sexta-feira, dezembro 21, 2012

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou "custa-me deixar este post aqui: um post tão triste numa época tão alegre. mas tinha de compensar a minha "bimbice" e para isso, nada melhor que uns barrocos do tempo da Inquisição (vale a pena o link). São os dois bastante soturnos, de um tempo em que a Igreja tanto inebriava os seus fiéis com sermões que eram peças de teatro, como fazia com que eles se punissem com medo da proximidade da morte. O Zurbarán era aquilo que se chama um "naturalista austero" que odiava o ornamento e dispensava as poses e traços da idealização de um Carracci, por exemplo. Retratou muitas santos, a maior parte deles em fundo escuros que não se devem bem ao caravaggismo. Embora os pintores espanhóis, principalmente Ribera que pintou e Nápoles, tenham sido influenciados por Caravaggio, a verdade é que neles o caravaggismo se transforma em tenebrismo. Trata-se não só de transmitir os fortes contrastes de luz e sombra como se o objeto estivesse num palco, mas de mostrar qualidades sombrias, pessimistas nas pessoas, nos seus atos, nas suas poses, nos cenários. Acho que era o espelho dessa sociedade über católica (desculpem mas tinha de escrever esta palavra). Já Pedro de Mena era um escultor. Sim, o que estão a ver é uma escultura. Se me disserem assim: "ah e tal, o que faz com que sejam tão parecidas é o fundo negro". É verdade, mas era assim que as esculturas eram mostradas: toda uma cenografia era preparada para captar a atenção do crente e impressionar. O chamado delectare et movere (nota-se que eu tenho estudado para os exames!). Se formos a ver bem, em comparação com Bernini ou Le Notre o Pedro de Mena é fraco. Mas o que é ser fraco? Ele seria igualmente fraco se em vez de ter nascido em Espanha tivesse nascido em Itália e por isso tivesse acesso a mármore. É que em Espanha, como em Portugal colocava-se o problema do material: podia-se fazer escultura em terracota, pedra, madeira... mas não em mármore. Esta escultura de Pedro de Mena, se não me engano é de madeira. Pelo menos a cabeça é: é uma cabeça desmontável que foi assim feita para poderem ser colocados os olhos de vidro. Claro que olhamos para isto - pelo menos eu olho - e parece-nos tétrico. Mas era o que havia. E é o que continua a haver. E nisso, como em outras coisas, a Espanha leva-nos vantagem porque consegue nobilitar qualquer peça de arte dentro de um contexto próprio.

















Zurbarán
São Francisco de Assis
1650-1660



















Pedro de Mena
São Francisco em êxtase
1663
Catedral de Toledo

2 Comments:

Blogger Tolan said...

É efectivamente tenebrismo... que ares de sofrimento mórbido e desespero, até parece que estão pregados na cruz.

21/12/12 12:38 da manhã  
Blogger Belogue said...

caro/a (presumo que seja um "ele"):
bem vindo (é só uma coisa que digo às pessoas que vêm pela primeira vez). estas pinturas e estas esculturas espanholas dão-me arrepios, mas temos de concordar que os espanhóis sabem bem fazer render a sua arte.

21/12/12 1:16 da manhã  

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