quinta-feira, novembro 29, 2007

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

"Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a Vossa vontade" - ou qualquer coisa assim
A pedido de várias famílias eis um antes e depois com muitos “antes” e muitos “depoises”. E não são os únicos. De onde estes vieram há uma panóplia de Anunciações que respeitam quase sempre este modelo mesmo que eu ainda não tenha compreendido porquê. As descrições bíblicas não apontam para este tipo de composição: a Virgem à direita, o anjo à esquerda, um chão com pavimento, o interior de uma casa em corte para sabermos o que se passa nesse interior…

Eis a minha opinião: sabe-se que a Anunciação foi feita na intimidade; ou seja, não era assunto para ser tratado na rua por isso deverá ter sido feita em casa de Maria enquanto jovem (ainda não era casada, ela própria diz ao anjo e mostra a sua surpresa). Os pintores do Renascimento, até do primeiro Renascimento, procuravam formas de aplicar os seus conhecimentos de perspectiva e proporção e para isso usavam um artifício muito útil. Colocava linhas de pavimento em tudo: uma Crucificação, um pavimento, uma Oração no Horto, um pavimento, uma Adoração, um pavimento. Tanto as cenas de interior como de exterior tinham pavimento, o que por vezes tornava as composições um bocado ridículas. Usavam também a arquitectura, principalmente as colunas e os pilares eu ajudavam a criar o efeito de perspectiva e com isso tornavam as cenas mais credíveis. Acho que não se pretendia que a Anunciação fosse credível para o cristão, pois esse acreditaria nela quer fosse ali, quer fosse passada numa nuvem. Falo de uma credibilidade ao nível da técnica artística. Os artistas precisavam de conseguir retratar a realidade de forma fiel para testarem as suas capacidades. Note-se que a pintura era até aí figurativa. Para além disso e para que se visse esse interior arquitectónico, para que se notasse a capacidade técnica do pintor era necessário abrir a casa, como num corte para que o público tivesse acesso, não à cena, mas à forma irrepreensível como ela deveria estar tratada.

Há mais nomes para além destes, como Leonardo, mas os exemplos são tantos e tantas as variantes que não haveria espaço para falar de todos. Ficam as características gerais. E a intenção.

Domenico Veneziano
Annunciation (predella 3)
c. 1445
Fitzwilliam Museum, Cambridge


Fra Angelico
The Annunciation
1450
Convento di San Marco, Florença



Botticelli
The Annunciation
c. 1485
Metropolitan Museum of Art, New York


Albertinelli
Annunciation
1503
Galleria degli Uffizi, Florença


Carpaccio
The Annunciation
1504
Galleria Franchetti, Ca' d'Oro, Veneza

1 Comments:

Blogger João Barbosa said...

voto no Botticelli.

29/11/07 10:24 da manhã  

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