- ars longa, vita brevis -
hipócrates
antes e depois ou um post para adormecer, ou "a educação de Rafael foi entregue a Perugino porque a mãe e o pai do pintor morreram cedo. O sucesso de Rafael, o sucesso comercial de Rafael deve-se ao processo executivo de Perugino, bem como à sua adaptação ao gosto da época. Perugino pintava por fases que estavam distribuídas entre ele e os seus assistentes. Rafael libertou-se do mestre, mas não da técnica e continuou a pintar e a preparar a tela através de esboços de composição, desenhos de modelos, estudos pormenorizados, modelli (desenhos de apresentação), esboço em tamanho real e passagem para o suporte final. Há a influência de Perugino, mas também de Signoreli e de Pinturicchio (rivais de Perugino. Pinturicchio por exemplo era um dos artistas mais apreciados da época, pois é!)
Perugino já havia tratado o Casamento da Virgem” (até parece que a Virgem se casava sozinha. Razão tinha o Saramago!), 4 anos antes de o mesmo tema ter sido encomendado a Rafael, não em Perugia, mas em Cittá do Castello. Rafael manteve a composição racional, rigorosa e simétrica de Perugino, bem como as expressões faciais tensas das personagens. No entanto, a Virgem e S. José estão em lugares trocados e estão próximos um do outro de forma menos rígida. Há uma harmonia e descontracção maiores na inclinação da cabeça do sacerdote que celebra a cerimónia no quadro de Rafael. Segundo a Legenda Áurea, o Casamento da Virgem teve lugar no Templo de Salomão que tanto Rafael como Perugino tentam reproduzir. Na verdade o que fazem é reproduzir a Antiguidade “mais antiga” que conhecem através dos modelos mais próximos, como era o Templete de Bramante. Deve ter sido essa a principal obra do Renascimento, adaptação do que se fazia na Grécia Clássica melhor conseguida para a Itália do Cinquecentto, que serviu de base para a criação deste fundo. Com a estrutura arquitectónica, mostrando parte do pavimento cujas linhas caminham na direcção dos convidados para a boda e ao colocar os figurantes mais pequenos nos planos mais afastados, Rafael cria um centro composto pelos degraus do templo e pelo pórtico que com as linhas do pavimento forma um cone. O mesmo cone vai abrir-se do outro lado do templo (não sei se conseguem imaginar isso…). Mas enquanto Rafael preferiu a composição circular, Perugino optou por uma composição horizontal, mais típica de um tempo passado. O espaço criado por Rafael é mais aberto, o que nos indica que o discípulo já tinha um maior domínio da técnica que o seu mestre.
Na cena também podemos ver talvez a primeira obra assumida por Rafael: no friso do tempo pode ler-se a inscrição “RAPHAEL URBINAS MDIIII”, que data a obra e lhe dá um criador. As principais figuras em primeiro plano são S. José que solenemente segura o anel o dedo de Maria e traz na mão esquerda as flores símbolo, naquela altura, de que ele tinha sido o escolhido. (Hoje as flores são oferecidas pela noiva à Virgem Maria e o noivo traz na lapela um pequena flor). É neste ponto, noponto em que José coloca o anel no dedo de Maria que a composição se divide em duas partes simétricas. O rapaz que parte um ramo no joelho é um dos que não tendo sido escolhido pela Virgem demonstra maior desagrado. Como podemos ver, uma história bem diferente daquela que nos é contada, ou que nem sequer é abordada pois o casamento da Virgem não é muito falado.
E para terminar tão linda cerimónia, as cores: quentes como os amarelos, o vermelho, e os castanhos, pálidas e sérias como o marfim e um pouquinho frias (para ninguém transpirar na cerimónia) com o azul do céu. Estou a pensar montar a minha empresa de casamentos criativos, porque estes de hoje são um aborrecimento":
Perugino
Marriage of the Virgin
1500-04
Musée des Beaux-Arts, Caen
Rafael
Spozalizio (The Engagement of Virgin Mary)
1504
Pinacoteca di Brera, Milão
2 Comments:
gostei dos dois
o Rafael tem "nick" de divíno, mas o Perugino não lhe fica a dever nada...
coitado, o perugino não podia ficar a dever-lhe nada. foi mentor dele!
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