sexta-feira, novembro 30, 2007
caramba que esta é de punhal já no ventrículo:
Porque cada manhã me traz
O mesmo sol sem resplendor
E o dia é só um dia a mais
E a noite é sempre a mesma dor
Porque o céu perdeu a cor
E agora em cinzas se desfaz
Porque eu já não posso mais
Sofrer a mágoa que sofri
Porque tudo que eu quero é paz
E a paz só pode vir de ti
Porque meu sonho se perdeu
E eu sempre fui um sonhador
Porque perdidos são meus ais
E foste para nunca mais
Oh, meu amor
Porque minha canção morreu
No apelo mais desolador
Porque a solidão sou eu
Ah, volta aos braços meus, amor
(Canção em modo menor, Tom Jobim)
Guy Bourdin
Vogue
Madonna
Hollywood
notícias do mundo do mundo
[1]
Gostava de Bill Clinton e para falar a verdade o ex-presidente nunca fez nada para eu deixar de gostar: gostava da dinâmica da presidência, gostava da sua inteligência no que diz respeito a política interna, gostei de ver um Democrata na Casa Branca. Até gostei de saber do escândalo sexual. Não gostei muito quando o presidente se calou enquanto decorria a tragédia no Sudão, sabendo nós que para evitar o massacre de 2002 bastava Bill Clinton ter levantado o telefone e dito para os seus amigos chineses do outro lado que estava na hora de pararem de fornecer armas ao país. Isso não se esquece, assim como não se esquece a não opinião de Clinton quanto à Guerra do Iraque em 2002. Quando a Guerra começou Clinton não se manifestou, uma semana antes da Guerra disse que teria sido preferível uma inspecção mais rigorosa ao país do que invadi-lo, em 2002 apoiou a resolução do Senado que autorizava uma ofensiva militar na região. A mulher Hillary, agora candidata, votou a favor de uma acção militar americana no Iraque. Esta semana, na sequência de uma acção de campanha para a eleição da esposa Clinton disse o que devia ter dito desde o início, mesmo sendo um presidente a sair do cargo. Disse numa só intervenção e com toda a certeza aquilo que não foi capaz de dizer em muitas e por meias palavras: que se tinha oposto desde o início a uma ofensiva militar no Iraque. Ora eu não quero ser mesquinha, mas não é isso que ele diz aqui.
E pensar que o ponto fraco de Hillary é o Iraque...
Esta semana, um membro da Câmara dos Comuns em Inglaterra voltou a levantar uma questão que não sendo daquelas que fica atravessada na garganta de ninguém, é embaraçosa para a grande nação; ou seja, a bandeira. A bandeira inglesa foi desenhada a partir da heráldica de três das quatro nações que constituem o Reino Unido: a Inglaterra, a Escócia e a Irlanda. O País de Gales nunca foi representado na bandeira inglesa. A história ganhou agora lugar nas parangonas depois da ministra da cultura inglesa ter declarado que estava a considerar o redesenho da bandeira. O problema é que o País de Gales foi conquistado, tecnicamente é um principado e não é independente politicamente desde 1282, altura em que foi conquistado por Eduardo I de Inglaterra. E até 1999 era governado a partir de Londres. Como é um principado, o País de Gales é representado pelo mesmo símbolo que a própria Inglaterra; ou seja, a cruz de S. Jorge, embora o território tenha um símbolo próprio, a cruz de São David (amarela sobre fundo negro). Note-se que mesmo a denominação Wales é de origem germânica e quer dizer “estrangeiro”.
Eu cá não mudava nada. Gales nunca se queixou e tem uma autonomia, língua, cultura, identidade próprias que nunca chocou com nenhuma das outras nações.
notícias do mundo da arte:
[1]
[2]
Dizem que todas as mulheres sonham casar. Eu sonhei uma vez: era Inverno, eu estava de calças de ganga e sandálias e fui ao registo civil casar à hora de almoço. Depois acordei e fui tomar o pequeno-almoço. Assim de olhos abertos e que eu me lembre... não. Mas interesso-me pela história do casamento, pela razão de terem mudado tanto ao longo dos tempos, tendo em conta que é uma tradição avessa a mudanças. Nos funerais não há modas, o cortejo fúnebre não mudou em nada desde que morre gente. Mas os casamentos nem sempre foram assim tão maus. Houve mesmo uma altura em que eram divertidos e todo o cerimonial era diferente. É claro que há variáveis: condição social, época, classe social... No geral, nos casamentos não havia amor. Como sabemos as pessoas podiam casar aos 15 anos sem nunca se terem visto antes. Também ninguém vestia branco: vestia-se a melhor roupa, mas geralmente era o azul ou o rosa, porque como as pessoas eram tão jovens para casar, as cores deveriam acompanhar a idade. As flores não eram obrigatórias e eram levadas em cesto e não na mão. Toda a gente usava luvas, havia um bolo de noiva que deveria dar uma fatia para cada pessoa e as roupas de baixo multiplicavam-se.
Cores
O uso do branco nos vestidos de noiva é uma tradição recente, do século XIX e que deverá ter origem no casamento da rainha Vitória que vestiu branco e que levou várias damas de honor também de branco. Isto criou uma moda que sucumbia a outras modas e às vicissitudes da época. Com a segunda Guerra Mundial certos pigmentos eram mais difíceis de obter, o que levou a que certas cores de vestidos de noiva tivessem de ser “suspensas”. Os tecidos aplicados eram mais fracos, ou menos ricos, mas não era isso que impedia ninguém de casar. As viúvas recentes, por exemplo, deviam casar de cinzento. Hoje, uma viúva recente que casasse teria outro nome. No fundo, os vestidos de noiva, à excepção dos vestidos de noiva reais, eram adaptações para um dia especial de vestidos do dia-a-dia.
Anthony Van Dyck
Mary and William II of Orange
1642
Rijksmuseum, Amesterdão
Hoje à cerimónia religiosa segue-se à festa, a boda (nome que detesto!) e que geralmente engloba um jantar ou um almoço. Antes, os convidados esperavam a noiva para o pequeno-almoço de casamento. Era às 11 da manhã em ponto e daí seguia-se para a cerimónia religiosa. Após isso, comia-se o bolo e bebia-se vinho em casa da noiva e mais tarde, às 3 da tarde almoçava-se. Havia um ritual que hoje deve ter sido substituído por uma parvoíce qualquer, embora este ritual em si fosse um bocado aparvalhado. Fazia parte da tradição passar um bocado de bolo pelo buraco da aliança. Não sei porquê, deve ser com dar um beijo debaixo da ponte dos suspiros em Veneza. Só que a ponte dos suspiros não tem nada de “romântica” (entre aspas porque não sei o que é que esta palavra quer dizer). No fundo separa o tribunal da cadeia e os prisioneiros ao passarem por lá suspiravam. Isto não parece ter nada a ver com romance, mas enfim...
Os cabelos
A tradição diz que as mulheres que se faziam pintar com cabelo solto eram virgens. E para um casamento católico fazia sentido que as noivas levassem o cabelo solto. Mas não. Quer dizer, não sei se eram virgens, mas a moda da época sobrepunha-se ao orgulho da virgindade; ou seja, a maioria das mulheres levava o cabelo apanhado, com véu, flores (jóias caso a família fosse disso) e em alguns casos uma espécie de chapéu em renda, um toucado. Charlotte Brontë levou os dois, mas não teve grande sorte se era isso que pretendia: morreu no ano seguinte!
Flores
Quanto às flores a tradição foi mudando e muito. Houve uma época em que a noiva levava um bouquet oferecido pelo noivo, mais tarde a noiva não levava bouquet na mão, mas como referido, um cesto ou vários de flores que estavam na carruagem, ao longo do caminho até ao local da cerimónia, mas com um denominador comum: as flores eram em todas as ocasiões, flores brancas.
O Bolo de casamento
Os sabores preferidos eram a amêndoa e a cobertura era a enjoativa icing sugar. Os bolos de noiva não eram decorados com elementos em açúcar. Eram decorados com flores, fitas, folhas e pérolas (para quem pudesse). E no topo do bolo não se colocava o casalzinho abraçado, mas crianças ou anjos. Este elemento decorativo deveria ser utilizado posteriormente no baptismo dos filhos do casal.
O fotógrafo
As fotografias de casamento são uma versão mais cara, cansativa e capaz de provocar mais lágrimas femininas em caso de ruptura, do que a pintura. É que a pintura era só uma, geralmente da cerimónia religiosa ou dos noivos depois de casados. Mas a fotografia, confesso, é muito boa para recordar os momentos não captados pelo fotógrafo. Antes, só as famílias ricas ou reais (que não era a mesma coisa antes e agora muito menos) é que podiam usufruir dos serviços de um pintor neste tipo de cerimónias. Com a chegada da fotografia, mais casais puderam usar este serviço, mas no início não estava ao alcance de todas as bolsas.
Hoje em dia diz-se que uma noiva deve usar “uma coisa nova, uma coisa dada, uma coisa emprestada e uma coisa azul”. A coisa azul geralmente é interior (eu não estimo muito o azul para roupa interior): uma liga, um fita... quando a noiva perde a cabeça, tudo é azul... Ao início a roupa interior era uma maneira de manter as formas femininas e hegemonizá-las segundo a moda da época. Os corpos tinham de estar espartilhados e não soltos. O espartilho não era objecto de desejo para os homens nem uma peça de sedução para as mulheres: servia para elas terem o corpo disciplinado. Quanto mais o vestido revelava (quanto maiores os decotes ou curtas as mangas), menor o apelo da roupa interior. Quando no início do século XIX os Baletts Russes soltaram o corpo da mulher dos espartilhos para que esta pudesse dançar e quando ela mesma fez isso no seu dia-a-dia, a postura tornou-se diferente, as formas femininas também e a saúde melhorou. Foi também nessa altura que surgiu um novo estilo artístico, a Arte Nova.
Paul Poiret
E agora vou fazer uma boda; uma boda pelo post mais comprido do Belogue.
quinta-feira, novembro 29, 2007
Sometimes
A wind blows
And you and I
Float
In love
And kiss forever
In a darkness
And the mysteries of love
Come clear
And dance
In light
In you
In me
And show
That we
Are Love
(Mysteries of love, Anthony and the Johnsons)
"Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a Vossa vontade" - ou qualquer coisa assim
Eis a minha opinião: sabe-se que a Anunciação foi feita na intimidade; ou seja, não era assunto para ser tratado na rua por isso deverá ter sido feita em casa de Maria enquanto jovem (ainda não era casada, ela própria diz ao anjo e mostra a sua surpresa). Os pintores do Renascimento, até do primeiro Renascimento, procuravam formas de aplicar os seus conhecimentos de perspectiva e proporção e para isso usavam um artifício muito útil. Colocava linhas de pavimento em tudo: uma Crucificação, um pavimento, uma Oração no Horto, um pavimento, uma Adoração, um pavimento. Tanto as cenas de interior como de exterior tinham pavimento, o que por vezes tornava as composições um bocado ridículas. Usavam também a arquitectura, principalmente as colunas e os pilares eu ajudavam a criar o efeito de perspectiva e com isso tornavam as cenas mais credíveis. Acho que não se pretendia que a Anunciação fosse credível para o cristão, pois esse acreditaria nela quer fosse ali, quer fosse passada numa nuvem. Falo de uma credibilidade ao nível da técnica artística. Os artistas precisavam de conseguir retratar a realidade de forma fiel para testarem as suas capacidades. Note-se que a pintura era até aí figurativa. Para além disso e para que se visse esse interior arquitectónico, para que se notasse a capacidade técnica do pintor era necessário abrir a casa, como num corte para que o público tivesse acesso, não à cena, mas à forma irrepreensível como ela deveria estar tratada.
Há mais nomes para além destes, como Leonardo, mas os exemplos são tantos e tantas as variantes que não haveria espaço para falar de todos. Ficam as características gerais. E a intenção.
Domenico Veneziano
Annunciation (predella 3)
c. 1445
Fitzwilliam Museum, Cambridge
Fra Angelico
The Annunciation
1450
Convento di San Marco, Florença
Botticelli
The Annunciation
c. 1485
Metropolitan Museum of Art, New York
Albertinelli
Annunciation
1503
Galleria degli Uffizi, Florença
- Amaral, esse é assunto non grato. Para além de privado. A parte da minha vida que interessa para o trabalho não é essa.
(porque é que eu sinto que o tipo quer saber mais do que devia?)
quarta-feira, novembro 28, 2007
You've got the money maker
You've got the money maker
This is your chance to make it
Out out out oh yeah
You'll get out out out oh yeah
You've got the money maker
They showed the money to you
You showed them what you can do
Showed them your money
Make you get out out out oh yeah
You'll get out out out oh yeah
You are the money maker
She wants to overtake you
You know you wanna make her
Show her your money maker
She said out out out oh yeah
She said out out out oh yeah
You get out out out oh yeah
You get out out out oh yeah
And deep in my hands
I will if you want me to
She is out out out oh yeah
She is out out out oh yeah
You get out out out oh yeah
You get out out out oh yeah
(The Moneymaker, Rilo Kiley)
José Silva tinha trabalhado até à eleição para a fábrica de cordas nas redondezas da cidade a que um dia iria presidir. Fez o mesmo percurso de Maria das Dores, mas primeiramente estava virado para outro partido, para o Partido Comunista e era representante sindical na fábrica. Quando deixou de ser do proletariado graças a um trabalho de tempo inteiro para o segundo partido, foi coerente e deixou o primeiro. Além disso, não lhe pagavam e como secretário, do secretário, do secretário que agora estava como secretário na Câmara Municipal tinha uns trocos maiores para dar início à sua escalada no poder. Tinha o apoio do povo que pelo menos sabia com o que contar, tal como os Médici em Florença, mas sem os mecenatos, as peixeiras adoravam-no, todos lhe “batiam à porta com os pés “ porque tinham as mãos ocupadas com pressentes para o futuro senhor presidente. Não havia adversários que falassem tão bem a linguagem daquela gente e a campanha, e consequente eleição foram um sucesso. Não se esperava outra coisa e a Câmara mudou de cor.
Durante os primeiros dois anos alegou-se que o que o anterior executivo tinha deixado como herança era apenas a ponta de um grande novelo. Nos outros anos fingiram saber dobar. Mais tarde ainda, com o segundo mandato e a cidade a definhar, sem urgências, sem nascimentos registados lá, com uma população com mais de 65 anos que nunca tinha visto uma taxa tão alta, com as obras malucas de enterrar a linha de caminho de ferro que já tinham custado a vida a três pessoas e tinham custado muito dinheiro ao erário municipal, com os grandes problemas de separatismo entre a classe pobre (abaixo da linha) e a classe rica (acima da linha) por aquilo que era considerado um estético muro e que tapava a vista do belo mar, enfim, com tudo isso chegou a vez das cidades geminadas. As cidades geminadas salvavam qualquer eleição tremida, escândalos de favorecimento de terceiros, medidas draconianas para os eleitores… As cidades geminadas eram o éden, principalmente se foorem geminadas com o Rio de Janeiro, por exemplo. É que há muitas cidades no nosso país que se parecem com o Rio de Janeiro!!! Então em altura de eleições, todas são parecidas com o Rio de Janeiro. Volta e meia mais uma levada de senhores com idade para votar mas com poucas exigências naquela altura da vida, voava para o Rio de Janeiro e o “Senhor Presidente que Deus o guarde que é tão bom para nós, que nos leva a passear e levava mais não fosse esta minha artrite, que até vem connosco a esta cidade que é tão parecida com a nossa, nunca tinha reparado, só conhecia das novelas”, acompanhava a terceira idade. Um dia, numa das reuniões semanais com os colaboradores para discutir assuntos correntes foi surpreendido ao entrar na sala por um espírito funesto nos semblantes dos presentes. - Então que se passa, que caras são essas?
- "Bah", disse o presidente virando costas. "Vocês estragam logo o dia de um tipo. Vou é geminar outra vez a cidade. Podemos geminar a cidade mais do que uma vez? Passamos a poder."
Perugino já havia tratado o Casamento da Virgem” (até parece que a Virgem se casava sozinha. Razão tinha o Saramago!), 4 anos antes de o mesmo tema ter sido encomendado a Rafael, não em Perugia, mas em Cittá do Castello. Rafael manteve a composição racional, rigorosa e simétrica de Perugino, bem como as expressões faciais tensas das personagens. No entanto, a Virgem e S. José estão em lugares trocados e estão próximos um do outro de forma menos rígida. Há uma harmonia e descontracção maiores na inclinação da cabeça do sacerdote que celebra a cerimónia no quadro de Rafael. Segundo a Legenda Áurea, o Casamento da Virgem teve lugar no Templo de Salomão que tanto Rafael como Perugino tentam reproduzir. Na verdade o que fazem é reproduzir a Antiguidade “mais antiga” que conhecem através dos modelos mais próximos, como era o Templete de Bramante. Deve ter sido essa a principal obra do Renascimento, adaptação do que se fazia na Grécia Clássica melhor conseguida para a Itália do Cinquecentto, que serviu de base para a criação deste fundo. Com a estrutura arquitectónica, mostrando parte do pavimento cujas linhas caminham na direcção dos convidados para a boda e ao colocar os figurantes mais pequenos nos planos mais afastados, Rafael cria um centro composto pelos degraus do templo e pelo pórtico que com as linhas do pavimento forma um cone. O mesmo cone vai abrir-se do outro lado do templo (não sei se conseguem imaginar isso…). Mas enquanto Rafael preferiu a composição circular, Perugino optou por uma composição horizontal, mais típica de um tempo passado. O espaço criado por Rafael é mais aberto, o que nos indica que o discípulo já tinha um maior domínio da técnica que o seu mestre.
Na cena também podemos ver talvez a primeira obra assumida por Rafael: no friso do tempo pode ler-se a inscrição “RAPHAEL URBINAS MDIIII”, que data a obra e lhe dá um criador. As principais figuras em primeiro plano são S. José que solenemente segura o anel o dedo de Maria e traz na mão esquerda as flores símbolo, naquela altura, de que ele tinha sido o escolhido. (Hoje as flores são oferecidas pela noiva à Virgem Maria e o noivo traz na lapela um pequena flor). É neste ponto, noponto em que José coloca o anel no dedo de Maria que a composição se divide em duas partes simétricas. O rapaz que parte um ramo no joelho é um dos que não tendo sido escolhido pela Virgem demonstra maior desagrado. Como podemos ver, uma história bem diferente daquela que nos é contada, ou que nem sequer é abordada pois o casamento da Virgem não é muito falado.
E para terminar tão linda cerimónia, as cores: quentes como os amarelos, o vermelho, e os castanhos, pálidas e sérias como o marfim e um pouquinho frias (para ninguém transpirar na cerimónia) com o azul do céu. Estou a pensar montar a minha empresa de casamentos criativos, porque estes de hoje são um aborrecimento":
Perugino
Marriage of the Virgin
1500-04
Musée des Beaux-Arts, Caen
Rafael
Spozalizio (The Engagement of Virgin Mary)
1504
Pinacoteca di Brera, Milão
Tiepolo
The Banquet of Cleopatra
1743-44
National Gallery of Victoria, Melbourne
Dosso Dossi
Circe and her Lovers in a Landscape
1514-16
National Gallery of Art, Washington
Van Eyck
Portrait of Giovanni Arnolfini and his Wife (pormenor)
1434
National Gallery, Londres
Um grupo de terroristas iraquianos, certamente mal fornecidos com o dom da inteligência, resolveram fazer uma reunião para ultimar os preparativos da ofensiva de uma forma muito curiosa. Disfarçaram-se de convidados de um casamento e juntamente com o noivo e com a “noiva” preparavam-se para passar um posto de controlo americano em Bagdad. Ora os soldados americanos que já devem andar fartos, mas não são parvos, desconfiaram de várias curiosidades no cortejo matrimonial: os convidados eram só homens, todos eles estavam nervosos (geralmente os convidados não ficam nervosos, são só os noivos), não respeitaram a primiera ordem para parar e o noivo tremeu quando lhe foi pedido para retirar o véu à “noiva”. Qual e espanto dos soldados americanos quando viram que a bela e virgem noiva era um homem com muito bom gosto para arranjos de flores. O amigo Irão não deve ter ficado satisfeito com a brincadeira, porque os amigos dos meus amigos não têm amigos gays. Nem burros!
terça-feira, novembro 27, 2007
eu também fiquei espantada. não é que a menina anda a gastar o que Jesus poupa?!
(Jesus Saves, I spend, St. Vincent)
retalhos da vida de um município - a secretária, as filhas e a banda gástrica
Van Gogh
Fifteen Sunflowers in a Vase
1888
National Gallery, Londres
Como achava que ainda fazia qualquer um gastar umas solas de sapatos dirigiu-se um dia nestes termos à secção do pessoal:
- Olha, podia falar contigo?
- Claro das Dores, diz.
- Eu queria saber se a ADSE comparticipa uma operação.
- Depende… Mas passa-se alguma coisa?
- Não. Quer dizer, tu sabes o meu historial. As minhas duas irmãs morreram com diabetes e de diabetes. Eu queria colocar uma banda gástrica e tirar o “avental”. Achas que eles comparticipam?
- Cirurgias estéticas não são comparticipadas.
- Não é cirurgia estética!
- És obesa.
- Eu não, desde quando é que eu sou gorda? Eu estou aqui para as curvas. Só precisava de afinar. Sabes que na minha posição, atender telefones e tal, a imagem é tudo.
- Não é comparticipada Maria das Dores.
Das Dores já toda ela dada a um sentimento que não se assemelhava nem à dor nem à piedade, que não tinha nada de cristão e estava mais para pecado mortal, disse à secretária estagiária quando a viu a telefonar para o Hotel Sol Azul:
- Que estás a fazer? E desligou-lhe o telefone.
- Eu estava a ligar para o Hotel Sol Azul como pediu o Senhor Presidente. Era para marcar um jantar com vinte e …
- Já sabes que essas coisa são comigo.
- Mas ele pediu-me.
- Ele pediu-te porque eu não estava aqui. Esses assuntos são comigo.
Vai daí, pega no telefone:
- Estou sim, presidência da Câmara de XXXXX. Aqui fala a secretária do Sr. Presidente. Olá como está. Sim, sim, adorei os bolinhos. Estava a pensar se neste fim de semana em que vai haver o jantar, se não me podia arranjar mais uma caixinha dos de côco… Oh claro, e o Hotel Sol Azul será sempre a minha referência para o Sr. Presidente.
Rembrandt
Nightwatch
1642
Rijksmuseum, Amsterdão
Reginaldo Gonçalves
Ghanaian Night Watch
2006
Walt Disney
Branca de Neve
Annie Leibovitz
Branca de Neve
segunda-feira, novembro 26, 2007
Jimi, com esta voz, com esta letra, ela fica mesmo para a História:
He left no time to regret
Kept his dick wet
With his same old safe bet
Me and my head high
And my tears dry
Get on without my guy
You went back to what you knew
So far removed from all that we went through
And I tread a troubled track
My odds are stacked
I'll go back to black
We only said good-bye with words
I died a hundred times
You go back to her
And I go back to.....
I go back to us
I love you much
It's not enough
You love blow and I love puff
And life is like a pipe
And I'm a tiny penny rolling up the walls inside
We only said goodbye with words
I died a hundred times
You go back to her
And I go back to
Black, black, black, black, black, black, black,
I go back to
I go back to
We only said good-bye with words
I died a hundred times
You go back to her
And I go back to
We only said good-bye with words
I died a hundred times
You go back to her
And I go back to black
(Back to black, Amy Winehouse)
As fotografias de Robert Wilson também não me são especialmente caras, mas como gosto de um bom “antes e depois”, tinha de colocar aqui a relação com Rembrandt. Este post bem se podia chamar “hás-de me mostrar o teu caixote do lixo”:
Rembrandt
Doctor Nicolaes Tulp's Demonstration of the Anatomy of the Arm
1632
Mauritshuis Museum, The Hague, Holanda
Robert Wilson
Robert Downey Jr.
Suspeita até dizer chega, posso dizer que gosto muito deste Caravaggio (mas qual é o Caravaggio de que não gostas?, pergunto-me). Parece simples, inofensivo, até enjoativo, pintura de corredor para pendurar por cima de uma cómoda cheia de fotografias dos netinhos em molduras que ficam a dever muito ao bom gosto. A casa a cheirar a bolinhos de bacalhau, a cão (um caniche) e a “lavage”, porque nestas casas há sempre muito asseio.
Mas a “Fuga para o Egipto” é realmente muito bonita não por aquilo que conta, mas pela forma como o faz e a razão pela qual é pintada. A “Fuga para o Egipto” foi uma das passagens apócrifas que sobreviveram ao Concílio de Trento. Não tem lugar na Bíblia, mas tal como a morte da Virgem, ou de Santa Ana, não foi questionada e passou a fazer parte da biblioteca de qualquer cristão. Mesmo que um cristão qualquer como a minha avó não soubesse, quando ainda falava e estava na posse de todas as suas capacidades mentais, que Santa Ana era mãe da Virgem Maria. Caravaggio pinta esta cena individualizando cada uma das personagens usando para isso a figura de um anjo com panejamentos sugestivos que se coloca entre São José (do lado esquerdo da pintura, a segurar a pauta musical para o anjo, andrajoso como um pedinte, com o vinho à mão e a cabeça ao mesmo nível da do burro que surge por trás) e a Virgem Maria que segura o menino a dormecido. O fundo foi feito à moda de Giorgione, mas muito melhor, se é que isto se pode dizer, mas há uma alusão às paisagens do século XVI). Não sei se era o que Caravaggio pretendia, mas toda a envolvência do quadro provoca-nos sono, vontade de, como eles, tirar uma sesta. Para revestir a cena de mais realismo foram pintados pormenores com as folhas e as pedras. Coloca também na obra o anjo cuja figura, importância e uso também pode ser encontrada na pintura “A escolha de Heracles” de Annibale Carracci. Não é o mesmo anjo, mas é uma figura que divide a pintura da mesma forma.
Caravaggio
Rest on Flight to Egypt
1596-97
Galleria Doria-Pamphili, Roma
O anjo toca "Quam pulchra es...", de Noël Bauldewijn, uma composição do Livro Cântico dos Cânticos (7,7); ou seja, o momento do diálogo entre o noivo e a noiva que neste caso seriam à primeira vista José e Maria. Só ques estes dois não podiam ser mais a antítese um do outro do que aquilo que são: José parace muito mais velho que a noiva e esta não lhe terá sido exactamente fiel. Veja-se como ela é ruiva (uma Virgem ruiva é uma novidade) e o seu filho tem o cabelo entre o ruivo e o louro. Há mais intimismo entre mãe e filho do que entre noivo e noiva. O principal tema da pintura também não é a fuga para o Egipto (“E, tendo eles se retirado, eis que o anjo do Senhor apareceu a José em sonhos, dizendo: Levanta-te, e toma o menino e sua mãe, e foge para o Egipto, e demora-te lá até que eu te diga; porque Herodes há de procurar o menino para o matar. E, levantando-se ele, tomou o menino e sua mãe, de noite, e foi para o Egipto. E esteve lá, até à morte de Herodes, para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor pelo profeta, que diz: Do Egipto chamei o meu Filho. Morto, porém, Herodes, eis que o anjo do Senhor apareceu num sonho a José no Egipto.” – Mateus, 2, 13-19)
Eu diria antes que o tema do quadro é a música e como ela se transforma no meio de comunicção entre Deus e os homens. Se Deus fala com os homens através de anjos, e estes falam aos homens de música, logo a música é o tema. É o tema que liga o mundo celestial ao mundo terreste. É também o anjo que separa o mundo celestial do mundo terrestre; ou seja, o mundo de S. José do da Virgem Maria.
Annibale Carracci
The Choice of Heracles
1596
Museo Nazionale di Capodimonte, Nápoles
[e sai um orçamento para o tecto do Buckingham]
[ó fáxavor, era alguém com dois neurónios para a Abadia]
retalhos da vida de um município
National Gallery
Fifteen Sunflowers in a Vase
1888
National Gallery, Londres
- O quê?
- Estive a ver aqui as horas extraordinárias do Zé...
- Que Zé?
- O José Castanheira, o pai da Raquel.
- ...
- O responsável pelo pessoal dos serviços de higiene e limpeza...
- Ah, o Zé! Diga.
- Ele não é fiscal, mas é chefe do pessoal, por isso aplica-se-lhe a regra que diz que um chefe só pode meter uma hora diurna e uma nocturna, não é?
- Sim, porquê?
- Porque ele anda a meter às cinco e seis horas nocturnas e diurnas. Diz que sai às duas da manhã e entra às seis. Eu não quero ser mesquinha, mas um homem que faz isso todos os dias da semana, quer dizer que dorme cerca de quatro horas por dia, cinco dias por semana. Como é que ele aguenta?
- Corte-lhe as horas, dê-lhe apenas uma hora diurna e uma nocturna e avise-o.
- Já fiz isso.
- E ele que disse?
- Que vai com a Câmara para tribunal.
- Pois que vá e que perca porque não tem razão.
Entretanto o Zé telefona. Que era muito trabalho, que ninguém imaginava que no dia do concerto do Quim Barreiros nem tinha ido à cama...
- No concerto do Quim Barreiros?
- Sim, no concerto do Quim Barreiros!
- Mas tu fiscalizas o pessoal da limpeza! O que é que o concerto do Quim Barreiros, ainda por cima antes do concerto, tem para tu fiscalizares.
- Eu quero tudo limpo!
- Zé, e eu quero tudo claro.
- Mas não vês que as horas que tu apresentas mostram que só dormes quatro horas por noite?
- E depois?
- Homem, tu tens apeneia do sono, tens bronquite, tens alergias... como é que uma pessoa nessa condições aguenta.
- Eu levo o meu trabalho muito a sério!
- Eu também.
- Tens de ver se está tudo limpo à noite, que os funcionários não deixaram ruas por varrer lixo por recolher, se não há nada vandalizado...
- Zé, tu és encarregado do pessoal da limpeza, não és o mordomo do Sonasol!
sábado, novembro 24, 2007
sexta-feira, novembro 23, 2007
The first time I saw lightening strike
I saw it underground
Six deep feet below the street
The sky came crashing down
For a second that place was lost in space
Then everything went black
I left that basement burning
And I never went back
The second time I saw it strike
I saw it at sea
It lit up the fish like rain
And rained then down on me
For a second that boat was still afloat
Then everything went black
I left it underwater
And I never went back
Hey hey hey!!!
But I like it when that lightening comes
Hey hey hey!!!
Yes I like it alot
Hey hey hey!!!
Yes I'm jumping like a jumping jack
Dancing screaming itching squealing fevered
Feeling hot hot hot!!!
The third time I saw lightening strike
It hit me in bed
It threw me around
And left me for dead
For a second that room was on the moon
Then everything went black
I left that house on fire
And I never went back
Hey hey hey!!!
But I like it when that lightening comes
Hey hey hey!!!
Yes I like it alot
Hey hey hey!!!
Yes I'm jumping like a jumping jack
Dancing screaming itching squealing fevered
Feeling hot hot hot!!!
(Hot, Hot, Hot, The Cure)
- A capa da vergonha (on line, não há outro jornal inglês que faça menção ao caso)
- as capas vencedoras. A do New Yorker vê-se em duas fases: primeiro a páginaem branco e depois a ilustrada: o homem caminha num fio imaginário que passa por cima do ground zero. A da Time é assertiva e muito simples. É, como o animal, uma capa lenta: não desaparece da memória.
- ai minha nossa senhora que não me apetece fazer nada.
- então isabel? o que é isso?
- não me apetece fazer nada. sabes o que é nada? é que me apetece fazer. até me sinto a sangrar por dentro. toda eu sou dor!
- ó anjo de candura, ó flor do santo sacrifício do senhor, ó luz das almas puras, que se passa contigo?
- eu até me atirava da ponte...
- se ela não fosse muito alta e a água não estivesse muito fria, não é?
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O que esta iniciativa conseguiu foi, para mim, invejável. Primeiro porque fizeram exactamente aquilo que eu gostaria de fazer: investigar obras de arte. Depois porque devolveram a vida a quadros que o mereciam, não pelo possível valor no mercado, mas porque todos os que se encontram nestas condições o merecem. Por fim, porque ao exibirem-nos dão-lhe o mesmo valor que cópias (ou estes é que seriam as cópias) de quadros encontrados em museus com mais visibilidade permitindo assim fazer um rastreio intensivo deste tipo de quadros que se multiplicam sem haver disso qualquer registo.