sexta-feira, setembro 30, 2005

TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

Ainda mais truísmos de Jenny Holzer:

- anger or hate can be a useful motivating force
- animalism is perfectly healthy
- any surplus is immoral
- anything is a legitimate area of investigation
- artificial desires are despoiling the earth
- at times inactivity is preferable to mindless functioning
- at times your unconsciousness is truer than your conscious mind
- automation is deadly
- awful punishment awaits really bad people
- bad intentions can yield good results
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO

Em entrevista ao suplemento Única do Expresso (24 de Setembro de 2005), Marc Newson, tem esta resposta brilhante - face à pergunta/afirmação «Há um discurso politicamente correcto de que o "designer" deve ser muito consciente dos problemas actuais, sobretudo das questões ecológicas» - :

«Não sei o que é ser ecologicamente responsável enquanto "designer". Significa usar madeira ou materiais recicláveis o tempo todo? Ou usar plástico para não abater árvores? Não tenho resposta. Uso todos os materiais. É importante pensar em usar matéria-prima reciclável, mas a partir de certa altura a discussão começa a andar em círculos. Não me proponho mudar o mundo. Mas também não me sentiria muito feliz por desenhar um maço de cigarros. Para mim há fronteiras muito claras. A questão é qual é o propósito do "design" na vida das pessoas. E qual é a importância do "design" na minha vida como criador?»

Com uma não-resposta desta, e visto que os leitores deste blog não têm feito comentários, penso que Marc Newson só merece um: "Se não sabe, porque é que pergunta?" (resposta de Daavid Tudor, músico que tocava com John Cage perante as perguntas insistentes de uma jornalista japonesa.)

quinta-feira, setembro 29, 2005

TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

"Quem foi que à tua pele conferiu esse papel
de mais que tua pele ser pele da minha pele."

Pele, David Mourão Ferreira




Danaid
Auguste Rodin
1889
Museu Rodin, Paris

terça-feira, setembro 27, 2005

O CARTEIRO

O milagre de Ourique, Herculano e a bandeira portuguesa


O milagre de Ourique baseia-se na tradição que diz que a D. Afonso Henriques, antes da Batalha de Ourique, apareceu Cristo. Cristo prometia ao rei a vitória, mas também a protecção para o reino, glórias futuras, a fundação de um império. Deste modo a independência portuguesa assentava na expressa vontade de Deus e o povo português assumia o papel de povo eleito. A partir do século XIX a autenticidade do milagre foi posta em causa.

Alexandre Herculano refutou-o e a historiografia moderna, depois de rever as fontes que se referem a este milagre, não o aceitou. De facto, nenhum dos documentos coetâneos da Batalha de Ourique que a pormenorizam, avança uma palavra quanto à suposta aparição de Cristo. Só no século XIV surgem factos novos ligados à batalha: a aclamação de D. Afonso Henriques como rei de Portugal pelas suas tropas. Note-se que não há qualquer referência a que essa aclamação tenha tido intervenção divina.

Em 1485 (após 3 séculos de lenda), surge a primeira referência directa ao "milagre de Ourique". Vasco Fernandes de Lucerna, embaixador de D. João II junto do Papa Inocêncio VIII narra os feitos do 1º rei português, alterando-lhes a ordem cronológica e juntando a descrição da campanha de Ourique, o aparecimento de Cristo. O milagre passa assim a fazer parte integrante da História de Portugal.

No século XVII com Bernardo de Brito e a Chronica de Cister, a lenda ganha mais prestígio e precisão. O frade cisterciense aperfeiçoou-a, retocou-a e deu-lhe nova importância, conferindo a Portugal e aos seus reis uma missão carismática.

Podem pois considerar-se dois momentos na história da lenda de Ourique: um resultante da sua invenção por Fernandes Lucerna e outro quando da sua pormenorização, e por consequência, reinvenção por parte do frade de Alcobaça.

Em ambos os momentos havia a necessidade de afirmar a autonomia de Portugal, o carácter de eleição e a impossibilidade de sujeição do reino ao Papa ou a outros monarcas. A moderna historiografia e Herculano contrapõem esta ideia com factos. Os escritos referiam que o contingente militar africano era muito superior ao nosso, comandado por cinco reis mouros, mas na realidade, tendo em conta a situação de crise dos muçulmanos, quer na Península Ibérica, quer no Norte de África, o contingente militar árabe não seria assim tão numeroso. A fundação da identidade portuguesa não poderia residir aí, uma vez que Cristo não teria sido assim tão útil e porque ao dizer que "protege o reino", refere-se ainda a um reino e não a um país. D. Afonso Henriques queria reunir um conjunto de reinos e não uma nação.

Mas baseado nisto, se criou a bandeira portuguesa, de carácter cristológico: as 5 quinas simbolizam os 5 reis mouros que D. Afonso Henriques venceu na batalha de Ourique, os pontos dentro das quinas representam as 5 chagas de Cristo. Diz-se que na batalha de Ourique, Jesus Cristo crucificado apareceu a D. Afonso Henriques, e disse: "Com este sinal, vencerás!". Contando as chagas e duplicando as chagas da quina do meio perfaz-se a soma de 30, representando os 30 dinheiros que Judas recebeu por ter traído Cristo.
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

Gabrielle - "No, I'm just pointing something out. I'm a pretty girl, and pretty girls are never lonely"



CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

- The best is yet to come, diz Bree van de Kamp ao seu marido no dia anterior ao da morte deste.




Bom dia.



segunda-feira, setembro 26, 2005

EU SOU ASSIM...
Só.

sábado, setembro 24, 2005

TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS




De tarde

«Naquele piquenique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!»

Cesário Verde
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

mais truísmos de Jenny Holzer:

a strong sense of duty imprisons you
absolute submission can be a form of freedom
abstraction is a type of decadence
abuse of power comes as no surprise
action causes more trouble than thought
alienation produces eccentrics or revolutionaries
all things are delicately interconnected
ambition is just as dangerous as complacency
ambivalence can ruin your life
an elite is inevitable

sexta-feira, setembro 23, 2005

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA
ou
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO



[No Hospital]
- É uma conjuntivite. Leva aqui o X.....

[Na farmácia]
- O X..... não é distribuído nas farmácias desde 2000.
- Não estamos em 2005?

quinta-feira, setembro 22, 2005

TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

O mar de julho
estatístico e pequeno
Um último

textual lembro
remorso sem lição
mar de setembro.

Poema, por Pedro Mexia


COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO

Como é que alguém acusado de 23 crimes foge do seu país, volta, monopoliza a comunicação social, recebe aplausos e ainda se pode candidatar à autarquia da pátria que abandonou.

MANIFESTO ANTI-DANTAS E POR EXTENSO
por José de Almada-Negreiros
POETA D'ORPHEU FUTURISTA e TUDO

BASTA PUM BASTA!
UMA GERAÇÃO, QUE CONSENTE DEIXAR-SE REPRESENTAR POR UM DANTAS É UMA GERAÇÃO QUE NUNCA O FOI! É UM COIO D'INDIGENTES, D'INDIGNOS E DE CEGOS! É UMA RÊSMA DE CHARLATÃES E DE VENDIDOS, E SÓ PODE PARIR ABAIXO DE ZERO!
ABAIXO A GERAÇÃO!
MORRA O DANTAS, MORRA! PIM!
UMA GERAÇÃO COM UM DANTAS A CAVALO É UM BURRO IMPOTENTE!
UMA GERAÇÃO COM UM DANTAS À PROA É UMA CANÔA UNI SECO!
O DANTAS É UM CIGANO!
O DANTAS É MEIO CIGANO!


(...)

SE O DANTAS É PORTUGUEZ EU QUERO SER HESPANHOL!
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO

Os novos irmãos Dalton: Isatino Dalton, Valentim Dalton, Avelino Dalton e Fátima Dalton.



Há mais cerca de 70 Dalton's em Portugal.

quarta-feira, setembro 21, 2005

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

Devido ao elevado número de pedidos, abre-se aqui uma nova rubrica. Hoje, irei agradecer aos os visitantes cujos comentários não fazem qualquer sentido. Quero agradecer à Sarah pela dica do "latest cholesterol medications", à Elisha Cuthbert pela "sexy underwear", ao Californiahomestuff não sei porquê, à (ao?) Chery Jack pelos "original fine art prints", ao Ricky Mont por causa do "cheap auto insurance" (essencial), ao Bob pelo "equity home loan maine", ao Adrenaline Junkie pelo "blog submitter pro" e à Aixea pelo "low credit score home loans". Também quero agradecer a Deus por ter tornado este sonho possível. Amén.
O CARTEIRO

também no Louvre, ou do Louvre, surge a seguinte imagem:



Os Sonhadores
Bernardo Bertolucci
1968

"Chegou o carteiro
das nove p'ras dez
a vizinha do lado
de roupão enfiado
chegou-se à janela
em bicos de pés
e logo gritou:"Traz carta p'ra mim?"
e o carteiro que é gago
espera um bocado
e responde-lhe assim:"Não não não não não
não não não trago nada
só só só só só
só trago o pacote
da sua criada"
"Chegou o carteiro" - Sérgio Godinho
EU SOU ASSIM...

...não sou, mas se fosse ía ser muito bom para a economia portuguesa



Vitória de Samotrácia
200a.C.

Museu do Louvre

terça-feira, setembro 20, 2005

O CARTEIRO


Cátaros, Thomas More, Thomas Mann, Frederico Lourenço

Os Cátaros ou Albigenses eram uma seita cristã da Idade Média (século XI) considerada herética pois praticava o cristianismo maniqueísta (o mundo palpável era intrinsecamente mau e o mundo espiritual era totalmente bom), e gnóstico. Tinham, ao contrário dos cristãos, uma prática, um ritual de iniciação na vida religiosa que se dava não com o nascimento (hoje o baptismo é um sacramento administrado nos primeiros dias de vida, mas nem sempre foi assim), mas sim com a morte. Ao morrer os Cátaros recebiam o consolamentum e tornavam-se assim homens bons. Com esta conversa é fácil de ver que até à morte se consideravam homens menos puros e por isso, para alcançar essa pureza que só a morte proporcionava por inteiro tinham uma existência ascética privados de certos alimentos e tudo o que proviesse da procriação. Obviamente, dentro dessas privações estava o sexo. Só que o sexo era necessário para procriar e dar continuidade à seita. E tendo em conta isto, a promiscuidade, o aborto, a eutanásia e o suicídio eram meios perfeitamente aceitáveis para aceitar tão elevado fim. Devido à extensão da heresia cátara, a Igreja Católica procedeu ao combate da mesma. Quando a seita se extinguiu, muito se falou do Tesouro Cátaro, um tesouro que composto não de ouro, mas um tesouro místico.
O Tesouro Cátaro e a sua ausência de valor material em muito se assemelha à Utopia de Thomas More. A ilha referida por More encerra duas ideias: a de negação da propriedade privada, e a de que os interesses colectivos estão acima dos interesses privados. Em “Utopia”, More insurge-se contra o dinheiro, os bens materiais, defende (ainda que indirectamente) a eutanásia. Já no que diz respeito ao prazer, para os utopianos o prazer e a felicidade eram essenciais, mas não residiam no prejuízo dos outros, sendo até visível uma hierarquização dos prazeres: os físicos, os intelectuais e os espirituais.
Não confundir Thomas More com Thomas Mann (um provável – muito provável – candidato à presidência da nossa República fê-lo), mais um erro que faria todo o sentido. Mas Mann que escreveu “Morte em Veneza”, tinha outros interesses. Quem ler o livro e ler o seguinte parágrafo pensará que se trata de um excerto do primeiro. Mas não… O parágrafo que se segue foi escrito por Frederico Lourenço (que traduziu a “Odisseia” e a “Ilíada” – Edições Cotovia), num texto de homenagem a Eugénio de Andrade e que faz parte de um conjunto de textos de autores portugueses publicados num especial “Mil Folhas” do Público.

Carta da Grécia, ao Eugénio, por Frederico Lourenço
Sabado, 25 de Junho de 2005

O barco largou de Egina há coisa de meia hora. Ao meu lado está um jovem alemão a ler "Stilleben mit Früchten". Por acaso, já tinha reparado nele ontem, na pequena esplanada do café, sentado debaixo de uma buganvília. Fiquei na dúvida. "Stilleben mit Früchten"seria "As Mãos e os Frutos", em tradução alemã?Ontem, na esplanada no café, enquanto eu escrevinhava "poesia do quotidiano" num caderno (No pequeno café no cimo de Egina / Donde se avista o repouso do mar egeu / Fumando um cigarro, bebendo um refresco...), ele lia Eugénio de Andrade, sem saber que eu existia. Tem olhos muito azuis, como aqueles gatos persas de que o Eugénio tanto gosta.
*
Rodeado por ânforas que irradiam frescura e silêncio / Com as vinhas trepando, suspensas e sombrias / O corpo vibrando dos mergulhos de há pouco / As cigarras a cantar, o ar a luzir / O declive dos pinheiros até ao mar / Sentir.
*
Isso foi ontem. Hoje estamos no mar e este barco vai para Hidra: "... o lugar certo / para morrer", como o Eugénio escreve em "Rente ao Dizer". É a última etapa desta viagem, mas não conto ainda morrer. O alemão bonito acaba de pôr "Stilleben mit Früchten" no colo e está agora a olhar, deslumbrado, para o mar. Amanhã é o último dia de Setembro. Tiro da mochila "O Sal da Língua" e leio "Chega ao fim o verão, resta-me agora / a poesia a caminho da prosa". Mas o Eugénio será a primeira pessoa a compreender que não vale a pena categorizar experiências à machadada, recorrendo a palavras como "antes" e "depois".
*
A simplicidade azul e branca da manhã / Diz-me que não há ontem nem amanhã / Mesmo o agora é supérfluo, é só aparente.
*
Estamos quase a chegar a Hidra. A beleza deste dia é indescritível. Não houve vertigem mais serena em toda a minha vida. O alemão já meteu conversa comigo, por ter reparado que eu estava a ler o "autor dele".
*
O pequeno porto de Hidra é como um / Pequeno anfiteatro para o mar / Branco, dourado e azul.
*
Estamos sentados numa esplanada junto ao porto a fumar e a beber cerveja. Ele chama-se Christoph e tem vinte e seis anos (parece mais novo). Estudou italiano em Rostock, mas está com ideia de aprender português. Vou incentivá-lo, claro. Falo-lhe da poesia portuguesa. João Cabral de Melo Neto? Ele só conhece Pessoa e Eugénio. Tem o cuidado de dizer que foi a namorada que lhe ofereceu "Stilleben mit Früchten".
*
Passámos limiares de maresia / E portões de rocha como ondas de lava / Tínhamos chegado a Hidra.
*
A seguir ao almoço damos um passeio pela ilha. Chegamos a esta praia, onde não está ninguém, pois é o final de Setembro. Christoph despe-se e vai dar um mergulho. A água é perfeitamente transparente. Dispo-me também e entro na água.
*
Pequena praia de pedras polidas pelo mar / Búzio minúsculo, faísca de sol / Rochas agrestes, muros de sombra / Água transparente, eco das ondas / Nu sem passado, oiço sem pensar.
*
Apesar de a praia ter seixos em vez de areia, lembro-me de "Ostinato Rigore" e dos versos "Um corpo brilha nu para o desejo / dançar na luz a pique das areias". Agora viemos estender-nos ao sol, em cima dos sacos-cama. Christoph continua a falar da namorada.
*
Procuramos alojamento na vila. Acabamos por alugar um quarto por duas noites junto ao porto, mas sem vista para o mar, pois a vista é muito cara e tanto Christoph como eu estamos na fase final das nossas respectivas viagens: o dinheiro começa já a faltar. "Os Amantes sem Dinheiro". Antes fôssemos.
*
O pequeno porto de Hidra tem um sabor napoleónico / Aspecto romântico, vagamente militar / Anfiteatro caiado para o mar sarónico / Entre João Cabral e Eugénio indeciso oscilar.
*
A seguir ao jantar, improviso no meu alemão atabalhoado uma tradução à primeira vista de "Cumplicidades de Verão", que também trago comigo. Parece que Christoph gosta. Já depois de nos termos deitado, depois do último cigarro, ele diz \uF8E7 assim de repente \uF8E7 que amanhã quer tomar nota da minha tradução num caderno.
*
Acordo com a sensibilidade à flor da pele. Sinto o sangue a pulsar; os vasos sanguíneos em constantes fluxos e refluxos. Acordo com "As Mãos e os Frutos", mas não "nos teus braços deslumbrados". Os braços dele estão fora do lençol e "o meu corpo estremece / por vê-los nus e suados".


"Chegou o carteiro
das nove p'ras dez
a vizinha do lado
de roupão enfiado
chegou-se à janela
em bicos de pés
e logo gritou:"Traz carta p'ra mim?"
e o carteiro que é gago
espera um bocado
e responde-lhe assim:"Não não não não não
não não não trago nada
só só só só só
só trago o pacote
da sua criada"
"Chegou o carteiro" - Sérgio Godinho
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO

- porque é que não consigo postar uma imagem da Vitória de Samotrácia.
- o que é que a mãe do capuchinho vermelho estava a fazer para não levar a merenda à avozinha e mandar uma criança sair de casa sozinha.
- onde estava a mãe de Judas quando ele saiu para ir cear com os amigos.
- quem era o barbeiro de Hitler que lhe ensinou aquela moda de dois dedos de bigode.

segunda-feira, setembro 19, 2005

TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS



No limiar da casa

Estar sentado nas dunas. Não ver
Senão sol. Não sentir senão
calor. Não ouvir
Senão quebrar as ondas. Entre duas
pulsações acreditar: Agora
há paz.

Günter Kunert

domingo, setembro 18, 2005

TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

Como prometido, alguns truísmos de Jenny Holzer:

- a little knowledge can go a long way
- a lot of professionals are crackpots
- a man can't know what it is to be a mother
- a name means a lot just by itself
- a positive attitude means all the difference in the world
- a relaxed man is not necessarily a better man
- a sense of timing is the mark of genius
- a sincere effort is all you can ask
- a single event can have infinitely many interpretations
- a solid home base builds a sense of self
O CARTEIRO

Lista dos 6 museus portugueses mais visitados nos últimos três anos, de um conjunto de 29 (pertencentes ao IPM) espalhados por todo o país:

Em 2005 (até Maio):
1º Museu Nacional dos Coches – 77.857
2º Museu Nacional de Arte Antiga - 48.904
3º Museu Monográfico de Conímbriga – 40.319
4º Museu Nacional do Azulejo – 29.388
5º Museu Nacional de Arqueologia – 26.360
6º Museu Nacional do Traje – 15.760

Em 2004
1º Museu Nacional dos Coches – 190.564
2º Museu Monográfico de Conímbriga – 110.250
3º Museu Nacional de Arte Antiga – 75.696
4º Museu Nacional do Azulejo – 70.571
5º Museu Nacional de Arqueologia – 70.266
6º Museu Nacional do Traje – 41.455

Em 2003
1º Museu Nacional dos Coches – 206.429
2º Museu Monográfico de Conímbriga – 120.672
3º Museu Nacional do Azulejo – 79.635
4º Museu nacional de Arqueologia – 75.129
5º Museu Nacional de Arte Antiga – 71.973
6º Museu Nacional do Traje – 42.350


- dos 29 museus, 17 são no Norte, 12 no Sul (11 dos quais são em Lisboa. Curiosamente, os que aparecem a ocupar os primeiros lugares das listas).
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS




















"Protect me from what I want"
1986-1986
Jenny Holzer


Não é isso que todos queremos?
Em breve (e em partes), os truísmos de Jenny Holzer.

sábado, setembro 17, 2005

COISAS QUE EU NÃO COMPRRENDO

Quando a minha idade era outra que não esta, o meu avô dizia-me: "Vá lá, diz outra vez." E eu dizia: "rabuçados." Ele ria-se e voltava a pedir-me, até que se tornou o divertimento da família ouvir-me dizer, na sala exígua de casa dos meus avós, "rabuçado" em vez de "rebuçado." E quanto mais me pediam, mas me parecia certa a palavra "rabuçado."
Os piores erros são aqueles que fazem sentido. Como confundir o duque de Wellington (que até esteve em Portugal a combater as tropas francesas), com o Duke Ellington (músico, que desconheço se esteve alguma vez em Portugal), ou o H.G.Wells, com o Orson Welles (o que até tem alguma razão de ser, porque foi o primeiro que escreveu a "Guerra dos Mundos" e o segundo que a adaptou, produziu e dirigiu como peça radiofónica que espalhou o terror nos EUA e que colocou a CBS à frente da NBC). Outro erro que é confundir autocarro com "altocarro". Faz todo o sentido.

sexta-feira, setembro 16, 2005

TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS




Embrace (Lovers II)
1917
Osterreichische Galerie, Viena
Egon Schiele
O CARTEIRO

O mestre e o seu discípulo, ou o discípulo e o mestre?
[descubra as diferenças]



Presentation at the Temple
1460 - 1464
Galleria Querini Stampalia, Veneza
Giovanni Bellini
















Presentation at the Temple
1460
Staatliche Musee, Berlim
Andrea Mantegna

Mantegna casou com Nicolosia Bellini, cujos irmãos Giovanni e Gentile Bellini eram também artistas. Mas quem faz isto, é o mestre, não é?



"Chegou o carteiro
das nove p'ras dez
a vizinha do lado
de roupão enfiado
chegou-se à janelaem bicos de pés
e logo gritou:"Traz carta p'ra mim?"e o carteiro que é gago
espera um bocado
e responde-lhe assim:"Não não não não não
não não não trago nada
só só só só só
só trago o pacote
da sua criada"
"Chegou o carteiro" - Sérgio Godinho

quinta-feira, setembro 15, 2005

EU SOU ASSIM...


Eu não sou assim, mas estou assim

Um dia não muito longe não muito perto

Às vezes sabes sinto-me farto
por tudo isto ser sempre assim
Um dia não muito normal um dia quotidiano
um dia não é que eu pareça lá muito hirto
entrarás no quarto e chamarás por mim
e digo-te que tenho pena de não responder
de não sair do meu ar vagamente absorto
farei um esforço parece mas nada a fazer
hás-de dizer que pareço morto
que disparate dizias tu que houve um surto
não sabes de quê não muito perto
e eu sem nada pra te dizer
um pouco farto não muito hirto vagamente absorto
não muito perto desse tal surto
queres tu ver que hei-de estar morto?

"Um dia não muito longe não muito perto", Ruy Belo

quarta-feira, setembro 14, 2005

EU SOU ASSIM...


Pacheco Pereira






COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO



Sr. maquinista, make me good, but not yet.

- a CP dizer, no fim da viagem de comboio "Obrigado pela sua preferência". Preferência, qual preferência? Onde é que está a alternativa para haver preferência?
- haver duas vozes diferentes a anunciar a paragem seguinte. Exemplo: "Próxima paragem" - diz uma menina que molha o saquinho de chá na água quente. E a outra complementa: "Porto de Cós", enquanto seca uma unha. (Estão as duas dentro do altifalante).
- a música de fundo, meu Deus. Dizem que o Satie inventou a música ambiente, mas aquilo é uma tortura. O "Malhão" em versão Panpipes, Bach com um toque de jazz, e música de trabalhos manuais (detenha-se dois minutos - um, pronto - nos programas para crianças em que uma mão faz um bolo, ou um desenho, ou molda plasticina. Não é a mesma música?
COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO

...mas não faz mal. Basta ouvir aqui e rir muito.
TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS

Colhe todo o oiro

"Colhe
todo o oiro do dia
na haste mais alta
da melancolia."

Eugénio de Andrade para começar bem um dia que se avizinha mau.

terça-feira, setembro 13, 2005


TÃO LÍRICOS QUE NÓS ESTAMOS



Cucurrucucu Paloma
by Tomás Méndez

Dicen que por las noches
No más se le iba en puro llorarDicen que no comia
No mas se le iba en puro tomar
Juran que el mismo cielo
Se extremecia al oir su llanto
Como sufria por ella
Que hasta en su muerte la fue llamando

Ay, ay, ay, ay, ay
Cantaba
Ay, ay, ay, ay, ay
Gemia
Ay, ay, ay, ay, ay
Cantaba
De pasion mortal
Moria

Que una paloma triste
Muy de mañana le va a cantar
A la casita sola
Con las puertitas de par en par
Juran que esa paloma
No es otra cosa mas que su alma
Que todavia la espera
A que regrese la desdichada
CucurrucucuPalomaCucurrucucu
No llores
Las piedras jamás
Paloma
Que van a saber
De amores
COISAS QUE EU NÃO PERCEBO

Que tipo de mulher se casa com o Pai Natal; um homem que sai de casa uma semana antes do Natal, vestido de vermelho, acompanhado de renas e homens crescidos que lhe dão pela cintura (a quem ele chama duendes), com a desculpa que vai distribuir prendas aos meninos de todo o mundo, e aparece depois do dia 6 de Janeiro?
O CARTEIRO


Numa noite quente de Julho de 1878, entre dois copos de xerez, Eça de Queirós escrevia: "... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações...". Tinha escrito um dos parágrafos do Primo Basílio.
Mais de um século depois, Marisa Monte cantou esse mesmo parágrafo, acompanhada por um "Amor I love you, amor I love you, amor I love you, amor I love you."
A personagem do conselheiro Acácio de "O Primo Basílio" é uma espécie de homónimo português do PrudHomme, personagem do livro de Henri Monnier, uma caricatura do pequeno burguês, sempre com uma banalidade na ponta da língua. Existe também um Prud'hon (Pierre-Paul), pintor francês que pode ser visto - para quem pode - no Louvre, e o Proud'hon (Pierre Joseph), operário, tipógrafo, autodidata e anarquista que escreveu em 1840 o livro "O que é a propriedade?" sobre a organização social.
Para terminar, uma cançãozinha (ler com alguma cadência, por favor):
"Chegou o carteiro das nove p'ras dez a vizinha do lado de roupão enfiado chegou-se à janela em bicos de pés e logo gritou:"Traz carta p'ra mim?"e o carteiro que é gago espera um bocado e responde-lhe assim:"Não não não não não não não não trago nada só só só só só só trago o pacote da sua criada"

Sérgio Godinho, "Chegou o carteiro"
EU SOU ASSIM...