quarta-feira, setembro 30, 2015

deixar este emprego que às vezes me deixa agoniada e seguir para doutoramento mesmo sem ter garantias de nada

ou

manter-me aqui, num emprego estável e com muitas oportunidades de fazer um bom curriculum e deixar a investigação lá no canto dela?

segunda-feira, setembro 28, 2015

- original soundtrack -

antes que me comecem a chamar-me pirosa, queria apenas que soubessem que esta banda sonora acompanha "o carteiro".


















Now I've had the time of my life
No, I've never felt like this before
Yes I swear it's the truth
And I owe it all to you

'Cause I've had the time of my life
And I owe it all to you
I've been waiting for so long
Now I've finally found someone
To stand by me
We saw the writing on the wall
As we felt this magical fantasy

Now with passion in our eyes
There's no way we could diguise it secretly
So we take each others hand
'Cause we seem to understand the urgency

Just remember
You're the one thing
I can't get enough of
So I'll tell you something
This could be love, because

I've had the time of my life
No I've never felt this way before
Yes I swear it's the truth,
And I owe it all to you

Hey Baby

With my body and soul
I want you more than you'll ever know
So we'll just let it go,
don't be afraid to lose control, no
Yes I know it's on your mind,
when you say "Stay with me tonight"
(Stay with me)

Just remember, you're the one thing,
I can't get enough of
So I'll tell you something,
This could be love because

I've had the time of my life,
(I've had the time of my life)
No, I've never felt this way before,
Yes I swear it's the truth
(Yes I swear)
And I owe it all to you
Cause I've had the time of my life
And I've searched through every open door
(through everywhere)
Till I found the truth
And I owe it all to you

(Time of my life, Bill Medley e Jennifer Warnes)
- o carteiro -





















Van Gogh
Fifteen Sunflowers in a Vase
1888
National Gallery, Londres

Quando a minha idade era outra que não esta, os dias eram claros como água: no Verão fazia calor, no Inverno fazia frio, no tempo de aulas estudava, nas férias era uma diversão (fica aqui o link para um texto sobre esses tempos de férias em casa da Bárbara). Mas houve algo que não contei: as festas de anos em casa da Bárbara. Convém antes de tudo dizer que a casa da Bárbara tinha jardim, casa das bonecas, churrasco e um baloiço. As festas eram portanto um luxo e muito concorridas: vinha o pessoal da escola, alguns primos dela e os vizinhos (o Sérgio e a Ana. O Sérgio morreu há pouco tempo...) e claro, as miúdas vestiam-se a rigor para dançar ao som do "Time of my life" do filme Dirty Dancing. Soube que exista um filme intitulado Dirty Dancing porque um dia a Tânia me disse que tinha ido ao vídeo-club buscar esse filme, mas como o título do filme era, segundo ela "Dança Porca", ela trouxe-o dentro de um saco de plástico preto, escondeu-o do pai, viu-o e claro, contou-nos as maravilhavas que o Patrick Swayze operava na Baby. Ora eu era como a Baby: um patinho feio a sonhar ser salva pela arte, pelo amor e pelas ilhargas masculinas!

Bom, nas festas em casa da Bárbara, a gente fartava-se de dançar ao som disto e de outras coisas: George Michael, Kylie Minogue, Whitney Houston, o Michael Jackson... tudo o que tivesse ombreiras e batom rosa fúcsia. A Isabel, governanta de casa da Bárbara, vinha de vez em quando pôr-nos o olho, e dizia-me sempre "olha a bailarina" porque de facto eu fartava-me de dançar. Acho que aquilo era uma catarse, uma catarse invertida, pois sabia que quando a festa acabasse e chegasse a casa, a realidade era outra e eu teria de voltar a fazer de crescida. Usava uma saia rodada um pouco acima do joelho, com cinta elástica, estampada com melancias a ananases cortados ao meio. As meninas faziam de conta que não percebiam o embaraço dos meninos e faziam de conta que não estavam embaraçadas, mas de vez em quando, quando passava o Eternal Flame ou outro slow, iam estrategicamente refrescar-se e esperar que alguém as puxasse para dançar. A Bárbara andava interessada no Miguel, um rapaz da nossa sala que tinha um parafuso na perna e acho que chegou mesmo a dançar - dentro daquilo que era possível com um parafuso na perna - com ele. Ele tinha um sobrenome estrangeiro, o que lhe dava um certo chique e o colocava à altura das origens da Bárbara.

Outro dos momentos importantes era o lanche. O lanche tinha várias particularidades: os copos de plástico tinham nomes e guarda-sóis em papel colorido, comiam-se croissants a sério em vez de pães de leite e havia miniaturas. Devo dizer que foi a primeira vez que vi miniaturas: cachorros quentes em miniatura, pizzas em miniatura, rissóis em miniatura... enfim, aquilo era a Lilliput dos salgados. Lembro também o ano em que a Bárbara quis que o bolo de aniversário fosse a saia de uma boneca. Mais ou menos assim:















A mãe dela passou-se e disse-lhe que era um bolo piroso. Eu também achava, mas na verdade, nós queríamos ser pirosas. Nós queríamos, como diz a Capicua "pirosa, vestir de cor-de-rosa". Entre nós circulava a moda da mini-meia de lycra colorida, enrolada. às vezes calçavam-se dois pares de cores diferentes para ficar com dois canudinhos no tornozelo e fazer pendant com a roupa. Assim:

















Nessa altura nós ainda não pensávamos em marcas. Não havia marcas na moda infantil, a não ser talvez a Cenoura que vestia os Onda Choque e também os Ministars. Mas uns anos mais tarde, quando aprendemos a ser cruéis, começámos a julgar os outros por aquilo que vestiam. Estava na moda ser surfista, vestir camisas de flanela aos quadrados, namorar com rapazes de cabelo comprido, e ouvir Faith No More e Pearl Jam. Estava também na moda usar Levi's, El Charro, Mustang e Chevignon. A marca dos jeans passou a ser o bilhete para outras festas que não as de aniversário. Festas na praia até de madrugada, festas no sótão da casa de um skater acabado de conhecer, festas em casa de uma de nós em que se discutia - até a bebida não nos adormecer - quem é que beijaria melhor: o Axel Rose ou o Kurt Cobain. de vez em quando ia a essas festas, mesmo não tendo roupa de marca. claro que assim, sem o logo da Levi's nos botões das calças, ficava mais difícil. lembro-me da dor que era ter de comprar calças de ganga na feira, experimentá-las no furgão da vendedora, com os vidros de trás tapados com panos. eu lá agachada porque não podia estar de pé, a experimentar calças sem marca, com as lágrimas a correrem-me pela cara abaixo. 

Depois chegou a Zara e ficou tudo bem!
- não vai mais vinho para essa mesa -

[No Pendular, percurso Porto-Lisboa, numa carruagem cheia de pessoas com mais de 60 anos, a avaliar pelo desconto nos bilhetes. Ah! A tentar dormir...]

B e C - Ahahahahahahah!!!
Alice - Ahahahahahahahahahah!!!
B - Ó mulher, tu pára ca gente tá farta de se rir!
Alice - Inda fazes xixi!
C - Tu és levada do diabo ó Alice!
Alice - Então, que mal tem?
C - Nenhum, mas a gente já se riu cácontigo os três diabos!
Alice - Olha aí hóme!!! É melhor rir que chorar! Chorar faz ranho!
- não vai mais vinho para essa mesa -




























- ars longa, vita brevis -
hipócrates

já me perguntei muitas vezes se uma má pessoa poderia ser um bom artista. a resposta é - pelo menos para mim - sim. Picasso e Caravaggio são os exemplos que mais depressa me vêm à mente, mas há outros. acredito até que um bom artista pode redimir-se, aos olhos dos outros, através da sua arte. e há aqueles que, pelas circunstâncias, se tornam más pessoas, mas que pela vida, acabam por encontrar um caminho menos torto para a sua existência. é o caso do Bernini cujas obras adoro e que, cada vez que vejo, me deixam a admirá-lo mais. Pois o Bernini não era lá grande ser humano, pelo menos em parte da vida. 
quando o pai viu as qualidades de Bernini-criança, não hesitou e foi, com o filho pela mão, para o Vaticano oferecer os serviços do rapaz à Igreja. Cedo Bernini começou a trabalhar para o Papado. Uma das suas obras mais antigas é esta, em que duas crianças dão cabo da paciência a um fauno. O pormenor a língua de fora deixa qualquer pessoa enternecida.



















Bernini
Bacchanal: A Faun Teased by Children
1616-17
Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque

Aos poucos, graças ao seu trabalho, a um espírito afável e presença agradável, Bernini tornou-se não só "o" escultor do Barroco italiano, mas também próximo de alguns Papas. Nas encomendas, feitas pelo papado ou pelas famílias nobres de Roma, Bernini tornou-se cada vez mais desinibido, como o prova este pormenor do busto de do Cardeal Scipione Borghese, com o botão não totalmente apertado.



























Bernini
Bust of Scipione Borghese
1632
Galleria Borghese, Roma

É talvez neste momento que surgem as suas melhores obras de escultura como o Rapto de Proserpina. (Sou suspeita para falar desta obra, para referi-la, já que aquela mão dele na perna dela, o rosto aflito dela, a rotação e ascensão dos corpos me levam às lágrimas.);




















































Bernini
The Rape of Proserpina
1621-22
Galleria Borghese, Roma

ou o David, muito diferente do inumano David de Miguel Ângelo (este, o de Bernini, é retratado na acção, como um mortal que morde o lábio antes de desferir o golpe fatal, enquanto o de Miguel Ângelo se encontra em repouso, a olhar o infinito, sereno, todo ele razão e idealização. Bom, é verdade que os separa mais de um século)



















Michaelangelo
David
1501-1504
Galleria dell'Accademia, Florença







































Bernini
David
1623-24
Galleria Borghese, Roma

ou então um outro par, desta vez Apolo e Dafne. Ele a tentar tocar-lhe, ela a fugir-lhe. tal como no rapto de Proserpina, as figuras estão contorcidas e em ascensão, sendo que é sempre a figura masculina a tentar alcançar a feminina. Neste caso, Bernini esculpiu o momento da metamorfose de Dafne em loureiro, após a perseguição que Apolo lhe fez e que ainda é captada, embora indirectamente, com o jovem de cabelos ao vento.


















































Bernini
Apollo and Daphne
1622-25
Galleria Borghese, Roma

Consta que, não obstante o sucesso que tinha enquanto escultor, Bernini alimentava uma rivalidade com Borromini, arquitecto. Não obstante isto, não podemos retirar a Bernini o mérito nos seus projectos de arquitectura, que lhe trouxeram reconhecimento público, mas também muitas recriminações por parte dos seus pares. Ao que parece, Bernini não tinha grande ética laboral chegando mesmo a ficar com a esposa de um colaborador, de seu nome Constaza Bonarelli. Bernini ficou completamente apaixonado por ela, retratando-a num busto que quebrou a tradição deste tipo de retratos. Ela surge não em toda a pompa, mas certamente com toda a sensualidade: cabelos levemente desalinhados, lábios semi-abertos e blusa a sugerir o decote. Esta não é uma mulher que posa para o escultor, é uma mulher que dorme com o escultor...

































Bernini
Bust of Costanza Bonarelli
c. 1635
Museo Nazionale del Bargello, Florença

Só que Constaza era "fresca para assar", "danada para a brincadeira" e Bernini percebeu que a mulher por quem estava apaixonado era bastante atenciosa para com o irmão do escultor, também ele arquitecto e matemático. Um dia, dizendo que teria de passar uns dias fora de casa, Bernini saiu e esperou. De um local seguro viu o irmão sair da casa que ele, Bernini, partilhava com Constanza, e viu os beijos que trocava com a boca que ele esculpiu. Enraivecido começou a correr atrás do irmão pelas ruas de Roma e apanhou-o já dentro de uma igreja onde, sem pejo, o espancou. Com Constanza não quis sujar as mãos e mandou um criado cortar-lhe a face. Quando soube disto o Papa deu-lhe um doce castigo: casava-se o escultor com uma moça de boas famílias e não se falava mais no assunto. Os outros intervenientes também tiveram um rumo: o irmão deveria sair de Roma, o criado deveria ser preso bem como Constanza, acusada de prostituição. Começou o período de decadência de Bernini; a sua caminhada no deserto. O casamento arranjado pelo Papa, não corria pelo melhor e em breve também no trabalho os tempos seriam negros. Isto aconteceu quando o Vaticano decidiu juntar dois corpos a ladear a cúpula de São Pedro, bem como as já existentes duas torres da autoria de Miguel Ângelo. Bernini, que tinha um problema com a modéstia, construiui duas torres monumentais, mais altas ainda que as de Miguel Ângelo. A sua soberba foi tão grande que não percebeu que estas duas estruturas eram demasiado pesadas para o suporte. Pouco tempo após a construção do primeiro corpo, as fissuras começaram a abrir-se e a estender-se ao corpo principal da Basílica. Borromini é chamado para colmatar este mal e tanto ele quanto o papado decidem pela destruição do corpo construído por Bernini. Este cai na cama preocupado e talvez também envergonhado. Com a mudança de Papa, a sua presença na corte papal passa a ser dispensável. Mas eis senão quando surge aquela que seria a mais importante encomenda da sua vida: o Êxtase de Santa Teresa d'Ávila. Ninguém lhe fica indiferente. Diz-se que um nobre, ao fazer o Grand Tour típico da formação das classes mais ricas no século XVII e XVIII, e ao passar por Roma, exclamou, ao ver o Êxtase de Santa Teresa d'Ávila: "se isso é amor divino, eu conheço-o bem". Teresa foi uma freira espanhola que ficou conhecida pelas suas levitações e pela descrição que fez do seu êxtase (só consegui em espanhol):

«Vía un ángel cabe mí hacia el lado izquierdo en forma corporal, lo que no suelo ver sino por maravilla. [...] No era grande, sino pequeño, hermoso mucho, el rostro tan ecendido que parecía de los ángeles muy subidos, que parecen todos se abrasan. Deben ser los que llaman Querubines [...]. Viale en las manos un dardo de oro largo, y al fin de el hierro me parecía tener un poco de fuego. Este me parecía meter por el corazón algunas veces, y que me llegaba a las entrañas. Al sacarle, me parecía las llevaba consigo y me dejaba toda abrasada en amor grande de Dios. No es dolor corporal sino espiritual, aunque no deja de participar el cuerpo algo, y aun harto.»

Bernini certamente não ficou indiferente a isto e retratou, mais do que um êxtase físico (a satisfação da carne), um êxtase emocional, espiritual, unindo assim corpo e espírito como supostamente acontece no amor entre duas pessoas. Como esposa de Cristo, Teresa une-se a ele através de sinais muito físicos: o belo rosto de olhos semi-cerrados e boca entreaberta, o seio a ser descoberto pela mão de um anjo sorridente que tem consigo uma seta aponte não ao coração, mas um pouco mais abaixo... Ao contrário dos pares ascendentes e contorcidos de há pouco, Teresa agora levita, e é suspensa não obstante o exagero das suas vestes que parecem querer pesar-lhe e negar-lhe o prazer.




















































































Bernini
The Ecstasy of Saint Therese
1647-52
Cappella Cornaro, Santa Maria della Vittoria, Roma

Bernini acabou por se tornar um "homem respeitável": pai de onze filhos, devoto e crente. Não realizou as duas colunas da fachada de São Pedro, mas desenhou a colunata da Praça de São Pedro que quase cria uma cortina para quem a visita, aumentando desta forma o efeito surpresa, importante numa altura em que os meios de transporte não eram como os de hoje e por isso chegar à capital à morada do representante de Deus na Terra era um alívio.
Constanza foi libertada da prisão graças à insistência e diligências de Bernini. O seu irmão regressou a Roma e foi preso por sodomia e Borromini suicidou-se.

sexta-feira, setembro 25, 2015


quarta-feira, setembro 23, 2015

desaustinada e desacorçoada ou, como se diz na minha terra, "dezóstinada" e "escroçuada".

segunda-feira, setembro 21, 2015

- original soundtrack -

Róisin, eu amo você! vem novamente a portugal, vem... tô com saudádji



















(Evil Eyes, Roisin Murphy)
- não vai mais vinho para essa mesa -

a postagem hoje não estará à altura porque estou com dores de ouvidos e garganta e ranho no nariz.
- o carteiro -

e o Homem criou Deus... (V)

Não obstante todas as discussões em torno da Trindade, alguns membros da comunidade cristã prosseguiram a sua vida naquilo que, segundo acreditavam era a herança de Jesus. Os monges e ermitas que habitavam sobre altas pedras (os estilitas) tentavam, através da solidão, do jejum, da oração e da abstinência sexual, assemelharem-se a Cristo. ("Monge" significa pessoa única, única pessoa.) Este movimento monástico surgiu no século IV, como oposição ao poder instalado e elitista da Igreja hierarquizada. Um dos nomes mais conhecidos do monasticismo desta época foi Santo Antão, fundador do movimento ascético e radical na sua busca por Deus. A atitude de Santo Antão perante a vida fez com que muitos os seguissem, o que por sua vez deu origem à formação de mosteiros, principalmente na parte mais oriental do Império. Os mosteiros, formados por homens que abandonaram a vida marital, a vida mundana, a vida urbana, levantavam algumas questões: era a sexualidade má já que estava nos antípodas desta vida monástica? era ela incompatível com a pureza? Quem melhor personificou esta luta entre o corpo e o espírito foi Santo Agostinho que, antes de se tornar religioso, levou uma vida dissoluta. Santo Agostinho, conseguia por isso equilibrar uma vivência e outra. Como intelectual que era, estudou o gnosticismo, Platão a religião persa, etc e incutiu nas mentes cristãs a ideia de castidade. 
Nesta altura as partes ocidental e oriental do império separam-se; desta feita Roma deixa de ser, no século V, o centro do Império, uma vez que a capital é movida para Constantinopla por Constantino. Roma entra então num período de declínio, de negligência, de tal forma que as tribos germânicas conseguem chegar até à antiga capital do Império. Godos, Suevos, Francos, Alanos... todos se acercam de Roma à medida que o povo e as legiões se deslocam para Constantinopla. Tudo culminou com a entrada dos Visigodos na cidade, acompanhada pela chacina de milhares de pessoas. Entretanto, e como vimos, o império passou a ser quase dois: a parte ocidental do império falava latim e a parte oriental falava grego; a parte ocidental tinha um líder religioso (à data que aqui interessa, 448, esse líder era Leão I, eleito bispo de Roma), e a parte oriental tinha um outro. Ora Leão I não concorda com a existência de dois líderes religiosos, enquanto o imperador, a viver em Constantinopla, achava que isso era o mais correcto. Vai daí, e numa atitude desafiadora, Leão I auto-intitula-se, Papa. A palavra Papa já existia, mas não era usada para os papas da Igreja Católica. Era antes o termo que os primeiros cristãos africanos davam aos seus líderes religiosos. Em Roma não existia um Papa; o que existia era um bispo, como nas outras províncias romanas, mas nenhum tinha primazia sobre a outra. Ora, se Leão I puxava a brasa à sua sardinha, o bispo de Constantinopla não lhe ficava atrás e replicava, ante as exigência de Leão I em ser líder espiritual do império, que ele teria mais legitimidade para o ser, uma vez que estava em Constantinopla e aí era onde estava, também, o imperador. Leão I insiste que Roma deve ser a sede do Cristianismo. Como do outro lado o bispo de Constantinopla não desarma, Leão acaba por provocar a cisão definitiva na prática e teoria religiosa do império. É nessa altura que Leão I enfrenta outro desafio. Em 452, as tropas de Átila, o Huno, estão às portas da cidade de Roma e acampam lá, prontos a saquear a cidade. Nessa altura, o papa Leão I dirige-se a Átila e dissuade-o, muito provavelmente, com ameaças de castigos divinos e forma de pestes, fome, morte e claro, errância da alma após a morte. Verdadeira ou não, esta história mostra que a grande força de Roma não está nas legiões (corruptas, deslocalizadas e desfalcadas), mas num novo e maior poder: o Papado.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou "olá, como estaindes? eu cá bou andando. nunca pior, como se costuma dizer. hoje deixo-vos um post sobre iluminuras e a influência deles na arte posterior; neste caso, na arte de Bosch. Diz-se que Bosch, como outros do seu tempo (aquele que me vem à cabeça é Brueghel, mas tenho a certeza que há outros), estavam muitas vezes sob a influência de drogas. Bem, antes de mais convém dizer que até ao século XIX Bosch representava um universo medieval que, aquando a chegada do Renascimento, foi abafado. O pintor acabou por cair no esquecimento. Para além disto, as obras de Bosch foram descritas por Vasari de uma forma pouco elogiosa, algo que era compreensível pois estas marcavam bem as diferenças entre a pintura do Norte da Europa face às do Sul. Este referiu-se a elas como sendo "fantásticas e caprichosas" e Lomazzo que escreveu no século XVI um tratado sobre pintura, escultura e arquitectura disse que a sua obra apresentava sonhos horríficos e assustadores. Diz-se que o universo de Bosch podia dever-se a uma destas causas ou à combinação das três:
- uma vida de privação (pouco alimento; poucas ou nenhumas condições de higiene, frio, solidão);
- ergotismo (fungo que atacava alguns cereais, cereais esses que quando ingeridos pelo homem provocavam nele gangrena ou convulsões. o ergotismo também é conhecido por Fogo de Santo António pois foi a Ordem de Santo António que tratou os pacientes desta doença e porque os seus pacientes apontam como um dos sintomas a sensação de queimadura nos membros, algo que se ficava a dever à constrição dos vasos sanguíneos. Daí a gangrena! Aliás, Bosch pintou as Tentações de Santo António). As cravagens, nome destes fungos que atacavam os cereais, está na base do LSD.
- Pomada das Bruxas (num texto do século XVI podia ler-se a receita para este estimulante. quem o tomava entrava num longo sono de 20 horas, no qual eram frequentes as orgias, as criaturas diabólicas e a sensação de poder voar). 

Também os monges copistas, uns séculos antes de Bosch e antes de surgirem as técnicas de reprodução de livros, mais rápidas, deviam sofrer de algumas destas doenças. Estavam certamente privados de alguns bens materiais. E quem pensa que eles não se queixavam, que se desengane. Atente neste link e veja o que escreviam os monges copistas nas margens dos manuscritos, nas longas horas de trabalho. Lemos coisas como "ai as minhas mãos", ou "isto é triste". A luz não abundava, as horas de sono eram poucas e as de trabalho muitas, jejuavam várias vezes ao ano e a comida também não era abundante... Podiam sofrer de outros males, males do corpo devido à ingestão consciente ou não de drogas. Verdade é que em alguns manuscritos encontramos personagens estranhas. Um dos manuscritos que mais me chama a atenção é o Saltério de Macclesfield. Podem consultá-lo aqui. Este saltério tem muitos coelhos, diferentes espécies animais a amarem-se como humanos, caracóis gigantescos e patos usados como cavalos; ou seja, um universo muito parecido com o de Bosch que tem pássaros gigantes a engolir homens, coelhos vestidos e homens a puxar a carapaça de um caracol O saltério tem também esta cabeça desenhada numa das iniciais













Macclesfield Psalter (pormenor)
cerca de 1330

e que me lembra muito destas coisinhas de Bosch














Hieronymus Bosch
Last Judgment (fragment of Hell, pormenor)
Colecção Privada














Hieronymus Bosch
Christ's Descent into Hell, (pormenor)

1550-1560
Met Museum, Nova Iorque


















Hieronymus Bosch
Last Judgment Triptych (central panel, pormenor)
1504-08
Akademie der bildenden Künste, Viena


Amigos, vou embora ver se isto passa. Um abracinho, b.


- ars longa, vita brevis -
hipócrates

gosto muito deste quadro. gosto do olhar da miúda da frente.



















Thomas Gainsborough
The Painter's Daughters with a cat
1760-1761
National Gallery, Londres

sexta-feira, setembro 18, 2015

- não vai mais vinho para essa mesa -

eu - Pedro, muito obrigada pelo almoço. Boa viagem!
Pedro Cabrita Reis - Gostei de si!
eu - Ah Pedo, aposto que diz isso a todas...

quinta-feira, setembro 17, 2015

puffff...

terça-feira, setembro 15, 2015

post para tapar o post anterior

domingo, setembro 13, 2015

10 anos de Belogue

Vocês nem sabem a trabalheira que deu fazer isto...


DIS-CUR-SO, DIS-CUR-SO, DIS-CUR-SO, DIS-CUR...

Ok, já que tanto insistem, farei um breve discurso.(espero que me desculpem a improvisação, não estava a contar. Até estou embaraçada...)
Há dez anos nascia o Belogue. Já uns meses antes andava a magicar que nome colocar e Belogue pareceu-me adequado porque gosto de brincar co' as palabras, bós bein sabeindes. O nickname beluga foi de facto um exagero, reconheço. É o nome da melhor qualidade de caviar, a mais cara. (O mais estranho é que nunca comi caviar, vejam lá!) Foi um exagero. Mas beluga é também o nome de uma baleia branca e tímida. A parte da timidez assentava na perfeição. A da baleia, nem se fala. Redimi-me do meu momento de vaidade ao cubo, e rematei o nome com a letra minúscula, o que lhe deu um ar valter hugo mãe, mas muito melhor.
Criei o Belogue porque achava que tinha coisas a dizer acerca de artes plásticas, de literatura, cinema, teatro. Coisas que via e que lia, coisas em que pensava e o Belogue era o espaço onde podia fazê-lo sem que ninguém dissesse: "olha a miúda armada ao pingarelho. deves pensar que és a Sontag da blogosfera, não?!". Não era (não sou) e percebo isso, quando hoje leio os posts passados, alguns sem interesse, meros exercícios pessoais e que nunca deviam ter sido publicados. mas é disso que se fazem as aprendizagens. hoje tenho menos certezas, cada vez menos. também tenho cada vez menos tempo para postar o que pode legitimar a vossa reclamação - caso a tenham - de que estes dez anos não foram bem dez anos já que houve alguns períodos em que não escrevi.  Acabei também por, por vezes, falar acerca dos meus sentimentos em relação a situações específicas da minha vida. O Belogue é também o meu espaço; não me podia negar isso. Desculpem!
Agradeço aos leitores a presença, os comentários, a troca de ideias. Agradeço-me porque o Belogue é uma das poucas coisas boas que criei na vida e isso faz-me sentir útil. (quando as pessoas me subestimam até sinto um certo prazer pois só eu sei que há um lugar, ainda que virtual, feito por mim, e de que me orgulho)
beijinhos às famílias e obrigada a todos (principalmente ao meu pai que me ajudou a fazer aquela composição culinária).

quinta-feira, setembro 10, 2015

- o carteiro -

queria escrever algo, mas não encontro nada bom para dizer. é ver as imagens que sempre são melhores do que qualquer coisa que eu possa dizer. reparei nisto um destes dias, nas minhas investigações.

















Degas
Dancers Practicing at the Bar
1876-77
Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque


















Degas
Dancers Practicing at the Bar (pormenores by beluga)
1876-77
Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque

- não vai mais vinho para essa mesa -

pai - tira-me daí essa cena.
eu - o quê??!!
pai - tira-me daqui essa cena.
eu - eh pá, és muito baril!
pai - yah!

terça-feira, setembro 08, 2015

passar o dia a desejar a noite, para dormir e não pensar.

sábado, setembro 05, 2015

deus:
não sei se te posso pedir alguma coisa, nem se tens tempo para mim, dada a quantidade de coisas importantes que andam por aí (mortes no mediterrâneo, muro na hungria, conflitos entre Israel e a Palestina, estado islâmico, degelo dos pólos), mas se sim, se tiveres um tempo, ainda que pequenino, peço-te que me tires este peso do peito e me devolvas a esperança e a alegria de viver. desculpa, mas não tinha a quem recorrer. 
obrigada, beluga

terça-feira, setembro 01, 2015

eu quero sair daqui. eu vou sair daqui.

esta certeza e o blog são, de momento, as minhas únicas motivações.