quinta-feira, janeiro 31, 2008

- original soundtrack -


Muhammad my friend
It's time to tell the world
We both know it was a girl back in Bethlehem
And on that fateful day
When she was crucified
She wore Shiseido Red an we drank tea
By her side

Sweet, sweet, sweet
Used to be so sweet to me

Muhammad my friend
I'm getting very scared
Teach me how to love my brothers
Who don't know the law
And what about the deal on the flying
Trapeze got a peanut butter hand
But honey do drop in at the
Dew Drop Inn

Sweet, sweet, sweet
Between the boys and the bees

And Moses I know
I know you've seen fire
But you've never seen fire
Until you've seen Pele blow
And I've never seen light
But I sure have seen gold
And Gladys save the place for me
On your grapevine
Till I get my own TV Show

Ashre ashre ashre ashre
And if I lose my Cracker Jacks at the
Tidal wave I got a place
In the Pope's rubber robe
Muhammad my friend
It's time to tell the world
We both know it was a girl
Back in Bethlehem

(Muhammad My Friend, Tori Amos)
- não vai mais vinho para essa mesa -

ontem:
- mostra-me as tuas cuecas.
- não mostro! só mostro se tu me disseres onde é que escondeste os sugos.
- está bem eu digo. mostra!
- só depois de me dizeres.
- escondi dentro da almofada para comer de noite. mostra!
- já vai, já vai.

hoje:
- como é que te chamas?
- o que é que isso interessa? É só um nome.
- diz lá.
- Marta.
- Marta… sabes que todas as minhas namoradas se chamavam Marta?
- quer dizer que… não namoras?
- ainda não. mas vou namorar. E vai ser com uma marta. posso ficar com o teu número de telemóvel?

amanhã:
- sei quem tu és, tenho o teu IP.
- mas como… como é que conseguiste?
- foste ao meu blog. sei onde estás, qual é o teu acesso, de onde acedes durante o dia, por isso sei onde trabalhas. sei tudo. só não sei como és.
- e eu sei tudo sobre ti. fui ao teu blog, sei que és professor de inglês, que gostas de Stones como eu e que gostas da Nicole Kidman. até dizem que me pareço com ela.
- nem digas mais nada…
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou "como estamos a ficar sem ideias", ou "não é bem igual, mas a composição parece a mesma e o primeiro apesar de ter uma ave, também tem uma lebre", ou "diz-se 'hare'. lebre em inglês é 'hare'", ou "whatever", ou "desanimada?", ou "pissed off", ou "é uma ave?":

Jean Baptiste Oudry
Still Life with a Hare, a Pheasant and a Red Partridge
1753
Musée du Louvre


Sam Taylor-Wood
A little dead
2002
- b' day -

para não dizerem que não sabiam: o J12 branco da Chanel, se possível sem brilhantes. obrigada
- o carteiro -
boletim meteorológico

mau tempo na conduta:
não há dúvida que os edifícios construídos em Pequim para a recepção aos Jogos Olímpicos de 2008 são muito bonitos. eu gosto. uou outra pertinência pseudo, mas no final, na observação dos renders, parece tudo muito bem. os edifícios são amigos do ambiente, dos visitantes, amigos das equipas, amigos de toda a gente, menos de quem os construiu. não há espaço em Pequim para quem está a construir. os trabalhadores vêm do interior do país e enquanto a obra dura trabalham nas piores condições sujeitos a salários baixos, condições de trabalho más e poucos direitos. e qual é o papel do arquitecto nisto? deve um arquitecto, de renome, aceitar um projecto num país como a China que ainda hoje se vê a braços como os direitos humanos? deve Zaha Hadid aceitar construir no Azerbeijão, um país que não conhece a democracia, o memorial para o antigo membro do KGB, ditador e representante do país Heydar Alirza oglu Aliyev? deveria Foster ter aceite o projecto de construção do Palace of Peace and Reconciliation no Kazaquistão, um país com um governo autocrático? deve um arquitecto trabalhar para os territórios ocupados de um país? deveria um arquitecto aceitar trabalhar na Faixa de Gaza a mando de Israel?
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mau tempo do outro lado do canal:
esperemos que estas coisas não peguem, mas é bem provável que peguem, que se transmitam de país para país. em Inglaterra, do outro lado do canal, o futuro do Department of Culture, Media and Sport que está responsável pela Cultura é visto com apreensão. não é só por causa do estilo do seu secretário (chamam-no jovem e tonto aprendiz, Andrew Gimson no Telegraph; jovem pupilo, Matthew Norman, Independent), mas porque em Inglaterra acredita-se que este departamento nada pode fazer quanto à aquisição necessária de obras de arte para os museus. aqui, comprar Tiepolos é bem mais fácil, embora um pouquinho caótico. apesar de ter sido o mentor da iniciativa dos museus grátis, Andy Burnham não conseguirá o mais difícil: travar um pouco da promiscuidade que existe entre museus e artistas no Reino Unido, uma vez que muitos dos artistas representados nos museus ingleses são quase sempre a escolha para uma compra posterior. há um grupo, uma elite já representada nos museus britânicos e que mantém a “pescadinha de rabo na boca”. o problema é que as obras destes artistas são cada vez mais inflacionadas pelo mercado da arte e pelo facto de já terem “nome” que lhes foi conferido por esse mesmo círculo vicioso. em Inglaterra acredita-se que o Department of Culture, Media and Sport consiga convencer o governo a apostar no teatro, a incrementar o gosto pela música e pela ópera e até subsidiar mais festivais de cinema, mas não será capaz de persuadi-lo na aquisição de obras de arte visual.
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mau tempo no reino da Dinamarca
cerca de 50 mortos depois (sim, porque houve mortos), a Dinamarca na figura do seu Museum of Danish Cartoon Art em Copenhaga está a tencionar comprar as 12 caricaturas do profeta Maomé que foram publicados primeiro pelo jornal dinamarquês Jyllyands-Posten em Setembro de 2005 e depois por vários jornais europeus (Noruega, França, Alemanha, Espanha e Itália) provocando a ira muçulmana. nos países onde se deram revoltas como o Afeganistão e a Somália morreram cerca de 50 pessoas e as várias embaixadas da Dinamarca no Médio Oriente foram atacadas. quem, como o editor do Zhoda se atreveu, já em 2006, a publicar de novo os cartoons foi afastado e acusado de incentivar a rebelião religiosa. Três homens estão detidos em Inglaterra por incitarem ao homicídio na embaixada dinamarquesa em Londres, um homem foi condenado por apelar ao racismo e na Alemanha um libanês está preso acusado de colocar bombas em malas num comboio em Colónia.

não se trata de fazer dos cartoons obras de arte, mas de preservá-los para o futuro, como memória do que aconteceu. não se trata de provocar, mas de informar, dizem os responsáveis. faz a Dinamarca o contrário da Rússia, não apagando da fotografia os seus colaboradores, neste caso, a sua história mas recente e menos lisonjeira. Estou só a pensar numa coisinha: os cartoons são para exposição? se sim talvez seja melhor numa caixa forte. e não admitirem a entrada a pessoas. só a moscas.
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bom tempo a Norte, céu de couve-flor a Sul:
o fotografo australiano Carl Warner é amiguinho do ambiente. ou é vegetariano. ou tem uma boa plantação. as suas fotografias de paisagens são inteiramente constituídas por vegetais: brócolos, batatas, couve roxa… dizem que é uma espécie de Irvin Penn mas fraquinho.
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- ars longa, vita brevis -
hipócrates

Bosch
Tentações de Santo Antão
1505-1506
Museu Nacional de Arte Antiga
Antão era um homem abastado que por volta de 271, após a morte dos seus pais decidiu abdicar da sua fortuna, distribuí-la pelos pobres e partir para a Tebaida onde fundou muitos mosteiros. No fim da sua vida resolveu isolar-se no deserto para meditar, tal como Santo Estêvão, embora Estevão fosse estilita, e ai sofreu muitas tentações. A pintura de hoje, ainda que seja um sacrilégio, uma blasfémia alguém como eu, pouco documentada estar a falar dela, é “As tentações de Santo Antão”, de Bosch que se encontra no Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa. Responsabilidade dupla que descarto porque só falo do que gosto e até onde sei.

Bruegel
Tentações de Santo Antão
1556

Tal como Bruegel, Bosch pintou de uma forma simbólica, como se as suas pinturas fossem uma bíblia e com elas pretendesse dar a conhecer não a vida de Cristo e tê-la como exemplo, mas mostrar um pouco da “sua aldeia”. Também como Bruegel Bosch sabia que bastava pintar a sua aldeia, o seu espaço mais próximo com pertinência e chegava a vários mundos. Diz-se que tanto “O Jardim das Delícias” como “As tentações de Santo Antão” sofreram influencia de uma seita religiosa que teve origem no século XIII e nos séculos posteriores se havia desenvolvido e ramificado pela Alemanha, Holanda e Bélgica. A seita herética chamava-se seita dos Irmãos e Irmãs do Livre Espírito, ou adamitas e proclamava que para recuperar a inocência perdida após o pecado original era necessário recuar… até ao pecado original e repeti-lo no âmbito de um ritual. É pouco provável que tenha sido assim, até porque Bosch era um visionário que dificilmente se agarraria a esse tipo de crenças. Mais depressa veríamos Bosch numa seita que combatesse as seitas.

Bosch vai beber tanto a Idade Média (mais do que ao Renascimento), como vai beber às iluminuras da época, aos textos religiosos, ás esculturas e, tal como Bruegel, aos provérbios e expressões do seu tempo. A sua visão apocalíptica nas Tenatções de Santo Antão está relacionada com tudo isso e com a tentativa de mostrar os tormentos do outro mundo que o homem sofrerá se sucumbir ao pecado. Mas penso que a forma como pinta esse mundo horrível, esse mundo do além muito diferente da forma como Bruegel o anuncia se deve a um facto. Por esta altura muitas eram as pestes e pragas que assolavam a Europa. Quando se plantavam os cereais era bem provável que os mesmos não medrassem por completo e perante a ameaça de tempos difíceis sem comida e na impossibilidade de sair de casa por riscos de contaminação, os cereais fossem colhidos mais cedo do que era pretendido. O pão feito com esses cereais não era igual ao outro, era pão que não fermentava e ao ser comido, acabava por fermentar dentro do corpo humano o que provocava alucinações. Diz-se também que à falta de alimento se ingeria plantas com efeitos alucinogénios e por isso muitos pintores da Idade Média pintavam o verdadeiro mundo das trevas, mais do que aquilo que na realidade era, porque a noção e relação da Idade Média com a Idade das Trevas já está ultrapassada e hoje é sabido que a Idade Média até foi um período de alguma prosperidade. É também verdade de “As tentações de Santo Antão” foram pintadas já num período de alguma maturidade criativa e executiva do pintor e que por isso a sua pintura é mais solta, ousada e expressiva.
No painel das tentações cada figura tem uma razão de ser, cada figura está pintada para nos dar uma lição, para nos mostrar algo, todas elas são um símbolo ou aludem a um conceito. Todo o quadro fala dos tormentos de Santo Antão, mas na visão do cidadão comum que também pode passar por eles, uma vez que foi ficando na memória colectiva das gentes que no século XI na Europa uma epidemia havia sido curada graças ao fogo de Santo Antão. Pode estabelecer-se uma relação entre as visões de santo Antão devido ao tempo que viveu como ermitã e a identificação por parte do homem comum com essas visões quando se sofre na pele uma epidemia. O tríptico fala dos castigos físicos no painel esquerdo, de bruxaria no centro e dos excessos da comida e do sexo no lado direito.

Mais uma vez não poderei falar de todas as partes que constituem o tríptico, da mesma forma que não o fiz para os provérbios flamengos de Bruegel, mas posso falar de alguns. Por exemplo, neste pormenor das tentações vê-se três cavaleiros que representam os três reis magos, mas de uma forma irónica e maligna. Bosch parodiou o episódio colocando um deles em cima de um cavalo cujo dorso é um cântaro. A figura com cauda de peixe que está em cima do rato gigante anuncia o mal e segura uma criança que poderia ser o menino que os reis vão adorar.

O pássaro da preguiça tem este nome por causa do papel que traz no bico. Nele está escrito isso mesmo: “preguiçoso”. Além disso o pássaro tem uns patins, o que quer dizer que prefere patinar do que ter o trabalho de abrir asas e voar.

No painel central, bem no topo o protagonista, Santo Antão é carregado pelos céus no dorso de demónios, como se estes lhe estivessem a mostrar o seu destino.

terça-feira, janeiro 29, 2008

- original soundtrack -


Drinkin' again thinking of when you loved me.
Having a few wishing that you were here.
Making the rounds and setting them up for total strangers
Just being a fool hoping that you'll appear.

Sure I know can borrow a smoke
I can sit here all night and tell these jokers some jokes
but who’s gonna to laugh, who's gonna laughat a my broken heart?

And I'm drinking again thinking of when you loved me.
And I'm tryin' to get home with nothing but a memory

Yes, I'm dying to get home
dying to get home.
And I got nothin' but a bottle of beer
and just my memory.

(Drinking again, Aretha Franklin)
- não vai mais vinho para essa mesa -
Estava aqui a pensar…
ó ana, tu lembras-te quando num dos nossos “inbentos coltorais” ficámos todo o concerto a olhar para o maestro? rita, lembras-te quando chegámos e o Ricardo começou logo a tratar-nos por “gatas” e “gurias”? e lembras-te das miúdas que queriam vir para o nosso meio fazer plasticina? e as bolachas horríveis que comprei? jimi, lembras-te quando parávamos a cada esquina de Paris para nos rirmos da canção da Nelly Furtado e ninguém percebia porquê? e quando começamos as conversas com “menino máááááááário”? ó Pedro, lembras-te de uma directa que fizemos, cada qual em sua casa, seguida de pequeno-almoço e de uma sessão de músicas dos Roupa Nova? eduardo, lembras-te quando fomos ao Frágil e dançámos tanto que depois daquilo fechar ainda fomos dançar para outro sítio qualquer? orlando, lembras-te quando fomos jantar a tua casa e foi o cozinheiro do Sheraton que nos fez o jantar? tânia, lembras-te de quase termos perdido o avião e quando chegámos ao check-in já estar fechado?
não sei, lembrei-me. acho que foi da música.
- o carteiro -
um "café" e um bagaço...
Só há uma coisa pior que pipocas no cinema: um casal de namorados a dar beijos repenicados. Só há uma coisa pior que um crítico de teatro atrás de nós a buzinar no nosso ouvido: dois críticos de teatro atrás de nós a buzinar no nosso ouvido. Felizmente calaram-se e a peça começou sem grandes percalços, excepto… excepto no casal de namorados que estava ao lado e que não achando o local próprio para trocar beijos repenicados, tomou-o como certo para se darem ares de críticos de teatro.

Há que realçar algo: as peças de teatro não podem ser tão longas ou se longas, que se faça o devido intervalo. Mesmo em prejuízo da continuidade do espectáculo e em detrimento do texto que não deveria ter pausas, por aquilo que me foi dado a perceber, ou se encurta o texto, ou se coloca o intervalinho. Parece-me até uma vaidade dos actores e encenadores acharem que a sua actuação e encenação é tão boa que não necessita de pausas. Pois não é. O criado ainda que conseguisse arrancar algumas gargalhadas ao público, tinha todos os tiques e repetia-os. E não me parece que tivessem sido construídos para a personagem, mas antes adquiridos já ao longo do tempo. Bem sei que a observação é injusta pois se o mesmo acontecesse com actores consagrados o facto seria tomado como estilo e não vício.
O patrão e dono do “Café” esteve bem, mas a personagem não exigia mais dele. Melhor esteve D. Márcio que tinha um papel próprio para a sua compleição. Ou ele é que era perfeito para o papel. O texto é irónico: toda a acção é passada num café em Veneza (daí a presença da água no chão, usada como elemento cénico e sonoro e que até agora não percebi por onde escoou uma vez que surge imediatamente na primeira meia hora da peça e por ali permanece ajudando muitas vezes a encobrir movimentações no cenário e de pessoas. Nesse café, como em todos os de hoje, ou quase todos que o Starbucks deve estar a chegar, tudo se sabe e a vida de um casal que vê o seu casamento arruinado pelo jogo e pelos mexericos, é nele decidida. O texto de 1750 e da autoria de Carlo Goldoni foi encenado por Giorgio Barberio Corsetti que deve ter visto alguma Revista portuguesa. Isto claro, sem contarmos que não é a primeira vez que os actores de Ricardo Pais cantam no palco, para desconsolo de alguns espectadores. Também não é a primeira vez que um músico mais ou menos conhecido intervém na peça, como já tinha acontecido com o D. João (se não me engano). Neste caso foi Vítor Rua que toca guitarra eléctrica para alguns dos solos. Foi uma encenação à Ricardo Pais com sotaque italiano. Não desagrada, mas esperava-se outra coisa, algo diferente.
Quando refiro a hipocrisia do texto que de certa forma se propaga a quem vê na forma como julga a personagem acossada no final, falo de uma desresponsabilização do cidadão comum pelos seus erros: o homem que foge de casa e deixa em mulher em cuidados, que assume outra personalidade e quase a tenta matar quando ela vai em busca dele, encontra uma epifania redentora pela revelação minimizadora de que o seu acto foi alvo de uma fuga de informação, de uma coscuvilhice. No fim todos abanam a cabeça, mesmo os que se odeiam e colocam as culpas de duas horas e meio de intriga num só personagem. O casal de namorados, aka críticos de teatro ao lado, quase batiam palmas enquanto as janelas do bairro se fechavam a D. Márcio, o que até me pareceu injusto mas talvez propositado. Penso que o encenador queria que ficássemos todos tão cínicos quanto os que lá estavam, mas penso também que queria que percebêssemos o nosso cinismo. Ou que não emburrássemos, mas percebêssemos a burrice de quem lá estava. O trabalho de guarda-roupa não estava nada que pudesse ser digno de registo embora se pudesse identificar a época que se pretendia retratar (anos 60/70). Este trabalho também permitiu a hierarquização das personagens: os que servem, os que usam o avental são os honestos, ou outros não têm esse privilégio. Só há um momento em que as roupas são trocadas e uma das personagens veste uma farda de empregado de café, representando esse momento aquele em que a mesma personagem se prepara para mudar a sua vida.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

chegou a segunda série da campanha Year of Million Dreams, uma revisitação dos clássicos da Disney fotografada por Annie Leibovitz. os anteriores estavam melhores. estes estão… fraquinhos. medianinhos, vá. se bem que nunca estiveram muito bons. são até um bocadinho saloios. ok, são horríveis.
Peter Pan
1953

Annie Leibovitz
Gisele, Tina Fey (Sininho) e o bailarino Mikhail Baryshnikov (Peter Pan)
2008

- o carteiro -


Pieter Bruegel, the Elder
Netherlandish Proverbs

1559
Staatliche Museen, Berlim

Bruegel é um daqueles pintores injustamente esquecidos ou erradamente recordados: é tido como um menor relativamente a Bosch, quando na realidade foi uma gravura de Bruegel, “As tentações de santo Antão” que inspirou o célebre quadro de Bosch com o mesmo nome e que foi buscar muito do original.

Bruegel
Tentações de Santo Antão
1556

Os seus quadros parecem só caóticos quando na realidade estão repletos de simbolismo, um simbolismo de sobrevivência. No século XV, na época em que Bruegel pintava a Holanda era feudo da Espanha e os seus quadros retratavam tanto a violência provocada pelas investidas espanholas como as privações próprias daquele tempo. Bruegel sempre resistiu às modas italianas e por isso a sua pintura não se parece em nada com as pinturas da época e que tinham muito sucesso por todo o mundo: na forma e na temática as pinturas são diferentes. Bruegel pinta através de símbolos e temática não sai dos limites da sua aldeia. E de facto Bruegel não precisou de sair da sua aldeia para retratar a miséria humana e universalizar o tema. Dois séculos mais tarde Tolstoi escreveu: “Pinta a tua aldeia e pintarás o mundo”. O pintor inspirou-se também na literatura popular do tempo, sobretudo nas compilações de anedotas e provérbios como “O Navio dos Tolos” de Sebastian Brant de 1949 e que muito o ajudou a compor a obra “Provérbios Flamengos”. À primeira vista este quadro é uma composição sem ordem nem propósito, mas ela encerra em si mais de uma centena de provérbios. Estes provérbios e expressões populares dividem-se no quadro em dois grupos: os que falam dos pecados dos homens acaba por dar nome ao quadro.



Ao centro vemos a imagem de uma mulher que cobre o marido com um manto azul. Isto está associado ao provérbio “Cobrir com a manta”; ou seja, a mulher adúltera cobre o seu marido com o manto que simboliza o adultério. Esta imagem terá sido retirada de uma inscrição de uma gravura da época da autoria de Frans Hogenberg, que dizia o seguinte: “esta é geralmente chamada A Capa Azul, mas estaria mais bem baptizada como As Loucuras do Mundo”.


Muitos são os provérbios e não haveria blog para expô-los. Além disso a Wikipédia já tratou disso [link]. Vamos no entanto mostrar alguns e mostrar como no meio do caos há um elemento que nos indica sobre o que trata o quadro: o globo terrestre de “pernas para o ar” no canto superior esquerdo da pintura.




A porca rói o batoque tentando retirá-lo. Isto quer dizer "fazer um porco de si mesmo".


Um homem bate com a cabeça na parede. Quer dizer "dar cabeçadas".


Este não é uma expressão, mas um provérbio de Esopo: "Não contes tuas galinhas antes de chocarem os ovos".


Um homem carrega cestas de luz para o sol, o que quer dizer "chover no molhado".


Duas mulheres juntas: uma segura a roca e a outra fia. Isto quer dizer: "são necessários dois para se fazer um mexerico".


Um homem abre a porta com o rabiosque. Quer isto dizer: "não sabe se vai ou se vem".


Um homem mata duas moscas com uma só palmada, o que quer dizer: "matar dois coelhos de uma cajadada só".

Um homem a quem não interessa saber de quem é a casa que estão a queimar, desde que se consiga aquecer nas brasas. O que isto quer dizer é: "estou sempre bem".

Um homem atira dinheiro para a água, que quer dizer "atirar dinheiro fora".


Um homem mostra como uma roda foi parada por um pau. Isto quer dizer: "colocar uma pedra no caminho".

Um homem que entorna a sua sopa de aveia tenta em vão recuperá-la toda, o que quer dizer "chorar sobre oleite derramado".


Um homem que com os braços estendidos não cobre a distância entre os dois pães. Esta imagem quer dizer "não consegue viver do seu orçamento".


Dois homens puxam um osso e isto quer dizer "tirar a sorte no ossinho".

segunda-feira, janeiro 28, 2008

- original soundtrack -

quem é amiguinho?

Don't come up to me and say you like it.
It's better if you say you hate it, that's the truth exactly.
When we go out dancing I don't want to be bothered,
I just want to be bothered with real love.

So I heard it's no good to run,
but it feels so much better now that it's done
and tonight I have to leave it.

So I've heard you know how to write it,
does it mean you're good at putting things on paper?
Rumours say that you're very sorry.
Oh no you're not sorry, no you're not.

So I heard it's no good to run,
but it feels so much better now that it's done
and tonight I have to leave it.

Why don't you give love?
Why don't you give love?

Tonight I have to leave it.

(Tonight I have to leave, Shout Out Louds)
- não vai mais vinho para essa mesa -
rectórica:
ai minha nossa senhora! quando uma pessoa se recusa a fazer copy/past e se recusa ao post da lagrimazinha fácil no canto do olho e se recusa a postar imagens com poemas, mas não tem ideias dignas de tal denominação, faz sentido manter um blog diariamente?
- o carteiro -

- o novo alfabeto de Thijs Verbeek: com pele e molas da roupa.


- um homem que abandona a corrida presidencial. fica porém com a "hot mamma".


- um trabalho da Glue Society, uma colectiva australiana, que criou este projecto orientado por Eric Romano da Pulse Art. O que o trabalho mostra é a captação de imagens através do Google Earth, imagens essas que retratam episódios bíblicos como a crucificação ou a separação das águas no Mar Vermelho.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
Ao ler uma parte do livro “Iconologia” de Panofsky deparei-me com este caso. É o caso de um quadro de Francesco Maffei onde está representada uma mulher com a cabeça de um homem numa bandeja que segura numa mão, e uma espada que segura na outra. Qual é o título do quadro, assim à primeira vista, tendo em conta que a pintura será do período barroco e por isso “Untitled” sob a autoria está fora de questão. Será Judite, a mulher que mata com as suas mãos (com uma espada, punhal, espadachim) o general Holofernes e que com a ajuda da criada mete a cabeça do homem dentro de um saco? Ou será Salomé, a filha de Herodias que pede a cabeça de São João Baptista numa bandeja por ter dançado para Herodes? Tanto pode ser identificada com uma como com outra, uma vez que a figura pintada por Maffei tem o atributo das duas personagens bíblicas: a espada de Judite, a bandeja de Salomé.

Francesco Maffei

Outros pintores anteriores a Maffei fizeram a mesma graça, embora não tenha sido possível arranjar imagens representativas do que quero dizer. Eram essencialmente pintores da Alemanha e do Norte de Itália tais como Romanino, Francesco Prato da Caravaggio e Bernardo Strozzi, ligados pelo facto de terem representado a personagem com a espada e com a bandeja. Note-se aqui que não haveria mais nenhuma personagem bíblica ou mitológica que os reunisse e que no Renascimento não era comum fugir da temática tradicional e vigente. Porém, pintores como Miguel Ângelo ou Ticiano voltaram a repeti-la. Desta feita o problema não é com a denominação, mas com os objectos; ou seja, tanto um como o outro deram aos respectivos quadros o nome “Judite” ou “Judite com a cabeça de Holofernes”, mas dentro da pintura as mulheres colocam a cabeça do homem em cima de uma bandeja.

Miguel Ângelo
Judith and Holofernes (pormenor)
1509
Cappella Sistina, Vaticano


Ticiano
Judith
1515
Galleria Doria Pamphili, Roma

Centremo-nos então nos objectos referidos: não poderíamos estar a falar de uma Salomé porque a rapariga que dança para Herodes é uma pequena meretriz que não está à altura de usar e se fazer representar com uma espada na mão. É que a espada não é só um instrumento que identifica Judite, mas é também utilizada para representar virtudes como a Justiça e a Força. Não poderia representar uma mulher que não foi justa nem usou da sua força para vingar a mãe, se a isso aspirasse a nossa teoria. A bandeja por seu turno vai ser sempre o atributo de Salomé. Aliás, a cabeça de São João Baptista na bandeja acabou por ganhar estatuto próprio sendo elemento devocional isolado, que vale por si só (andachtsbild), principalmente nos séculos XIV e XV e nos países do Norte da Europa. Trata-se portanto da imagem de Judite. É portanto necessário que eu estude mais iconologia.
- não vai mais vinho para essa mesa -

"What kind of fuckery is this… "

Paul McCarthy
The Garden
1991-1992
Rosamund Felsen Gallery, Los Angeles



Dinos and Jake Chapman
Tragic Anatomies
1966

sábado, janeiro 26, 2008

- back to black -

and white...
- back to black -

o sétimo axioma do Manifesto Futurista ou como "graças a nosso senhor, que Deus o tenha lá em cima a desafiar a lei da gravidade, só faltam mais quatro axiomas", ou "ajoelhou, tem de rezar", "mas como é que eu me fui meter nisto se não gosto do Futurismo?":
"Não há mais beleza, a não ser na luta. Nenhuma obra que não tenha um carácter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças desconhecidas, para obrigá-las a prostrar-se diante do homem."

sexta-feira, janeiro 25, 2008

- original soundtrack -


It's okay in the day I'm staying busy
Tied up enough so I don't have to wonder where is he
Got so sick of crying
So just lately
When I catch myself I do a 180
I stay up clean the house
At least I'm not drinking
Run around just so I don't have to think about thinking
That silent sense of content
That everyone gets
Just disappears soon as the sun sets

This face in my dreams seizes my guts
He floods me with dread
Soaked in soul
He swims in my eyes by the bed
Pour myself over him
Moon spilling in
And I wake up alone
(...)


(Amy Winehouse, Wake up alone)
- não vai mais vinho para essa mesa -

isto hoje parece o mausoléu da Amy (lagarto, lagarto, lagarto):
A Vogue francesa escolheu a modelo brasileira Isabeli Fontana para vestir a pele de Amy Winehouse no editorial da revista, edição de Fevereiro. As fotografias são de Peter Lindberg e apesar de ter sido considerada a mais mal vestida do ano e do recente escândalo do crack, Amy está na moda:
- o carteiro -


Van Gogh
Fifteen Sunflowers in a Vase
1888
National Gallery, Londres

"Gostava de todas as mulheres com quem estava e não duvidava, agora que se dava ao luxo de poder fazer considerações positivas sobre a sua vida, que iria gostar de todas as futuras pois não ficava com nenhuma que não lhe agradasse sobremaneira. Andava de bem com a vida e com as mulheres há cerca de 5 anos, com relações com elas que duravam entre 7 meses a um ano. Quando ultrapassava os sete meses, era sinal de avançar com o anelzinho que quase todas recusavam por falta de gosto dizendo a saloia deixa “ai amor, não posso aceitar. Deve ter sido muito caro!”. Depois ele insistia, punha-lhes o anel no dedo, dizia: “vê como te fica bem”, “mas não posso. E é muito cedo para isto”


[mas tu achas que eu vou andar a vida toda neste namorico?]

“cedo como? Quando se gosta nunca é cedo.”, “Nisso tens razão. Vamos marcar a data”. Mas nunca chegavam a marcar pois mal elas colocavam o anel no dedo assumiam um poder sobrenatural capaz de destronar a liberdade que ele tanto prezava. Davam-se ares de donas de casa, no dia seguinte levantavam-se da liliputiana cama dele mais cedo e começavam a cheirar os detergentes, prometiam limpezas e uma nova ordem mundial. Quando isso não acontecia, queriam invadir-lhe a vida, espiolhar-lhe o cérebro, andavam sempre por perto com medo de serem esquecidas, faziam-se indispensáveis. Era o poder do anel, encarnação do mal supremo que se manifestava quando elas lá cruzavam os braços a segurar os seios num nó de espartilho, castrador e cego, com o anel sempre na mão que ficava de fora, como um instrumento de tortura na posse do carcereiro.

(in, "O Simétrico")

- ars longa, vita brevis -
hipócrates
Pinturas dentro de pinturas:
Atrás de Caillebotte, o Baile no Moulin de la Gallette. Caillebotte foi o primeiro dono do quadro de Renoir que o vendeu porque procurava que a sua pintura fosse para entreter. Renoir nunca se viu como um grande pensador do Impressionismo, mas antes como um pintor da vida moderna, nos limites estritos da expressão. Procurava apenas retratar a realidade. Um problema se levanta com este quadro: Renoir pintou duas versões, uma maior e outra mais pequena. Como era um pintor de pintura ao ar livre, era natural que tivesse transportado a tela consigo até ao local do baile para ali se “inspirar”. Assim a tela mais pequena teria sido aquela em que trabalhava à vista de todos, a tela de preparação e a maior, aquela que completava em casa. Por outro lado, se olharmos para as duas pinturas vemos que o Renoir mais pequeno é mais vivo, o que nos podia indicar ter sido esse o original. Nenhum estudo levado a cabo pelos museus na altura foi conclusivo. Nas costas de Caillebotte a pintura surge ao contrário provavelmente porque Caillebotte se pintou a olhar para o espelho. Depois de ter estado nas mãos do pintor francês a obra andou em muitas mais. Hoje estará seguro algures na Suíça. O comprador não se quis identificar.

Caillebotte
Self Portrait



Renoir
Le Moulin de la Galette
1876
Musee d'Orsay, Paris

Em 1895 Cézanne expôs cerca de 100 telas que entusiasmaram os pintores da época, principalmente Maurice Denis. Mais tarde, Denis intitulou uma das suas pinturas de “Homenagem a Cézanne” e demonstrou as diferenças que havia no meio artístico da época. Na tela de Denis o centro da composição é a tela de Cézanne, uma natureza morta, embora à volta estejam dispostos outros quadros. No entanto, a atenção de todos os intervenientes se centra na tela de Cézanne: Maurice Denis admira-a, Odilon Redon também, e Vuillard e Bonnard juntam-se aos colegas.

Maurice Denis
Homage to Cezanne
1900
Musée d'Orsay, Paris


Paul Cézanne
Still Life with Fruit Dish
1879-80
MoMA, Nova Iorque

Um Gauguin dentro de um Gauguin é o que temos neste quadro que mostra em fundo uma das telas mais conhecidas do pintor. É um quadro do período em que se encontrava no Tahiti e é basicamente a imagem de uma mulher nua, mas deitada de barriga para baixo. Gauguin faz o mesmo que por exemplo Manet ao pintar o retrato de Emile Zola. Nesse quadro podemos ver na parede do quarto onde o escritor é pintado uma imagem da Olímpia do próprio Manet. Gauguin faz o mesmo mas com uma Olímpia que mostra o rabiosque e uma Olímpia mais morena.

Gaugin
Self Portrait

1893-94
Musee d'Orsay, Paris


Gauguin
Spirit of the Dead Watching

1892
Albright-Knox Art Gallery, Buffalo, NY