quinta-feira, dezembro 27, 2012

- o carteiro -






















































durante muito tempo achei que me faltava qualquer coisa. qualquer coisa que não era Ferrero Rocher. ainda acho. essa coisa é uma espécie de esperança. experimentei tudo: dedicar-me à família, dedicar-me ao desporto, dedicar-me a um vício... e quando pensei dedicar-me a deus, ou a qualquer manifestação do divino li isto. e apesar de serem todos bons, não foi em deus que encontrei a solução. mas como se aproxima o fim do ano, e quase se aproximou o fim do mundo, queria recomendar leituras escatológicas. sempre dá um ar intelectual recomendar leituras. um bom ano

sexta-feira, dezembro 21, 2012

- original soundtrack -

não vou ficar "jururu" para sempre. por isso, e porque é natal, cá está o clássico. o meu clássico. Adoro a música, principalmente os acordes do órgão logo no início. esta música faz-me lembrar os meus seis anos de idade (pensavam que ia dizer que me fazia lembrar o Natal). Na primeira classe eu e a Bárbara partilhávamos carteira nas aulas da Dona Alcina. E a Bárbara que era a menina popular da primária, levava sempre uns cadernos com macacada. Ele era o Pierrot com uma lágrima no olho, a Lilibeth e a Minnie que, quando olhávamos de um lado tinha os olhos abertos e de outro, os olhos fechados. Ora a Bárbara também tinha um caderno que na contracapa tinha uma fotografia do George Michael quando era o Sansão dos 80's. E eu e a Bárbara, quando a Dona Alcina não estava a olhar, beijávamos a boca de papel do George Michael. E era bom... 
Em memória dos natais da infância, Feliz Natal (António, depois posto Divine Comedy) 
















(Last Christmas, Wham!)

 - discos perdidos -

presentes de Natal:
De António José Seguro para o Governo (Upgrade U)
Do CDS para o PSD (We found love (in a hopeless place))
Do Governo para German Efromovich (Gimme more) (It's Britney, bitch!)
De Isabel dos Santos para a RTP (Diamonds)
De Portugal para o Governo (La Tortura)

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou "custa-me deixar este post aqui: um post tão triste numa época tão alegre. mas tinha de compensar a minha "bimbice" e para isso, nada melhor que uns barrocos do tempo da Inquisição (vale a pena o link). São os dois bastante soturnos, de um tempo em que a Igreja tanto inebriava os seus fiéis com sermões que eram peças de teatro, como fazia com que eles se punissem com medo da proximidade da morte. O Zurbarán era aquilo que se chama um "naturalista austero" que odiava o ornamento e dispensava as poses e traços da idealização de um Carracci, por exemplo. Retratou muitas santos, a maior parte deles em fundo escuros que não se devem bem ao caravaggismo. Embora os pintores espanhóis, principalmente Ribera que pintou e Nápoles, tenham sido influenciados por Caravaggio, a verdade é que neles o caravaggismo se transforma em tenebrismo. Trata-se não só de transmitir os fortes contrastes de luz e sombra como se o objeto estivesse num palco, mas de mostrar qualidades sombrias, pessimistas nas pessoas, nos seus atos, nas suas poses, nos cenários. Acho que era o espelho dessa sociedade über católica (desculpem mas tinha de escrever esta palavra). Já Pedro de Mena era um escultor. Sim, o que estão a ver é uma escultura. Se me disserem assim: "ah e tal, o que faz com que sejam tão parecidas é o fundo negro". É verdade, mas era assim que as esculturas eram mostradas: toda uma cenografia era preparada para captar a atenção do crente e impressionar. O chamado delectare et movere (nota-se que eu tenho estudado para os exames!). Se formos a ver bem, em comparação com Bernini ou Le Notre o Pedro de Mena é fraco. Mas o que é ser fraco? Ele seria igualmente fraco se em vez de ter nascido em Espanha tivesse nascido em Itália e por isso tivesse acesso a mármore. É que em Espanha, como em Portugal colocava-se o problema do material: podia-se fazer escultura em terracota, pedra, madeira... mas não em mármore. Esta escultura de Pedro de Mena, se não me engano é de madeira. Pelo menos a cabeça é: é uma cabeça desmontável que foi assim feita para poderem ser colocados os olhos de vidro. Claro que olhamos para isto - pelo menos eu olho - e parece-nos tétrico. Mas era o que havia. E é o que continua a haver. E nisso, como em outras coisas, a Espanha leva-nos vantagem porque consegue nobilitar qualquer peça de arte dentro de um contexto próprio.

















Zurbarán
São Francisco de Assis
1650-1660



















Pedro de Mena
São Francisco em êxtase
1663
Catedral de Toledo

quinta-feira, dezembro 20, 2012

num bus preocupéis c'amanhã já boto qualquer coisinha

segunda-feira, dezembro 17, 2012

Mais 1,400Kg. Mais 1,400Kg num mês. Obviamente sinto-me um nojo, uma pessoa nojenta. Não sei porque é que o meu corpo faz isto. É como se ele não me obedecesse. Como é que eu vivo com isto? Como é que vou sair de casa com isto? Ainda se eu soubesse para onde foi esse peso. Não foi para as mamocas, nem para o rabiosque e nem é peso de cocó. Deve estar nas costas, a fazer regueifa. Como é que o meu corpo me faz isto? Não como doces, nem fritos, nem pão branco há 15 anos. Há 15 anos, merda! Eu sou mesmo um puta estúpida por acreditar no médico. Bebo três litros de água por dia, faço exercício seis dias por semana, todas as semanas, todos os meses, durante 15 anos! Que nojo. Ainda se eu fosse uma cabra com o corpo, mas não. Estúpida todos os dias. E mais nojo tenho dos outros que me vêm passar a mão pela cabeça dizer : "estás compostinha". Eu não quero estar compostinha, quero gostar de mim. E se é verdade que isso não acontecia quando tinha 30Kgs, também é verdade que não acontece agora. Merda, estou a chorar. Merda, merda merda. A minha vontade é cortar o rabo todo. Fatiá-lo como se fosse fiambre. Que raiva. Que raiva e que vergonha. É que eu nem percebo para onde foi o peso. 

terça-feira, dezembro 11, 2012

- não vai mais vinho para essa mesa -

































e assim sucessivamente...

sábado, dezembro 08, 2012

- não vais mais vinho para essa mesa -

Estamos porreiros

saúde excelente
bem comidos
bebidos
e dormidos

Ninguém está doente
o que já chateia

O sol aqui é quente
e a chuva fria

Vento em popa
conveniente.

O mar tranquilo
regulado
pra nadar

A hora é exacta
às doze em ponto
é mesmo meio-dia

O melhor que há
passa por cá

Vamos ao teatro
vamos ao cinema
vamos ao ballet

Estamos todos porreiros
estamos todos contentes
olarilolé

Vamos ao Algarve
pra falar estrangeiro

Vamos viajar
vamos dar uma volta
num cruzeiro

Vamos ao Tavares
vamos ao Lacerda
a todos os lados
aqui e ali

e vamos à merda*.

(Exame prévio, Mendes de Carvalho)
*desculpem

quarta-feira, dezembro 05, 2012

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

para esquecer o Banco Alimentar e alimentar aqui o pessoal com o que verdadeiramente interessa (bom, como dizia o Robert Motherwell, de facto a arte não é mais importante que a vida, mas a vida sem arte é muito pobre), vou mostrar-vos uma coisinha que descobri há pouco e que é o "berdadeiro" ponto de fuga. No quadro de Vermeer, "Woman holding a balance", se seguirmos a linha da mesa e da janela, vemos que o ponto de fuga se encontra no dedo da menina.

















Vermeer
Woman holding a balance
1664
National Gallery of Art, Washington



Mas, se observarmos mais de perto vemos um ponto, um furo no dedo dela. O furo que corresponde ao lugar onde o pintor colocou o alfinete (esperemos que Vermeer tivesse dinheiro para os seus alfinetes) para desenhar a perspectiva. Só é possível ver isto no Google Art Project, de onde tirei a imagem. Também a clareei um pouco para que pudessem ver o ponto. Bem, vou para dentro ouvir. beijos, abraços cafunés e cheiro no cangote dji ocês. 


















Vermeer
Woman holding a balance (pormenor)
1664
National Gallery of Art, Washington

domingo, dezembro 02, 2012

- o carteiro -

«A primeira evidência deste egoísmo é o desenvolvimento ruidoso da filantropia. Desde que a caridade se organiza e se consolida em instituição, com regulamentos, relatórios, comités, sessões, um presidente e uma campainha, e de sentimento natural passa a função oficial é porque o homem, não contando já com os impulsos do seu coração, necessita obrigar-se publicamente ao bem pelas prescrições de um estatuto. Com os corações assim duros e os Invernos tão longos, que vai ser dos pobres?...» (A correspondência de Fradique Mendes, pág. 82)


É difícil escrever este post sem entrar em juízos de valor fáceis e injustos, razão pela qual me ficarei pelos factos. Há pouco tempo recebi pelo correio a ficha de inscrição na acção de recolha de alimentos do Banco Alimentar contra a Fome. Já havia ingressado a bolsa de voluntários há mais de 10 anos e como nunca mais me chamaram, voltei a preencher a ficha, especificando local e horário. Devo ressalvar que escolhi o super-mercado mais perto de casa por não possuir transporte para outros pontos da cidade. Este fim de semana lá me dirigi para o Pingo Doce do centro, conforme combinado e quando cheguei proferi meia dúzia de palavras mágicas que me revelaram um mundo que até hoje prefiro não conhecer por acreditar que o Homem é naturalmente gentil e bom. Apresentei-me e disse que ia render alguma das senhoras ali presentes. Os dois arautos olharam-me por trás da graduação Pierre Cardin, crisparam o batom nos lábios finos e fendidos, e perguntaram-me como tinha chegado até ali.
- Preenchi a ficha de inscrição do Banco Alimentar.
- Conhece a Zezinha?
- ... Não.
- Costuma fazer estas campanhas? É que a gente não a conhece.
- É natural, não faço há muito tempo.
- Ah... Mas é daqui?
- Moro cá.
- E o que é que lhe disseram? Disseram-lhe que era aqui?
- Sim. No Pingo Doce. Foi o que me disseram.
- É que nós somos da Cruz Vermelha e vimos sempre para aqui. Nunca a vimos.
O ambiente começava a ficar estranho, até porque se juntaram outras pessoas que aparentemente se conheciam. Uma das senhoras, na eminência de tirar o colete - hábito dos responsáveis pelos coutos da caridade - lembrou-se que havia um outro Pingo Doce, mais afastado dali e com o colete entre o penteado imaculado (as duas tinham o penteado como se tivessem saído do cabeleireiro, algo que por aquelas paragens é frequente em procissões, festinhas dos meninos, dia de finados e outros tantos) e o ombro disse:
- Há outro Pingo Doce. Na Estrada Nacional. Deve ser esse. Sabe, é que nós somos da Cruz Vermelha e ficamos sempre aqui. 
Percebi que o que as movia era mostrar aos seus pares a beatice encapotada sob forma de caridade. A caridade organizada que ainda serve para muita gente se promover nos seus pequenos meios - e nas suas pequenas mentes - consegue ser uma consequência de acções que não deveriam ter como consequência nada para além da dirimição da fome em si.