segunda-feira, janeiro 28, 2008

- ars longa, vita brevis -
hipócrates
Ao ler uma parte do livro “Iconologia” de Panofsky deparei-me com este caso. É o caso de um quadro de Francesco Maffei onde está representada uma mulher com a cabeça de um homem numa bandeja que segura numa mão, e uma espada que segura na outra. Qual é o título do quadro, assim à primeira vista, tendo em conta que a pintura será do período barroco e por isso “Untitled” sob a autoria está fora de questão. Será Judite, a mulher que mata com as suas mãos (com uma espada, punhal, espadachim) o general Holofernes e que com a ajuda da criada mete a cabeça do homem dentro de um saco? Ou será Salomé, a filha de Herodias que pede a cabeça de São João Baptista numa bandeja por ter dançado para Herodes? Tanto pode ser identificada com uma como com outra, uma vez que a figura pintada por Maffei tem o atributo das duas personagens bíblicas: a espada de Judite, a bandeja de Salomé.

Francesco Maffei

Outros pintores anteriores a Maffei fizeram a mesma graça, embora não tenha sido possível arranjar imagens representativas do que quero dizer. Eram essencialmente pintores da Alemanha e do Norte de Itália tais como Romanino, Francesco Prato da Caravaggio e Bernardo Strozzi, ligados pelo facto de terem representado a personagem com a espada e com a bandeja. Note-se aqui que não haveria mais nenhuma personagem bíblica ou mitológica que os reunisse e que no Renascimento não era comum fugir da temática tradicional e vigente. Porém, pintores como Miguel Ângelo ou Ticiano voltaram a repeti-la. Desta feita o problema não é com a denominação, mas com os objectos; ou seja, tanto um como o outro deram aos respectivos quadros o nome “Judite” ou “Judite com a cabeça de Holofernes”, mas dentro da pintura as mulheres colocam a cabeça do homem em cima de uma bandeja.

Miguel Ângelo
Judith and Holofernes (pormenor)
1509
Cappella Sistina, Vaticano


Ticiano
Judith
1515
Galleria Doria Pamphili, Roma

Centremo-nos então nos objectos referidos: não poderíamos estar a falar de uma Salomé porque a rapariga que dança para Herodes é uma pequena meretriz que não está à altura de usar e se fazer representar com uma espada na mão. É que a espada não é só um instrumento que identifica Judite, mas é também utilizada para representar virtudes como a Justiça e a Força. Não poderia representar uma mulher que não foi justa nem usou da sua força para vingar a mãe, se a isso aspirasse a nossa teoria. A bandeja por seu turno vai ser sempre o atributo de Salomé. Aliás, a cabeça de São João Baptista na bandeja acabou por ganhar estatuto próprio sendo elemento devocional isolado, que vale por si só (andachtsbild), principalmente nos séculos XIV e XV e nos países do Norte da Europa. Trata-se portanto da imagem de Judite. É portanto necessário que eu estude mais iconologia.

7 Comments:

Blogger João Barbosa said...

Há mulheres de perder a cabeça.

28/1/08 10:52 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

é sobretudo a conclusão que me desarma.

28/1/08 2:25 da tarde  
Blogger Belogue said...

caro João Barbosa:
sabe que em nenhuma das situações foi o caso. Nem o holofernes perdeu a dele pela judite, nem o São João Baptista pela Salomé.

Ana:
porquê?

28/1/08 5:03 da tarde  
Blogger João Barbosa said...

bem sei, foi só uma boca para a geral :-)

28/1/08 8:18 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

porque é como que uma chamada À terra, não sei

28/1/08 8:23 da tarde  
Blogger Belogue said...

às vezes acho que devia tirar outro curso (tirar não quer dizer que alguém fique sem ele).teologia

28/1/08 8:46 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

eu concordo.

29/1/08 8:31 da tarde  

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