- ars longa, vita brevis -
hipócrates
antes e depois ou como… para falar a verdade, já gostei mais do Lachapelle. No início tinha piada porque era muito barroco e kitsch, mas agora ao ver tanto as fotografias como os vídeos dele dou conta que não se reinventou. Parece que estamos a ver continuamente obras dos anos 90.
O antes de hoje é-nos dado numa pintura de Botticelli que para o fim da vida deu em pintar umas coisas desinteressantes. Trata-se de Vénus e Marte, a deusa do Amor e o deus da Guerra (“Vale tudo no amor e na guerra”) que contam nesta obra o repouso após uma vitória bélica. Esta pintura é curiosa porque aprisiona os dois corpos na horizontal asfixiando-os num ninho de amor. Eu sei, esta expressão é horrível, mas é o que aquilo parece: a árvore de murta, árvore de Vénus atrás dos dois como que a ligá-los, Vénus vestida olha fixamente Marte enquanto este dorme, o deus da guerra nu, sem a armadura e apenas com um pudico paninho branco (com um simples paninho branco eu nunca me comprometo) a cobrir as partes pudibundas e os pequenos faunos brincam às escondidas (se não é às escondidas devia ser) com a armadura, o elmo e a lança de Marte. Estes faunos com patas de cabra e corninhos estão pintados segundo a tradição e um deles sobra ao ouvido de Marte através de uma cornucópia, símbolo da abundância e prosperidade. Por isso é que Botticelli pintou Marte e Vénus como num ninho de amor e com as armas presentes, mas não em riste. A mensagem que o pintor pretendia transmitir era que o poder do amor pode derrotar qualquer força que se lhe oponha. Até as moscas zumbem por ali, ao lado da cabeça de Marte (lado direito do quadro) numa alusão provável à família que terá encomendado o quadro, a família Vespucci cujo nome deriva de vespa e cujo brasão contém este insecto. Pode ser e pode não ser: os Barberini também tinham vespas nas colunas salomónicas em São Pedro (Vaticano) e portanto as vespas podem ser um símbolo transversal a várias famílias e ideologias (para os Barberini as vespas/abelhas representavam a produção de cera que vista ao Sol parecia ouro e de mel que era um manjar celestial).
Sandro Botticelli
Venus and Mars
c. 1483
National Gallery, Londres
David Lachapelle
Flaunt
Novembro
2009
7 Comments:
o antes já não é grande coisa mas o depois é horrível
Pois. Sabe que estav aqui a pensar ( quase a escrever) que o Belogue não se resposnabilizava por eventuais aberrações cometidas por artistas consagrados. Mas se o Belogue não posta El Greco, também não devia postar isto. Mas como diz o meu médico, é impossível ser sempre assim, ser tão denso todo o tempo. E como já relativizei no comentário ao primeiro post, relativizo neste: pior, mas mesmo muito pior era se para além de El Greco, eu postasse pintura metafísica (caticha!!!)
ui ui ui ui
Beluga,
GOSTO DO GRECO !
Se um dia postar sobre o el greco ninguém leva a mal...
caticha??
Olá Alma:
Já postei anteriormente sobre o El Greco e continuo a não gostar. Mas por si, vou sacrificar-me uma vez mais e vou postar sobre ele. E que Deus me ajude!
"caticha" é um termo (talvez) do Norte. Dizemos "caticha" para uma coisa que não presta, que é lixo ou que enoja. Nem sei se se escreve assim; foi-me dito na infância e para mim "caticha" é "caticha"
Beluga,
Muito Obrigada (smile)
Ando sempre por aqui (smile)
Cara Alma:
peço desculpa; eu é que não ando sempre por aqui. Mas vou tentar, prometo, andar mais por este orfanato que criei (é só posts filhos de pai incógnito) e postar sobre o El Greco. Ufa, só de pensar nisso até fico desmotivada.
Enviar um comentário
<< Home