sábado, agosto 30, 2008

- back to black -
a pedido de diversas famílias (na realidade foi só a pedido do João Barbosa), que sentem a falta de um "back to black" com truísmos da Jenny Holzer, ou para falar a verdade, de um fim-de-semana com frases feitas, o Belogue inicia hoje os "back to black" dedicados a algumas definições de arte dadas por poetas, artistas, escritores, críticos e filósofos. Para além de pipis à fora de jogo temos Aristóteles:

"Art completes what nature cannot bring to finish"
Aristotle

sexta-feira, agosto 29, 2008

- original soundtrack -
Soul suckers. Blood suckers. Lepers, leeches, artists, musicians, critics, and fans. Dear Whores:
Fuck You. Fuck off and die, you filthy fucking rotten plagiarist prostitutes. Exploiters! Destroyers! Deceivers! Exploiters, exploiters, exploiters! Okay? Focus on a pinprick. Got it? Now, exaggerate it times ten. Now, my malicious ruinators, times one thousand. I'm sure the point is much easier for you to grasp now that we have eliminated all the fine points of detail, meaning, and truth. We have already established the fact that you cannot leave well enough alone. Your works are all in progress. Destruction by stampede- the herd cometh and the herd taketh away all that is natural, beautiful, and real, and put in its place stink, and shit, and scum. Oh, come one, come all- as long as you have nothing to say AND A VERY LOUD VOICE TO SAY IT IN and at least ten to ten thousand other idiots who idolize your diabolical inadequacies and perpetually insist on assisting you in your ever destructive search for all that is vain, and selfish, and of course financially viable. Trample! Pilfer, pillage, crush, kill, destroy, ANNIHILATE, assholes! Annihilate- the end of an era, the beginning of the end, the END of the end. Oh, I'm sure you've heard it all before but remember, it's not what you say, it's how you say it, and how much you're paid to do so and besides, who's listening anyway? No one, that's who. because it's all be said and done, and done, and done, and done, and done to death! Let's talk about art, said the fool to the idiot.
(Dear Whores, Lydia Lunch)
- não vai mais vinho para essa mesa -

pergunta da Dica da Semana a uma viaipipó (Very Important Person Portuguese):

Dica da Semana - Qual acha que é a sua maior qualidade?
Ana Brito e Cunha - Sou uma pessoa decidida. Acho eu.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou "como isto hoje era quase um carteiro. Estes dois quadros contam histórias diferentes e aparentemente não há relação entre eles. O antes – assim determinado por causa da data – conta a história de Sansão e Dalila. Quando a pintou Rubens tinha acabado de chegar de Itália, para nunca mais lá voltar e tinha também conseguido o título de pintor da corte em Antuérpia. Foi para um dos seus patronos e mecenas, Nicolaas Rockocx, que Rubens pintou Sansão e Dalila e bem calculado em termos de proporções e de efeito perspético, uma vez que o quadro de quase 2 metros de altura e de comprimento e tinha de ter um bom ponto de vista. A cama de Dalila é atirada para primeiro plano enquanto a porta e a parede do quarto são projectados para trás, juntamente com os oficiais que ali chegam. Toda a zona a negro do fundo, cria a ilusão de espaço e tempo entre a porta e Dalila. Há três pontos de luz estratégicos: uma vela ou tocha que os oficiais têm consigo, uma vela no fundo da pintura, atrás de Sansão e Dalila e uma luz, talvez de uma lareira, vinda do lado esquerdo da pintura e que permite iluminar apenas o que é importante no quadro. Fica em luz o pescoço muito alvo de Dalila, o seu cabelo muito loiro, a pele, o branco do seu corpete, as suas vestes encarnadas e o tapete oriental. Graças à iluminação o tom de pele de Sansão já trigueiro fica com um tom amarelado. A história de Sansão e Dalila é uma história bíblica (Juízes 16; 4-6 e 16-21). Sansão era um influente político israelita numa altura em que Israel estava a ser dominada pelos filisteus. Quando nasceu, Sansão foi abençoado por Deus com uma força extraordinária, que vinha dos seus cabelos e por isso foi advertido que nunca deveria cortá-los. Estava constantemente a entrar em tricas com os filisteus, matou muitos, destruiu as suas casas e colheitas, mas estes ocupavam a sua terra. Um dia Sansão apaixonou-se por Dalila (já tinha sido casado uma vez), uma mulher filistina que foi instigada e subornada para descobrir o segredo da força de Sansão. Por três vezes ela perguntou-lhe isso mesmo e por três vezes ele inventou histórias. Até que cansado e antes de adormecer numa noite, contou-lhe a verdade. Um cúmplice de Dalila ouviu e nessa noite enquanto Sansão dormia cortou-lhe o cabelo. Impotente, Sansão deixou-se capturar e cegar. Enquanto todos festejavam, esqueceram-se porém que o cabelo volta a crescer e Sansão deixou o tempo passar. No momento certo puxou as correntes que o amarravam ao templo e fê-lo desabar. Como podemos ver havia mais histórias para pintar sobre Sansão, mas os pintores geralmente preferem esta devido à carga erótica que a mesma tem e por abordar o tema da perfídia feminina que lhes era tão caro. A cena tem algumas referências clássicas: a pose de Dalila foi retirada de Leda e a Noite de Miguel Ângelo e na sala encontra-se uma estátua de Vénus e o Cupido (o amor sensual). A introdução da velha na cena é própria da pintura do Norte da Europa já que a passagem bíblica não fala dela. Mas a mulher idosa simboliza aquilo que um dia Dalila, em toda a sua beleza, virá a ser.
Já aqui tínhamos falado da “Caridade Romana” quando falámos das sete obras de misericórdia. Uma dessas sete é “dar de comer a quem tem fome e dar de beber a quem tem sede”. Conta a história de uma filha de seu nome Pêro (não encontro tradução) que às escondidas de todos amamenta o seu pai encarcerado e condenado a morrer à fome. Pêro é descoberta por um guarda, mas o seu acto é tão altruísta que este releva e o seu pai é libertado. (Eu bem sei que é uma analogia, mas a história é muito estranha):"

Pieter Pauwel Rubens
Samson and Delilah
c. 1609
National Gallery, Londres


Pieter Pauwel Rubens
Roman Charity
c. 1612
Collection of Count Cobenzl

Aparentemente e até aqui, nada em comum, não é? Pois, já estão a pensar que vos estou a enganar, mas não. Descobri neste site que apresenta as imagens ampliadas e por isso permite-nos fazer a comparação, que para além da posição dos dois casais ser muito semelhante, há pormenores que só poderiam ter sido pintados pelo mesmo pintor. Veja-se a cabeça de Pero e a cabeça de Dalila. Com iluminações diferentes ambas se apresentam de perfil e no rosto a mesma expressão. A técnica é semelhante embora eu prefira o trabalho da cabeça de Dalila. Quanto à luz, digamos que em Dalila é simples, ela é iluminada por trás, enquanto em Pero é mais complexa pois a cena desenrola-se quase na obscuridade.






No que diz respeito ao peito (nunca percebi que peitos eram estes em forma de pêra), não estão exactamente na mesma posição nos dois quadros. No quadro Sansão e Dalila o peito desta aparece de frente, mas ou porque a técnica de Rubens ainda não estivesse apurada, ou por falta de peitos melhores, Dalila parece ter três seios. Dois mamilos, mas três seios. O peito está muito rígido em comparação com o peito de Pero que apesar de não abandonar a forma em pêra, é mais “apalpável”, digamos assim. Há um outro pormenor nestes quatro seios. Nos mamilos de Dalila não há ligação entre o mamilo e o peito, enquanto no peito de Pero se nota a curva que existe na ligação entre mamilo e peito.




Por fim a mão. A mão de Dalila está muito fraca, muito mal pintada. Parece, assim de perto, um daqueles quadros comprados nas feiras. Há um esfumado ridículo entre a mão e as costas de Sansão e as costas assemelham-se mais a um tecido do que a carne, músculos e ossos. A mão de Pero por seu lado, repousa da mesma forma, mas é muito mais convincente: nota-se que está a acariciar um ombro. E mesmo que estivesse pousada sobre as costas do pai, a cor ajudaria a perceber isso. Sansão não beneficia nada com aquela luz.


- o carteiro -
recebido por e-mail:
"É por isso que tenho de ir aí. Já viste bem isto? "Habilitações a mais"! Ou então “Não tem perfil”. O Gerard Depardieu não tem perfil e até é um bom actor. Mas “habilitações a mais?” O que é isso de "habilitações a mais"? Desde quando é que habilitações são a mais? É a mesma coisa que uma mulher ir ter com um homem e dizer “quero ficar contigo e não peço nada em troca” e ele, que a vê como a mulher perfeita, como a mulher de quem gosta, com todos os atributos dizer “gosto muito de ti, és perfeita, mas és muito para mim”. Como se eu pedisse para ser remunerada consoante as minhas habilitações! Às vezes escondo que tenho um Mestrado. E até já escondi que tenho uma Licenciatura. Para todos os efeitos só frequentei dois anos de faculdade, venho do Algarve e trabalhei em lojas de pulseiras e brincos e essas m*****. (…) E mesmo assim, nunca são habilitações na proporção certa: às vezes tens a mais, outras tens a menos. Só te dá vontade de morderes o braço de alguém por teres escondido as que tens. Temo mesmo que um dia destes venha ser analfabeta, coxa, e burra que é para conseguir lamber o chão de uma repartição pública em troco de uma senha para refeições na cantina. (…) e quando me perguntam se pretendo ter filhos! Eu sei lá! É cada pergunta! Como se alguém tivesse alguma coisa com isso. Eu posso sair por aí a fornicar como uma coelha que ninguém tem nada com isso. Eu posso ter um filho sempre que pisco um olho que ninguém tem nada com isso. Desde que não falte ao trabalho para tratar dos meus 2484 filhos, nem leve para o trabalho os problemas deles, quem me pode censurar por isso? Olha, acabei de ter mais um filho. 2485. Número actualizado.
(...)
pediram-nos para escrever o mais número de palavras começadas pela letra "M", num minuto. (Isso também já te aconteceu, não foi?) Será que sabiam o significado de "merlão"? e será que "Micado" vale? Será que isso avalia a capacidade de alguém para dobrar roupa?
(…)
Não compreendo isto de “mais especialização”. Para quê? Tenho um Mestrado que não foi por Bolonha e daqui a nada temo que me penalizem também por isso e que passem a aceitar apenas mestres por Bolonha. São os bolonheses, deste país que é uma bolonhota. Não levo esperança nenhuma para esta entrevista. Nem sei se quero levar. Primeiro porque já achei que era a pessoa perfeita para o papel e nada e depois porque não é aquilo que quero fazer com a minha vida. (…) Acima de tudo aborrece-me a falta de espinha dorsal desta gente. Que também é a minha gente. Mas há que ter valores. Valores e espinha dorsal firme e hirta. (…)”
- o carteiro -

eu vi um sapo:
O sapo crucificado é um trabalho de Martin Kippenberger que mostra um sapo bastante lustroso, com ar de louco (os olhos salientes e a língua de fora) e que segura numa das mãos onde devia estar um prego, uma caneca de cerveja, e na outra um ovo. O sapo começou por ser uma peça de inauguração do novo museu de Bolzano e segundo os curadores era um auto-retrato do artista num momento de crise. Começou por receber algumas críticas dentro da comunidade. Depois chegou até ao Vaticano uma carta. As opiniões dividiam-se uma vez que na região de Bolzano 99% das pessoas são católicas. Houve uma abaixo-assinado de 10 000 assinaturas para que o sapo fosse removido, o presidente do burgo fez greve de fome, Sandro Bondi, ministro da cultura juntou-se aos protestos e o Papa disse que a peça era uma afronta a todos aqueles que viam na cruz de Cristo um símbolo de amor de qlaguém que deu a vida por nós. Por eles. O museu mantém o braço-de-ferro, diz ser um museu independente, afirma também que há quem esteja a tirar dividendos políticos com estas posições e recusa-se a retirar a peça. Kippenberger morreu em 1997.


I've got the Midas touch:
A maior estátua em ouro desde o Antigo Egipto pertence a Marc Quinn e a um conjunto de artitas britânicos com alguma visibilidade e retrata nem mais nem menos que Kate Moss (love her!). A estátua pesa mais de 50 quilos e vai ficar em exibição no British Museum, na ala dedicada à escultura do Antigo Egipto, mas também da Grécia e Roma antigas, de forma a que a nova deusa possa conviver com as outras deusas. Em exibição no British de 4 de Outubro de 2008 a 25 de janeiro de 2009.


I'm gonna miss you, I can't lie:
A National Gallery of Scotland e a National Gallery de Londres estão a reunir esforços e a fazer "uma vaquinha" para ver se conseguem o dinheiro pedido pelo duque de Sutherland para a aquisição de dois quadros de Ticiano por um terço do seu preço real. Não são falsos! Pertencem à colecção do duque mas estão em exibição na National Gallery of Scotland há mais de 60 anos e são sem sombra de dúvida pertencentes à maior e melhor colecção privada de pintura dos grandes mestres, emprestada a um museu. Se as galerias os adquirirem será a grande oportunidade de os mostrarem ao grande público em vez de apenas albergarem as peças. As galerias asseguravam isso e também a continuidade do empréstico da colecção Bridgewater. A soma, embora seja muito abaixo do valor que quadros possam ter em mercado aberto, continua a ser alta num momento de crise como este que toda a Europa vive. Há mesmo quem se questione sobre a necessidade de manter os grandes mestres. Mas o que é bom, é sempre bom.
- não vai mais vinho para essa mesa -

vou ligar a câmara de video vigilância, vou trancar a porta, vou colocar as grades nos posts, vou ligar o alarme e rezar muito a Deus Nosso Senhor Jesus Cristo, Maria, Espírito Santo a Companhia para que esta noite não me assaltem o Belogue. Porque isto anda para aí uma gatunagem que mais cedo ou mais tarde vão querer assaltar blogs.

quinta-feira, agosto 28, 2008

- original soundtrack -
É a minha música preferida dos dois albuns, não sei porquê. E nunca a postei com receio de me confundirem com a letra; com receio que tomassem o post pelo postador. Mas como diria o Caetano, é tão bonitjinha éssa música. Muito gostósa.

I couldn’t resist him
His eyes were like yours
His hair was exactly the shade of brown
He’s just not as tall, but I couldn’t tell
It was dark and I was lying down

You are everything – he means nothing to me
I can’t even remember his name
Why’re you so upset?
Baby, you weren’t there and I was thinking of you when I came

What do you expect?
You left me here alone; I drank so much and needed to touch
Don’t overreact – I pretended he was you
You wouldn’t want me to be lonely

How can I put it so you understand?
I didn’t let him hold my hand
But he looked like you; I guess he looked like you
No he wasn’t you
But you can still trust me, this ain’t infidelity
It’s not cheating; you were on my mind

Yes he looked like you
But I heard love is blind…

(I heard love is blind, Amy Winehouse)
- não vai mais vinho para essa mesa -

- o que é que achas? Tomo dois comprimidos? Isto é um paracetamol, também não me vai matar...
- O que não mata engorda.
- Chiça! Dá-me então dos que matam!

- ars longa, vita brevis -
hipócrates
antes e depois ou, "embora separados por vários séculos, Picasso e Rembrandt pintaram – neste caso, desenharam – uma história sobre a vida de Júpiter, ou Zeus, que não é muito conhecida. Antiope era uma semi-deusa ( seu pai era um deus-rei) por quem Júpiter se sentiu muito atraído. Para chegar até ela, assumiu a forma de um fauno e tomou-a violou-a. Quando voltava para casa acompanhada por um tio, que fez questão de também a violar a jovem deu à luz (porque na mitologia estas coisas são mais ou menos rápidas consoante o propósito), dois rapazes gémeos: um era filho de Zeus e outro do tio de Antiope. Mais tarde, numa passagem da vida da ninfa, os próprios filhos perseguiram-na, mas felizmente conseguiu obter protecção junto a um mortal com quem acabou por viver o resto dos seus dias. Nunca se sabe como é que um deus morre, não é? Sabemos como nasce, mas não como morre). Tanto Picasso como Rembrandt pintam a entrada do fauno no leito de Antiope. No caso de Rembrandt o fauno (tens uns pequeninos cornos), levanta o véu e descobre a púbis da ninfa. No caso de Picasso, o fauno é muito mais pronunciado (ele e o seu aspecto sobrenatural ocupam quase a totalidade da composição), e descobre com cuidado a ninfa apenas esboçada, sem grande definição":

Rembrandt van Rijn
Jupiter and Antiope
1659


Pablo Picasso
Faune devoilant une femme dormant
1936
- o carteiro -
I'm sorry, so sorry...
Bem sabemos que são muitas as possibilidades representativas de uma Lamentação. Aliás, as formas de a retratar são tantas que duvido existir uma forma certa. Até as denominações variam: umas vezes é a Lamentação sobre o corpo de Cristo, outras “The Entombement” e às vezes é mesmo uma Descida da Cruz. E tal como nas Madalenas (não são Madalenas de comer!), há várias representações, mas achei que tinha piada (que era interessante) ver a evolução, ou possível evolução de um baixo-relevo grego existente no Museu Capitolino até um Georges de la Tour. O primeiro exemplo é, como disse este baixo-relevo da morte de um herói – não sei se mitológico ou histórico -, mas que inicia este tendência para retratar o morto como algo que se leva pelas pernas e braços ou que se vela num colo de mãe. Chamaram a este relevo a pietá militar, uma vez que as pietás se aproximaram muito dele na forma.


A passagem deste relevo para um outro de Giovanni Bellini é muito clara, embora neste caso o moribundo não esteja acompanhado pelos seus colegas de luta, mas por pequenas crianças que devem representar anjos. É, muito provavelmente o baixo-relevo de um Cristo morto e não de uma lamentação, mas já faz a transição entre o que tínhamos anteriormente e aquilo que vamos encontrar.

Giovanni Bellini

Nesta escultura de Donatello (não gosto nada de Donatello, mas lá teve que ser), já temos uma lamentação declarada, com a presença da Virgem e de um conjunto de personagens que não sendo propriamente anjos, até apresentam alguma coerência formal com o baixo-relevo anterior. Trata-se de Maria Madalena lá atrás e de alguns apóstolos, mas não anula a semelhança com os anjos referidos.

Donatello
Lamentation over the Dead Christ
c.1456
Victoria and Albert Museum, Londres

Da escultura de Donatello à pintura de Charonton não parece ter havido evolução devido ao carácter extremamente gótico da pintura em oposição ao aspecto muito renascentista da escultura, mas esta pintura tem algumas particularidades que a tornam numa das melhores Pietás de sempre. As figuras foram colocados sobre um fundo dourado entre uma cidade à direita e uma montanha austera à esquerda. No entanto é a imagem da Virgem em sofrimento que domina a pintura. Não é uma Virgem jovem como veremos mais tarde em muitas pinturas do Renascimento pleno e contra a representação das quais o Concílio de Trento lutou. É antes uma mãe pálida e imóvel, com o manto azul a cobrir-lhe a cabeça, mas que se abre até ao chão. Embora não seja uma pintura Maneirista, há uma estranha deformação no corpo de Cristo que se apresenta arqueado, numa tentativa de equilíbrio no colo da sua mãe. São João encontra-se um pouco mais acima da figura de Cristo e do lado direito a Madalena piedosa completa a diagonal formada por as pernas de Cristo que coincidem com as vestes de Madalena, o corpo de Cristo, as mãos prostradas da sua mãe e a cabeça da Virgem. Há outra diagonal formada pelo braço que cai do colo da Virgem, passa pela cabeça de Cristo e acaba na cabeça de São João. Além disso há uma outra linha, uma linha curva que acompanha a curva produzida pelo corpo de Cristo e que é feita pelas cabeças das personagens vivas: o mecenas do quadro à esquerda, São João, a cabeça da Virgem e a cabeça de Maria Madalena. O quadro é assombrosamente bom. É mesmo muito bom porque é dinâmico quando toda a pintura da época ainda tinha um cunho fortemente medieval.

Enguerrand Charonton
Pietà de Villeneuve-lès-Avignon
c. 1460
Musée du Louvre, Paris

Agora imaginemos que o mesmo grupo de pessoas tenta sentar o corpo de Cristo. O resultado pode ser esta gravura de Parmesan, muito semelhante a um desenho de van Aachen que não estava em boas condições. E esta nova forma de retratar Cristo, entre a saída da cruz, a lamentação e o seu “funeral”, acabou por criar uma tendência: Delacroix e Van Gogh (num “after Delacroix”) pintaram-no assim. Esta gravura poderá ter originado o quadro de Jacques Belange que se escuda no tenebrismo muito caravagista.

Parmesan

Diga-se em abono da verdade que o quadro é terrível: tudo é plástico, encenado, e expressivamente errado. Note-se no rosto da Virgem que parece dizer “já te foste, foi melhor assim”; no rosto um pouco atrás à direita, como se se tratasse de uma figura de cera. Ninguém tem identificação, não se percebe quem são e o que ali fazem. Não me levem a mal se disser que estão no quadro errado (ou no funeral errado) ou até que alguns andaram metidos “nos fuminhos” e ficaram “high”. Diz-se porém que o quadro não foi beber a Caravaggio, mas antes a Georges de la Tour, como se este último não tivesse ido beber a Caravaggio.

Jacques Bellange
The Lamentation
1615-1617
State Hermitage Museum, Saint Petersburg


No quadro de de la Tour não vemos Cristo morto, mas antes São Sebastião (atingido por uma seta apenas) e velado por Santa Irene. Mantém-se o corpo em curva, entre o sentado e o deitado, a vela do exemplo anterior (embora aqui do outro lado e empunhada por outra personagem) e toda a obscuridade tão própria do Barroco.
Não lamento este post, só lamento que tenha sido sobre um tema tão sorumbático e que eu não tenha tido a capacidade para rematar isto como devia ser. Chuto para canto.

Georges de la Tour
St Sebastien Attended by St Irene
1634-43
Staatliche Museen, Berlim
- ars longa, vita brevis - meets - o carteiro -

não é a inauguração de uma nova rubrica, mas tinha de vos mostrar um livro que se chama Havana before Castro, que para além de livro é também um site. Podem consultar no link indicado. Nele podemos ver um conjunto de fotografias de locais emblemáticos de Havana, antes e depois de Fidel Castro. O antes é depois transforma-se em "carteiro" quando reparamos que a fotografia do lobby do hotel The Riviera em 1957 é praticamente igual à do mesmo hotel captada em 2007. É como uma viagem no tempo: à excepção dos estofos, e das plantas, tudo está na mesma.

quarta-feira, agosto 27, 2008

- original soundtrack -

jodie wears a hat although it hasn't rained for six days
she says a girl needs a gun these days
hey on account of all the rattlesnakes
she looks like eve marie saint in on the waterfront
she reads simone de beauvoir in her american circumstance
she's less than sure if her heart has come to stay in san jose
and her neverborn child still haunts her
as she speeds down the freeway
as she tries her luck with the traffic police
out of boredom more than spite
she never finds no trouble, she tries too hard
she's obvious despite herself
she looks like eve marie saint in on the waterfront
she says all she needs is therapy yeah
all you need is, love is all you need
jodie never sleeps 'cause there are always needles in the hay
she says that a girl needs a gun these days
hey on account of all the rattlesnakes
she looks like eve marie saint in on the waterfront
as she reads simone de beauvoir in her american circumstance
her heart, heart's like crazy paving
upside down and back to front
she says ooh, it's so hard to love
when love was your great disappointment

(Rattlesnakes, Lloyd Cole)
- não vai mais vinho para essa mesa -
Ainda os Jogos Olímpicos. Conheço uma das atletas portuguesas que foi a Pequim competir nas provas de atletismo. Sei que trabalha nos Serviços Municipalizados da cidade onde mora. Sei que pediu autorização para sair mais cedo do local de trabalho para treinar e que a Câmara não autorizou. Via-a correr pelas ruas da mesma cidade, mesmo ao lado do autocarro escolar, entre a rua e o passeio, a contornar as pessoas, a subir ruas de paralelos e pedra e calçada, e correr à chuva, ensopada até aos ossos. Um dia, porque treinava muito após o trabalho e aos fins-de-semana, em tempo que provavelmente não deveria ser para isso caso treinasse com as condições desejadas, conseguiu os mínimos para os Jogos Olímpicos. Foi a Pequim. O resultado, que não foi bom, não deixa de ser uma vitória, embora ela se tenha coibido de fazer comentários infelizes, felizmente. Mas acho que se consegue compreender onde quero chegar: os atletas conseguem os mínimos graças a um esforço pessoal que ultrapassa o esforço pessoal dos outros. Esta atleta foi a Pequim porque treinou, face aos adversários que foi encontrar, como uma amadora. Obviamente a prestação não podia ser coroada com uma medalha, nem mesmo um lugar no topo. Serve-lhe a consolação de ter viajado até Pequim, algo que, tenho a certeza, o seu salário na Câmara e o salário pago pela Federação, não iria cobrir. Eles são carne para canhão.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
antes e depois ou "vocês bem sabem que não me canso de Caravaggio. Acho-o genial e não por causa da vida que teve, mas pela obra, por ser tão subversiva. Este São Jerónimo não é das minhas pinturas preferidas. Aparentemente não tem nada de especial, nada de subversivo, mas é uma figura muito querida de católicos e muito odiada por protestantes. São Jerónimo, um dos quatro doutores da Igreja (estatuto conseguido após a sua morte e que partilha com Santo Ambrósio, Santo Agostinho de Hipona e São Gregório Magno), foi quem traduziu para latim a versão grega do Antigo e do Novo Testamento, tarefa que lhe levou mais de 20 anos de vida. É conhecida por Vulgata pois estava escrita na língua mais utilizada na Igreja do Ocidente. É por isso uma figura importante para o Catolicismo. No entanto, para o Protestantismo, São Jerónimo foi uma pedra no sapato; ou melhor, foi quem colocou a pedra no sapato protestante uma vez que a Igreja Protestante tinha intenções de mandar traduzir a Bíblia para os idiomas locais onde o Protestantismo vigorava. Uma vez que os católicos faziam questão que se difundisse apenas a versão de São Jerónimo, durante muito tempo a discussão foi subindo de tom.
Caravaggio usou o mesmo modelo que havia usado para pintar Abraão e Mateus em outras obras. O quadro mistura no mesmo espaço e tempo vários episódios que a verdadeira história de São Mateus divide no espaço e no tempo. Caravaggio, bem como outros pintores, optou por retratar São Jerónimo na sua gruta, já idoso, a traduzir a Bíblia. Perto dele tem um dos seus atributos, a caveira e está coberto com as vestes encarnadas que lhe são próprias. Não há sinais do modelo de uma igreja (que simboliza o seu contributo para a Igreja) nem do leão (que alude a uma passagem da vida do santo, quando este no deserto retirou um espinho da pata de um leão, passagem esta que por sua vez tem ligação com a história romana de Audrocles). E mesmo que aparentemente o quadro não tenha nada de especial, ele está cheio de incoerências, ou teasers, como prefiro chamar-lhe, embora estes são estejam acessíveis a quem conhecer a história. Para tal é preciso ter ido às aulas de catequese!. Ora vamos lá ver: foi aos 19 anos de idade que São Jerónimo se retirou para o deserto sírio a fim de meditar e se tornar ermitã. Por isso não se compreende a razão de Caravaggio pintá-lo como um velho. Em segundo lugar, a tradução da Bíblia foi posterior a esse período de recolhimento e já em Roma, logo São Jerónimo não podia estar em local tão obscuro. E mesmo que dúvidas houvesse quanto ao local, sabe-se que São Jerónimo não estava assim tão velho quando fez a tradução. O crânio ali colocado é quase uma premonição da sua morte por estar tão próximo do crânio do próprio pintor. Por fim São Jerónimo apresenta as suas vestes encarnadas (e em alguns casos o chapéu de cardeal) próprias dos doutores da Igreja, mas a verdade é que quando o quadro foi pintado, esse “cargo” ainda não existia. Algo que também é assinalável é que Caravaggio pinta São Jerónimo como um velho, quando alguns modelos anteriores o pintavam como um escolástico jovem e saudável. Caravaggio pinta-o como um velho às portas da morte, com os seus músculos fracos e a pela muito branca exposta.
Até existe uma certa relação entre o quadro de Caravaggio e a fotografia do filme de Derek Jarman. Este artista, professor, poeta e realizador costuma filmar cenas de quadros com pequenos orçamentos opondo-se assim à máquina hollywoodesca, tal como Caravaggio se opôs aos modelos da época:"

Caravaggio
St Jerome
c. 1606
Galleria Borghese, Roma


Michael Gough
St Jerome
1986

Gallery, Londres
- não vai mais vinho para essa mesa -

não quero saber, não me interessa, não me diz respeito, não chego a conclusão nenhuma, não é nada comigo, nunca vou compreender, lá-lá-lá-lá-lá-lá-lá-lá-lá-lá-lá-lá-lá-lá-lá-lá-lá-lá-lá-lá-lá-lá-lá-lá-lá-lá-lá-lá. lá.
- o carteiro -

No seguimento do “ars longa, vita brevis” de há pouco, resolvi colocar este post sobre São Jerónimo, isto porque encontrei um quadro sobre o santo que é totalmente diferente das representações que já vimos dele. Quando olhamos para o quadro o que vemos é um homem de idade a ser flagelado por dois anjos jovens e robustos de caracóis loiros. Mais acima, numa nuvem que se abre e ilumina toda a cena, Cristo, a Virgem e alguns santos a tudo assistem e como num tribunal servem de juízes da cena. A luz vertical acentua o irrealismo do quadro, pois destaca o santo da terra firme, quase como se o elevasse do chão para o fazer ascender ao céu. Neste momento o santo está como que no limbo, entre o julgamento celeste e o julgamento os castigo terrestre. Mas porque razão, que força divina – porque só poderia ser uma força divina – impele estes santos que até costumam ser papudos a bater num homem indefeso. A resposta está, mais uma vez, na frequência com que cada um de nós foi às sessões de catequese. Esta situação de São Jerónimo, entre o céu e a terra, entre dois anjos malvados e um árbitro em Cristo, só podia ser fruto da imaginação do próprio santo. Na verdade, há uma parte da vida de São Jerónimo que não é contada muitas vezes e que fala de um sonho que o santo teve. São Jerónimo em novo teve um pesadelo numa noite de febre pois o santo tinha negligenciado – a sério! – os estudos religiosos, em favor dos textos clássicos como os textos de Platão e Cícero. Não sendo isso um pecado, era motivo suficiente para o próprio santo se sentir culpado. O santo do lado direito da pintura pisa uns livros; talvez fossem esses textos de autores clássicos que como dissemos num destes dias não eram incompatíveis com o ensino de textos bíblicos. Este quadro traz qualquer coisa de novo para a história da pintura pois não é costume ver um santo ser castigado pelo seu pecado; aliás, os santos são quase seres sem mácula e os que a têm nunca a vêem retratada. Vemos santos martirizados, vemos cenas da vida de santos, mas não vemos os seus pecados, também não vemos o fruto da sua imaginação, não os vemos por dentro nem acompanhamos os seus pensamentos como num sonho. Nada disso costuma acontecer. Este significado tão ortodoxo deve muito à doutrina e directivas da Contra-Reforma quando a Igreja Católica acusada de se colocar numa posição pouco respeitável e de subverter os princípios morais que a edificaram faz em certas áreas a contrição dos seus pecados e em outras, como a arte, acentua-os. Neste caso, ao mostrar o santo fundador da palavra escrita como um mortal que sonha, cria a empatia com os restantes católicos e mostra aos protestantes ser capaz de retratar com tanta humanidade quanto eles, os aspectos menos prosaicos da vida religiosa, toda ela pouquíssimo prosaica.
- não vai mais vinho para essa mesa -

caros colegas, visitantes, voyeurs, amigos, companheiros and so on: há dias em que o Belogue está melhor e outros em que está pior. seja como for, está melhor do que a minha vida. ela posta, ele descansa.
- o carteiro -

don't call us, we'll call you
Um vídeo produzido pela Visit London, uma organização ligada ao turismo na cidade de Londres, embora não ligada ao Londres 2012, apresentou em Pequim um vídeo de promoção da cidade de Londres que chocou os presentes. Entre os convidados para esta festa estava presente o Primeiro Ministro britânico Gordon Brown e o Mayor da cidade de Londres, Boris Johnson que se mostraram muito incomodados com a escolha do retrato de Myra Hindley e do seu amante (que juntos confessaram o assassinato de 4 crianças nos anos sessenta), uma pintura da autoria de Marcus Harvey como forma de representar a arte e a cultura na cidade que vai receber os próximos Jogos Olímpicos. A ver pelas reacções de Downing Street que disse que o uso da imagem para promover a cultura da cidade é de muito mau gosto, cabeças vão rolar.

Honey, what's this, what's happening, what's wrong?
A Ca’ Rezzoncio em Veneza pediu formalmente desculpas por um guarda ter recusado a entrada de uma mulher muçilmana que ali pretendia entrar usando o véu. À senhora, que usava um niqab (véu que cobre todo o rosto e cabelo deixando apenas à mostraos olhos), foi dito que ou retirava o véu ou teria de ficar à porta por razões de segurança. O curador da Ca’ Rezzonico fez uma analogia no mínimo… parva. Disse que durante o Carnaval os visitantes não podem entrar com máscaras. Felizmente percebeu que as leis do museu têm de ter nuances.
Ouch, that hurts!
Ao que parece, e não obstante a nova tendência criada por Hirst de vender em leilão aberto ao grande público (dias 15 e 16 de Setembro na Sotheby's) obras novinhas (Hirst pode dar-se ao luxo!), a White Cube, a galeria que o representa tem na sua posse mais de 200 peças que não consegue vender. Este número inclui, entre outras, 34 pinturas de borboletas, 6 gabinetes de medicina, a vaca e cabra embalsamadas a escultura da Lolita gigante. Hirst diz que vai directamente a leilão para conseguir escoar o grande número de peças que produz, mas se as galerias continuam com ele para vender...

segunda-feira, agosto 25, 2008

- original soundtrack -


Si me quieres escribir ya sabes mi paradero.
Si me quieres escribir ya sabes mi paradero.
En el frente de Gandesa primera línea de fuego.
En el frente de Gandesa primera línea de fuego.

Si tu quieres comer bien para morir en plena forma.
Si tu quieres comer bien para morir en plena forma,
en el frente de Gandesa allí tienes una fonda.
En el frente de Gandesa allí tienes una fonda.

A la entrada de la fonda hay un moro Mohamed.
A la entrada de la fonda hay un moro Mohamed,
que te dice pasa "paisa" que quieres para comer.
Que te dice pasa "paisa" que quieres para comer.

El primer plato que dan
son granadas rompedoras.
El primer plato que dan
son granadas rompedoras,
el segundo de metralla
para recordar memoria.
El segundo de metralla
para recordar memoria.

(Si me quieres escribir)

- ars longa, vita brevis -
hipócrates
antes e depois ou quase um “carteiro”. Não foi a primeira vez que Seurat fez isto, que antes do grande quadro se tivesse desdobrado em estudos preparatórios que sozinhos também são quadros. Já nos “Banhistas em Asnières” tinha feito o mesmo, mas na Grande Jatte o que impressiona (ou o que “pontilha”… era uma piada) é a quietude. Descobrir isto, foi um grande alívio. A Grande Jatte era uma ilha, assim chamada porque tinha a forma de tigela (jatte), mas que hoje já não existe. Era, naqueles tempos, o destino domingueiro da Paris burguesa, com os seus cafés, as suas sombras, a água, os passeios de barco, etc. Se quiséssemos descrever o que vemos no quadro “depois”, seria simples: uma senhora com uma sombrinha e um macaco pela trela, um cão junto do macaco, um outro cão, preto, a farejar, um homem de barba deitado na relva, uma senhora ao seu lado que parece coser, um senhor mais à frente de chapéu alto, uma senhora que pesca, uma rapariga que arranja um ramo de flores, uma senhora com uma criança pela mão, uma menina que salta à corda, um homem que toca um instrumento musical de sopro, em pé, pessoas isoladas que olham a água e muito mais. Cada uma das pessoas que está retratada no quadro está a fazer algo, mesmo que seja olhar para a água ou para o infinito, mas nenhuma delas fala, comunica mesmo que apenas através da linguagem corporal com o outro. Aquilo que nos parece serem casais não se tocam e mesmo as pessoas que estão próximas umas das outras no espaço, não têm nenhuma interacção. Cada um existe por si só. Se Seurat tivesse tirado uma meia dúzia de personagens do quadro, ninguém daria por isso e a composição não teria um ar incompleto. Há além do mais, um grande civismo, um civismo asséptico já que para um Domingo à tarde era de esperar ver lancheiras e cestos de piquenique e mais objectos, objectos ligados ao entretenimento. Mas todas as personagens têm o seu significado. Primeiro de tudo temos de reconhecer que Seurat pintou bem esta classe média-alta parisiense, uma vez que ao retratá-la retirou-lhe tratos identificativos; generalizou em vez de particularizar. Veja-se o exemplo da senhora que pesca. Ela está sozinha e para os franceses, este capricho feminino e moderno que ironizava o acto de pescar profissionalmente, era visto como fútil. A senhora que segura o macaco pela trela, provavelmente bem casada com o senhor a seu lado, representa a mulher que graças ao casamento se salva de uma vida a servir em casas ou a servir… casados. Ela é a demi-mondaine, a nova-rica que mostra ao Domingo à tarde o seu macaquinho como hoje aos Domingos à tarde há quem goste de mostrar a tigresse ao pescoço. (ou aquelas pessoas que gostam de se passear com camaleões, por exemplo). O homem de barba, de camisola sem mangas e a fumar cachimbo contrasta com o outro que está um pouco mais ao lado, de chapéu e bengala. A rapariga que arranja flores faz o contraponto com a senhora de chapéu que traz pela trela o macaco, uma vez que tem o aspecto de criada. O único movimento é conferido pela menina que salta e que contrasta com aquela que a mãe leva pela mão, e o cão que corre. Tudo o resto é quietude. Quando o quadro foi mostrado pela primeira vez o público detestou pois a pintura ridicularizava a sociedade parisiense, mas Seraut, de apenas 25 anos estava a sete de morrer e tinha de provar a sua teoria pontilhista: que a pintura por pontos permitia obter cores mais vivas que a pintura por pincelada cheia e que cabia ao olho humano preencher os espaços vazios.

Fico sempre a pensar que o proprietário do primeiro quadro olha para ele e diz “humm… falta aqui qualquer coisa…”, mas caberá ao olho dele imaginar o resto:"

Georges Seurat
A Sunday Afternoon on the Island of La Grande Jatte
1884
Colecção Privada


Georges Seurat
A Sunday Afternoon on the Island of La Grande Jatte
1884-86
Art Institute of Chicago
- não vai mais vinho para essa mesa -
Acho que o segundo lugar, a medalha de prata, é a mais ingrata. O primeiro é aquele que ganhou a todos os da competição, o terceiro é o que ganhou a todos os ficaram atrás dele, o segundo é o que fica sempre atrás do primeiro. Não, não li “O Segredo”.
- o carteiro -

Não gosto do trabalho da Joana Vasconcelos. Já em discussões com amigos, que também torciam o nariz sem explicarem bem porquê, disse que não gostava o trabalho da artista. Terei de lhe chamar assim apesar de não gostar do que faz. Que o trabalho não era mau, que não era preciso exagerar, que ela até tinha mérito… Ora eu não concordo. O trabalho não é mau, assim como não é bom. E não é mau por ter na sua base uma explicação muito consistente, mas isso não faz com que seja bom. Não é mau por ser compreensível, mas isso não faz com que seja bom. Não é mau por criar empatia com as pessoas, por envolver comunidades, mas isso também não quer dizer que seja bom. Chamo-lhe pleonasmo artístico. Não é mais do que outros artistas já fizeram até com mais pertinência por terem que quebrar tabus que a artista em causa não teve. Lembremo-nos de Barbara Kruger que associa imagens com frases ou palavras de ordem. O pleonasmo artístico estabelece a ligação entre uma imagem e uma ideia, quer através da sua negação, quer através da sua enfatização, usando para isso a palavra ou o objecto. E podemos ter diferentes combinações disto. No caso de Kruger faz-se uso da palavra e da imagem. No caso de Guillermo Vargas fez-se uso do objecto, da palavra e da imagem e no caso de Lawrence Weiner fez-se uso do objecto e da palavra.

Há muitos anos, numa exposição sobre design sustentável no CRAT, vi exactamente aquilo que Joana Vasconcelos mais tarde se dispôs a fazer. Tratava-se de um grande saco de compras tricotado com sacos de plástico que provavelmente foram retalhados em tiras e depois unidos (não sei, imagino) de forma a criar um fio que pudesse ser tricotado. Tratava-se de aproveitar o já aproveitável. O que valia era a ideia, mas isso não faria da peça uma peça comercializável. Porque se o fizesse seria a negação do design sustentável e porque, não fazendo, o que seria mais lógico, só dava razão aos que defendem que os designers por vezes ligam os complicadores. Quem quer poupar na produção de plástico, leva sacos de compras já usados quando vai ao supermercado. E não se enganem com as teorias de alguns deles. Exemplos como o LIDL e o Minipreço são pura hipocrisia uma vez que o cliente paga o saco e com ele paga a publicidade ao próprio estabelecimento. O Pingo Doce toma a dianteira pois o saco é pago mas não há publicidade ao estabelecimento. Tudo isto para dizer que até eu ( e esta expressão já me custou muitas linhas apagadas), consigo enumerar um conjunto de obras com a assinatura Joana Vasconcelos, o que só vem provar que o pensamento acerca disso não faz uma boa obra, a execução também não, nem a junção dos dois. É necessário fazer algo que ninguém seja capaz de imaginar ou materializar. E até as deixo aqui, para quem interessar:
- a cortina de um confessionário feita com relatos de confissões de assassinos e violadores, enrolados como canudos pequeninos e enfileirados em fio transparente.
- um retrato gigantesco de Cristo Pantocrator feito com retratos pequeninos de jogadores de futebol.
- cobrir o Largo do Rato com um enorme casaco de pelo de gato
- construir grandes telhados de vidro sobre as Sés do país
- fazer uma sessão fotográfica com gestores bancários e de empresas de topo a apanhar maçãs do chão de um pomar.
- Escrever “Orgulho Hetero” em calçada Portuguesa de sete cores na entrada de uma ETAR.
(e quem não perceber, é só dizer. não sou artista, não quero apenas colocar "o público a pensar")
- não vai mais vinho para essa mesa -
Este fogo
que só com fogo
se pode apagar

(Fogo sobre fogo, Jorge de Sousa Braga)
- o carteiro -


- Viktor and Rolf na Barbican Gallery

- a moda e o desporto no Victoria and Albert Museum


- o amor na National Gallery

sexta-feira, agosto 22, 2008

- original soundtrack -


Tell her i´ll be waiting
In the usual place
With the tired and weary
There´s no escape
To need a woman
You´ve got to know
How the strong get weak
And the rich get poor
You´re running with me
Don´t touch the ground
We´re restless hearted
Not the chained and bound
The sky is burning
A sea of flame
Though your world is changing
I will be the same
The storm is breaking
Or so it seems
We´re too young to reason
Too grown up to dream
Now spring is turning
Your face to mine
I can hear your laughter
I can see your smile
No I can´t escape
I´m a slave to love


(Slave to love, Bryan Ferry)
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou "como é difícil uma pessoa não se esgotar. essa coisa do "génio" nunca me soou bem. acredito antes no trabalho, no gosto por aquilo que se faz e por alguma inspiração (que geralmente me chega no banho). Não sei quantos eram os banhos anuais do Botticelli (sabe-se que as pessoas acreditavam que quanto mais lavassem e expusessem a pele ao ar, principalmente em períodos de peste, mais possibilidades tinham de contrair doenças. os banhos, nas classes altas eram raras e nas classes baixas, talvez dois: um quando se nascia e outro quando se morria), mas é natural que o pintor por vezes se sentisse com falta de inspiração. Ou como homem pio e perseverante, temesse a fuga aos seus modelos e aos modelos tradicionais do Renascimento. Por isso e mais uma vez, na sua obra podemos encontrar a repetição da Vénus, tal e qual na mesma posição em que Botticelli retratou o seu nascimento. É natural: o modelo está muito bem conseguido e representa na perfeição os cânones de beleza do século XVI. Não sabia é que Botticelli o tinha utilizado tantas vezes. Neste post deixo-vos pois com as semelhanças formais (e não de contexto, obviamente), existente entre a Vénus de "O nascimento de Vénus" e a Verdade no quadro "A calúnia de Apeles". O quadro que apresentamos na totalidade ali em baixo, é inspirado num quadro de Apelles cuja descrição chegou até nós pelo poeta Luciano nos seus Diálogos e foi o último quadro de carácter profano de Botticelli. O original de Apeles é sobre o próprio Apeles. Conta a história de Antifilo, um artista rival de Apeles que o culpou perante Ptolomeu, rei do Egipto, de ter participado como cúmplice numa conspiração. Apeles provou ser inocente e vingou-se de certa forma de Antifilo através deste quadro. Visto que por parte de Botticelli o tema foi uma escolha e não uma encomenda, fica no ar a possibilidade de o pintor italiano ter sido alvo de algum tipo de calúnia ou boato que o tenha levado a pintar este quadro como forma de mostrar a sua indignação e protesto. O quadro mostra, da direita para a esquerda, o rei no seu trono ladeado pela Ignorância e pela Suspeita. Frente ao rei está a Inveja e um jovem, supostamente Apeles, é arrastado pela Calúnia, a Traição e o Engano. Do lado esquerdo do quadro vemos duas personagens: o Remorso, personificado pela mulher idosa que vira a sua face e olha em direcção à figura nua que é a Verdade. A Verdade, como é óbvio, está nua pois é assim que se quer a verdade e a sua personagem aponta para o céu num gesto muito religioso que se liga de imediato às mãos em prece que o jovem que está a ser arrastado apresenta. Se repararmos, Verdade e Vénus são muito semelhantes no cabelo, na forma como se tapam, na maneira como o pintor fez um pé aguentar com todo o peso de um corpo em desequilíbrio, mas é só. Porque no que ao rosto diz respeito, digamos que a Verdade fica muito a dever à Beleza.
Sandro Botticelli
The Birth of Venus (pormenor)
c. 1485
Galleria degli Uffizi, Florença



Sandro Botticelli
Calumny of Apelles (pormenor)
1494-95
Galleria degli Uffizi, Florença


Sandro Botticelli
Calumny of Apelles
1494-95
Galleria degli Uffizi, Florença
- não mais vinho para essa mesa -

é Agosto e eu não gosto.
- o carteiro -

o carteiro hoje vai deixar tanta correspondência que isto bem podia ser antes um "não vai mais vinho para essa mesa". Felizmente é só de quatro em quatro anos (encontram as imagens e algum texto na Wikipédia):

Atenas - 1896

Estes foram os primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna. Foi a cidade escolhida por unanimidade, uma vez que se os seus antecessores tinham nascido aqui, fazia sentido os Jogos Olímpicos renascerem em Atenas. Foi também no momento de escolha de Atenas como cidade anfitriã que nasceu o Comité Olímpico Internacional.

Paris - 1900

Nestes Jogos Olímpicos não houve cerimónia de abertura ou de encerramento e em vez das competições durarem os meses de Verão, decorreram de 14 de Maio a 28 de Outubro, integrados mais na Grande Exposição Universal de 1900, do que vistos como evento independente. As modalidades em competição eram 19 e os competidores cerca de 100, o que tornava a coisa muito mais baratinha. Este foi também o ano em que as mulheres puderam participar pela primeira vez, em que os atletas levantaram questões quanto a competir ao Domingo e em que algumas modalidades curiosas tiveram a sua primeira e última oportunidade de afirmação, tais como o tiro ao pavão, os dois dias de cricket e a prova de natação com obstáculos! (What the hell?!)

Saint Louis - 1904

Os Jogos Olímpicos de Saint Louis, nos Estados Unidos da América foram os primeiros em que os participantes que obtivessem o primeiro, segundo e terceiro lugar eram presenteados com medalhas de ouros, prata e bronze, respectivamente. Neste ano os Jogos foram tensos devido à guerra entre a Rússia e o Japão e a dificuldade de levar com segurança e manter por lá até ao fim dos Jogos Olímpicos, alguns atletas. Modalidades como o boxe, o decatlo e a luta-livre tiveram a sua estreia e não havia problemas nesse tempo em relação aos atletas com próteses: nesse ano o ginasta americano George Eyser ganhou seis medalhas mesmo tendo uma perna de pau. (George Eyser, a Olá chama-o).

Londres - 1908

Os Jogos Olímpicos de 1908 estiveram envoltos em controvérsia: no dia da abertura era suposto as comitivas apresentarem-se com as suas bandeiras, mas muitos decidiram não o fazer pois um dos países tinha de entrar ao abrigo da bandeira russa e não o queria fazer, a bandeira sueca não estava exposta no estádio olímpico e os membros da comitiva sueca nem sequer desfilaram e a bandeira dos Estados Unidos também não foi içada no estádio.

Estocolmo - 1912

Em 1912 e pela primeira vez os atletas que iam competir nos Jogos vieram dos cinco continentes (representação simbólica através dos cinco anéis entrelaçados), e pela primeira vez desde 1896 todas as provas se realizaram dentro de um curto período de tempo, cerca de um mês entre Junho e Julho, embora a cerimónia de abertura se realizasse muito mais cedo. Caso não saibam (eu não sabia), foi também em 1912 que foram distribuídas as últimas medalhas de ouro sólido, pois daí para a frente foram substituídas por medalhas com banho de ouro. Em 1922 as mulheres puderam competir pela primeira vez nas provas de natação e mergulho.

Antuérpia - 1920

Em 1916 os Jogos Olímpicos que deveriam realizar-se em Berlim foram cancelados devido à Primeira Guerra Mundial. O período de estabilização da paz e a conferência de Paris de 1919 vieram afectar os Jogos Olímpicos, não só relativamente à presença de novos estados (pois novas nações surgiram da guerra), mas também no que diz respeito a sanções que estiveram envolvidas na guerra (principalmente as que a perderam). A cidade que foi escolhida para ser a anfitriã destes primeiros Jogos Olímpicos pós-guerra foi Budapeste, mas como havia sido possessão do Império Austro-húngaro, os jogos foram transferidos para Antuérpia. Nações como a Hungria, a Áustria, a Alemanha, a Bulgária e a Turquia também não puderam participar nos jogos e a Alemanha não pode mesmo competir até 1952, apesar de ter entretanto criado os seus pequenos Jogos chamados Deutsche Kampfspiele.

Paris - 1924

A cerimónia de abertura destas VIII olimpíadas realizou-se no Estádio Olímpico de Colombes com capacidade para 45 mil pessoas e foram os últimos Jogos Olímpicos sob a égide de Pierre de Coubertin. Parte das competições deste ano passaram a filme em 1981. Chama-se "Chariots of Fire".

Amesterdão - 1928

Pela primeira vez na história dos Jogos Olímpicos a chama olímpica ficou acesa durante as competições, embora a ideia da tocha em si tenha sido posterior (1936). Também pela primeira vez o desfile de países começou pela Grécia e terminou com a comitiva do país anfitrião. Os Jogos foram declarados abertos por membros da realeza (pelo príncipe consorte, autorizado pela sua princesa), e desta forma os Jogos foram apresentados, pela primeira vez que um não-chefe-de-Estado abriu os Jogos Olímpicos. Isto tudo porque a princesa de recusou a abreviar as férias uma vez que não tinha sido consultada quanto à data de realização dos jogos.

Los Angeles - 1932

Durante a Grande Depressão muitos atletas e nações viram-se impossibilitados de pagar a viagem para Los Angeles: menos de metade dos atletas dos Jogos Olímpicos de Amesterdão estiveram presentes em Los Angeles. O presidente Herbert Hoover, naquela que foi a primeira vez que o governante do país anfitrião não compareceu nas cerimónias nos Jogos Olímpicos. Surgiu pela primeira vez a "vila olímpica", ocupada por atletas do sexo masculino apenas; as senhoras ficaram num hotel. Foi o ano da estreia do pódio e de Gandhi como jornalista.

Berlim - 1936

Os Jogos Olímpicos de 1936 ficaram marcados negativamente pois a Alemanha só permitiu a participação de atletas de raça ariana. A ideologia da supremacia da raça branca estendeu-se também aos turistas com palavras de ordem/avisos/ameaças "jews not wanted" espalhadas pela cidade. A ideia de limpeza étnica estava já tão presente que a polícia alemã tinha ordem para prender todos os ciganos encontrados nas ruas e que deveriam ser mantidos num local especial. O grande estaladão de luva branca dado aos alemães neste Jogos Olímpicos foi a participação de Jesse Owens (não só estaladão para os alemães como para a América segregacionista).

Londres - 1948

Em 1948 os pictogramas olímpicos foram introduzidos: havia 20 pictogramas, um para cada desporto e três pictogramas em separado para as competições artísticas, a cerimónia de abertura e a cerimónia de encerramento. Eram chamados de símbolos olímpicos e como estavam presentes nos bilhetes, distinguiam assim o bilhete e a competição em si. No entanto os pictogramas olímpicos só voltaram a aparecer 16 anos mais tarde.

Helsínquia - 1952

A chama olímpica foi acesa por dois desportistas finlandeses bastante conhecidos, nestes Jogos Olímpicos de 1952. Eram dois corredores tidos como heróis na Finlândia. Pela primeira vez a União Soviética pôde participar nos jogos e nesse mesmo ano a ex URSS ganhou uma medalha de ouro na categoria de ginástica. Israel também se estreou nos Jogos Olímpicos. Já em 1948 não tinha sido possível a Israel participar devido à guerra da independência e em 1936 a palestina tinha boicotado os jogos devido às directivas do regime nazi.
Melbourne - 1956


Em 1956 muitos membros do Comité Olímpico Internacional mostraram-se cépticos quanto à escolha de Melbourne como cidade anfitriã dos Jogos Olímpicos devido à sua localização no hemisfério Sul, o que queria dizer que os jogos iriam decorrer durante o Inverno devido à inversão das estações do ano face ao que se passa no hemisfério Norte. No entanto a hipótese de Melbourne foi a vencedora com apenas um voto de vantagem.

Roma - 1960

1960 foi o ano da afirmação africana e negra nos Jogos Olímpicos. Em Roma, e pela primeira vez um negro e africano ganhou uma competição (maratona), Muhammad Ali tornou-se medalha de ouro em boxe e a África do Sul apresentou-se pela última vez nos jogos sob regime do Apartheid. Foi autorizada a voltar apenas em 1992, já o regime tinha caído. Singapura competiu e apresentou-se pela primeira vez com bandeira própria, pois até aí competia com a bandeira inglesa. Curiosamente foi a primeira e última vez que um atleta de Singapura ganhou uma medalha olímpica.

Tóquio - 1964

Os Jogos Olímpicos de Tóquio, bem como os de Melbourne foram especiais pois em 1964 os jogos foram organizados por um país não-ocidental e talvez por causa disso, desportos como o Judo ou o Voleibol tornaram-se modalidades olímpicas.

México - 1968

Estes Jogos Olímpicos foram precedidos por um triste acontecimento: o massacre de Tlatelolco em que centenas de estudantes foram mortos pelas forças de segurança antes do dia da abertura oficial dos jogos. Não sei se por essa razão ou não, mas foram os primeiros e últimos Jogos Olímpicos realizados na América Latina. A grande novidade nestes jogos foi a introdução dos testes de doping que de facto revelaram alguma coisa (e tivessem sido feitos antes e mais revelariam!). Revelaram por exemplo que um atleta sueco de pentatlo, desclassificado por abuso (uso?) de álcool, estava alcoolizado quando foi competir. Estes foram também os jogos em que John Stephen Akhwari da Tanzânia acabou a maratona em último lugar apesar de estar com um joelho deslocado.

Munique - 1972

O mote dos Jogos Olímpicos de Munique tinham um slogan bem elucidativo da imagem que a organização pretendia dar. Estes deveriam ter sido os Happy Games, mas acabaram em tragédia. Era suposto apresentarem uma Alemanha mais optimista e pacífica após a guerra. Toda a imagem destes jogos era muito coerente e foi mesmo aqui que surgiu a primeira mascote de sempre nos olímpicos. Chamava-se Waldi. No entanto tudo isto ficou manchado pelo atentado terrorista perpetrado por um grupo palestiniano contra a comitiva israelita, do qual resultaram onze atletas israelitas mortos
Montreal - 1976

Afinal a chama olímpica já se apagou e foi durante os Jogos Olímpicos de 1976, no Canadá. Após um dia muito chuvoso a chama apagou-se e foi necessário, com toda a descontracção, o uso de um isqueiro. A organização, precavida disse não existir problema quanto à "chama verdadeira" porque havia uma "chama de recurso" (um backup). A China desistiu das competições e retirou-se depois do Comité Canadiano ter afirmado que não poderia concorrer sob a denominação "República da China" isto porque o Canadá já reconhecia e só reconhecia a denominação "República Popular da China". Foram ainda os jogos em que um atleta japonês, um ginasta japonês competiu com um joelho partido e mesmo assim ajudou a sua equipa a conseguir a medalha de ouro.
Moscovo - 1980

Para além destes Jogos Olímpicos em Moscovo terem ficado marcados pelo boicote de cerca de 12 países que já tinham boicotado os Jogos Olímpicos anteriores, estes ainda ficaram marcados pelo boicote dos Estados Unidos, ao qual se juntaram mais cerca de 60 outras nações, em protesto contra a invasão soviética no Afeganistão. Quem os viu e quem os vê!

Los Angeles - 1984
Depois dos Estados Unidos terem boicotado os Jogos Olímpicos de Moscovo, em 1984 chegou a vez dos russos e mais cerca de 24 países do bloco de leste, boicotarem os Jogos Olímpicos organizados pela América. (Cuba e Alemanha também entraram na liça). Ainda que por razões diferentes, o Irão e a Líbia também boicotaram os jogos. A China conseguiu a sua primeira medalha de ouro, Nawal El Moutawakel de Marrocos tornou-se a primeira mulher de uma nação islâmica a vencer uma prova e a China, no total ganhou 15 medalhas de ouro.

Seoul - 1988
Oficialmente a Coreia do Norte e a Coreia do Sul ainda estavam em guerra e por isso a Coreia do Norte boicotou os jogos, juntamente com Cuba, Nicarágua e Etiópia. Mesmo assim, e devido aos boicotes anteriores, em larga escala e sucessivos, todas as nações evitaram, tanto quanto podiam, recorrer a essa arma e por isso os jogos registaram nesse ano o maior número de participantes. Mais uma vez, por se tratar da Coreia ou não, não sabemos, mas o ténis de mesa torna-se desporto olímpico. Obviamente a China e a Coreia do Norte ganharam títulos nas modalidades respeitantes ao ténis de mesa.
Barcelona - 1992
No basquetebol teve início a era da Dream Team americana graças à permissão por parte do Comité de admissão de jogadores profissionais. Nestes anos a África foi autorizada a participar nos jogos depois de 28 anos de afastamento. Com a reunificação alemã, a Alemanha participou com uma única equipa, coisa que não acontecia desde 1960 e com a dissolução da União Soviética nações como a Lituânia e a Estónia puderam participar pela primeira vez desde 1936.
Atlanta - 1996

Em 1996, em Atlanta a Palestina foi autorizada a competir nos Jogos Olímpicos pela primeira vez e também em 1996 o Comité Olímpico Internacional anunciava novo recorde de nações participantes: 197 e pelo menos 70 nações ganharam, no mínimo, uma medalha.
Sydney - 2000
Novo recorde de países participantes foi batido em Sydney: 199 e curiosamente, o Afeganistão foi o único país que não teve permissão para participar graças às leis extremas que o regime Taliba tinha imposto ao país e principalmente, às mulheres. O autor do logo foi Ken Done, inspirado na arquitectura da Opera House, mas também nos bomerangs australianos, acho eu.
Atenas - 2004
Este é o cartaz de que mais gosto, mas isso agora não interessa nada. Os Jogos Olímpicos de Atenas marcam o regresso às origens, uma vez que os primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna haviam sido realizados, como vimos, em 1896 em Atenas. Todos os países que possuíam um Comité Olímpico Nacional participaram nos jogos sem restrições ou confusões. O evento foi transmitido, pela primeira vez, pela internet.

Pequim - 2008
Apesar do muito que já foi dito, e ilustrado, o logotipo dos Jogos Olímpicos de Pequim chama-se "Dancing Beijing". O que vemos a branco em fundo vermelho é a estilização do símbolo chinês para Pequim. As mascotes também foram pensadas ao pormenor: são cinco, chama-se Fuwa e cada uma representa tanto um continente quanto um símbolo da cultura chinesa. O slogan olímpico é "One World, One Dream" faz uma alusão à união em torno do desporto. São para já os jogos da polémica graças às várias acusações de desrespeito pelos direitos humanos, boicote dos sistemas de rede, restrição da acção dos media, poluição do ar, os iminentes protestos pró-Tibete, and so on...
Londres - 2012
Os próximos Jogos Olímpicos decorrerão na cidade de Londres em 2012. O logotipo, muito discutido apresenta o ano 2012 de forma muito estilizada e inclui os anéis olímpicos no local onde deveria estar o "buraco" do número zero. Esta que vemos aqui é apenas uma das várias versões que existem do logotipo, pois o mesmo existirá em várias combinações de cor