isto há dias em que uma pessoa não devia ir trabalhar. em que uma pessoa não devia pensar "sou tão incompetente", apesar de ter a certeza que todos pensam isso.
quarta-feira, março 31, 2010
sábado, março 27, 2010
sexta-feira, março 26, 2010
Não posso dizer que estes exemplos são completamente mal sucedidos, pois em alguns casos é provável que exista nas peças a estabilidade e conforto necessários ao uso. Mas em outros, tanto no que ao uso concerne como relativamente à estética, quer-me parecer que os sapatos ficam aquém. Quem começou com a moda, se bem me lembro, foi a arquitecta Zaha Hadid para a marca brasileira Melissa (aqueles sapatos de plástico que toda a gente usou em criança) e depois para a Lacoste. Curiosamente, e apesar do prestígio da Lacoste, a arquitecta fez uso integral de borracha para construir umas botas cujo cano se enrola à volta da perna. Com uma tecnologia própria para cortar metais, de nome Direct Metal Laser Sintering, é muito provável que as botas de Zahid custem muito mais do que umas botas sem marca e, segundo a fotografia, abriguem bem menos. Pode ser que estas botas sejam apenas um estudo, nunca saiam da loja e sirvam somente como experiências da arquitecta relativamente a outros materiais e formas, mas que as botas são feias, lá isso são.
Por fim, temos uns bonitos Tea Petrovic que foram buscar a sua forma à arquitectura. Esta Bósnia foi buscar inspiração aos projectos de Santiago Calatrava e criou uma linha que não deve ter passado ainda da maquete, mas já nada na internet, o que não é mau para uma estudante de design. Há muito das coberturas, pontes e pilares de Calatrava nos sapatos de Tea Petrovic, embora a rapariga diga que os sapatos são mais uma experiência do que um objecto de uso quotidiano em si.
quarta-feira, março 24, 2010
raio de música mais bonita
Looking out the door i see the rain fall upon the funeral mourners
Parading in a wake of sad relations as their shoes fill up with water
And maybe i'm too young to keep good love from going wrong
But tonight you're on my mind so you never know
When i'm broken down and hungry for your love with no way to feed it
Where are you tonight, child you know how much i need it
Too young to hold on and too old to just break free and run
Sometimes a man gets carried away, when he feels like he should be having his fun
And much too blind to see the damage he's done
Sometimes a man must awake to find that really, he has no-one
So i'll wait for you... and i'll burn
Will I ever see your sweet return
Oh will I ever learn
Oh lover, you should've come over
'Cause it's not too late
Lonely is the room, the bed is made, the open window lets the rain in
Burning in the corner is the only one who dreams he had you with him
My body turns and yearns for a sleep that will never come
It's never over, my kingdom for a kiss upon her shoulder
It's never over, all my riches for her smiles when i slept so soft against her
It's never over, all my blood for the sweetness of her laughter
It's never over, she's the tear that hangs inside my soul forever
Well maybe i'm just too young
To keep good love from going wrong
Oh... lover, you should've come over
'Cause it's not too late
Well I feel too young to hold on
And i'm much too old to break free and run
Too deaf, dumb, and blind to see the damage i've done
Sweet lover, you should've come over
Oh, love well i'm waiting for you
Lover, you should've come over
'Cause it's not too late
(Lover, you should've come over, Jeff Buckley)
O cúmulo da tensão baixa é tomar um duche de água quente e adormecer no chuveiro.
um grupo de professores americanos que procurava estudar a obesidade naquele país recorreu a obras relativas à Última Ceia por parte de 52 artistas e datadas de 1000 a 2000. Descobriram que ao longo dos tempos a arte foi acompanhando uma tendência que a sociedade já seguia – ou vice-versa – de comer mais do que aquilo que achava que ingeria na realidade. Os dois professores analisaram as pinturas mais famosas dos últimos mil anos relativas à Última Ceia e descobriram, através do tamanho e número de pratos na mesa, do pão e do tipo e quantidade de comida, bem como das cabeças dos apóstolos. O que o estudo revelou foi que ao longo do tempo, como seria de esperar, o tamanho da cabeça dos apóstolos não sofreu alterações, mas o tamanho e quantidade da alimentação e dos pratos em si, sim. O estudo também mostrou que ao longo de mil anos de pintura o número de entradas colocadas em frente a Jesus aumentou cerca de 70% e o número de pães, 23% e o tamanho dos pratos foi incrementado cerca de 66%. Segundo este trabalho o grande momento de viragem deu-se com a Última Ceia de Leonardo da Vinci que é tida como um banquete epicurista, uma vez que até aí as pinturas relativas a esta passagem bíblica eram mais frugais na quantidade e na variedade. Depois, e vemos isso com Tintoretto
já no Maneirismo, a ceia mais conhecida da religião foi tendendo mais para casamento cigano do que para jantar derradeiro.
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@ last, my symbol has come along…
Isto é o que se chama um ovo columbismo! O MoMA adicionou à sua colecçãode arquitectura e design o símbolo @ que é usado por milhões de pessoas, todos os dias em todo o mundo. Apesar de existir há muito tempo – o MoMA diz que pelo menos desde o século VI o @ é associado por nós à Internet e aos tempos de hoje e apesar de fazer parte do nosso dia-a-dia é uma “obra de arte”(?). Por mais que nos custe a acreditar, este símbolo pode ser considerado uma obra de arte uma vez que, como símbolo não faz alusão a uma ideia em concreto, mas algo abstracto e depois porque para as diferentes civilizações, ao longo dos tempos, teve um significado diferente. Para os russos, por exemplo, o @ já simbolizou um cão, enquanto para os finlandeses era o equivalente a um gato. O director do MoMA referiu que esta inclusão do símbolo nas citadas colecções é um “acto de design”, uma vez que, juntamente com as iniciais “www” o @ é como uma manta que cobre todo o universo comunicacional actual e como tal, pode ser visto como uma forma da sociedade se expressar e interagir. No entanto, não se preocupem porque o símbolo continua a ser de todos; a inclusão por parte do MoMA não implica a sua custódia.
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A Metro Goldwyn Mayer ruge pela última vez, num caso que até faz lembrar um clube de futebol que recentemente foi a eleições sem nenhuma lista candidata. Na MGM nenhuma das empresas interessadas nos estúdios de cinema está disposta a dar os 4000 milhões de dólares pedidos para adquiri-los. Até agora nenhuma das ofertas se aproximou sequer de metade do valor pedido e necessário aos proprietários actuais para fazer face às dívidas bancárias. E se tal não acontecer nos próximos dias pelo menos até 31 de Março, vindo dos compradores que já se mostraram interessados ou de outros, então a MGM tal como a conhecemos desaparecerá. Os estúdios que nos deram “E tudo o vento levou”, “Feiticeiro de Oz” e muitos outros podem assim declarar bancarrota o que deixará a empresa nas mãos dos seus credores e resultará, inevitavelmente, na venda de peças como os direitos da saga James Bond e aquela que foi a última produção MGM, “Fame”.
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Olá outra vez. Não consigo começar este post. O cursor pisca e não sei o que dizer. Volto amanhã.
Olá. Tanto “antes” como “depois” e ainda mais depois as pessoas acreditaram em demónios. Cá para nós, que ninguém nos leia, os demónios são uma criação teológica para substanciar e creditar a obra demiúrgica. Como alguém dizia no “Cinema Paraíso”: a minha infelicidade torna-se maior sobre pano de fundo da felicidade do outro. Deus é infinitamente bondoso e compassivo quando comparado com o diabo, embora não o fosse se por exemplo o comparássemos com Job (“ter uma paciência de Job”, diz-se). Apesar destes antes e depois não serem muito espaçados no tempo, nota-se uma linguagem comum e acima de tudo, um elemento comum. Depois do demónio com corpo de mulher, depois do demónio com corpo de personagem mitológica, surge o demónio com trompa de elefante. Tanto no antes, de 1480 como no depois de 1506, Santo António está a ser tentado por um grupo de demónios e apesar dos mesmos terem formas assustadoras entre o antropomórfico e o zoomórfico, um deles - que se repete nas duas situações – apresenta trompa de elefante, o que é raro embora não seja propriamente uma surpresa. A gravura de Schongauer ilustra através dos vários demónios, a grande variedade de proveniências demoníacas, bem como as suas contradições. Todos eles têm corpos informes, de difícil delimitação e noção entre princípio e fim, são leves embora em muitos deles não se note a presença de asas. Quando falamos de contradições na representação falamos das suas associações pouco óbvias como a forma de pássaro, os quadrúpedes, a forma de peixe, o humanóide. Cranach tomou como exemplo a representação feita por Schongaeur e acrescentou-lhe, para além daqueles seres híbridos, crustáceos e insectos. E tal como na gravura do primeiro autor, também em Cranach é quase impossível distinguir onde começa e onde acaba o corpo demoníaco, pois apenas discernimos uma massa infernal, mas não os elementos em separado. Para além disso o momento em que o santo é atacado – mais até do que tentado – ocorre no ar Cranach foi mais feliz nessa tentativa de levitação do que Schongauer, pois este estreita a paisagem e não deixa que o olho faça a contraposição. Cranach, que tinha desenvolvido o gosto pela representação da paisagem graças a Dürer, esteve menos interessado na geometria e simetria da obra do que o seu antecessor. Existe uma outra versão da tentação de Schongauer atribuída a Miguel Ângelo. Nestes dois últimos o demónio tem corpo de peixe, braços humanos e trompa de elefante, enquanto em Cranach o corpo parece humano e a trompa, novamente de elefante. Estas representações eram comuns nesta época, mas também o eram na arte oriental. Exemplos disso são os diabos chineses segundo Li Long-mien de quem não arranjei imagens. Parece que o Musée Guimet as tem, mas não disponibiliza on line. Bou inbestigáááár:
Schongauer
Tentação de Santo António (pormenor)
1480
Schongauer
Tentação de Santo António (pormenor)
1480
Miguel Ângelo (?)
Tentação de Santo António
1488
Kimbell Art Museum
Miguel Ângelo (?)
Tentação de Santo António (pormenor)
1488
Kimbell Art Museum
1506
British Museum, Londres
Van Gogh
Fifteen Sunflowers in a Vase
1888
National Gallery, London
Assexuada, incapaz de suscitar num homem um interesse mínimo. Desajeitada, risível, triste na minha inviolabilidade, feia, geneticamente errada, um resquício pós-apocalítico de um vómito mal parido. Beleza interior, dizem.
“Eu queria ser mulher para excitar quem me olhasse,
Eu queria ser mulher pra me poder recusar…” (Mário de Sá-Carneiro)
terça-feira, março 16, 2010
[obrigada à sugestão anónima]
Guess it's just another dream
That's slipping away
Each time that I fall asleep
It seems Im just drifting away
Just as you have touched my heart
Babe I wake up and were apart, yeah
And it's slipping away
Here comes just another day
That's drifting away
Every time I draw a breath
Its dying away
First the sun and then the moon
One of them will be around soon
Slipping away
Slipping away
Drifting away
Slipping away
Just as you have touched my heart
I wake up babe and were apart
It seems were slipping away
Slipping away
Slipping away
All I want is ecstacy
But I aint getting much
Just getting off on misery
It seems Ive lost my touch
Well it's just another song
But it's slipping away
Well we didn't sing it long
Cos it's fading away
First the sun and then the moon
One of them will be round soon
Slipping away
Slipping away
Slipping away
(Slipping Away, Rolling Stones)
hipócrates
o antes e depois de hoje não é muito evidente, mas é bem fundamentado, valha-nos isso. O antes mostra-nos uma divindade budista, um demónio mais concretamente de nome Mâra. Este demónio tem inúmeras interpretações consoante as associações que podemos fazer com o seu nome e nem sempre, tal como acontece no Ocidente, os demónios são necessariamente maus. No geral, Mâra é o demónio que tentou Buda, tal como no Cristianismo Santo Antão foi tentado e Cristo também. No caso de Buda a tentação foi a visão de uma bela moçoila. Não que o Budismo a associe aos pecados da carne, mas sim à distracção e à preguiça; ao descuido da alma em detrimento do corpo (que não deixa de ir dar no mesmo). Mas como vimos – vimos não, eu disse – Mâra nem sempre teve esta conotação negativa pois chegou mesmo a ser apenas uma espécie de advogado do diabo e alguns diálogos mais antigos entre Mâra e Buda revelam mesmo conversas bem-humoradas. Nesta imagem (que foi cortada) vemos Mara a tentar Buda graças à multiplicidade de braços. As divindades asiáticas geralmente têm vários braços, uma imagem que pretende reforçar duas ideias. Por um lado os vários braços indicam-nos que Mâra e outros são super humanos e têm um poder que supera o nosso. Por outro mostram-nos como conseguem fazer várias actividades ao mesmo tempo. Shiva por exemplo – que é uma divindade associada à morte – consegue com os seus múltiplos braços degolar um homem, estrangular outro e incendiar uma aldeia, por exemplo.
E pensarão vocês, e muito bem, o que tem a Mara a ver com a "Nossa Senhora". Parece que nada e que a analogia formal é forçada, mas a verdade é que a arte e a mitologia oriental fez mais pelas alegorias góticas do que todos os textos bíblicos, todos os apocalipses e lendas fantásticas. Vou tentar, ao longo de alguns “antes e depois” mostrar isso, embora seja difícil conseguir as imagens. Os cristão chegaram até ao conhecimento destas imagens através de Marco Pólo e depois pelos textos de Isidoro de Sevilha. Marco Pólo descreveu as divindades da ilha Zipangri e mais tarde o relato das mesmas chegou até aos vários povos do mundo através dos viajantes. Obviamente que com deuses destes os orientais eram vistos como povos anormais que adoravam deuses anormais. Mas no Decameron Boccaccio necessita de descrever a imagem da Fortuna descreve-a como se um deus oriental se tratasse: tem cem mãos e outros tantos braços para retirar dos homens os bens terrenos e levar os humanos deste mundo. Neste caso que mostra a Fortuna num Decameron feito para Eduardo IV de Inglaterra, a Fortuna tem seis braços. Lembremo-nos que esta imagem não é a imagem da Virgem, mas sim uma ilustração de um dos contos de Boccaccio, que este utilizou para criar um novo paradigma existencial. Durante a Peste Negra vários jovens refugiam-se fora de Florença e passam os dias a contar as suas histórias. Algumas delas são histórias de vida do próprio Boccaccio e introduzem uma nova realidade: as mulheres a conviver no mesmo espaço que os homens e, ao contarem as suas experiências em ambiente fechado, a separarem o público privado, algo que até aí não existia. A Fortuna assim representada tem uma razão de ser, pois representa, ao contrário do Destino ou do Fado não é intrínseca ao homem e pode ser adquirida segundo os seus desejos. Esta ideia de que a Beleza, a Sorte e o Amor não dependem da condição com que se nasceu, mas sim da capacidade de cada um de nós para alcança-las está também na fundação de uma nova classe social, burguesa, que ascende ao poder político pela força do trabalho e não pela filiação. A Fortuna é a capacidade de cada um de se oferecer e negar bens não necessariamente materiais.
The subjugation of Mâra
Século X
Musée Guimet, Paris
Laurent du Premerfait (tradução)
Fortuna
1480
"quem com ferros mata, com ferros morre":
Este acto de ouvir é um acto muito feminino: Maria ouviu o anjo, Sara teve um filho porque Deus lhe disse, Raab, a prostituta salvou-se pela audição.(Hebreus, capítulo 11, versículo 31) E mesmo o eunuco de Candace acreditou no que ouviu vindo da boca de Isaías (Actos dos Apóstolos, capítulo 8, versículo 27). Apesar disto, apesar do Cristianismo desaguar nas mulheres, começa sempre na entidade masculina, no Homem. Por exemplo, o Homem não vem da mulher, a mulher é que vem do Homem (1 Coríntios 11, 9). No entanto Maria, mãe de Cristo não nasceu de uma costela de Cristo pois se assim fosse não daria à luz Cristo. Sei que estas contradições parecem irrelevantes até porque o Antigo Testamento e o Novo relatam acontecimentos diferentes, mas na palavra dita deveria existir a mesma coerência do que na palavra escrita. Quando morre, a última pessoa que Ele vê (foi visto por Ele em 1 Coríntios 15, 8) é Paulo. (E por derradeiro de todos me apareceu também a mim, como a um abortivo). O texto não diz que Paulo vê Cristo, mas é visto por Ele. Mais uma vez a palavra é enganosa pois como morreu, Cristo não tinha possibilidade de dizer quem tinha visto. E quando ressuscita Maria Madalena foi a primeira pessoa a quem Cristo apareceu (Marcos 16, 9); ou seja, não foi Maria Madalena que foi em busca de Cristo, mas ao contrário. E para além disso Cristo foi visto por Pedro e ouvido por Maria Madalena isto no momento do reconhecimento. Quer isto dizer que quando aparece a Pedro, Pedro reconhece-O, mas quando aparece a Madalena ela não O reconhece. Só quando Ele diz “Maria” é que ela respondeu “Rabonni” (mestre) (João 20, 16). Quando Maria Madalena ia para tocá-Lo Ele disse-lhe “não me toques” pois à mulher bastava ouvir para a acreditar – a fé feminina ouve-se – enquanto aos homens como Tomé era necessário tocar para se certificar. E pronto, é assim.
sábado, março 13, 2010
"Have no fear of perfection — you'll never reach it." - Salvator Dali
[isto é que me chateia]
quinta-feira, março 11, 2010
quarta-feira, março 10, 2010
esta música tira uma pessoa do sério
In the beginning, when life was simple
We were at each other night and day
You were so sensual and so inventive
We said we’d stick together come what may
In the beginning, you were so brutal
You turned the heat on in the afternoon
Get so excited, get so addicted
You had me eating from your golden spoon
Now I don’t wanna spoil the party
I know it goes against the grain
As the plane touched down I got movies of you
Running through my fevered brain
I really love my sweet thing, I can’t give her up
I really love my sweet thing, I can’t give her up
I really love my sweet thing, I can’t give her up
In the beginning, when we were winning
I was your ever-present love-sick fool
You turned the heat off and left me standing
Freezing by your swimming pool
I can’t give it up
I can’t give it up
I can’t give it up
I can’t give it up
Now I don’t wanna spoil the party
I know it goes against the grain
As the plane touched down, and the midnight moon
Can’t just walk away
Really love my sweet thing, wanna’ lick it up
Really love my sweet thing, wanna’ lick it up
Really love my sweet thing, can’t give it up
Really love my sweet thing, can’t give it up
(Sweet Thing, Rolling Stones)
[à mesa]
- Este pão é diferente...
- Sabes quem é que estava a atender os clientes na padaria?
- Não.
- A Vera!
- Quem é a Vera?
- Eh pá, aquela bimba que usa as unhas tão compridas que quase parecem tenazes.
- Sim, essa! Já a vi lá mais do que uma vez. O que tem?
- Dormiu com o patrão e agora é patroa.
- Dormiu com o patrão? Mas ele não era casado? Quer dizer... de facto uma coisa não impede a outra...
- Dormiu com ele para subir, para ser promovida.
- Ser promovida a quê? Subir de papo-seco a brioche?
Antes e depois ou como não gosto muito deste depois ou como também a verdade é que não conhecia este depois. O antes do Ingres vem no seguimento da tradição Neoclássica e depois Romântica de um gosto pelo exotismo e pela raridade, um interesse por culturas diferentes para corroborar a ideia de que estávamos perante civilizações menores e que o homem civilizado tinha conseguido chegar até elas. Ingres pinta este harém baseando-se para isso nas cartas da senhora Mary Wortley Montague, esposa de um embaixador que descreve os banhos em Seraglio, Turquia, nos quais, pela descrição, deve ter sido autorizada a frequentar. Ingres copiou extractos das cartas e deverá ter sido através deles que pintou este e outros quadros dedicados ao orientalismo. Tanto aqui como nos referidos quadros há figuras que parecem estar na mesma posição, o que nos indica que Ingres terá copiado estas mulheres de uns quadros para os outros ou que as teria já em esboços. Isto não é especulação; por mais que se goste de Ingres, não esqueçamos – e isto é um facto – que ele não era um pintor muito dotado de imaginação. Talvez por isso se tenha distinguido no retrato e não nas pinturas que requeriam criatividade. Estas imagens relativas ao orientalismo são em grande parte retiradas das “turquerias” do século XVI, XVII e XVIII. O quadro foi entregue ao Princípe Napoleão, mas a imagens de tantos nus não agradou a Princesa Clotilde de Sabóia e por isso a obra foi devolvida a Ingres em troca de um retrato produzido pelo pintor. Mas Ingres não a deixou na sua forma original e até aos 84 anos de idade efectuou diversas alterações.
A obra, tal como outras, é muitas vezes o mote para pastiches de outros artistas pelas mais variadas razões: como forma de retratar vícios modernos, tragédias actuais (The raft of the medusa), temáticas de hoje… E o que se passa com este “depois” é isso. Não o conhecia e desconfiava um pouco das suas razões. A facilidade não me parece uma boa característica identificativa de uma obra desta ou daquela forma.
O autor é Anton Solomoukha que tentou nesta fotografia incorporar o pecado e a corrupção dos nossos dias no quotidiano com o recurso a uma obra conhecida e que na altura provocou algum escândalo (embora não fosse a expressão de um mundo corrompido e isto é que me aborrece pois o tipo pega na obra errada). Não penso que o recurso ao nu seja a melhor forma para expressar o tipo de corrupção vivido na nossa sociedade, nem os pecados do corpo são hoje os mais perniciosos, embora eu tenha de confessar que o nu, exposto de forma declarada e quase perversa me cause alguma estranheza. É isso que Anton Solomoukha faz aqui: usa esse nu depravado para nos aproximar, tanto quanto afastar da fotografia. Como ocidentais veneramos o nu, conferimos-lhe até o carácter de meio legítimo para atingir um fim. No entanto, não deixámos ainda de corar com o nu, não deixámos de o esconder e exposto, ele torna-se como uma relíquia que perde importância fora do relicário. Estas mulheres gastas, conhecidas, sem mistério, enfartadas já não são novidade nem motivo de interesse, mas apenas o espelho de uma civilização empanturrada e enjoada de tanto as consumir.
Ingres
The Turkish Bath
1862
Musée du Louvre, Paris
Bain Turc, Ingres
Esta passagem confirma a ideia enunciada mais tarde por Santo Agostinho que Maria foi “virgo ante partum, in partum, post partum” (virem antes, durante e depois do parto). Foi também por esta altura, mais precisamente em 431 que o Concílio Ecuménico de Éfeso declarou que Maria era não só a Mãe de Cristo (como pretendiam os puristas), mas também a Mãe de Deus uma vez que Deus tinha vindo à Terra sob a forma humana. Por isso ela passou a ser uma presença regular e com lugar de destaque nas cenas de Natividade. As representações artísticas da Natividade foram sendo alteradas ao longo do tempo, ditadas pelas leis religiosas que muitas vezes eram a leis do mecenato, e pelas novas descobertas. Na minha opinião foram vários os momentos que marcaram a forma como se retratou Nossa Senhora na Natividade. Até às disposições de Éfeso as representações artísticas, pelo menos as que chegaram até nós, mostravam a Virgem numa cama como uma parturiente normal às vezes auxiliada por Salomé, como podemos ver no fresco de Giotto.
Giotto di Bondone
No. 17 Scenes from the Life of Christ: 1. Nativity: Birth of Jesus
1304-06
Cappella Scrovegni (Arena Chapel), Pádua
Konrad von Soest
Nativity
1403
Parish church, Bad Wildungen
Matthias Grünewald
Concert of Angels and Nativity
c. 1515
Musée d'Unterlinden, Colmar
- i'm beluga
- hold your horses
- viktor and rolf
- vaticanopoly
- eyes of mars
- you've touched my ding ding dong
segunda-feira, março 08, 2010
sábado, março 06, 2010
terça-feira, março 02, 2010
Anyone who's ever had a heart
Wouldn't turn around and break it
And anyone who's ever played a part
Wouldn't turn around and hate it
Sweet Jane, sweet Jane
Sweet, sweet Jane
You're waiting
For Jimmy down in the alley
Waiting there
For him to come back home
Waiting down on the corner
And thinking of ways
To get back home
Sweet Jane, sweet Jane
Sweet, sweet Jane
Anyone who's ever had a dream
Anyone who's ever played a part
Anyone who's ever been lonely
And anyone who's ever split apart
Sweet Jane, sweet Jane
Sweet, sweet Jane
Heavenly widened roses
Seem to whisper to me
When you smile
Heavenly widened roses
Seem to whisper to me
When you smile
La la la la, la la la,
Sweet Jane
Sweet, sweet Jane
(Sweet Jane, Cowboy Junkies)
Munch
Puberty
1895
National Gallery, Oslo
E chegamos ao fim da linha: Carmen, modelo de Rodin. Tenho pensado muito nela, na maneira como entrelaça as mãos no meio das pernas, no peito caído, no olhar a fitar-nos... Tenho pensado na velhice e na solidão. Não é a solidão do não estar acompanhado, é na solidão que nasce connosco (e que morre connosco) por mais acompanhados que possamos estar ao longo da vida. Mas como não vale a pensa pensar nisso... Alegria companheiros." "ai minha santa, cê hoji tá qui tá, né?":
Lucian Freud
Girl with a white dog
1951-1952
Tate Gallery, Londres
Carmen (modelo de Rodin para "O Beijo")
1937
Esta obra pertence a um conjunto de trabalhos precoces onde Bosch começa a aguçar o seu sentido crítico, optando no entanto por não o traduzir por monstros e criaturas grotescas. E para obra de início de carreira, Bosch teve muito trabalho, já que existem pelo menos cinco versões deste quadro. A cena é aparentemente normal como as que se passavam nas feiras da época: um conjunto de pessoas observa um mágico de rua, mas guarda em si uma crítica social pois é um aviso à crença geral de que apenas o Altíssimo tinha direito ao inexplicável. Vemos na cena uma mesa com vários objectos como uma varinha (mágica, presume-se), copos, pequenas esferas e um sapo. O segundo sapo, pelo que me parece está a sair da boca entreaberta do homem que está mais à frente. O sapo era um animal com uma simbologia simultaneamente negativa e positiva, consoante a cultura: para os egípcios era símbolo de ressurreição enquanto para os cristãos estava associado ao lixo, à lama, à heresia e ao pecado. Também se via o sapo como o animal que estava associado à alquimia. Talvez não estivesse directamente ligado à alquimia, mas a dissecação deste animal isso fizesse adivinhar.
Atrás deste, um homem de lunetas e vestido com um hábito de monge puxa pela bolsa do protagonista, embora não se possa dizer se este homem é ou não cúmplice do provável mágico que preside a sessão. Como dito, existem cinco versões do quadro e existe igualmente um quadro que dá continuidade a esta cena do roubo da bolsa, o que não deixa de ser curioso porque acaba por ser aquilo que Bosch faz nos seus trípticos e porque se as várias versões revelam alguma insegurança, a continuidade mostra já estabilidade.
Mas temos de explicar o contexto da obra de Bosch. Na época a caça às bruxas tornava qualquer pessoa suspeita e mesmo aqueles que não o eram, nem suspeitos nem culpados, passavam a ser por denúncia de alguém que tentava sobreviver e assim amealhar algo graças à delação. Vivia-se em extrema promiscuidade e tudo se sabia; as cidades eram o receptáculo de todos os que tentavam a sorte: saltimbancos, mágicos, vendedores, jovens que abandonavam as suas aldeias, prostitutas, etc. É isso que o pintor mostra, embora não tenha colocado a cena dentro de uma feira, o que poderia ter distraído atenções. Assim permite-nos concentrar atenções no roubo da bolsa que é feito por uma personagem que está vestida com um hábito dominicano. No entanto, não tem a cabeça descoberta como os dominicanos e é isto que nos levanta a dúvida, já que esta espécie de turbante era típica da burguesia. A Ordem dominicana era uma das mais influentes daquele tempo e também por isso a que gerava mais polémica, pois os dominicanos estavam à cabeça da Inquisição. Por bula papal de Inocêncio VIII foi declarado que muitos homens e mulheres se haviam desviado do caminho de Deus e agora se juntavam em grupos com práticas menos próprias onde abundava o pecado da carne e a magia. Foi assim que começou a caça às bruxas com acusações a pessoas inocentes, muitas vezes para retirar atenções sobre o próprio denunciante e outras, para mostrar temor a Deus. Os dominicanos eram a polícia do Papa e da Inquisição embora, e como foi dito, a sua forma fervorosa de pregar e o conteúdo dos seus discurso fosse visto pelos habitantes dos Países Baixos (que depois se tornaram protestantes), como obsessivo e doentio. Não era uma Ordem levada muito a sério nem pelo povo nem pela justiça e daí a escolha de Bosh. Ao colocar o ladrão na posição de dominicano ele mostra que os dominicanos criavam os males de que se valia a Inquisição, dizendo por isso que de facto a bruxaria não existia – tese defendida também pelos humanistas da época – e que era uma criação dos próprios dominicanos para mostrar expediente ante o Papa.
Hieronymus Bosch
The Magician (pormenor)
1475-80
Musée Municipal, Saint-Germain-en-Laye
Hieronymus Bosch
The Magician (pormenor)
1475-80
Musée Municipal, Saint-Germain-en-Laye
Hieronymus Bosch
The Magician (pormenor)
1475-80
Musée Municipal, Saint-Germain-en-Laye
Hieronymus Bosch
The Magician (pormenor)
1475-80
Musée Municipal, Saint-Germain-en-Laye
O homem é de facto um mágico: de olhos pequeninos a hipnotizar a mulher, capaz de fazer o seu animal amestrado (um cão) saltar dentro do aro encostado à mesa, e possuidor de tanta inteligência quanto a coruja que traz à cintura. Há quem defenda que se trata de uma espécie de macaco e há quem diga que se trata de uma coruja e a mim parece que a segunda hipótese é a mais adequada à cena já que a coruja simboliza a inteligência e a sabedoria, mas também está conotada com a noite e com as trevas e por isso tem uma relação directa com a bruxaria. (Já desde a civilização Helénica que se pensava que as bruxas, não obstante todo o racionalismo dos gregos, tomavam a forma de corujas e de noite sugavam o sangue dos bebés. E lá estamos nós a ir para a “vampirada” outra vez. Deus nos livre e guarde!).
The Magician (pormenor)
1475-80
Musée Municipal, Saint-Germain-en-Laye
Hieronymus Bosch
The Magician (pormenor)
1475-80
Musée Municipal, Saint-Germain-en-Laye
Este mágico, se não está ligado à Alquimia, uma vez que na Alquimia existem várias interpretações para o mesmo símbolo e estas podem até ser contraditórias, está pelo menos ligado à Astrologia, ou ao que deu início à Astrologia. Os planetas conhecidos foram relacionados com uma actividade e a Lua estava ligada precisamente a uma imagem como esta. Esta é que é igual à que existia, mas não deixa de ser curioso ver o mesmo tipo de mesa e os mesmos apetrechos. Aliás, esta imagem do mágico atrás da mesa a fazer os seus truques aparece igualmente numa carta de Tarot denominada “O Mago”, bem como o casal lá atrás – ele com a mão no peito dela, carta essa que se chama “Os amantes”.
[notícias do mundo da arte e assim]