- o carteiro -
Cabeças coroadas sem coroa (um work in progress):
Ainda em estudo e com actualizações ao longo do dia, fica este post sobre as cabeças coroadas. Primeiro as nossas, salvo seja! A partir de 1640 os reis portugueses deixam de ser retratados com a coroa na cabeça. Tal mudança deveu-se à batalha travada por D. João IV pela Restauração da Independência. Este, vendo-se em apuros pediu a intervenção e mediação divina de Nossa Senhora da Conceição. Como a batalha correu de feição para a facção lusitana, o dia 1 de Dezembro foi-lhe dedicado e a coroa também. Nossa Senhora da Conceição tornou-se rainha de Portugal e por isso nenhum rei voltou a posar de coroa. Nos retratos reais a coroa repousa numa almofadinha de veludo adamascado (quero pensar que existe um tecido assim), ou num tamborete, como se esperasse a cabeça divina.
Ainda em estudo e com actualizações ao longo do dia, fica este post sobre as cabeças coroadas. Primeiro as nossas, salvo seja! A partir de 1640 os reis portugueses deixam de ser retratados com a coroa na cabeça. Tal mudança deveu-se à batalha travada por D. João IV pela Restauração da Independência. Este, vendo-se em apuros pediu a intervenção e mediação divina de Nossa Senhora da Conceição. Como a batalha correu de feição para a facção lusitana, o dia 1 de Dezembro foi-lhe dedicado e a coroa também. Nossa Senhora da Conceição tornou-se rainha de Portugal e por isso nenhum rei voltou a posar de coroa. Nos retratos reais a coroa repousa numa almofadinha de veludo adamascado (quero pensar que existe um tecido assim), ou num tamborete, como se esperasse a cabeça divina.
Já no caso inglês a justificação não pode ser religiosa, ou pelo meos nada faz crer que o seja. Não posso precisar o momento em que as cabeças coroadas deixaram de ser pintadas sem coroa, mas sei que Isabel II é pintada com coroa e que, pertencendo à mesma Igreja de dois monarcas cujo retrato é inequívoco - Henrique VIII e a sua filha Elizabeth I -, ou seja, a Igreja Anglicana fundada pelo próprio rei, a razão para as pinturas com a coroa ao lado dos coroados não pode ser religiosa. Primeiro, porque Henrique VIII teve no início do seu reinado boas relações com a Igreja Católica: chegou mesmo a redigir os sete passos doutrinais da Igreja católica contra Lutero, dos quais Lutero até aproveitou dois: a sagrada comunhão e a Eucaristia. Henrique VIII pretendia benesses no seu divórcio de Catarina de Aragão, ponto de honra para o Papa que não cedeu. Independentemente desse contratempo o monarca consumou o casamento com Ana Bolena (que já estava grávida da futura rainha Elizabeth I) e cortou relações com Roma em 1534, ao decretar que o rei é o chefe supremo da Igreja de Inglaterra. Aqui reside a questão: se a coroa estrategicamente colocada de lado nos retratos oficiais não se justifica com uma devoção - como no caso português - justifica-se com o quê?
Sabe-se que o momento mais alto da pintura do retrato real é o da coroação. As salas são ataviadas com elementos simbólicos (colunas, reposteiros, mobiília cuidada, uma ou outra pintura, os elementos da praxe como a coroa, o ceptro e a espada) que colocam o retrato na posição que outro local não lhe conferiria: a de poder absoluto. Nos retratos de coroação os monarcas são pintados com esses elementos, mas após isso não.
Coronation of Henry VIII and Catherine of Aragon
Cambridge University Library
Iluminura da Coroação de Henrique VIII
Public Record Office, London
Hans Holbein the Younger
Portrait of Henry VIII
1536
Madrid, the Thyseen-Bornemisza Collection
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