras tribais tivessem tido um terramoto? Chamem-me céptica, desmancha prazeres, comentadora-de-blog, mas isto não será um acto de contrição de um mundo que até há pouco tempo, até se falar do fim dos tempos, das catástrofes naturais e das crises mundiais ser um mundo pouquíssimo solidário?
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