segunda-feira, setembro 21, 2015

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou "olá, como estaindes? eu cá bou andando. nunca pior, como se costuma dizer. hoje deixo-vos um post sobre iluminuras e a influência deles na arte posterior; neste caso, na arte de Bosch. Diz-se que Bosch, como outros do seu tempo (aquele que me vem à cabeça é Brueghel, mas tenho a certeza que há outros), estavam muitas vezes sob a influência de drogas. Bem, antes de mais convém dizer que até ao século XIX Bosch representava um universo medieval que, aquando a chegada do Renascimento, foi abafado. O pintor acabou por cair no esquecimento. Para além disto, as obras de Bosch foram descritas por Vasari de uma forma pouco elogiosa, algo que era compreensível pois estas marcavam bem as diferenças entre a pintura do Norte da Europa face às do Sul. Este referiu-se a elas como sendo "fantásticas e caprichosas" e Lomazzo que escreveu no século XVI um tratado sobre pintura, escultura e arquitectura disse que a sua obra apresentava sonhos horríficos e assustadores. Diz-se que o universo de Bosch podia dever-se a uma destas causas ou à combinação das três:
- uma vida de privação (pouco alimento; poucas ou nenhumas condições de higiene, frio, solidão);
- ergotismo (fungo que atacava alguns cereais, cereais esses que quando ingeridos pelo homem provocavam nele gangrena ou convulsões. o ergotismo também é conhecido por Fogo de Santo António pois foi a Ordem de Santo António que tratou os pacientes desta doença e porque os seus pacientes apontam como um dos sintomas a sensação de queimadura nos membros, algo que se ficava a dever à constrição dos vasos sanguíneos. Daí a gangrena! Aliás, Bosch pintou as Tentações de Santo António). As cravagens, nome destes fungos que atacavam os cereais, está na base do LSD.
- Pomada das Bruxas (num texto do século XVI podia ler-se a receita para este estimulante. quem o tomava entrava num longo sono de 20 horas, no qual eram frequentes as orgias, as criaturas diabólicas e a sensação de poder voar). 

Também os monges copistas, uns séculos antes de Bosch e antes de surgirem as técnicas de reprodução de livros, mais rápidas, deviam sofrer de algumas destas doenças. Estavam certamente privados de alguns bens materiais. E quem pensa que eles não se queixavam, que se desengane. Atente neste link e veja o que escreviam os monges copistas nas margens dos manuscritos, nas longas horas de trabalho. Lemos coisas como "ai as minhas mãos", ou "isto é triste". A luz não abundava, as horas de sono eram poucas e as de trabalho muitas, jejuavam várias vezes ao ano e a comida também não era abundante... Podiam sofrer de outros males, males do corpo devido à ingestão consciente ou não de drogas. Verdade é que em alguns manuscritos encontramos personagens estranhas. Um dos manuscritos que mais me chama a atenção é o Saltério de Macclesfield. Podem consultá-lo aqui. Este saltério tem muitos coelhos, diferentes espécies animais a amarem-se como humanos, caracóis gigantescos e patos usados como cavalos; ou seja, um universo muito parecido com o de Bosch que tem pássaros gigantes a engolir homens, coelhos vestidos e homens a puxar a carapaça de um caracol O saltério tem também esta cabeça desenhada numa das iniciais













Macclesfield Psalter (pormenor)
cerca de 1330

e que me lembra muito destas coisinhas de Bosch














Hieronymus Bosch
Last Judgment (fragment of Hell, pormenor)
Colecção Privada














Hieronymus Bosch
Christ's Descent into Hell, (pormenor)

1550-1560
Met Museum, Nova Iorque


















Hieronymus Bosch
Last Judgment Triptych (central panel, pormenor)
1504-08
Akademie der bildenden Künste, Viena


Amigos, vou embora ver se isto passa. Um abracinho, b.