sábado, junho 30, 2007

- não vai mais vinho para essa mesa -

- vou repetir...
- diz...
- ilustrações para os modelos (falta o tronco do pinheiro e um talho), ilustrações para as fichas de actividades, mascote do projecto, cartazes, flyers e animação das competições, caderno de normas da mascote, Fundão...
- é muito para fazer, não é? se puder ajudar...
- e que tal uma massagem à omoplata direita. como incentivo...

sexta-feira, junho 29, 2007

- original soundtrack -


I dreamed of you on my farm
I dreamed of you in my arms
But dreams are always wrong
I never dreamed I'd hurt you
I never dreamed I'd lose you
In my dreams, I'm always strong
And now the creek is rising
And all my bridges burnt
I always dreamed of big crowds
Plooms of smoke and high clouds
But dreams don't last for long
I have my suspicions
When the stars are in position
All will be revealed
But I know that until then
Unless the stars surrender
All will be concealed
And now the snow is falling
And all my fences torn
I know you need someone
And I can hear someone
Somewhere in this song
I dreamed that I was walking
And the two of us were talking
Of all life's mysteries
But words that flow between friends
Winding streams, without end
I wanted you to see
But it can seem surprising
When you find yourself alone
And now the dark is rising
And a brand new moon is born
I always dreamed I'd love you
I never dreamed I'd lose you
In my dreams, I'm always strong

(The Dark is Risign, Mercury Rev)

- ars longa, vita brevis -
hipocrates

antes e depois ou “como Neraldo de la Paz e Alain Guerra se juntaram para o projecto Guerra de la Paz, que utiliza despojos urbanos para criar algumas instalações que se colam a obras do Renascimento. Não me parece que vejam a Guerra como um novo Neo-Renascimento, mas a forma como a olham principalmente nos G.I.Joes leva-nos a sorrir e concordar: “sim os actos de guerra são rituais cruéis e maquiavélicos.” As suas instalações não deixam no entanto de ser igualmente manipuladoras.

Miguel Ângelo
Pieta

1498-99
Basilica of St Peter, Vatican


Neraldo de la Paz e Alain Guerra
Pieta
- não vai mais vinho para essa mesa -


É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz

Mas acontece que eu sou triste...

(Dialética, Vinicius de Moraes)

enviado por mail

- o carteiro -

Cabeças coroadas sem coroa (um work in progress):
Ainda em estudo e com actualizações ao longo do dia, fica este post sobre as cabeças coroadas. Primeiro as nossas, salvo seja! A partir de 1640 os reis portugueses deixam de ser retratados com a coroa na cabeça. Tal mudança deveu-se à batalha travada por D. João IV pela Restauração da Independência. Este, vendo-se em apuros pediu a intervenção e mediação divina de Nossa Senhora da Conceição. Como a batalha correu de feição para a facção lusitana, o dia 1 de Dezembro foi-lhe dedicado e a coroa também. Nossa Senhora da Conceição tornou-se rainha de Portugal e por isso nenhum rei voltou a posar de coroa. Nos retratos reais a coroa repousa numa almofadinha de veludo adamascado (quero pensar que existe um tecido assim), ou num tamborete, como se esperasse a cabeça divina.

Já no caso inglês a justificação não pode ser religiosa, ou pelo meos nada faz crer que o seja. Não posso precisar o momento em que as cabeças coroadas deixaram de ser pintadas sem coroa, mas sei que Isabel II é pintada com coroa e que, pertencendo à mesma Igreja de dois monarcas cujo retrato é inequívoco - Henrique VIII e a sua filha Elizabeth I -, ou seja, a Igreja Anglicana fundada pelo próprio rei, a razão para as pinturas com a coroa ao lado dos coroados não pode ser religiosa. Primeiro, porque Henrique VIII teve no início do seu reinado boas relações com a Igreja Católica: chegou mesmo a redigir os sete passos doutrinais da Igreja católica contra Lutero, dos quais Lutero até aproveitou dois: a sagrada comunhão e a Eucaristia. Henrique VIII pretendia benesses no seu divórcio de Catarina de Aragão, ponto de honra para o Papa que não cedeu. Independentemente desse contratempo o monarca consumou o casamento com Ana Bolena (que já estava grávida da futura rainha Elizabeth I) e cortou relações com Roma em 1534, ao decretar que o rei é o chefe supremo da Igreja de Inglaterra. Aqui reside a questão: se a coroa estrategicamente colocada de lado nos retratos oficiais não se justifica com uma devoção - como no caso português - justifica-se com o quê?

Sabe-se que o momento mais alto da pintura do retrato real é o da coroação. As salas são ataviadas com elementos simbólicos (colunas, reposteiros, mobiília cuidada, uma ou outra pintura, os elementos da praxe como a coroa, o ceptro e a espada) que colocam o retrato na posição que outro local não lhe conferiria: a de poder absoluto. Nos retratos de coroação os monarcas são pintados com esses elementos, mas após isso não.

Coronation of Henry VIII and Catherine of Aragon
Cambridge University Library


Iluminura da Coroação de Henrique VIII
Public Record Office, London


Hans Holbein the Younger
Portrait of Henry VIII
1536
Madrid, the Thyseen-Bornemisza Collection

quinta-feira, junho 28, 2007

- original soundtrack -


Tarde de chuva, a península inteira a chorar
Entro numa igreja fria com um círio cintilante
Sentada, imóvel, fumando em frente ao altar
Silhueta, esboço, a esfinge de um anjo fumegante

Há em mim um profano desejo a crescer
Sinto a língua morta e o latim vai mudar
Os santos do altar devem tentar compreender
O que ela faz aqui fumando
Estará a meditar?

Ai, ui, atirem-me água benta
Ajoelho-me, benzo-me, arrependo-me, esconjuro-a
Atirem-me água fria
Por ela assalto a caixa de esmolas
Atirem-me água benta
Com ela eu desço ao inferno de Dante
Atirem-me água fria

Ai, ui, atirem-me água benta
Por parecer latina suponho que o nome dela
É Maria
É casta, eu sei, se é virgem ou não depende
Da nossa fantasia

(Vídeo Maria, GNR)
- não vai mais vinho para essa mesa -

é menina, bem sei.
- o carteiro -

algo vai mal no reino do tio Sam:

Certamente já reparou que a Pandora Radio, isto se alguma vez fez uso do serviço, deixou desde há algum tempo a esta parte de permitir o acesso a ouvintes fora dos Estados Unidos. Aqui era permitido criar uma ou mais playlists por utilizador, totalmente sem pagar nada nem sem downloads comilões de bytes. Simplesmente ouvir. Esta medida tomada pelo fundador da rádio on-line, Tim Westergren, prende-se com um decreto que a Copyright Royalty Board tomou de aumentar cerca de 300 a 1200 vezes o valor de royalties que as rádios pagavam de direitos de autor. Chama-se Internet Radio Equality Act e tem como objectivo impedir que já a 15 de Julho entre em vigor o pagamento destas taxas, que deveriam ter começado a ser cobradas a 15 de Maio.

O decreto não se limita a estabelecer uma data para iniciar o aumento das taxas, acabando mesmo por dizer que este terá efeitos retroactivos; ou seja, cada música passada numa rádio on line custaria á rádio cerca de 0,0008 dólares em 2006, 0,0011 dólares em 2007, 0,0014 dólares em 2008, 0,0018 dólares em 2009 e 0,0019 em 2010. E isto aplicar-se-ia não só às rádios que passam apenas música, como às mais generalistas com noticiários regulares e mesmo às que não passando música e só noticiários, colocam entre notícias ou entre blocos noticiários pequenos trechos musicais. É uma medida injusta não só pelo aumento escandaloso que poderá levar ao desaparecimento das rádios americanas on-line tal como as conhecemos, nem por ser com efeitos retroactivos, mas porque as rádios on-line ficam a perder face às rádios tradicionais: não é possível detectar o número de ouvintes de uma determinada música que esteja a passar numa rádio por satélite.

No passado dia 26 de Junho a América reuniu-se para fazer o dia de silêncio. (A KCRW que me alertou para o Internet Radio Equality Act, passou esse dia em debates, sem o mais leve vislumbre de música.) Aproveitam-se também os últimos dias para incentivar a alertar as pessoas a irem até ao site da SaveNetRadio e pressionarem os seus representantes no Congresso a não fazerem passar a lei. Estima-se que cerca de 49 milhões de americanos escutem rádios on-line, o que torna a medida ainda mais apetecível.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois, ou "na música, assim como na pintura":

Manet
Le Dejeuner sur L'Herbe
1863
Musee d'Orsay, Paris


Bow Wow Wow
I want Candy
1982

terça-feira, junho 26, 2007

- não vai mais vinho para essa mesa -

e ainda que viesse eu não deixaria de estar triste
- original soundtrack -



Listen to the girl
As she takes on half the world
Moving up and so alive
In her honey dripping beehive
BeehiveIts good, so good, its so good
So good

Walking back to you
Is the hardest thing that
I can do
That I can do for you
For you

Ill be your plastic toy
Ill be your plastic toy
For you

Eating up the scum
Is the hardest thing for
Me to do

Just like honey
Just like honey
Just like honey
Just like honey
Just like honey
Just like honey
(...)

(Just Like Honey, Jesus and Mary Chain)

- não vai mais vinho para essa mesa -

Salvatore stupida stupida stupida
- o carteiro -

- não vai mais vinho para esta mesa -

o que se poupa em imagem gráfica! é só juntar um bocadinho disto, com um bocadinho daquilo e já está. Experiências que se pagam e estudos também
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou "como a "Vénus" de Currin entre a senhora e a menina - afinal pelo título parece que acabou de casar, pura como dizem - tira as mãos das partes pudibundas. não ser Rapunzel também não ajuda não é, nubente?"

Botticelli
The birth of Venus
1485
Uffizi, Florence


John Currin
Honeymoon nude
1998
Tate Gallery, Londres

segunda-feira, junho 25, 2007

- original soundtrack -


da banda sonora do filme:

- não vai mais vinho para essa mesa -

no Verão o mulherio todo só fala em dietas: os bifidus activos, os light, os diet, os baixas calorias, a manteiga magra (what the hell...?), a ginástica, a água com fibras, os 0 calorias (está bem, está...). e eu com esta obrigação biológica de engordar. justamente no Verão. "It's an injustice, it is".
- o carteiro -
Goya ficou surdo, completamente surdo em 1792 logo, a percepção dos acontecimentos do 3 de Maio foi para ele diferente. Não existia a emoção dos sons como quando vemos televisão, um filme de suspense, por exemplo. Pintar esta cena deveria ter sido duplamente difícil para Goya: pelo acontecimento em si, pela brutalidade do mesmo e pela dificuldade em guardar na memória os pormenores sem o som. Goya, apesar de espanhol viu com bons olhos a entrada das tropas de Napoleão em Madrid e aliou-se a elas. Esperava que estas lhe trouxessem as reformas liberais necessárias. Mas as tropas napolenónicas comportaram-se de forma imperdoável. Goya pintou o quadro de forma curiosa e que reflecte a sua desilusão: os que já estão mortos foram retratados numa rodilha de sangue e roupa. São farrapos no chão. Os que se preparam para disparar tem o rosto tapado pelos braços e pelas armas, a camisa branca do homem que ergue os braços como um Cristo crucificado ilumina a pintura, a luz surge do chão, de uma gigantesca lanterna em forma de cubo que está mais para adereço teatral do que para instrumento portátil em execuções.

Goya
The Shootings of May Third
1808-1814
Museo del Prado, Madrid

Já a execução execução do Imperador pintada por Manet não tem a mesma força da execução pintada por Goya. Não há dimensão humana; ou melhor, há mas do ponto de vista de um burguês. O quadro de Goya é o quadro de um revolucionário. Manet perde na composição ao não colocar o Imperador mais próximo do centro da composição, mas talvez fosse essa uma das bases de sustentação da monarquia: o afastamento distintivo das pessoas, mesmo na morte. Manet também não foi fiel ao acontecimento em si: o Imperador não estava naquela posição nem trazia chapéu. Se duvidas houver quanto à pessoa ser executada em Manet, note-se que o imperador tem barba, tal como é retratado outras vezes e que as outras personagens têm tez mais escura, o que se justifica pois são ambos mexicanos. (Maximiliano proclamou-se imperador do México.) Manet não era apreciador de pintura histórica. Chegou mesmo a dizer: "The reconstruction of a historic scene. How absurd! Quelle bonne plaisanterie" e isso deve ter influenciado a execução desta obra da qual foram feitas 4 versões. Da versão de Manet, que retrata um acontecimento diferente daquele que Goya pintou, mas com igual composição, foi também feito um filme de 14 minutos.

Manet
Execution of the Emperor Maximilian

1867
Kunsthalle, Mannheim


Manet
The Execution of Emperor Maximilian
1867
Museum of Fine Arts, Boston
- não vai mais vinho para essa mesa -

Berardo “vai a Canossa”

Para quem não quer ler o artigo fica aqui o resumo
[A contenda começou quando o Imperador alemão Henrique IV fez frente ao Papa Gregório VII. Já antes, com a Controvérsia da Investidura, ficara claro que Papas e imperadores não se ecidiam sobre quem deveria fazer as nomeações: os Papas, que eram eles porque o seu poder era o poder de Deus e quem inspirava este ou aquele para ser Imperador era Deus e eles os seus representantes. Os Imperadores que não, que esta era uma decisão política. Os nobres a quem Henrique Iv tinha concedido terras e posses – ou seja, tudo – estavam contra ele. Não queriam que o Imperador tivesse ainda mais poder pois isso iria na certa prejudicá-los. O Papa Gregório começou então por excomungar Henrique IV e os príncipes à volta fizeram constar que não se relacionariam com o Imperador que não recebesse a comunhão. Henrique IV estava “entre a espada e a parede” e por isso avançou sozinho. Partiu com a rainha para Itália onde se encontrava o Papa para tentar demovê-lo pessoalmente da excomunhão. Os partidários do Papa tentaram barrar-lhe o caminho principal e por isso o desvio de Henrique IV foi maior e inóspito devido ao frio que se fazia sentir. O Papa esse estava a caminho da Alemanha para negociar com os inimigos do Imperador, mas quando soube que este vinha a caminho e pensando que seria acompanhado de um exército, refugiou-se em Canossa. A lenda diz que Henrique IV se apresentou como um pedinte. Dizem também que o Papa orgulhoso o fez esperar da parte de fora do palácio durante três dias, com os pés enfiados na neve.]
Ainda que Rui Costa não seja o Papa (dizem que há um no Norte), parece que a Luz é a Catedral, e Berardo pediu mesmo desculpa. "Hello" (Oh Meus Deus alguém avisa o senhor que não se deve falar assim!)

sábado, junho 23, 2007

- ars longa, vita brevis -
hipocrates
repito aqui o post do ano passado e não me arrependo. O poema é exímio na explicação daquilo que para nós aqui no Belogue é o São João: um lugar ao qual não se pertence, não por opção, mas uma divisão humana feita por mão divina (ou por cabeça humana), memórias mal guardadas, sempre com uma ponta de fora na gaveta onde deviam estar em hibernação, a incompreensão e consequente revolta, uma alegria pueril mas por isso mesmo ambicionada, a ingenuidade, o fogacho, mais que a fogueira, a partilha impossível comida pela saudade e pela solidão. mesmo no meio de muita gente.


Noite de S. João para além do muro do meu quintal.
Do lado de cá, eu sem noite de S. João.
Porque há S. João onde o festejam.
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem não sabe que eu existo.

(Noite de São João, Alberto Caeiro)

quinta-feira, junho 21, 2007

back off please
- original soundtrack -

já postei, mas estava ouvir, e gosto da música e o blog é meu...

I want to be a good woman
And i want for you to be a good man
And this is why i will be leaving
And this is why i can't see you no more
I will miss your heart so tender
And i will love this love forever

I don't want to be a bad woman
And i can't stand to see you be a bad man
I will miss your heart so tender
And i will love this love forever
And this is why i am leaving
And this is why i can't see you no more
This is why i am lying
When i say i don't love you no more

Cause i want to be a good woman
And i want for you to be a good man

(Good Woman, Cat Power)

- o carteiro -

Diz que é uma espécie de excomunhão garantida.
- não vai mais vinho para essa mesa -

dois “ismos” e dois “dades” preenchem-me de vez em quando, entre o abrir do Freehand e o fechar do Ilustrator, o pensamento: voyeurismo, paternalismo, curiosidade, infantilidade. Eu bem preferia que fosse o Impressionismo e o Conceptualismo, mas não.
- ars longa, vita brevis -
hipocrates

antes e depois, ou "o dedinho, senhores, o dedinho. o diabo está nos pormenores":

Sofonisba Anguissola
Asdrubale Bitten by a Crawfish
1554

Museo Nazionale di Capodimonte, Nápoles


Caravaggio
Boy Bitten by a Lizardc

1594
National Gallery, Londres
- não vai mais vinho para essa mesa -


Van Gogh
Fifteen Sunflowers in a Vase

1888
National Gallery, London

Quando a minha idade era outra que não esta o meu pai disse-me enquanto afagava o copo e fazia o vinho rodar nas paredes do mesmo até chegar ao bordo, que havia dois tipos de mulheres: "aquelas com que casamos e aquelas com que desfrutamos". Pai dixit. Estávamos nas mesas do café da terra, a ver as mulheres que saiam da missa entre a responsabilidade do véu negro e a vaidade de tirá-lo. Na minha opinião de recém iniciado no mundo tumescente dos prazeres carnais na Gaiola Dourada, casa de umas amigas assim apelidada porque dentro dela estavam as passarinhas, a coisa não devia ser bem assim. As passarinhas faziam-se rodear de muitos pavões e de vez em quando, um milhafre que levava a poupança de uma, as lágrimas da outra, o que restava do coração de uma terceira. Como qualquer ave, as passarinhas assim criadas em cativeiro eram para "papar", servidas na mesa já trinchadas, as mais velhas e mais rijas, ou numa canjinha, no caso das mais novas.

Um dia, quando a minha mãe (criatura enfezada mas uma santa) saiu para a missa sem o véu porque era igualmente avançada, vaidosa e seguia as modas, o meu pai recebeu uma visita. Foi ele quem abriu a porta. Não a vi entrar, mas segui o som da conversa e fui parar à cozinha velha. Mal dava para vê-los pois os anos e anos que o forno a lenha cuspiu fumo preto para o espaço exíguo e com uma abertura minimal no tecto, tinham feito os seus estragos. No entanto consegui ver a mulher de quem se podia desfrutar. Não era muito diferente da minha mãe na compleição. Igualmente magra, nem bonita nem feia. Poderia passar por mulher para casar. Mas vista com mais atenção, havia nela um ar de predador, uma característica muito dissimulada pelos olhos fleumáticos. Um cheiro de quem não tinha nada a perder, uma postura involuntariamente provocadora, um jogo de palavras intrincado. Disse ela:
- Tens de ter cuidado, foi só para te dizer isto que vim aqui. Vai ao médico e tem cuidado.
- Sua rameira! Quer dizer, dormes comigo que desde sempre fui limpinho, esterilizado até, e não apanhas nada. E como se eu não te bastasse, dormes com outros. Com esses, esses, boémios...
- É esse o maior insulto que consegues fazer? Caramba, perto de ti Jesus precisa de lavar a boca.
- Não te chegava o que tínhamos?
- E a ti, não chegava o que tinhas?
- Mau, mas estamos a falar de quem? Quem é que traiu quem?
- Não há traições nenhumas. Ninguém "se pertence".
- Mas tu bem querias... Pôr-me uma coleirinha, levar-me para casa. Eu já tenho mulher.
- Por acaso não se diz coleirinha, mas antes anilha. E sim, eu bem queria. Não isso, mas outras coisas. As boas e as más. E tu não querias. Só te vim avisar. Não pegues isso à tua mulher.
- Não fales da minha mulher.
- Como querias. Não pegues isso à senhora com quem te deitas quando não te deitas comigo. Adeus.
Virou costas, passou rente ao meu pai que ainda ficou com o nariz espetado a seguir-lhe o cheiro e passou por mim. O meu pai saiu em seguida da cozinha e caminhou para fora da casa na direcção oposta. Ia para o campo. Tinha de dizer alguma coisa à mulher, mas foi ela que me disse quando estava a fechar a porta da rua:
- És o filho dele?
Fiz que sim com a cabeça.
- És parecido. Concordas?
- Dizem que sou mais parecido com a minha mãe.
- Talvez.
- É verdade aquilo?
- O quê?
- O meu pai diz que há dois tipos de mulher, aquelas com que casamos e aquelas de que desfrutamos. Eu só conhecia a minha mãe...
- Percebo. Eu sou a segunda parte do raciocínio do teu pai.
Fiz novamente que sim com a cabeça.
- Às vezes a vida mistura as coisas um bocadinho para isto não ser tão monótono.

quarta-feira, junho 20, 2007

- o carteiro -

o desenho da Daphia está quase, dos desenhos das actividades económicas faltam 5 e 3 caules ainda por fazer. o trabalho a mais potencia o sono e os maus posts. quer dizer, não é uma regra (dura lex, sed lex), mas si non é vero, é bene trovatto.
- original soundtrack -



It don't matter, when you turn
Gonna Survive, you live and learn
I've been thinking about you, baby

By the light of dawn,
A midnight blue ... day and night ... I've been missing you.
I've been thinking about you, baby.
Almost makes me crazy,
Come and live with me.

Either way, Win or Lose,
When you're born into trouble,
You live the blues,
I've been thinking about you, baby.
See it almost makes me crazy

Times, Nothing's right, if you ain't here
I'll give all that I have, just to keep you near
I wrote you a letter, I tried to, make it clear
You just don't believe that i'm sincere
I've been thinking about you, baby.

Plans and schemes, hopes and fears
Dreams that deny, for all these years
I, I've been thinking about you, baby
Living with me, wow

I've been thinking about you, baby
Makes me wanna [hoooo, hoooo,hoooo,hoooo]
Yeah, yeah, yeah

Times, Nothing's right, if you ain't here
I'll give all that I have, just to keep you near
I wrote you a letter, darling, tried to make it clear,
But you just don't believe that I'm sincere

I've been thinking about you, baby
I want you to live with me, wow
I've been thinking about you, baby
I want you to live with me

(Live with Me, Massive Attack)

- não vai mais vinho para essa mesa -

lembrarem-se de nós não é a mesma coisa que pensarem em nós.
- o carteiro -

Zwartboek
O filme de Paul Verhoeven "O Livro Negro" que já há muito estreou em Portugal recebeu do Festival de Veneza as melhores referências, e dos críticos as mais estranhas: que o filme era uma mistura do corpo morto com o corpo vivo, o eros e o tanatos, um abuso de sexo e violência e quase uma heresia por a personagem da actriz principal se chamar Rachel; ou seja, mãe de Israel. A personagem socorre-se dos seus atributos físicos para escapar sempre com vida das situações mais improváveis.
É uma história sobre a Segunda Guerra Mundial, mas não é a Segunda Guerra Mundial de Spielberg, nem de Roberto Benigni, nem de Oliver Hirschbiegel. Não é a história dos judeus pobres que morreram no Holocausto, nem a história dos judeus pobres que encararam com humor o Holocausto, nem a história dos últimos dias do humano ditador. Só a dimensão humana que Hitler possuia pode legitimar a nossa intolerância perante a ideologia nazi. A tolerância não pode ser conivente com os aspectos mais simpáticos da intolerância. É uma história hollywoodesca, uma vez que há um certo glamour próprio do tema, mas também porque a jovem e bonita Rachel nunca é apanhada, nunca é ferida, nunca desconfiam dela. É fantasista a forma como só a rapariga sai viva do barco de judeus ricos, como consegue sair do rio, como é aceite numa comunidade desconfiada, como o jogo se inverte sempre em momentos periclitantes, enfim, como há sempre uma saída para ela. Talvez seja por Rachel ser mulher e a fotografia que ilustra este post é bem exemplificativa: sem medo quase nenhum enfrenta os inimigos tendo como única arma o corpo. Poderia até ser pornográfico, um exagero, uma mistura de sexo e morte sem sentido, mas Verhoeven incluiu no filme outro elemento: o sentimento. E a vulgar judia que aparentemente dormiria com a armada espanhola se isso lhe salvasse o lindo rosto, dá lugar a uma mulher muito mais completa. Muito bem conseguida a cena no quarto do oficial nazi em que descoberta e quando inquirida sobre se era judia, Rachel diz já despida levando as mãios do oficial ao seu peito: "este peito parece-lhe o peito de uma judia?". E por aí em diante com o resto do corpo. Não é uma pergunta, é uma confirmação: ela seria menos mulher, menos desejável se fosse judia? Houve nesta cena uma aproximação ao que escreveu Shakespeare no livro "O mercador de Veneza", que também aborda o anti semitismo e a carne humana como moeda de troca. É também a história de uma guerra em que a fronteira entre o lado dos bons e o lado dos maus ficou mais difusa. A viragem do jogo, a mudança do vento tanto joga a favor de Rachel como dos nazis e no fim de contas, o que era ela senão uma pessoa, nazi ou não, que queria sobreviver, e aproveitar enquanto tal fosse possível. Na guerra, como no amor, vale tudo.
- ars longa, vita brevis -
hipocrates

antes e depois, ou "mesmo que aqui digam que Bill Viola foi buscar inspiração a Antonio de Pereda e aqui, que a foi buscar a Guillaume-Benjamin Duchenne de Boulogne, para mim foi mesmo a Le Brun". Digam que estou "a subir acima da chinela", mas uma opinião é uma opinião é uma opinião (onde é que já ouvi uma coisa parecida?):

Charles Le Brun
Expressions of the Spirit´s Passions
1663


Bill Viola
Six heads
2000

terça-feira, junho 19, 2007

- não vai mais vinho para essa mesa -

a pedido de inúmeras famílias, volta a estar:

(...)
Triste é comprar castanhas depois da tourada
entre o fumo e o domingo na tarde de novembro
e ter como futuro o asfalto e muita gente
e atrás a vida sem nenhuma infância
revendo tudo isto algum tempo depois
A tarde morre pelos dias fora
É muito triste andar por entre Deus ausente
(...)

(A Mão no Arado, Ruy Belo)

segunda-feira, junho 18, 2007

- não vai mais vinho para essa mesa -

pelo menos até Dezembro. Dizem que gostam.
- original soundtrack -

When Israel was in Egypts land
Let my people go

Opressed so hard they could not stand
Let my people go, The Lord said

Go down, Moses
'way from Egypts land
Tell all the Pharaos
To let my people go.

Thus sayeth the Lord, bold Moses said
If not I'll smite, your firstborn's dead

So let us all from bondage flee
So let us all in God be free

(Go Down Moses, Louis Armstrong)


- não vai mais vinho para essa mesa -
estava aqui um poema, mas agora já não está
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois, como se pode ver:

Hans Holbein
The Body of the Dead Christ in the Tomb
1521

Kunstmuseum, Öffentliche Kunstsammlung, Basle


David Trullo
Yacente
- o carteiro -
“Trocas e baldrocas, altas engenhocas que eles sabem inventar…”*

O caso Sindika Dokolo (talvez não seja um caso para uns, mas para mim é) tem uma vida inversamente proporcional à dos recursos naturais: é inesgotável. Quando esperávamos aqui no Belogue notícias da Bienal de Veneza e do desempenho de Angola enquanto país convidado, deparámo-nos com esta notícia. Até aqui nada faria ligar a colecção Sindika Dokolo a esta exposição em Londres dedicada às pinturas populares do Congo. Não fosse um facto pertinente relatado aqui: o pai de Sindika Dokolo de seu nome Augustin Dokolo lesou o Estado congolês com o Banco de Kinshasa do qual foi fundador. Mas também tem uma colecção de arte, gosto esse que passou para o filho, como podemos ler neste site. (No artigo é dito que o nome do pai de Sindika Dokolo é Augustin Dokolo) e no link que nos leva até à Formiga Bargante está escrito que o pai do coleccionador é Sanu Dokolo, mas trata-se, como se pode ver pela biografia, da mesma pessoa). Também podemos ler que o primeiro quadro foi adquirido por Sindika Dokolo aos 15 anos e que se tratava de uma obra do seu primo Chéri Samba. Ora este nome leva-nos de novo à notícia da Tate que fala dele relativamente à fundação da School of Popular Painting’ que juntamente com outros 4 artistas, desenvolveu trabalho sempre em África. É sobre eles e o que fazem que recai a tenção da exposição que (falha nossa) teve início em 24 de Março e por lá vai ficar até Março de 2008. Dos restantes 4 artistas, um é irmão de Chéri Samba. Trata-se de Cheik Ledy . Dos 3 que sobram, Moke está representado na colecção Sindika Dokolo, Chéri Chérin também e Bodo também. Basta ver no site da Colecção Sindika Dokolo.
Nenhum deles foi levado a Veneza e a Tate diz no comunicado que as obras destes artistas são provenientes da Contemporary African Art Collection (CAAC), fundada por Jean Pigozzi e tendo como curador André Magnin. No site da colecção Sindika Dokolo, há uma menção breve a Jean Pigozzi e as semelhanças acabam aqui a promiscuidade porém está à vista.

sábado, junho 16, 2007

- não vai mais vinho para essa mesa -

ai vai sim senhor!
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

hoje sem molho e quase no fim, os truísmos da Jenny:
- when something terrible happens people wake up
- wishing things away is not effective
- with perseverance you can discover any truth
- words tend to be inadequate
- worrying can help you prepare
- you are a victim of the rules you live by
- you are guileless in your dreams
- you are responsible for constituting the meaning of things
- you are the past present and future
- you can live on through your descendants

sexta-feira, junho 15, 2007

- original soundtrack -
gostamos da senhora:
I want you the right way
I want you, but I want you to want me too,
Want you to want me baby
Just like I want you

I'll give you all the love I want in return
But half a love is all I feel, sweet darling
It's too bad, it's just too sad
You don't want me no more
But I'm gonna change your mind
Some way, somehow

One way love is just a fantasy
To share is precious, pure and fair
Don't play with something you should cherish for life
Oh baby, don't you wanna care?
Ain't it lonely out there?

I want you the right way
I want you, but I want you to want me too,
Want me baby, just like I want you.

I want you, the right way
Want me baby
Don't play with something you should cherish for life.

(I want you, Madonna+Massive Attack)
- não vai mais vinho para essa mesa -

Perdeu-se peso. Pede-se a quem o encontrar, o favor de devolvê-lo. Obrigado.
- o carteiro -

Façam as vossas apostas!
Veja-se como o tema do jogo, neste caso, da batotice, foi tratado por diferentes artistas. Não é um post exaustivo mas mostra três momentos em que o convívio social associado ao jogo. Em todos os casos que não seja de estranhar a presença de senhoras na sala e a participação no jogo. Era comum as senhoras jogarem, cantarem ou tocarem um instrumento musical para entreter os convivas durante o serão. No primeiro uma observação mais ou menos atenta mostra-nos que se trata de uma casa da classe média (devido à natureza morta composta pela pêra, as flores e o queijo ao espaço não ter ostentação), que o jogo decorre durante a noite. A senhora da esquerda deve ser a tesoureira e uma vez que há dinheiro na mesa, haverá batota. No centro uma figura feminina sobre a qual recaem as atenções: a cabeça parece menor que o corpo, está envolta em trajes elaborados o que pode servir para chamar a atenção para as suas mãos que estão em posição para fazer a aposta. O homem de laranja pede opinião à senhora que lhe coloca a mão no ombro, a figura de vermelho “está em pulgas” para apostar: mostra o às de espadas, o que, seja qual for o jogo, é sempre um bom indício. O local é claustrofóbico e a forma como os intervenientes estão colocados no quadro deixa no ar alguma tensão: a composição não respira, parece que vai rebentar, que há uma tensão a latejar.

Lucas van Leyden
The Card Players
1550-59
National Gallery of Art

Nesta pintura de Caravaggio, embora o espaço não seja pormenorizado, há pelo menos dois elementos eu nos podem indicar estarmos num local de jogo e não na casa de alguém: a toalha é talvez adamascada e em cima da mesa está uma caixa com o que parece ser um jogo de dados. O único enganado é o rapaz de preto, da esquerda, que medita na jogada a fazer. Os outros esperam, embora ele só esteja a jogar com um deles. O terceiro elemento do jogo, o “emplastro” é quem lhe espreita por cima do ombro e faz sinal com os dedos para o outro jogador. Esse por sua vez tem a mão direita a trás das costas para puxar de uma carta que não sendo o Às, lhe poderá dar a vitória. O mais engraçado é que o sempre subversivo Caravaggio colocou essa personagem em primeiro plano e o acto de fazer batota, o mais próximo dos nossos narizes, sendo por consequência, o mais afastado dos outros jogadores. Mais uma vez, a composição é fechada e o espaço enigmático.

Caravaggio
The Cardsharpsc

1596
Kimbell Art Museum, Forth Worth

A composição de Georges de La Tour é claramente inspirada em Caravaggio. O périplo do olhar começa em nós: o nosso olhar dirige-se ao batoteiro da esquerda que também nos olha pelo canto do olho como se fossemos cúmplices dele no acto pérfido de retirar o às de Ouros do cinto do casaco. A senhora de pé tem consigo a natureza morta que enquadra a cena típica quase de uma peça de teatro (apesar de nesta fase de La Tour ter descoberto a luz, o fundo continua a ser negro, como se de um cenário se tratasse). Nas mãos tem o copo de vinho e a garrafa. O olhar dela, o bico do olho, dirige-se para o batoteiro. A sua senhora, espera o copo e a jogada do batoteiro e sabemos por ela que estamos perante um grupo jogadores sem aflições económicas. Pelo menos ela que tem o traje elabora, está ornada de jóias, tem o peito bastante descoberto e alvo e quase fuzila com os olhos a criada. Presume-se que não seja só o atraso da bebida, mas a desconfiança de algo. O terceiro jogador confirma a condição social da senhora do centro. Ataviado, coloco as minhas dúvidas se é um “ele” ou uma “ela”. Seja como for é o único que tem os olhos postos nas cartas. Mais uma vez a composição é fechada e tensa; a linha das cabeças dos jogadores mais ou menos todas à mesma altura pressupõem uma falsa tranquilidade.

Georges de La tour
Cheater with the Ace of Diamond
1635

Musée du Louvre, Paris
- não vais mais vinho para essa mesa -

desta vez, um "antes e depois" sobre monogramas. É sabido que o desenho do monograma Louis Vuitton foi buscar inspiração aos monogramas japoneses da época vitoriana. Nunca tinha era encontrado uma prova tão concreta. Este post está bom é para a contrafacção. Não é um "ars longa, vita brevis", mas quase.

Espelho em laca com suporte
Japão, século XIX
(retirado da revista L+Arte de Junho)


Carteira e monograma (pormenor) Louis Vuitton

quarta-feira, junho 13, 2007

- original soundtrack -



- não vai mais vinho para essa mesa -

13 de Junho de 1888

Acordo de noite subitamente.
E o meu relógio ocupa a noite toda.
Não sinto a Natureza lá fora,
O meu quarto é uma coisa escura com paredes vagamente brancas.
Lá fora há um sossego como se nada existisse.
Só o relógio prossegue o seu ruído.
E esta pequena coisa de engrenagens que está em cima da minha mesa
Abafa toda a existência da terra e do céu...
Quase que me perco a pensar o que isto significa,
Mas estaco, e sinto-me sorrir na noite com os cantos da boca,
Porque a única coisa que o meu relógio simboliza ou significa
É a curiosa sensação de encher a noite enorme
Com a sua pequenez...

(Acordo de noite subitamente, Alberto Caeiro)
- o carteiro -

Depois disto houve mais desenvolvimentos no caso Sindika Dokolo e a sua colecção privada de arte que é a única da Bienal de Veneza a representar o país convidado; ou seja, Angola. Compreende-se que a comunicação social tenha orientado atenções na arte em si, mas o caso não devia ser esquecido pelos media.

Um dos artistas incluídos na “Check List” (lista de artistas participantes na bienal e que figuram na colecção de Sindika), de seu nome Barthelemy Toguo desistiu. A colecção privada de Sindika Dokolo foi inteiramente comprada à viúva do coleccionador alemão Hans Bogatzke. Mais de 500 peças compradas a outro coleccionador é um facto que merecia ser referenciado. Porém, não foi, sendo apenas do conhecimento público devido a este site, mas não no site da Bienal. Da Bienal, o director artístico Robert Storr diz que a organização desconhecia o passado de Sindika, a forma como este adquiriu a colecção e os negócios paralelos que tanto ele como a sua família mantêm.

A escolha de Angola foi muito discutida, pois a proposta recebida deste país era detalhada mas não referia que se basearia totalmente na colecção de Sindika Dokolo. Os votos foram dados com a consciência por parte do júri que o facto de se tratar de uma colecção privada (que podia beneficiar este ou aquele artista) tinha de ser bem ponderado.

Sindika Dokolo não revela os princípios orientadores da sua colecção, a Bienal não permite que comissários angolanos dêem entrevistas e Dokolo responde da seguinte forma:
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
Alguém se lembra da música "Upside down" da Diana Ross. Então vejam lá se não tenho razão:

Upside down
Boy, you turn me...

Loja Viktor and Rolf de Milão

Inside out...

Rachel Whiteread
Untitled (Pink Torso)

1991

And round and round

Picasso
Girl with a Mandolin

1910
The Museum of Modern Art, New York

terça-feira, junho 12, 2007

- original soundtrack -


From a late night train
Reflected in the water
When all the rainy pavement
Lead to you
It's over now
I know it's over
But I can't let go

The cigarettes, the magazines
All stacked up in the rain
There doesn't seem to be a funny side
It's over now
I know it's over
But I can't let go

From a late night train
The little towns go rolling by
And people in the station
Going home
It's over now
I know it's over
But I love you so

(From a late night train, The Blue Nile*)
*Ouçam mesmo
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
assim mesmo, sem mais explicações, sem alusões a símbolos maçónicos nem alquímicos, sem falar do cão novamente (para breve um post sobre cães), sem falar nos sólidos pitagóricos nem em Jâmblico de Calcídica, nem em Parménides, nem na definição de Ser, nem em Santo Agostinho e a ordem celestial a partir das notas musicais, nem em Serlio, nem em Palladio. nada, nada, nada

Albrecht Dürer
Melancolia I
1514
- não vai mais vinho para essa mesa -

pouca palavra. fica para amanhã

segunda-feira, junho 11, 2007

- original soundtrack -

o meu primeiro disco:

If the sun refused to shine, I would still be loving you.
When mountains crumble to the sea, there will still be you and me.

Kind woman, I give you my all, Kind woman, nothing more.
Little drops of rain whisper of the pain, tears of loves lost in the days gone by.
My love is strong, with you there is no wrong,
together we shall go until we die. My, my, my.
An inspiration is what you are to me, inspiration, look... see.

And so today, my world it smiles, your hand in mine, we walk the miles,
Thanks to you it will be done, for you to me are the only one.
Happiness, no more be sad, happiness....I'm glad.
If the sun refused to shine, I would still be loving you.

When mountains crumble to the sea, there will still be you and me.

(Thank you, Led Zeppelin)


- não vai mais vinho para essa mesa -

lençóis brancos em cama XL, camisola preta L em corpo XS. uma saudade XXL.
- o carteiro -

os grandes educadores:

Vi e li esta semana na revista única do Jornal Expresso a “reportagem” da blogger que também dá nome ao blog, Miss Pearls, sobre a edição de 2007 das 40h de Serralves em Festa. O que me chamou a atenção foi, não a escrita nem o facto de ter sido pedido a um blogger que relatasse o que viu, mas uma certa, como hei-de dizer, condescendência, um certo paternalismo sulista e elitista (sim, leram bem) que o Expresso nos impingiu. Quando falo de proteccionismo bacoco, falo de duas coisas: o facto de o Expresso não ter pedido a um blogger que fizesse a cobertura da Exposição de Amadeu de Sousa Cardoso na Gulbenkian ou da Festa da Música no CCB, e do facto de o critério de explanação de este ou aquele acontecimento dentro das 40h de festa se basear não na sua importância, mas na bizarria que este constituía para quem observava. E neste capítulo culpas têm de ser imputadas ao jornal em si. O que interessa a mim enquanto leitor, saber que no Norte os "bs" e os "vs" não são trocados em nomes próprios (Diz-se Vasco, mas não se diz vaca), no contexto de uma reportagem sobre uma festa numa Fundação? Penso que a cobertura ainda que superficial devia visar o que aconteceu no espaço e não limitar-se a debitar os nomes dos intervenientes que facilmente poderiam ter sido retirados do programa. Quando em Janeiro passado a exposição de Amadeu de Souza-Cardoso assistiu aos seus últimos dias, o Público fez cobertura irrepreensível (o que é compreensível) do fenómeno. Sem grandes reflexões sempre se foi adiantando que a arte estava a ter aquele efeito nas pessoas. Seria? Lá dentro, José Manuel Fernandes fazia a comparação com o Porto e com a esterilidade cultural nortenha. É claro que a edilidade não ajuda e que a ideia de cultura de camioneta quase generalizada também não é favorável. Porém, há ainda gente no Porto que consegue contrariar essa tendência, como se consegue ver na animação nocturna que foi devolvida à zona dos Clérigos e da Rua Passos Manuel. Enumerem-se alguns casos para que não restem dúvidas: o Pitch, o Plano B, o Passos Manuel, os Maus Hábitos, o Piolho, o Lusitano, e mais não sei. Ainda não foi possível reabilitar Santa Catarina nem a 31 de Janeiro e talvez já não venha a ser, mas o fim da noite portuense não morreu quando se desvaneceu a febre pela Ribeira. E isso não é uma bizarria passível de tratamento eugénico.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
antes e depois ou "mesmo que para vocês não seja, para mim é":

Gustav Klimt
Pallas Athene
1898
Historisches Museum der Stadt Wien, Viena


Richard Burbridge
- não vai mais vinho para essa mesa -

Jumbo, Hiper de estimação


É fácil, é como encontrar-o-CD-da-banda-sonorona-do-filme-“The Proposition”-a-cinco-euros, na tromba de um elefante.

sábado, junho 09, 2007

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

aos fins-de-semana; ouvir o relato do jogo, ir molhar os pés à praia, fazer pastéis de bacalhau para a semana, rezar para que o Senhor nos proteja e nos dê saúde da boa, ir ao hipermercado comprar nada e ler os truísmos da Jenny:

- to volunteer is reactionary
- torture is barbaric
- trading a life for a life is fair enough
- true freedom is frightful
- unique things must be the most valuable
- unquestioning love demonstrates largesse of spirit
- using force to stop force is absurd
- violence is permissible even desirable occasionally
- war is a purification rite
- we must make sacrifices to maintain our quality of life

sexta-feira, junho 08, 2007

- original soundtrack -

"o que faz falta é animar a malta...":

Istanbul was Constantinople
Now it's Istanbul, not Constantinople
Been a long time gone, Constantinople
Now it's Turkish delight on a moonlit night

Every gal in Constantinople
Lives in Istanbul, not Constantinople
So if you've a date in Constantinople
She'll be waiting in Istanbul

Even old New York was once New Amsterdam
Why they changed it I can't say
People just liked it better that way

So take me back to Constantinople
No, you can't go back to Constantinople
Been a long time gone, Constantinople
Why did Constantinople get the works?
That's nobody's business but the Turks

(Istanbul, They Might Be Giants)

- não vai mais vinho para essa mesa -

- Desculpe, podia dizer-me se a A.A.A. é aqui?
- A A.A.A.?
- A Associação de A********** de A*****
- Não sei bem. Mas o que é que a menina quer de lá. Já é muito tarde.
- Bom, não é assim tão tarde. Vinha ver a projecção de um filme…
- Um filme? Qual?
[a desconfiar]
- Um filme que se chama o “Meu Tio” do Jac…
- O seu tio? Combinou com o seu tio aqui? A esta hora?
[a perder a paciência]
- Não. O filme é que se chama “Meu tio”. Foi realizado pelo Jacques Tati.
- Taiti?
- Tati.
- Não conheço esse senhor.
- Foi um realizador francês.
- Francês? Veio ver um filme francês a esta hora? Que estranho… Venha comigo.
[a ter a certeza que a escolha do meu informador tinha sido um erro]
- Por onde?
- Eu tenho uma reunião ali em cima…
[a ironizar]
- A esta hora?
- Sabe, é que eu sou presidente da ********.
- Está bem. E está alguém lá em cima?
- Sim, eles devem saber.
[a esperar]

- Não, nunca ouvimos falar. A A.A.A.?
- Sim, Associação de A********** de A*****.
- Nunca ouvimos falar… Mas peça informações aqui em frente, na Câmara.
[a deseperar]
- A esta hora.
- Ou então no teatro… Ou então, espere aí que nós vamos ver no mapa…
- Obrigado pela ajuda. Deve ser por aqui e eu não vi bem. Aliás, o filme já deve ter começado. Obrigado pela ajuda e boa noite
[contornei o edifício. Era no lado diametralmente oposto e não estava ninguém.]
- Bem, lá terei de comprar um tio em DVD.
- não vai mais vinho para essa mesa -

não volto lá.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
antes e depois:

Henri Matisse
Dance (I)
1909

MOMA, Nova Iorque


Leonard Nimoy
Matisse Dancers

2005

quarta-feira, junho 06, 2007

- original soundtrack -


If I ventured in the slipstream
Between the viaducts of your dream
Where immobile steel rims crack
And the ditch in the back roads stop
Could you find me? Would you kiss-a my eyes? To lay me down
In silence easy
To be born again
To be born again
From the far side of the ocean
If I put the wheels in motion
And I stand with my arms behind me
And I’m pushin’ on the door
Could you find me? Would you kiss-a my eyes? To lay me down
In silence easy
To be born again
To be born again
(...)

(Astral Weeks, Van Morrison)
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

não tenho bem a certeza se isto é um antes e depois. e o que me levanta dúvidas não é a ausência do animal, nem do colar nem da touca que distinguem as personagens retratadas e que as colocam em castas diferentes. Mas em Hodgson parece que é comum pegar em obras específicas e dar-lhes o tom da actualidade. seja pois um antes e depois (quem rima sem querer é amado sem saber) (outra vez?):

Leonardo da Vinci
Lady with an Ermine
1483-1490
Czartoryski Museum, Cracóvia


Paul Hodgson
New Land
2003