sábado, outubro 29, 2011

- original soundtrack -

Well I'm so above you
And it's fine to see
But I came to love you anyway
So you tore my heart out
And I don't mind bleeding
Any old time to keep me waiting
Waiting, waiting

Oh, oh-oh I got a love that keeps me waiting
Oh, oh-oh I got a love that keeps me waiting
I'm a lonely boy
I'm a lonely boy
Oh, oh-oh I got a love that keeps me waiting

Well your mama kept you but your daddy left you
And I should've done you just the same
But I came to love you
Any old time you keep me waiting
Waiting, waiting

Oh, oh-oh I got a love that keeps me waiting
Oh, oh-oh I got a love that keeps me waiting
I'm a lonely boy
I'm a lonely boy
Oh, oh-oh I got a love that keeps me waiting

Oh, oh-oh I got a love that keeps me waiting
Oh, oh-oh I got a love that keeps me waiting
I'm a lonely boy
I'm a lonely boy
Oh, oh-oh I got a love that keeps me waiting

(Lonely boy, The Black Keys)

- não vai mais vinho para essa mesa -

a rita casou. a outra rita namora. a outra rita está em madrid. a diana casou. a nancy é mãe. a bárbara mora na holanda. o pedro está em lisboa. o jimi está em maiorca. o eduardo está em paris. o paulo mora com o tales. a ana c. namora. a isabel anda ocupada. a daniela é casada.
- ars longa vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou como eu não faço ideia daquilo que estou a escrever. não sei, pareceu-me que isto dava um antes e depois, mas já nem sei. em primeiro lugar, Miguel Ângelo e um fresco em particular da capela sistina (agora com o novo acordo ortográfico, vai tudo a minúsculas, como o valter hugo mãe de cuja escrita me coibirei de falar). este fresco refere-se ao conjunto reservado para as figuras do antigo testamento e à genealogia de cristo. diz Mateus (capítulo 1, versículo 4):"E Arão gerou a Aminadabe; e Aminadabe gerou a Naassom; e Naassom gerou a Salmom". Naassom é a figura masculina do fresco, a que está de costas. embora de costas, as duas figuras são as únicas deste conjunto que olham para a mesma direção, e ambas de perfil. miguel ângelo pintou-as, ao contrário do que aconteceu nos outros casos, sem nenhuma preocupação com a simetria das figuras e do fresco. a mulher está de pé, com um pé assente num dos degraus e a olhar-se para o espelho que segura com uma das mãos, mão que corresponde ao braço cujo cotovelo assenta no joelho levantado. o que é que se destaca? o facto de a cabeça da figura seguir o desenho da luneta, o penteado (rabo de cavalo, não me parece que fosse muito usado) e os brincos de ouro. do outro lado está o nosso amigo Naassom, a ler um livro com uma perna esticada e outra dobrada e de braços cruzados. parece que está a prestar mais atenção ao que o rodeia do que ao livro, ao deitar aquele olho de lado. bem... e se primeiro era o verbo, como diz a bíblia, a seguir vem o substantivo, o poussin. o poussin é assim a modos que uma coisa amorfa: nem é carne nem peixe... é muito académico e demasiado certo. está tudo certo, mas não tem piada. falta-lhe... "sustânça". claro que ninguém lhe pode retirar o domínio do desenho de arquiteturas clássicas que contextualizam uma cena sacra. claro que há uma preocupação em enquadrar as figuras e desenvolve-las ao longo de um triângulo imaginário (com cantos no pé do homem mais à direita, no manto da mulher de amarelo mais à esquerda e na cabeça da Virgem). agora... não me venham dizer que ele está ao nível de um rafael, por exemplo! ora bem, é este homem mais à direita, que não sei se é profeta, ou se é josé (ía mais para o profeta), mas a verdade, é que há ofertas, as ofertas dos reis magos, no chão. se assim for, josé faz sentido. mas então o que é que está aquela mulher a fazer ali? não pode (deve?) ser santa ana porque tem uma criança e santa ana só foi mãe de maria. podia ser isabel, mãe de são joão baptista, mas então o pintor teria feito coexistir no mesmo espaço vários tempos. bem, e com esta me vou. vou ler e fingir um ar inteligente e feliz.

Miguel Angelo

Nahshon
1511-12
Cappella Sistina, Vaticano


Poussin
Holy Family on the Steps
1648
Museum of Art, Cleveland

quinta-feira, outubro 27, 2011

- não vai mais vinho para essa mesa -

eu sei que vocês não acham muita graça, mas às gosto de "vareiar" e escrever coisas patetas


terça-feira, outubro 25, 2011

- original soundtrack -

por nenhuma razão em especial.

I'm a fool to want you
I'm a fool to want you
To want a love that can't be true
A love that's there for others too

I'm a fool to hold you
Such a fool to hold you
To seek a kiss not mine alone
To share a kiss that Devil has known

Time and time again I said I'd leave you
Time and time again I went away
But then would come the time when I would need you
And once again these words I had to say

Take me back, I love you
...I need you
I know it's wrong, it must be wrong
But right or wrong I can't get along

Without you

(I'm a fool to want you, Billie Holiday)

segunda-feira, outubro 24, 2011

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois, ou "não sei, achei parecido":
Piero della Francesca
Portrait of Federico da Montefeltro
1465-1466
Galeria degli Uffizi, Florença

Kadafi
Fotografia do jornal Público

quinta-feira, outubro 20, 2011

estou cansada de tentar ser sempre a filha perfeita, a aluna perfeita, a amiga perfeita, a mulher perfeita, a cidadã perfeita. ninguém mo pede, mas eu exijo-o. apetece-me deixar o fato-de-banho apodrecer na mochila e não o colocar a secar, por exemplo. entre outras.

segunda-feira, outubro 17, 2011

- o carteiro -

está um bocado fraquinho, mas não tive tempo para mais. desculpem
[1]
Sei que os americanos adoram uma boa história, mas aqui fica uma nova teoria sobre a morte de Van Gogh. Dois autores americanos, que já receberam um Pulitzer pelo livro "Jackson Pollock: an american saga", apresentam agora uma nova teoria acerca da morte de Van Gogh, teoria essa que defende que Van Gogh morreu assassinado. Em duas partes, na CBS.

[2]
Esta semana, a bonecada está em alta: trailer dos Marretas, a história do Elmo, o Cocas na coca.

[3]
Fotografias raras dos Beatles. Quando eu digo raras, digo mesmo raras. Aqui.

sábado, outubro 15, 2011

estou com soninho. depois posto e respondo aos comentários. desculpem.

quinta-feira, outubro 13, 2011

- original sountrack -


não queria tapar o post de ontem, mas tinha de postar isto antes de ler no expresso ou no público qualquer coisa sobre esta música e arrepender-me de não ter postado mais cedo. tem, na minha opinião, um som ("um som"... pareço uma teenager) muito anos 80, é altamente dançável e viciante. gosto especialmente (e eu a dar-lhe com os advérbios de modo) da parte "they dont love you, they just need a little sex sometimes". cuidado onde abrem isto! o vídeo é XXX. ok, vá lá... é XX.



[esta coisa de uma pessoa ter muita consciência de si, sabota a escrita toda]




(Lies, Is Tropical)

quarta-feira, outubro 12, 2011


- ars longa, vita brevis -
hipócrates

ando a ficar sem ideias para este antes e depois, mas lá vamos arranjando qualquer coisinha. isto hoje é só mesmo "uma coisinha", porque este antes e depois está muito pobre. mas para não desiludir ninguém, cá vai: bernini e pós-bernini. este bernini era um portento: para além de escultor, era pintor e arquitecto/urbanista. foi ele que levou a cabo uma modificação na rede urbana de Roma por volta de 1600-1650 e por ordem do Papa Urbano VIII. E foi um dos melhores escultores que a história da arte nos trouxe; basta lembrar aquela mão de Plutão na coxa da Proserpina, com as almofadas de carne dela entre os dedos dele. Pois é essa escultura que nos traz, em parte, até aqui. Plutão era deus do mundo subterrâneo, das forças que, não sendo do mal, também não são propriamente do bem. eram as forças que os gregos sabiam existir, que respeitavam, às quais prestavam culto quando necessário, mas que mantinham separadas do mundo dos vivos. um dia, Plutão viu Proserpina e, achando que era mesmo de uma mulher como aquela que precisava, resolveu raptá-la e casar com ela, levando-a por consequência para esse mundo subterrâneo. tudo podia ter ficado por aqui, não fosse Proserpina ser filha de Ceres (deusa da fertilidade e das colheitas) e de Júpiter. a mãe, Ceres, ficou desvairada e destruiu as colheitas, os frutos e as flores exigindo de a filha de volta. mas esta já não podia voltar a viver de forma efetiva no mundo dos vivos. arranjou-se assim uma solução que, se não foi do inteiro agrado de todas as partes, foi o menos mau: Proserpina viveria metade do ano no mundo dos vivos (altura em que a mãe ficava contente e deixava tudo florescer - esse meio ano correspondia à primavera) e a outra metade no mundo subterrâneo, enquanto a mãe, com chuvas, trovoadas, neve e granizo destruía as colheitas como é próprio do inverno. (a correspondente a Ceres, no cristianismo, é nossa senhora das candeias).

entre os muitos episódios que poderiam retratar, como por exemplo, mãe e filha juntas, os artistas preferiram o momento do rapto de Proserpina. Bernini, por exemplo, preferiu, e na minha opinião fixou, a pose enrodilhada dos corpos de Proserpina e Plutão como modelo mais próprio do Maneirismo do que do Barroco. a escultura incorpora vários momentos da história. quando é vista do nosso lado esquerdo, a escultura mostra Proserpina a ser agarrada. Embora a mão forte de Plutão se encontre do outro lado, este momento é um "antes" já que ele agarra nela, mas nada nos diz que fique com ela. Aliás, ela resiste empurrando a cabeça dele com a mão. De frente a escultura confirma não só o ato de Plutão como consolida-o já que ela está a chorar (seria portanto um "durante"). Porém, se olharmos do nosso lado direito, vemos atrás dos dois corpos, Cérbero, o cão guardião dos infernos que ladra. ora que ele ainda estava a agarrá-la, não pode ao mesmo tempo estar no Inferno já que Plutão raptou-a do mundo dos vivos. o cão indica portanto o "depois".

ora eu não pensava que poderia fazer aqui uma comparação entre uma escultura e uma pintura, mas aconteceu após seis anos de belogue. é que este bernini parece ter inspirado um pormenor do rapto das sabinas deste senhor sebastiano ricci. quanto ao rapto das sabinas, é talvez o primeiro episódio de síndrome de estocolmo. mas em roma.


PS. Há uma diferença que me esqueci de referir. A mão de Proserpina que atinge a cara de Plutão é mais tarde a mão que segura a cabeça confusa de uma sabina.

PS2. as comparações não se estabelecem só pelas semelhanças, mas também (e essas são as mais difíceis), pelas diferenças

PS3. António, pelo amor da santa não fique aborrecido!

Bernini
O rapto de Proserpina
1621-1622
Galleria Borghese, Roma


Sebastiano Ricci
The rape of the sabine women
1700
Liechtenstein, Museum, Viena


segunda-feira, outubro 10, 2011

- original soundtrack -


Your beauty is unstoppable, your confidence unspeakable
I know you know I know you know, that I know that you know
I'm willing to do anything to get attention from you, dear
Even though I don't have anything that I could bargain with

This is like a well-oiled machine
Could I please see that smile again?
It's all that makes me feel like I am living in this world
I see you closing all the doors
I see the walls as they go up
I know it's what you have to do
I'd probably do the same thing, too, my dear

Baby, you're where dreams go to die
I regret the day your lovely carcass caught my eye
Baby, you're where dreams go to die
I've got to get away
I don't want to but I have to try, oh baby

You have to play your part, my dear
I've written it all down for you
It doesn't matter if the things you say to me aren't true
Just do it then I'll let you go
Just say the words and say them slowly
I promise I'll tell no one
Yes, I cross my heart and hope to die

Baby, you're where dreams go to die
I regret the day your lovely carcass caught my eye
Baby, you're where dreams go to die
I've got to get away
I don't want to but I have to try, oh baby


- não vai mais vinho para essa mesa -

- está um cheiro esquisito aqui.
- pois está.
- parece a...
- cheira mesmo mal!
- espera aí que eu tenho aqui uma amostra de perfume para casa.
[vaporização para o ar, várias vezes]
- que cheiro é este do perfume?
- é um perfume para casa!
- tens a certeza?
- tenho. diz aqui: "home".
- tens mesmo a certeza? é que isto é muito forte.
- ah, espera... tem outro "m"
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou como eu até tinha um "antes e depois" muito erudito sobre o Bernini (não, não tem nada a ver com o Vik Muniz que está em exposição em Lisboa), mas como sou "pop", publico aqui a clara alusão que existe no novo vídeo da B., de seu nome Countdown (ainda não percebi muito bem esta nova música. não parece uma, mas quatro músicas), e o trabalho Rosas Danst Rosas da coreógrafa Anne Teresa Keersmaeker. Não a conhecia, mas gostaria de ir vê-la a Lisboa, no CCB. Já que não vou ver o D. Carlo. Não há nada disso no norte.
Anne Teresa Keersmaeker
Rosas danst rosas
1983

Beyonce
Countdown
2011

Anne Teresa Keersmaeker
Rosas danst rosas
1983


Beyonce
Countdown
2011

- o carteiro -

(chiça, vocês não sabem o que custou postar isto por causa da formatação)

estava a pensar "cácomigo", assim mesmo tudo junto para ser bem forte, do "nuórte", quando percebi que esta gente da teogonia, para além de partilhar o gosto por cópulas estranhas (precursores da zoofilia, ah pois é) e por nascimentos estranhos (gente a nascer da cabeça, a nascer de ovos de humanos...), gostava de, once in a while, mudar de género, quer fosse a sério, ou só de brincadeirinha, como dizem que os homens fazem no carnaval quando se vestem de mulher (eu "cácomigo", acho que os homens se vestem de mulher porque querem ver, querem estar na pele de uma mulher. acho que eles dão largas ao seu lado feminino - lado que todos os homens possuem e vice versa -, e que no seu dia-a-dia, por imposições sociais não revelam, blá blá blá, blá blá blá). bom, não vou fazer nenhum manifesto feminista. cada um veste-se como quer. mas na mitologia clássica isto era evidente. deixo aqui alguns exemplos sendo que apenas para o último não encontrei outra fonte que não o dicionário de mitologia. todos os outros estão justificados com a bibliografia referenciada. como disse, não vou fazer nenhum estudo feminista, só vou dizer que, tal como nós os deuses e os heróis, mudavam de género, disfarçavam-se sem nenhuma preocupação, mas voltavam sempre ao original. pelo menos os da antiguidade clássica. e isto é estranho porque os deuses gregos e romanos tinham comportamentos humanos, mas como deuses tinham determinadas prerrogativas; ou seja, podiam trair e ser traídos, podiam ser cruéis, ludibriados, rudes, feios... não importava. porque eles podiam! mas por outro lado, este regresso tão imediato à forma inicial, faz-me crer que os deuses davam o exemplo à Hélade, não deixando que o indivíduo se sobrepusesse ao grupo, à nação.

Tirésias

"Acordam então averiguar qual a opinião/do douto Tirésias. É que este conhecia os dois lados do amor./De facto, em certa ocasião sovara duas enormes serpentes,/que acasalavam na erva verdejante, a golpes do seu bastão./De homem convertera-se em mulher (espantoso!), e passara/sete Outonos assim. Ao oitavo, viu de novo aquelas serpentes./'Se tão grande é o poder da pancada com que vos feri', disse,/'a ponto de mudar no contrário o sexo de quem vos golpeou,/bater-vos-ei também agora'. Golpeando as mesmas serpentes,/retornou à forma primitiva e a figura com que nascera voltou." (OVÍDIO - Metamorfoses. Lisboa: Livros Cotovia, 2007. pág.93)

Atena

"E Atena veio até ele, sob o aspecto de um adolescente, um pastorinho, muito gentil, como costumavam ser os filhos dos príncipes; ela tinha sobre os ombros uma dupla e fina capa; sob os seus pés reluzentes sandálias, e na mão um cajado." (HOMERO - Odisseia. Mem Martins: Edições Europa-América, 2000. Pág. 146)

Baco

(Penteu voltando-se para Tirésias e falando de Baco): “…Os outros que vão à cidade procurar a pista do estrangeiro efeminado, que vem trazer esta nova doença às mulheres e contamina os seus leitos.” (EURÍPIDES – As Bacantes. Lisboa: Edições 70, [s.d.]. Pág.53). Baco tinha seguidoras, as Bacantes.

William-Adolphe Bouguereau, Bacchante, 1894

Aquiles

Aquiles era filho da ninfa do mar Tétis e do mortal Peleu. Aquiles era ainda adolescente quando rebentou a guerra de Tróia, mas a adivinha Calcas, depois de consultada, informou que a cidade inimiga não seria destruída se Aquiles não participasse no confronto. Apavorada, Tétis tratou de disfarçar o seu filho de mulher e enviou-o para a corte do rei Licomedes, na ilha de Ciros, para que ele fosse educado no harém, junto das princesas e com o nome de Pirra (a loura) [Pirra é um bom nome para uma prostituta. “Onde vais?”, “Esta noite combinei com a Pirra!”]. Entretanto os gregos enviaram Ulisses como embaixador à corte de Peleu a fim de que ele trouxesse Aquiles, mas como não o encontrou, Ulisses recorreu a Calcas que lhe revelou o embuste. Ulisses disfarçou-se então de mercador e dirigiu-se ao Palácio de Ciros, conseguindo entrar no gineceu. Aí expôs, perante os olhos maravilhados das princesas, os mais ricos adornos. Mas entre os tecidos e as jóias estava escondida uma espada. Enquanto as mulheres se interessavam pelos bordados, a pretensa Pirra empunhou a espada imediatamente, precipitando-se para fora do palácio com a arma na mão revelando a sua verdadeira identidade.

Nicolas Poussin, Aquiles e as filhas de Licomedes, 1656, Museu de Belas-Artes, Boston

Zeus

Zeus era o deus dos deuses, deus dos fenómenos atmosféricos e pai do Panteão. Até ele porém estava sujeito aos decretos das parcas não ficando assim acima da lei. Calisto, cujo nome significa “a mais bela”, era uma ninfa da Arcádia e companhia predileta de Artémis, deusa da caça. Tal como Artémis, também Calisto estava votada a uma vida sem a companhia masculina. Um dia Zeus viu Calisto nos bosques e desejou-a de imediato. Sabendo que a ninfa fugiria assim que ele se aproximasse, Zeus disfarçou-se de Artémis e abordou-a. Conversaram, riram e abraçaram-se. Quando Calisto se apercebeu da verdadeira identidade, intenção e natureza da sua nova amiga, tentou resistir, mas Zeus subjugou-a (que é como quem diz, violou-a). Entretanto Calisto soube que estava grávida, mas envergonhada tentou ocultar a gravidez de Artémis e das outras ninfas. Até que, 9 meses depois e forçada pelas companheiras a despir-se, a verdade revelou-se. Artémis ofendida por a ninfa quebrar o seu voto, expulsou-a. "Quando Júpiter a viu assim, cansada e indefesa, exclamou:/'Desta escapadela, ao menos, a minha esposa nada saberá./E se souber, vale a pena, oh! pois vale!, ouvir impropérios!'/De imediato, disfarça-se com a aparência e o trajar de Diana" (OVÍDIO - Metamorfoses. Lisboa: Livros Cotovia, 2007. pág.70)
Rubens, Júpiter e Calisto, 1610, Cassel

Hércules

Hércules era um mortal, filho de uma mortal (Alcmena) e de Zeus. Passou muitas provações nas quais demonstrou a sua força e capacidade de abnegação. Para além dos seus 12 trabalhos, Hércules também passou por uma situação em que mudou de género por razões que até hoje não são consensuais. Umas versões dizem que a rainha, admirada com as proezas de Hércules, deu-lhe a liberdade e casou com. Outras versões referem que a rainha estava apaixonada por Hércules e acedeu a passar o resto da sua vida no cativeiro do amado, sendo que ela usava a pele de leão e o bordão de Hércules e ele ficava aos pés da rainha a fiar linho. Uma terceira versão adianta que após a morte de Ífito por Hércules, Hermes levou o herói e vendeu-o à rainha Onfale da Lídia (versão esta que viria corroborar assim a primeira tese), viúva de Tmolo. Ao seu serviço Hércules fez um pouco de tudo: matou Syleus, derrotou inimigos de Onfale e submeteu-se à vergonha, como forma de punição pela morte de Ífito, de vestir-se como uma mulher.
Cranach, Heracles and Omphale, 1537, Braunschweig-Herzog Anton Ulrich Museum
- o carteiro -

aconteceu-me por estes dias algo extraordinário (não, não é o "piquenique de burguesas"). cheguei a casa de uma amiga, abracei-a ela disse-me: "estás a usar XXX, não estás?" Antes que pensem que uso o perfume do Hugh Hefner deixem-me dizer que o perfume tem um nome, mas não vale a pena dizer. E depois a minha amiga disse: "ai meu deus! esse perfume faz-me lembrar os nossos 16 anos".

Foi a minha madalena da chávena de chá. quer dizer, seria a minha madalena se eu comesse bolos, mas dá para perceber a ideia. quando ela me disse isto - sim, de facto uso, com excepções muito pontuais, o mesmo perfume desde os 16 anos de idade - percebi que passaram outros 16 anos da minha vida. ao contrário do Proust, eu não recordo quase nada daquilo que fiz desde essa idade até aos meus 24 anos, 25. senti de repente que o tempo estava a fugir, que não o podia perder. eu só teria, na melhor das hipóteses, mais 50 anos de vida! e tudo aquilo que queria fazer? e os meus pais? e os meus amigos? e se eu morresse sem ter feito tudo, sem ter aprendido tudo? eu usava o mesmo perfume!!! nada tinha mudado, eu não tinha mudado e no entanto, porque é que não me lembrava de nada? "é que se é tudo igual, nem devias sentir este pânico a sufocar-te", pensei. "no news are good news. se não te lembras é porque no fundo foi tudo como sempre: tudo igual". mas... e se eu olho para trás e vejo, um dia, que foi tudo igual? que na minha vida foi sempre tudo igual? que tudo foi bege, neutro. quão ridículo pode ser mudar a vida, mudar a nossa vida a partir de uma idade? senti-me velha, cansada. não tive vontade de sair dali e ir divertir-me, mas de ir dormir. é que há uma força em mim, maior do que eu, que me impele a não dar um conjunto de passos que posso ou não dar, mas que geralmente não dou por achar que todas essas obrigações de convivência social são aborrecidas, são cansativas e por achar que quebrá-las poderá acrescentar ao número de experiências vividas, mas não em cor à existência. todos esses divertimentos obrigados cansam-me. saio de uma noite de diversão com amigos, de uma tarde de chá com amigas, cada vez mais velha, como se tivesse feito um esforço sobre-humano para não mostrar o que me custa este preenchimento do curriculum da vida. é que mesmo quando tento encher a vida porque dizem que é normal, o que me sobra é sempre o cansaço e o esquecimento. todas as horas, chás, jantares e risadas fogem-me da madalena.