terça-feira, abril 28, 2009

- o carteiro -

vou ali e volto já.

sábado, abril 25, 2009

- back to black -

"A free press can of course be good or bad, but, most certainly, without freedom it will never be anything but bad" - Albert Camus
ora vamos lá ver: eu não sou má pessoa, palavra, mas não consigo deixar de ser formal no tratamento internético. não me parece normal ser de outra forma, embora tudo o que é normal me enfade um bocado. um bocado grande. mas interneticamente tem de ser anormalmente canónico.

segunda-feira, abril 20, 2009

- original soundtrack -

volta Mickael Carreira, estás perdoado:

Sei que os anos vão passando e cada vez te amo mais.
E dedicando sempre um amor sem fim,
nos momentos de paixão e de felicidade.
E eu sempre acreditei que o teu amor era verdade.
Tu sempre juraste a mim eterno amor,
e um dia casarias comigo e serias feliz
mas tu mentiste e vi que estava errado,
um dia vi tu saires com o ex-namorado.

eu vou-te deletar te excluir do meu orkut
eu vou-te bloquear no msn
não me mandes mais scrapts nem e-mails power-point
me exclui também e adiciona ele

(Eu vou-te deletar te excluir do meu orkut, Élvio Santiago)
tenho muitas vezes a sensação que não existo, que sou invisível. isto não é um caso crónico de Solipsismo, uma vez que há troca de palavras com outras pessoas, mas não considero isso suficiente para sentir que existo? ou então, tenho a sensação que toda a gente tem a chave de uma porta, a mesma porta. e à noite, toda a gente sai e tranca a porta por fora e eu fico lá dentro. como no "Truman Show", quando o barco bate na parede do estúdio, sabem?
- não vai mais vinho para essa mesa -

[não sei porquê, mas tal como na piscina, no comboio acontece-me sempre alguma. ou um tarado sexual se senta ao meu lado (eles parece que têm radar) a fazer perguntas pessoais, a contar como podíamos ir ao cinema. daqueles com a camisa abotoada até cima e óculos para texugos, sabem?... é isso. Ou então sentam-se velhinhas a contar as boas novas das plantações e as boas novas das doenças (que para elas são boas porque é uma forma de competição). um destes dias sentou-se uma senhora, nem velha nem nova que de imediato encetou a seguinte conversa que eu espero, não vos choque]
- Ai menina! A menina num tém medo de bir assim no cumboio a esta hora?
- Não, não.
- Mas é munto tarde!
- Não é assim muito tarde.
- Pra bocês nunqué tarde. Estão sempre prontos. Eu quando tinha a bossa idade tumbém era assim. E agora inda sou. Num me fico!
- Pois [a tentar acabar o livro]
- Inda agora benho dádbogáda.
- A sério?
- Pois. Eu disse-lhe que num me ficába, num disse? Ó carágo, comigo é assim. "Pra bilão, bilão e méio".
- É o que se costuma dizer!
- Pois fui lá falar cum ela proque o meu marido, o meu ex-marido que a gente istá a diborciar-se religiosamente... É assim que se diz, num é?
- Letigiosamente?
- Isso! Pelo menos é o que diz ádbogáda.
- Pois!
- Ele ánda-me a difamar, o coirão? Trocou-me por aquela prostitruta brasileira, queu ráisma parta seu um dia inda num lhe bou às fuças, e agora diz que eu sou uma prostitruta. E inté disse que eu já tenho um cabaleiro!
- Disse que a senhora já tinha um cavalheiro, um namorado, não é isso? Pronto, mas isso é bom.
- Nãáo! Disse que eu tinha um cabaleiro que era mesmo pra me montar.
- o carteiro -

Os Steinbroken* do Design
Já na semana passada estava a passar os olhos pela “Única” do Expresso (que por acaso não era a única revista que havia por ali, mas era a que estava mais à mão) quando me deparei com um artigo que se chamava “Comer com os olhos” (Revista Única de 10.04.09). Bem sei que não sou a pessoa mais indicada para falar de comida, mas também não serei a pior embora o artigo falasse do food design. Na minha opinião o “food design é como a pescada “antes de ser já o era”; ou seja, antes de alguém lhe dar um nome e teorizar sobre isso já há muito cada um de nós praticava o food design. Até tenho aqui uma fotografiazinha da Tele-Culinária de 1980, com receitas do chefe Silva para verem que, não obstante o serviço não ser da Vista-Alegre e os utensílios de cozinha não serem da Habitat, o já havia a noção do que era o food design, mesmo que não designado por esse nome. Era como dizia Goethe: “o que está dentro, está antes fora”. As batatas fritas em palitos são food design, as batatas pala-pála também, os peixinhos da horta idem, pratos como jardineira e massa à lavrador idem ibidem e até o cozido à portuguesa é um produto de food design. Passo a explicar:


No artigo (página 54 a 57). Fala-se de alguns “pioneiros” como Marti Guixé
cujo trabalho não acho premente, mas compreendo o lado divertido do design, ou da imaginação associado à comida. Vogelzang uma senhora que se apresenta como eating designer (seja lá o que isso for) diz que “constrói eating experiences (experiências do – acto de – comer) reflectindo sobre a dimensão social, cultural e sensorial da comida” (seja lá o que isso for, parte 2). Ao ver o site da eating designer acho que podemos ver que é mais uma eating artist. Podemos ver isso aqui. Falo de uma eating artist porque as suas interveções, mesmo que com o propósito “cultural e sensorial da comida”, não passam de instalações. Aí sim, há o apelo ao sensorial, mas não ao prático, ao útil e por isso não é apenas design. Há mesmo alguns exemplos apresentados no link que já existem e que nem por isso são tratados como “food design”, tais como as pequenas doses de sushi. Antes de Vogelzang as apresentar, tenho a certeza que o Japão as saboreava do mesmo tamanho e com o mesmo propósito. Bem sei que tenho uma visão muito pragmática do design, que associo forma à função e que gosto de separar as águas. Embora defenda que qualquer artefacto resultante de um processo de design deva ser simultaneamente prático, adequado ao que se propõe fazer, dentro do orçamento e acessível a todos, não descuro o sentido duplo que uma peça possa ter acho essencial, e tão importante quanto o resto, que a mesma faça um apelo a um leitmotif, a uma pertinência, enredo, conceito. Ainda relativamente a Vogelzang pode ler-se no artigo o seguinte “Vogelzang fez ‘projectos didácticos’, como Veggie Bling Bling (2007), em que com um utensílio para descaroçar maçãs criava colares, anéis, piercings e brincos feitos de cenouras, rabanetes e pepinos, esperando convencer os mais pequenos a comer vegetais.”. Ora o que é feito da sopa de ervilhas totalmente passada? O que é feito dos pratos decorados que os pais, mais ou menos extremosos nos davam: o arroz em cima, um ovo com duas gemas a fazer de olhos, uma azeitona preta no meio a fazer de nariz e a salsicha a fazer de boca? O que é feito da sopa de letras (no fim eu escrevi-a sempre o meu nome)? O que é feito das cerejas penduradas nas orelhas? O que é feito de expressões como “as cenouras fazem os olhos bonitos” ou “a pele do bacalhau faz as maminhas crecser”? Os mais pequenos sempre tiveram aversão a comer vegetais e outros alimentos, mas sempre os comeram e isso até era um acto divertido. As couves de Bruxelas são intragáveis, é verdade, mas só de pensar que podia comer uma couve (anã) inteira, comia! Voltando um pouco atrás: tanto a “jardineira” como a “massa à lavrador” apresentam-se com os produtos cortados no tamanho certo para a boca, quase nada necessita de faca. O cozido à portuguesa é um “dois em um” porque tanto pode ser um prato hiper calórico (para quem gostar e não se coibir dos enchidos), como pode ser mais saudável (para quem optar pelos vegetais, carne branca e uma porção de cereais).

Avanço no artigo e passo para uma parte que me irritou substancialmente até porque já tinha escrito no Belogue sobre isso. Portanto, quando li “Em Portugal, o livro ‘Fabrico Próprio’: o design da pastelaria semi-industrial portuguesa, dos designers Frederico Duarte, Rita João e Pedro Ferreira (Pedrita) é um caso de sucesso. (…) toma os bolos nossos de cada dia como objectos de design de pleno direito”, eriçou-se-me o pelo e bufei como um gato irritado. E mais não digo porque o resto está no link que deixei aqui em cima. Não compreendo e não aceito que se possa chamar de inovador a “criação” de mil-folhas (bolos) mais finos e chamar isso design. O design está na faca e na noção de cada um de nós de que se não conseguimos trincar um mil-folhas sem nos sujarmos, temos que cortá-lo. Não é preciso editar um livro, fazer um workshop, um programa de televisão e anunciar isso “em terra de cegos” como design.

Depois do momento em que a bílis me subiu à boca, surgiu na leitura o momento hilariante: “Numa perspectiva menos glamorosa, mas igualmente pertinente, a designer Sandra Neves desenvolveu um projecto, “Gostar de Comer” [que desde já aviso, não funcionaria com doentes do comportamento alimentar], que une food design e design inclusivo procurando soluções para pessoas que sofreram um acidente vascular cerebral e que portanto têm dificuldade em comer os pratos da cozinha tradicional portuguesa (um bom cozido, ou bacalhau com grão). Cortando a carne e as batatas em cubos, tudo se torna mais fácil e deixa de haver excluídos”. Aqui, confesso, quase fiz xixi de tanto rir. A última frase faz de todas as mães do mundo (quer dizer, quase todas), umas designers, uma vez que todas elas (a minha pelo menos), já cortavam a carne e as batatas em pedaços mais pequenos quando aprendemos a comer sozinhos. E isto quer dizer que todos os filhos, primos, tios, padrinhos e pais de pessoas que tenham sofrido um acidente vascular cerebral são designers porque, preocupados com a qualidade de vida dos seus parentes cortam a carne e as batatas e até fazem esparregado e empadão para quem perdeu a dentição a fim de não haver “excluídos”. Isto também quer dizer que ao contrário do que se pensa o design é a mais antiga profissão do mundo e que este está cheio de designers. Isto também quer dizer que num mundo sem excluídos vivemos na Utopia. Ou já teremos passado para a Distopia em que em nome do glamour deixará de haver excluídos?
*O conde Steinbroken era um personagem de “Ao Maias” de Eça de Queirós, minitro da Finlândia que representava a diplomacia inútil. A sua frase chave era “C'est grave, c'est excessivement grave".
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

Esta pintura de Botticelli é bastante diferente daquelas pelas quais ficou conhecido como “O nascimento de Vénus”, “A Primavera”. Neste quadro Botticelli conta um episódio do Decameron de Giovanni Boccaccio: a história de “Nastaglio degli onesti”. Apesar da arte do seu tempo retratar quase sempre assuntos mitológicos e religiosos, e por isso, retratar o passado, havia algumas excepções como esta e o Decameron como literatura do Renascimento foi por vezes o tema escolhido para representar o presente, pois é um retrato fiel do século XIV. O Decameron consiste na compilação de 100 histórias de amor, tragédia e algumas piadas. As histórias são contadas por 7 mulheres e três homens que conseguem escapar da morte na Peste Negra que assolou Florença em 1348. Numa villa fora da cidade de Florença esperam que o tempo passe, que a normalidade regresse e para se entreterem contam histórias uns aos outros.

O conto de Nastaglio é uma história sobre amantes, com final feliz. A filha de Paolo Traversaro, a quem Nastaglio se declara, rejeita-o por achar que a sua (dela) beleza extraordinária merece melhor. Nastaglio entra em desespero, pondera o suicídio, mas os amigos aconselham-no a ir velejar, sair para o mar durante um tempo. De vez em quando os amigos vistam-no e têm longos banquetes nas margens onde ele ancora. Um dia, ao passear pelas florestas Nastaglio vê uma perseguição horrível: um homem a cavalo e acompanhado por cães persegue uma jovem muito bela e nua. O homem salta do cavalo, ataca a mulher, retira-lhe o coração com uma faca e dá-o aos cães para estes comerem. No entanto a jovem levanta-se e continua a andar. O cavaleiro explica a Nastaglio que ambos estão mortos há muito, mas em vida ele tinha pedido a mão dela em casamento e ela havia recusado o pedido. Assim, tal como no mito de Sísifo, o sofrimento é rotativo e infinito: ele terá de sofrer por se ter suicidado e ela terá de sofrer por o ter rejeitado. Isto acontece todas as sextas-feiras, à mesma hora e no mesmo bosque. Nastaglio fica muito perturbado e começa a pensar no seu próprio caso. Convida então a família de Paolo Traversaro para na sexta-feira seguinte se juntar a ele num banquete naquele bosque. Está o banquete a decorrer quando a terrível cena de perseguição e morte dá início. As raparigas que estavam à mesa começam a gritar e a fugir; só Nastaglio permanece calmo e tenta explicar à multidão o significado daquela cena: As mulheres adaptam-se aos desejos dos homens e rara será a mulher do Renascimento que vire as costas a um pretendente apropriado. A noiva de Nastaglio que o tinha rejeitado acaba por casar com ele.

Esta história costumava ser o tema preferido para encomendas que celebravam casamentos por alturas do Renascimento. Era considerada uma forma de homenagear a noiva (Cruzes, credo!!!!). Botticelli pintou o tema repartido por quatro painéis: os dois primeiros painéis mostram o jovem Nastaglio no bosque a presenciar a cena da perseguição e martírio da jovem por parte do cavaleiro. O terceiro painel mostra a cena do banquete com a família de Traversaro e o casamento que daí adveio. O quarto painel mostra o banquete do casamento à moda do Renascimento e com todos os detalhes descritos por Boccaccio. O que é inovador nesta pintura de Botticelli é o tema um pouco violento (eram os prenúncios de uma conversão à prédica de Savonarolla que fez com que o pintor acabasse por queimar alguns dos seus quadros) (asshole!!!), mas também o uso de cores muito fortes e vibrantes. Presume-se que para acentuar o carácter trágico da cena, Botticelli a tenha pintado de uma forma Maneirista (ainda não estávamos no Maneirismo, mas esta paleta cromática é típica do Maneirismo): com cores fortes, momentos quase encenados, grandes cenografias e muitos figurantes. Tudo isto intensifica-se quando Botticelli compara o caos da cena de caça e morte com a visão calma do céu e do mar em fundo.

Já Ballester fez ao quadro de Botticelli o mesmo que fez a muitos outros presentes no Museu do Prado em Madrid: retirou-lhes toda a presença humana reduzindo-os apenas ao seu cenário. Perante isto (talvez este caso de Botticelli não seja o melhor para explicar o que pretendo), é natural que o observador veja apenas a paisagem e não sinta necessidade de ver figura humana. Sente a solidão própria de quem vê um quadro de Bruegel a retratar a vida da aldeia num dia de Inverno, se essa aldeia estivesse abandonada. E quando comparado com um conjunto de quadros semelhantes, nas mesmas condições, a sensação deve ser muito parecida com a visita a uma exposição do alemão Caspar Friedrich. Relativamente a esta pintura em particular, mais do que solidão a pessoa sente o abandono isto porque se não há presença humana há resquícios da presença muito recente de seres humanos na cena: os pratos no chão, a toalha revolta e o banco caído indicam isso.


Botticelli
The Story of Nastagio degli Onesti
1483
Museo del Prado, Madrid



José Manuel Ballester
2008
- o carteiro -

quentes e boas do mundo da arte e assim:
ólhó passarinho:
Não se conheciam muitos retratos dele (há cinco tipos de retrato de Leonardo, nenhum oficial, mas todos tendo como denominador comum, a barba), mas foi recentemente encontrado (não sei se isto já saiu em algum jornal, mas para mim é novidade), um retrato de Leonardo da Vinci no vitral da Catedral de Arezzo, na Toscânia, Itália. Alezzandro Vezzosi, director do Museo Ideale em Vinci, na Toscânia (onde Leonardo nasceu em 1452) defende que a personagem que mostra um homem de alguma idade e de barbas brancas, com um chapéu vermelho na cabeça, é, entre muitas das figuras que aparecem naquele vitral, Leonardo da Vinci. O que corrobora esta opinião é o facto de ao lado do suposto Leonardo estar uma figura cujo rosto é muito semelhante ao rosto do apóstolo São Mateus na Última Ceia de Leonardo. A pintura no vidro retrata a cena da Ressurreição de Lázaro e é da autoria de Guillaume de Pierre di Marcillat, um artista francês que viveu entre 1475 e 1529, que foi discípulo de Donato Bramante e Rafael e que muito provavelmente terá conhecido o pintor italiano. Ainda segundo Vezzozi, o vitral deverá ter sido executado em 1520, um ano antes da morte de Leonardo em Amboise, França.
Ó Elvas ó Elvas, Alicante à vista:
Quem for a Alicante entre 2 de Abril e 13 de Novembro, pode trazer, para além dos dentes cheios de torrão, uma fantástica memória daquilo que vai estar presente na exposição “The Body Beautiful in Ancient Greece”, com peças do British Museum. O local a receber esta exposição (que será inaugurada amanhã pela rainha Sofia), é o Museu Arqueológico de Alicante e a mesma vai contar com 125 esculturas, peças de cerâmica, terracota, mármore, bronzes, moedas e alguns manuscritos, incluindo (na categoria “escultura”) o Discóbolo. Gente, é aproveitar porque o Discóbolo só saiu do British Museum para ser exposto num outro museu apenas uma vez. Com esta é a segunda e é aqui bem perto. O rapaz pesa cerca de 700 quilos e tem 1,70m de altura, é bem parecido e é um “must have” para quem gosta destas coisas. E para quem não gosta, também.
“We will allways have Paris” (pelo menos até 23 de Agosto):
Até à data referida, Paris vai ser o centro das exposições interessantes (para além de Alicante). Leve a sua cara metade ou a sua cara inteira e vá a Paris para ver seis exposições imperdíveis. Começamos com “William Blake: le génie visionnaire du romantisme” é uma exposição composta por cerca de 130 trabalhos do artista, trabalhos esses, que pertencem ao British Museum (caramba, este ano deve haver limpeza de pó no British!) que vai estar patente no Petit Pallais em Paris, de 2 de Abril a 28 de Junho
Na Galerie Azzedine Alaïa poderá ver a 52º edição do World Press Photo - 2009. De 6 a 27 de Maio (é pouquinho, mas é para dar para todos). O vencedor deste ano é Anthony Suau.

Teremos também Alexander Calder no Centro Pompidou com a exposição “Alexander Calder: Les années parisiennes”. Diz-se que o trabalho do americano Calder mudou depois de uma temporada no atelier de Mondrian. Para esta já foi inaugurada no dia 18 de Março, mas tem até 20 de Julho para vê-la.

Já inaugurada também e mesmo no limite do prazo a excposição “Paul Morrissey: Photo Opportunities” na Galerie Basia Embiricos. Paul Morrissey foi empresário de Warhol até o início dos anos 70 e o seu trabalho tem como ponto de focagem o ambiente vivido na Factory . Poderá conhecer o trabalho até dia 30 de Abril.

No Musée du Luxembourg e até 2 de Agosto estará patente a exposição “Filippo et Filippino Lippi: la Renaissance a Prato” Prato foi a cidade onde Filippino, filho de Filippo Lippi e de uma freira nasceu, e é também a cidade que a partir do século XV rivaliza com Florença em crescimento económico. Pai e filho pintaram muito a vida da cidade e a vida monástica, claro!

Deixo para o fim uma sugestão menos mediática, mas nem por isso menos interessante. A exposição intitulada “Silent Writings”, que poderão ver no Espace Culturel Louis Vuitton até 23 de Agosto de 2009 mostra uma parte do trabalho do grupo Louis Vuitton em recuperar os Moais da Ilha de Páscoa até 2009, com a construção de um centro de desenvolvimento e da Rapa Nui Foundation. O projecto chama-se “Moai: journey of light”. Em 2010, o ano do culminar do projecto, o espaço parisiense albergará, em regime de empréstimo o Moai, escolhido pelo povo de Rapa Nui como uma mensagem de Paz. Então até 23 de Agosto o espaço cultural Louis Vuitton dá a conhecer aos seus visitantes as 3 placas hieroglíficas “Rongo Rongo” que até hoje e desde a sua descoberta nunca forma decifradas.
- não vai mais vinho para essa mesa -

playlist para ir correr ou o meu momento Élvio Santiago ou chamem-me bimba, I don't give a damm*:
- Ciara - "Love Sex and Magic" (por o que acontece entre os 2 minutos e 17 segundos e os 2 minutos e 32 segundos)
- Nelly Furtado - "Promiscuous" (pela letra)
- Britney Spears - "If you skeek Amy" (pelo jogo de palavras um pouco "o bacalhau quer alho")
- Aretha Franklin - "Respect" (como não gostar?)
- Pussycat dolls - "Buttons" (pelo direito de ser bimba)
- Kellis - "Milkshake" e "Bossy" (pela "lata")
- Jennifer Lopez - "Control myself " (pelo "zzzzz-zzz-zzzzz-zzzz-zz-zz-zz-zz-zz")
- Beyonce - "Deja vu" (pela dança, pela Beyonce)
*confesso que tenho vergonha

sábado, abril 18, 2009

- back to black -
[curiosamente, talvez porque já não fico à espera das migalhas, os meus fins -de-semana são cada vez menos "black"]

"An artist discovers his genius the day he dares not to please." - Andre Malraux

quarta-feira, abril 15, 2009

- original soundtrack -

Everybody, give it to me huh
Hey Hey Hey
I want you to believe every word I say
I want you to believe every thing I do
I said music is what I've got to give
and I've got to find some way to make it
Music is what I've got baby
I want you to come on and shake it
shake it shake it baby
oh yeah hey
na na na...
oh yeah..
na na na

Funky, Funky, Funky, Funky
Funky Kingston, is what I've got for you
oh yeah
Funky Kingston, yeah is what I've got for you
Funky Kingston
oh yeah

Let me hear your funky guitary
o reggae
hear the piano, stick it to me

watch me now
you watch me now
Playing from east to west yeah
I just play from north to south, yeah
I love black America
people keep on asking me for
Funky Kingston
But I ain't got none
somebody take it away from me

(Funky Kingston, Toots and Maytals)
- não vai mais vinho para essa mesa -


No café/padaria/pastelaria, tomava um chá enquanto mantinha as orelhas no ar. Eis senão quando ouço uma senhora atrás de mim:
- Queria um galão escurinho e um pão com manteiga, por favor.
Ao que o empregado que a atendeu responde virado para o lado de lá do balcão:
- Ó Elizabete, já que estás com a mão na massa, faz-me aí um biquinho com manteiga!

[ia-me saindo o chá pelo nariz de tanto rir]
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

Antes e depois ou “porque alguém disse que não gostava de Damien Hirst” ou como “cara Maria, se o seu asco pela obra de Hirst lhe provoca comichões no céu da boca como o meu asco por El Greco, acho que isto bem merece um post. Há algum tempo tinha visto a segunda imagem, a imagem de Hirst a “imitar” qualquer coisa de Bruegel. Mas por mais que puxasse pela cabeça e consultasse os anais pictóricos e a minha biblioteca visual, não me vinha nada à ideia. Por isso é que às vezes demoro a postar: ou está perfeito, ou não está. Para mim faz toda a diferença e, assim como assim, ninguém deve ler isto, para quem ler não faz diferença nenhuma um dia para a frente ou dois dias para trás. Estava então a dizer que apontei no meu caderninho esta imagem e respectiva referência à espera do dia em que, em desesperadamente em busca de Brugel, ou por acaso, descobrisse o “antes” que dá existência ao “depois” de Hirst. Um dia, lá estava eu a ver um livro quando vi a gravura de Bruegel, referente às tentações de Santo Antão; não confundir com o quadro “A tentação de Santo António” do mesmo autor.


Daquilo que sabemos de Bruegel e que nos pode ser útil para este post é que ele e Hirst… não tinham nada em comum. É talvez mais provável que se saiba com consistência mais sobre Bruegel do que sobre Hirst. Bruegel era um homem da sua terra: chamavam-lhe “Bruegel di Breda” (cidade onde terá nascido) e “pintor camponês” (ou qualquer coisa semelhante). Não era no entanto um inculto ou um homem desinteressado pelas práticas dos outros países: tal como pintores que desejavam ter o seu nome associado a grandes obras artísticas e mecenas generosos, Bruegel romanizou-se; ou seja, foi para Itália para aprender mais sobre o estilo e as novidades italianas. Na sua terra era considerado um homem culto, que privava com as elites, mas divertido e sociável: tanto se dava com as elites como com os camponeses. Como se não bastasse era um “socialista” atento à política e condições de vida no seu meio, embora a sua obra não transparecesse qualquer crítica social. Mesmo quando, nas suas alegorias, se socorre do onírico e do surreal, não é no sentido crítico, isto porque Bruegel era a favor da Reforma calvinista por oposição ao Catolicismo. Isto não seria problema se nessa altura a Flandres não estivesse sob o domínio espanhol que era nada mais nada menos que Católica. Mais; o rei espanhol era um coleccionador de Brugel. Apesar de ter privado com os grandes de Itália, não era inferior a eles. Rubens aliás era um grande admirador seu e no túmulo de Bruegel encontra-se uma obra de Rubens. Mas não era um pintor mundano: interessava-lhe observar as pessoas, ver as suas reacções, medos e fantasias, mais do que pintar deuses ou deusas. (Não foi Tolstoi que disse “pinta a tua aldeia e pintarás o mundo”?). A sua obra retrata tanto o quotidiano do povo, no que diz respeito ao seu trabalho, mas também no que diz respeito às desigualdades sociais, como as lutas entre os ideais religiosos. Na gravura “As tentações de Santo Antão”, vemos como o universo criativo do pintor se aproxima do de Bosch na forma como trata temas bíblicos como se de episódios da aldeia se tratassem. Bruegel utilizou aqui esses elementos do quotidiano para ilustrar a lenda popular das tentações do santo, mas também utilizou ou provérbios como forma de codificar o quadro, algo que também fez na obra “Provérbios Flamengos”. Um exemplo: o peixe que apodrece na cabeça do santo simboliza a decadência do catolicismo (Cristo é identificado com um peixe no Cristianismo)

Pieter Bruegel
Temptation of St. Antony the Great



David Bailey
Damien Hirst
2004

- o carteiro -



- o carteiro -



Who’s that girl?

Estava eu a ver o Canal de História quando me deparei com um nome e uma definição: Lilith, a primeira mulher de Adão. Segundo aquilo que conhecia da Bíblia, a única mulher de Adão foi Eva. Mas segundo o Judaísmo, não. Passo a explicar.

O nome Lilith tem ramificações anteriores ao próprio Cristianismo: na Mesopotâmia o nome Lilith derivava de uma classe de demónios chamados os lilû (o feminino era lilitu), etimologicamente Lilith está relacionado com a palavra suméria “lil” (vento) e não com a palavra hebraica “laylah” (noite), embora tenha sido na tradição hebraica que a lenda de Lilith ganhou maior dimensão. Como podemos ver Lilith tem numerosas interpretações e numerosas são as histórias que se contam acerca desta personagem. Para o Cristianismo e para o Judaísmo, Lilith tem origens e importâncias diferentes. Isaías refere-se a ela quando diz o seguinte: “As feras do deserto se encontrarão com as feras da ilha, e o sátiro clamará ao seu companheiro; e os animais noturnos ali pousarão, e acharão lugar de repouso para si.” (Isaías – 34, 14). No entanto, aqui Lilith é identificada como um demónio. No fundo e em cada uma destas tradições e religiões Lilith é um demónio. Segundo a tradição assíria existiam três tipos de demónios: Lilu (de que já falámos), Lilit e Ardat Lilit, sendo que Lilith faria parte da segunda categoria. Segundo a tradição hebraica os demónios dividiam-se em espíritos, diabos e “lilin”. Os primeiros não tinham corpo nem forma, os segundos tinham forma humana e os terceiros tinham forma humana, mas também possuíam asas. É a este terceiro grupo que pertence Lilith, embora nem sempre seja retratada com asas.

A história parece complexa, mas vamos então ao que interessa já que muitas são as lendas acerca de Lilith, bem como as associações do seu culto a outros cultos. Num esforço para explicar as incongruências do Antigo Testamento foi desenvolvido na literatura judaica um conjunto complexo de escrituras sob um sistema chamado midrash. A midrash é a tentativa judaica de explicar os textos bíblicos à luz de novos conhecimentos. O método de interpretação tanto se socorre da Filosofia e da Teologia como da imaginação e apareceu sobretudo devido às referidas incongruências mas também devido à colisão existente entre as duas formas de criação do Homem. Mais tarde, no século XIII é que estas interpretações deram lugar a uma visão mais mística da literatura religiosa judaica na Cabala.

Segundo a literatura midrástica, a primeira mulher de Adão não foi Eva, mas Lilith. O Antigo Testamento nada refere acerca disto, mas o folclore judaico e os textos presentes no Talmude, no Alfabeto de Ben Sira e no Zohar mostram-nos esta versão da história de Lilith que como se perceberá ficou associada ao Feminismo. Diz-se então que depois de ter criado do barro Adão, Deus criou da mesma matéria Lilith. Ora Lilith cedo se apercebeu que teria de se submeter à vontade de Adão e de Deus, e foi contra isso que se manifestou: se era feita da mesma matéria do Adão, era igual a ele, não havia razão nem para se submeter à sua vontade, nem para ficar por baixo durante as relações sexuais. Lilith opôs-se a Deus e a Adão e acabou por sair do Éden. Adão que estava furioso pela insolência da esposa pediu a Deus que a trouxesse de volta. Este enviou três anjos chamados Senoy, Sansenoy e Semangelof em busca de Lilith que foram encontrar junto do mar vermelho. Apesar dos avisos dos anjos que diziam que se a mulher não voltasse para Adão todos os dias morreriam cem dos seus filhos (Lilith dava à luz cem filhos por dia), ela recusou e disse que tinha sido criada para fazer mal a crianças. No entanto, e após alguma negociação Lilith acordou nada fazer às crianças que trouxessem ao pescoço um amuleto com a imagem e o nome dos três anjos. É por isso que ainda no século XIX Lilith estava associada à síndrome de morte súbita em crianças. Como esta morte não tem explicações médicas as pessoas atribuíam a morte súbita durante o sono a Lilith que se vingava dos seus filhos mortos roubando a alma aos filhos dos vivos. Em muitos lares semitas era comum encontrar na parede do quarto de uma criança recém nascida a inscrição “Lilith-abi”; ou seja “Lilith vai-te embora” que com o tempo terá originado “Lilla-be” e mais tarde “Lullaby”, denominação das canções de embalar.

Diz-se que depois da expulsão do paraíso, e para justificar a existência de mal no Mundo, Lilith dormiu com Adão (marotos!!!) e deu à luz os espíritos maus, as pessoas de má índole (pessoas de má índole, eis a vossa ancestral). Na tradição islâmica por seu lado é dito que Lilith, depois de expulsa do paraíso deu à luz Jinn; ou seja Jinni; ou seja, o “génio” (ufa!). Mais tarde, e porque já não tinha lugar nas escrituras sagradas Lilith foi relegada para o plano das fantasias, alquimias, feminismo, vampirismo e outras que tais, sendo mesmo dito que ela seria um súcubo (a versão feminina do incubo, o demónio) e que durante a noite operava. E de que forma operava Lilith? Para além de retirar a vida às criancinhas também assustava os homens crescidos. É que em comparação com Eva, Lilith é de facto a mulher sedutora e as duas, em comparação com a Virgem Maria mostram como ao longo dos tempos, ou pelo menos, desde tempos imemoriais as mulheres se têm socorrido dos seus encantos físicos (sexuais ou sensuais) para conseguirem seduzir o público masculino. Não com o objectivo de obter deste mesmo público algo de palpável, mas com o objectivo de subjugá-lo.

Os chamados “sonhos molhados” que os homens têm, são atribuídos à presença de Lilith durante o sono. Esta noção remonta à Idade Média onde era dito que Lilith, a mulher do incubo, copulava com os homens durante o sono causando-lhes assim “sonos molhados”. Os sonhos molhados não eram mais do que a ejaculação durante o sono e que ocorre com mais frequência durante a adolescência e cerca de uma vez por mês. Por isso os monges da Idade Média dormiam com as mãos pousadas e cruzadas sobre os genitais e a segurar um crucifixo com vista a protegerem-se das visitas nocturnas de Lilith (eu acho que alguns tiravam as mãos…).

Apesar de não ser reconhecida pelo Cristianismo Lilith foi frequentemente representada em pinturas e relevos relativos ao episódio do pecado original. Ela foi associada à serpente nos Génesis, algo que podemos ver tanto no fresco da Capela Sistina da autoria de Miguel Ângelo como no relevo da Catedral de Notre Dame em Paris. Em ambas as representações Lilith aparece como uma mulher de peito à mostra, mas cujo corpo na parte de baixo é o de uma serpente. Quem também se deixou encantar pela lenda de Lilith foram os Pré-Rafaelitas, principalmente Dante Gabriel Rossetti que chegou mesmo a escrever este poema “Lilith” e a pintar o quadro que vemos em baixo. Bons sonhos!



Adão, Eva e Lilith
Notre Damme, Paris





Miguel Ângelo

The Fall (pormenor)

1509-10

Cappela Sistina, Vaticano



John Collier

Lilith

1887

The Atkinson Art Gallery, Southport




Dante Gabriel Rossetti

Lady Lilith

1867

Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque


Of Adam's first wife, Lilith, it is told
(The witch he loved before the gift of Eve,)
That, ere the snake's, her sweet tongue could deceive,
And her enchanted hair was the first gold.
And still she sits, young while the earth is old,
And, subtly of herself contemplative,
Draws men to watch the bright web she can weave,
Till heart and body and life are in its hold.


The rose and poppy are her flower; for where
Is he not found, O Lilith, whom shed scent
And soft-shed kisses and soft sleep shall snare?
Lo! as that youth's eyes burned at thine, so went
Thy spell through him, and left his straight neck bent
And round his heart one strangling golden hair.


(Lilith, Dante Gabriel Rossetti)
- o carteiro -

hoje é poucachinho, mas é de boua buntáde

sexta-feira, abril 10, 2009

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

"Louvai o Senhor na santidade do seu templo
Áaa-lé-lui-a, Á-lé-liu-aaaa
Louvai-ooo no firmamento do seu poder
Á-lé-lui-aaa Ááa -lé -lui-aaaa..."

Quem cá vem sabe que nós não somos muito apologistas do kit "sempre comentado" ("que giro", "adorei"), frase feita+quadro, mas como esta não é uma frase feita qualquer e também não é um quadro, deixamos aqui a história desta Pietá do Miguel Ângelo. Certo dia inquiriram-no sobre a juventude da Virgem...

em comparação com a juventude do filho morto...


na Pietá. A Virgem estav de facto muito "remoçada". Nova demais para ser mãe de alguém com 33 anos. O escultor/arquitecto/pintor/humanista respondeu:
"Do you know that women who are chaste remain much fresher than those who are not?"
Boa Páscoa (isto não foi ele que respondeu)

Miguel Ângelo
Pietà
1499
Basilica di San Pietro, Vaticano

terça-feira, abril 07, 2009

- o carteiro -

já não estou no skim.com. perdi os vossos mails e endereços.
ao deixar este post sinto aquilo que devem sentir as senhoras de coque que lêem a Burda ao balcão de uma loja de lãs com escaparates de pinho, em pleno Verão tropical, com os óculos equilibrados na ponta do nariz, que colocam o lenço de pano na manga da camisola e pensam "tenho de sair. é melhor deixar ficar um recado na porta, não vá aparecer alguém". Volto já (é mesmo já, amanhã ou depois já há posts novos).

sábado, abril 04, 2009

- back to black -

"Carving is easy, you just go down to the skin and stop." - Miguel Ângelo

quinta-feira, abril 02, 2009

- o carteiro -


coisas mai lindas, andamos sem tempo para postar postas com limão e sal. E já agora com um bocadinho de rosmaninho, como vocês merecem. Por isso ficamos com estas postas mais frugais para aprumar a linha para o Verão que se aproxima. Se bem que eu prefira "regalar a carne", como o Teodorico.

- você quer levar um estalo na cara [1]? (agradecimento especial ao João Barbosa)
- você quer levar um estalo na cara [2]?
- David Lynch e Moby
- num instante tudo muda (ainda não percebi o que é isto)