- ars longa, vita brevis -
hipócrates
antes e depois ou "como estes posts já mudavam de título" ou "como já estive a pensar nisso, mas não me ocorreu nada melhor" ou como "não te ocorreu nada melhor, deixa-te de fitas e posta" ou "já vai", ou "ligeirinha, vamos embora", "chata", "chata és tu que não desenvolves", "irra, deixas-me postar?", "anda, estou à espera. tantos floreados para depois ter um post em que só duas ou três linhas servem", "é isso que tu achas?", "é, e é isso que tu também achas", "pois acho", "anda, posta", "ok. este antes e depois de hoje foi muito pensado. primeiro encontrei a imagem de baixo, da senhora que serviu de modelo de Rodin (caticha para o Rodin que foi um copião) para a escultura "o Beijo". Olhei para ela e disse: isto é a mistura entre qualquer coisa de Munch e qualquer coisa, não sei bem de quem, mas que não é Munch. Apontava para Fischl, mas fugiu-me a mão, no teclado, para o Freud e dei de caras com ela, a rapariga de roupão. Por isso, o depois de hoje é uma soma de dois antes, sendo que um deles é mesmo posterior ao depois. Mas vocês compreendem que é uma questão ideológica. O antes de Munch surge com o fim do historicismo (enunciado por Karl Popper) e que colocou um ponto final nas degenerescências da Arte Nova e revivalismos fin-de-sciécle que por essa altura surgiram. Munch, um dos muitos artistas a adoptar a linha livre e a organização em planos, bem como a passar para a pintura a apreensão que se vivia na sociedade da época. Munch era norueguês: o pai médico, tratava de pessoas pobres, a mãe morreu cedo, após a mãe, morreu-lhe uma irmã e uma outra enlouqueceu. Tudo isto levou com que Munch adoptasse num primeiro momento uma postura muito negativista e pessimista na sua pintura, postura essa que mudou quando a sua tendência depressiva foi curada numa clínica de Copenhaga. No entanto, isto faz-me lembrar o filme "Laranja Mecânica" onde o jovem Alex, submetido a um tratamento de choque, perdeu o livre-arbítrio e passou a fazer apenas o bem por condicionamento social, não por vontade própria. No final da sua vida, já curado, Munch produziu obras mais optimistas do que no início, mas nem por isso mais interessantes. Nesta obra que remete duplamente para a puberdade (da jovem e do próprio artista enquanto pintor), vemos por um lado a sua tendência precursora, não abandonando totalmente o figurativismo, mas deixando de parte o pormenor, e o seu lado mais negro. Este quadro é para mim marcante porque há nele qualquer coisa de fantasmagórico e assustador na rapariga. Mais tarde, quando estava para casar, Munch foi traído pela sua noiva e, se não pintou mulheres com esta aura negativa, deve ter pelo menos pensado em pintar.
Munch
Puberty
1895
National Gallery, Oslo
O quadro de Freud presente na Tate Gallery tem algumas semelhanças com o de Munch pois Freud foi o grande perito em transmitir, através de retratos, a dor física ou psicológica de que todo o ser humano é portador (e digo isto, não porque vi escrito em algum lado, mas porque acredito). Apesar de retratar um momento supostamente feliz, uma vez que a retratada era a sua primeira mulher que por acaso estava grávida na altura, Freud fá-lo com uma grande melancolia que podemos ver no cão, nos tons pálidos do fundo e na quase ausência de expressão da modelo. Foi isto que fez com que alguns lhe chamassem o Ingres do Existencialismo, uma vez que os retratos de Freud muito deviam à majestade e impassibilidade dos de Ingres.
E chegamos ao fim da linha: Carmen, modelo de Rodin. Tenho pensado muito nela, na maneira como entrelaça as mãos no meio das pernas, no peito caído, no olhar a fitar-nos... Tenho pensado na velhice e na solidão. Não é a solidão do não estar acompanhado, é na solidão que nasce connosco (e que morre connosco) por mais acompanhados que possamos estar ao longo da vida. Mas como não vale a pensa pensar nisso... Alegria companheiros." "ai minha santa, cê hoji tá qui tá, né?":
E chegamos ao fim da linha: Carmen, modelo de Rodin. Tenho pensado muito nela, na maneira como entrelaça as mãos no meio das pernas, no peito caído, no olhar a fitar-nos... Tenho pensado na velhice e na solidão. Não é a solidão do não estar acompanhado, é na solidão que nasce connosco (e que morre connosco) por mais acompanhados que possamos estar ao longo da vida. Mas como não vale a pensa pensar nisso... Alegria companheiros." "ai minha santa, cê hoji tá qui tá, né?":
Lucian Freud
Girl with a white dog
1951-1952
Tate Gallery, Londres
Carmen (modelo de Rodin para "O Beijo")
1937
4 Comments:
a associação de ideias não é óbvia, mas tem lógica. lá isso tem.
.
gostei
vá lá; não me estrague a associação de ideias que tanto tempo me levou a associar. bom... talvez não seja o mais evidente, mas uma pessoa faz o que pode.
Gostei da associação !não será óbvia mas é evidente...
Cara Alma:
a associação não é bem um antes e depois, mas às vezes estas coisas fazem tanto sentido aqui na minha cabeça que tenho de postá-las.
Enviar um comentário
<< Home