sexta-feira, junho 30, 2006

- original soudtrack -



Este não sou eu
Meus lábios nos seus lábios não são meus
O meu olho no seu olho no meu
Duvida do que vê

Deve ser um rei
Deve ser um deus
O homem que possui você

Não pode ser eu
Você fala meu nome, quem sou eu
Você fala meu homem, sim, mas qual
Eu nunca fui ninguém

Deve ser demais
Deve ser o tal
O homem que lhe faz tão bem

Sonho de mulher
Em noite de verão
Pra que é que você veio me perder
Quer se divertir
Fingindo me adorar
Ou finge se enganar
Me amando pra valer

Beije-me outra outra vez
Que importa se esses beijos não são meus
Que eu só tenha esta noite de favor
Nos braços de uma actriz

Este não sou eu
Este é um impostor
Que pobre de amor se diz

Deve ser um rei
Deve ser um deus
Como deve ser feliz

(Sonho de Verão, Chico Buarque)
- não vai mais vinho para essa mesa -

obrigatório usar:

Eau de Rochas para homem


Davidoff Cool Water para homem
- short stories -

Era um creme refirmante de seios tão bom, tão bom, que em vez de ser o soutien a segurar o peito, era ao contrário.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois:

Jean-Antoine Houdon
Bust of Voltaire*
1778
Metropolitan


Nam June Paik
Voltaire
1989
Galerie Beaubourg, Paris

(*Este busto é a imagem do Optimismo. Quase que podíamos chamar-lhe Pangloss.)
- o carteiro -

Por razão que não temos de enumerar, este blog estará hoje um pouco como a saison: silly.

quinta-feira, junho 29, 2006

- original soundtrack -



(Impossível escolher só uma)
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

Movido pelos ideais de Proudhon e já na saída do Romantismo, Courbet, juntamente com Daumier e Millet, trouxe-nos o Realismo. Por esta altura, o incólume Renascimento tinha sido posto em causa pela famosa Jangada da Medusa que quebrou todas as regras clássicas da pintura: pela primeira vez pintou-se a tragédia humana. O que estes pintores vieram fazer, foi dar continuidade - e acentuar a parte que mais lhes tocava - à evidência dessa tragédia nos seus aspectos quotidianos. Os cenários deixam assim de ser idílicos e às vezes dantescos, mas sempre idealizados, para dar lugar ao cenário do dia-a-dia: os campos a serem cultivados, as carruagens de comboios cheias, as casas de camponeses, as mesas pobres, as refeições espartanas. Os retratados não são deuses nem os mais altos representantes das nações - distinção esta que muitas vezes não era clara - e é elevado à categoria de herói o homem comum: o camponês, a engomadeira, a mulher que embala a criança, o homem que segura no arado, o próprio pintor. O Idealismo dá lugar ao Realismo num aspecto curioso: há lugar para o pormenor. Não se trata do pormenor da iconografia que pedia um olhar treinado para relacionar o objecto, a representação com o representado ou com a mensagem. Agora é tudo muito claro, porque se trata de um universo acessível a todos: as batatas no prato, a mulher nua no atelier do pintor, a criança que olha curiosa, o cão que saltita e o decréscimo de receio em retratar temas mais periclitantes.
O que não se esperava é que Courbet pintasse isto. O quadro é de tamanho médio, mas o assunto é de suma importância e a designação, mais escandalosa ainda. É que antes, a origem da vida era o dedo esticado de Deus para Adão. Agora…


Gustave Courbet
The origin of the world
1868
Musée d' Orsay, Paris
- não vai mais vinho para essa mesa -
[3 anos]
- Agora vocês vão andar pela sala, vão passear, olhar bem para os quadros e escolher aquele de que mais gostam.
As crianças posicionam-se frente aos quadros - a maior parte estava concentrada no Cordeiro Místico e na Sagrada Família - quando reparo que um rapaz, de cabeça baixa era o único que não estava frente a nenhum destes.
- Então porque é que este é o teu quadro preferido? - pergunto eu.
Responde a criança com um ar totalmente inocente:
- Porque fala sobre a morte e eu gosto da morte.
[Ok, isto não está a correr bem. Alguém por favor chame os pais desta criança.]
Volto à carga:
- E porque é que gostas da morte?
- Porque é triste.
[Oh God, mas quem é que me manda meter nisto?]
[13-16 anos]
Quando estes chegam penso: "vão-me comer em duas penadas. Fico K.O. e nem dou por isso." As miúdas são piores que eles. Chegam todos com cara de rufias como quem diz "nós só estamos aqui porque nos obrigaram, porque na realidade somos muito maus." Para estes só há um remédio: fazer género, ter estilo, fazer piadas, picá-los, olhá-los sempre nos olhos e sorrir-lhes com ar maroto. No fim, apertar-lhes a mão e dizer-lhes que o prazer foi nosso. Caramba, resulta sempre!
[> ou = 65]
A maior parte não sabe ao que vem. Trazem bengalas e pouca força nas pernas. Não estão para subir escadas, para ouvir explicações, querem ir embora, querem saber tudo sobre nós.
- E quantos anos tem?
- E o que faz?
- E já casou?
No fim, quando não ficam pelo caminho dizem com a dentadura mesmo colada à nossa cara (acho que não têm a noção do conceito de espaço físico privado):
- Ó menina, gostei muito. Fez-me lembrar a minha mocidade. Dê cá dois beijinhos.
E eu lá tenho de dar. Não é que me custe, mas tenho quase a certeza que estiveram a comer bolinhos de bacalhau e não usaram guardanapos.

quarta-feira, junho 28, 2006

- o carteiro -

Hoje estou triste, não há Belogue.

terça-feira, junho 27, 2006

- original soundtrack -


Sometimes
A wind blows
And you and I
Float
In love
And kiss forever
In a darkness
And the mysteries of love
Come clear
And dance
In light
In you
In me
And show
That we
Are Love

Sometimes
A wind blows
And you and I
Float
In love
And kiss forever
In a darkness
And the mysteries of love
Come clear
And dance
In light
In you
In me
And show
That we
Are Love

(Mysteries of Love, Antony and the Johnsons)
- o carteiro -

Caro Ulisses, deixe-me dizer-lhe que nem mesmo um Prémio Secil de arquitectura pelo projecto do Cavalo de Tróia limpam o facto de ter permanecido durante anos da ilha de Calipso, gozando dos seus favores sem nunca ter sondado os deuses quanto à possibilidade de regressar a casa. Vergonhoso!!!
- short stories -

A Alice enviou-lhe isto por mail:

APENAS LEIA
Nos momentos silenciosos, adore a Deus.
Nos momentos dolorosos, confie em Deus.
A cada momento, agradeça a Deus.
Passe esta mensagem a sete pessoas, exceto você e eu.
Você receberá algo que precisa amanhã.

Ao que respondeu:

Alice:
Amanhã precisava de:
me sentir amada
sentir que tenho valor
sentir que sou importante para alguém
sentir-me feliz.
Achas que com a fome no Biafra, a crise humanitária no Sudão, o tráfico humano, o Mundial de futebol, Deus se vai lembrar destas minudências, e logo amanhã? I don't think so!
- ars longa, vita brevis -
hipócrates


Barbara Kruger
Untitled
1989
The Broad Foundation


Eugene Delacroix
The Death of Sardanpal
1827
Musée du Louvre, Paris
- não vai mais vinho para essa mesa -

- Sô Dona Vanessa.
- Desculpe?
- Sim, é consigo. Sô Dona Vanessa Beecroft, não é assim?
- É... Mas o que me quer?
- Está a ver isto?


- Estou, é meu, faz parte de uma série de 2001.
- Pois... E está a ver isto?
- Agora estou, mas é-me totalmente desconhecido.
- Pois, isto é meu.


- E daí?
- Daí... Não vê nada? Que parte desta comparação é que a Sô Dona não percebeu?
- Não me trate por Sô Dona Vanessa. Vanessa Beecroft está óptimo e chega. Quanto à comparação, não sei do que está a falar.
- Vá lá Sô Dona... Toda a gente vê que as suas meninas albinas nuas são muito parecidas com o meu "concentrado de top model's em pose anos 90".
- Só você é que acha isso.
- Se fosse só eu este post não existia. Existe porque o blogger acha o mesmo.
- Ai é, então vou-lhe perguntar.
- Sr. Blogger gostaria de saber o que pensa das minhas fotos?
- Sô Dona Vanessa penso aquilo que já fiz saber pela boca do Sôr Helmut.
- Sôr Helmut?
- Este blogger é tãããão provinciano.
- Vanessa dear, vamos tomar um banho de civilização para as capas da Vogue?
- Helmut meu caro, só se me emprestar um stilettos Azzedine Allaïa para beber por eles.

segunda-feira, junho 26, 2006

- original soudtrack -



Birds flying high you know how I feel
Sun in the sky you know how I feel
Breeze driftin' on by you know how I feel

It's a new dawn
It's a new day
It's a new life
For me
And I'm feeling good

Fish in the sea you know how I feel
River running free you know how I feel
Blossom on the tree you know how I feel

It's a new dawn
It's a new day
It's a new life
For me
And I'm feeling good

Dragonfly out in the sun you know what I mean, don't you know
Butterflies all havin' fun you know what I mean
Sleep in peace when day is done
That's what I mean

And this old world is a new world
And a bold world
For me

Stars when you shine you know how I feel
Scent of the pine you know how I feel
Oh freedom is mine
And I know how I feel

(Feeling good, Nina Simone)
- o carteiro -

A caminho de Bolonha, passando pela Vidigueira.

Serve a epígrafe supracitada dois propósitos: o primeiro para fazer com que os leitores do belogue leiam este post, o que por si só já é o segundo propósito. Uma frase pontuou a formação superior de muitos estudantes universitários. Quanto às aulas de 3 ou mais horas (havia aulas de desenho de quatro horas), era comum ouvir os professores sentenciarem: "a primeira nunca se dá e a segunda oferece-se". Quer isto dizer que havia a ideia instituída entre professores e alunos que era perfeitamente legítimo e apenas normal não haver a primeira hora de aulas e toda a gente sair da sala no fim da penúltima. Esta ideia, que é também prática, continua a ser a regra em muitas universidades portuguesas, mais em certos cursos do que em outros, mas no geral o horário não é cumprido. Tal não seria grave se víssemos pelos números estatísticos um bom aproveitamento dos alunos, números esses que até contrariassem a tese já abandonada de que o trabalho se realiza no local.

Mas vamos ao princípio. Antes de ingressarem no ensino superior, os alunos têm de passar pelo secundário e por tudo aquilo que já sabemos, o ensino secundário não dá a formação necessária aos mesmos para estes entrarem convenientemente no superior. Há os problemas práticos (falta de verbas, salas de aula sem equipamento, falta de professores), há os problemas sociais (alunos vindos de famílias disfuncionais, professores sem motivação nem vocação, auxiliares que trabalham "para cumprir"), há os problemas de definição (ensina-se o básico e deixa-se para a carteira dos pais e para os explicadores o resto do trabalho? a escola deve ter um papel de "amiga", de "educadora e avaliadora" ou de "mãe"? há maneira de conciliar as três?). Mas para mim o mais grave é o facto de as disciplinas serem estanques, o que leva a que o saber dos alunos, por melhores que se revelem as notas, seja sempre concentrado, volátil e incapaz de fazer a ponte entre as diferentes áreas. Dou um exemplo: dois alunos do 12º ano em conversa perguntavam a alguém mais velho se ao seguir História da Arte teriam "muita História" pela frente. A resposta obtida foi que sim, que uma coisa era inseparável da outra, mas os alunos não compreenderam porque para eles Erasmo de Roterdão não existia e por isso nunca tinha tocado a Contra-Reforma (matéria de História) e a Contra-Reforma não entrava no programa de História da Arte porque este era dado segundo movimentos balizados entre datas, com cerca de 6 nomes de representantes de cada período e meia-dúzia de linhas orientadoras, o necessário para dar uma resposta de uma página nos testes.

Perante isto, um aluno que entre no superior vai ser sempre um aluno com um saber epidérmico, e segue o seu curso com um certo medo que esta superficialidade do conhecimento seja desvendada em praça pública. Nada ajuda do lado dos docentes, uma vez que estes se limitam a debitar nas aulas as matérias da sua investigação, nem sempre condizente com o programa de ensino para aquele curso, mas que lhes leva muito tempo. Também lhes dá mais prazer, compreende-se. Quando se lê aqui que: "O Processo de Bolonha visa a construção de um Espaço Europeu do Ensino Superior que promova a mobilidade de docentes, de estudantes e aempregabilidade de diplomados", só se pode responder que perante este cenário, o mais importante não é uniformizar o ensino, mas fazê-lo. E se hoje os alunos saem do ensino superior com o mesmo fantasma do desconhecimento (agora mais confuso pois foi acometido de uma série de palavras-chave que não têm um fio condutor entre si), com a redução do tempo efectivo de curso que pressupõe a condensação, os alunos sairão no mesmo ponto em que saem do secundário. De facto o local não faz o estudo, a investigação; mas o tempo sempre pode levar a um compromisso maior entre partes.
- não vai mais vinho para essa mesa -

neurónio 15 - Select, Control+Shift+G, select, berzigon tool, control+Z, pen tool, fill basic, green, stroke none, eyedropper, green, Control+G, Control+S...
neurónio 47 - ai que dores de estômago, ai que dores de estômago, ai que dores de estômago.
neurónio 54 - ainda não é um bocadinho cedo para isto?
neurónio 23 - Como é que estamos?
neurónio 87 - 50% a trabalhar nas plantas e no caderno de encargos no freehand, 25% a pensar no que ainda tem para fazer, 10% a pensar em coisas que não deve, 5% a postar.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
Antes e depois:

Jean-Auguste-Dominique Ingres
The Grand Odalisque
1814
Musée du Louvre, Paris


Robert Rauschenberg
Odalisca
1955-1956
Museum Ludwig, Colónia
- short stories -

Era uma vez uma história tão pequena, tão pequena que sentia complexos de inferioridade em relação ao título.

quinta-feira, junho 22, 2006

- as palavras dos outros -



NOITE DE S. JOÃO para além do muro do meu quintal.
Do lado de cá, eu sem noite de S. João.
Porque há S. João onde o festejam.
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem não sabe que eu existo.

(Noite de S. João, Poemas Inconjuntos, Alberto Caeiro)
- não vai mais vinho para essa mesa -
Poussin - Esqueceram-se de mim. Olhe, sr. blogger, esqueceram-se de mim. Eu tenho um quadro, conhecidissimo aliás, sobre o Verão. É o mais conhecido de todos!

Nicolas Poussin
Summer. Ruth and Boaz
1660-1664
Museu do Louvre, Paris

Boucher - Calma aí. Eu também tenho um quadro, conhecidissimo aliás, sobre o Verão. Você deve conhecer porque tenho outros dedicados a todas as estações do ano.

François Boucher
Summer
1755

Poussin - Eu também.
Boucher - Você é de que estilo?
Poussin - Renascimento. Temos sede em Itália e filiais em todas as grandes cidades da Europa. E o seu?
Boucher - Rococo.
Poussin - Ah-ah! Posterior a mim, portanto. E sem a visibilidade que eu tive.
Boucher - Isso é que já é mais relativo. Sabe que o Rococo teve muitos admiradores.
Possin - A Ágata e o Emanuel também têm muitos admiradores.
Boucher - Pois é, mas o meu estilo era imperial, enquanto o seu, pelo que sei, teve aí uns problemas com a Igreja e com o Concílio Tridentino. Você era um académico homem. Incapaz de pintar umas nádegas rechonchudas sem entrar em retiro nas Termas de Monfortinho.
Poussin - Você não me provoque homem. Eu estou aqui para que se faça justiça. Quero o meu Verão publicado.
Boucher - Postado! Aqui na caixa diz-se "postar".
Poussin - Por falar em caixa, você não acha isto muito apertado?
Boucher - Não!!! Isto é a internet, podemos ir para onde nos der na real gana.
Poussin - Eu poderei ir para onde me der na real gana. Quanto a você...
Boucher - Que tenho eu?
Poussin - Bou-bou, Bou-cher! Já viu como é preciso encher a boca para dizer o seu nome.
Boucher - Sou importante. Há algum mal nisso?
Poussin - Importante, você tem nome de colutório! Ou melhor, espere aí, tem nome de papa de banana para bébé.
Boucher - Eu não estou para ouvir isto. Vou a outro blog.
Poussin - Não, espere, tenho outro: "Suplementos alimentares Boucher. Para este Verão". Boucher... Boooou-cheeer!
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

Antes e depois:

Jean Fouquet
Virgin and Child surronded by angels
1450
Koninklijk Museum voor Scone Kunsten, Antuérpia


Cindy Sherman
Untitled
1989

quarta-feira, junho 21, 2006

- original soundtrack -

Summertime and the livin' is easy
Fish are jumpin' and the cotton is high
Oh your daddy's rich and your ma is good lookin'
So hush little baby, don't you cry
One of these mornings
You're goin' to rise up singing
Then you'll spread your wings
And you'll take the sky
But till that morning
There's a nothin' can harm you
With daddy and mammy standin' by

(Summertime de George Gershwin e Dubose Howard. Mas se clicarem aqui, vão poder ouvir 30 segundos da versão de Scarlett Johansson)
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

Verões para todos os gostos. É pró menino e prá menina:

Jack Vettriano
Suddenly one Summer


Claude Monet
Vetheuil in Summer
1880
Metropolitan Museum of Art

Pablo Picasso
Summer Bouquet


Tamara de Lempicka
High Summer
1928
Colecção Privada

terça-feira, junho 20, 2006

- original soundtrack -


Chanson juste pour toi,
Chanson un peu triste je crois,
Trois temps de mots froissées,
Quelques notes et tous mes regrets,
Tous mes regrets de nous deux,
Sont au bout de mes doigts,
Comme do, ré, mi, fa, sol, la, si, do.
C'est une chanson d'amour fané,
Comme celle que tu fredonnais,
Trois fois rien de nos vies,
Trois fois rien comme cette mélodie,
Ce qu'il reste de nous deux,
Est au creux de ma voix,
Comme do, ré, mi, fa, sol, la, si, do.
C'est une chanson en souvenir
Pour ne pas s'oublier sans rien dire
S'oublier sans rien dire
(Chanson triste, Carla Bruni)*
*Carla Bruni na fase pós-Helmut Newton, com a canção mais pequena do disco.
- o carteiro -

Não se percebe Telémaco: acusa a mãe de ludibriar os pretendentes, duvida do facto de Ulisses ser seu pai. Se os deuses o acompanham e se manifestam perante ele, porque é que Telémaco não haveria de ser filho de Ulisses?
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

- Nome?

Rembrandt
A Scholar
1631
Hermitage, São Petersburgo

- Marat. Causa da morte?

Jacques-Louis David
Death of Marat
1793
Musees Royaux des Beaux-Arts, Bélgica

- É isso que vamos ver agora! Ora bem, toda a gente com atenção.

Rembrandt
Doctor Nicolaes Tulp's Demonstration of Anatomy of the arm
1632
Mauritshuis Museum, Holanda
- não vai mais vinho para essa mesa -

Ele - O pior é que você eleva muito os padrões. É o seu carrasco. Quando acontece alguma coisa boa, relativiza porque ainda podia ser melhor; quando acontece uma coisa má "bate-se" porque pensa "eu bem sabia, lá andei eu a armar-me aos cucos. Definitivamente não sou boa o suficiente para isto".
Ela - Eu tenho de elevar os padrões...
Ele - ... Gostei da resposta.
Ela - Compreende? Para me contentar com menos, com pouco, com "o que há", basta o resto da vida. Bastam aquelas situações em que somos confrontados com o "não pode ser, deixa estar, fica para a próxima".
Ele - E então o que pensa fazer?
Ela - Diga-me o que fazer. Se me disser para eu ir e vir do trabalho ao "pé-coxinho" durante uma semana, eu faço isso.

segunda-feira, junho 19, 2006

- original soundtrack -

Faz hoje 62 anos.


Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita

Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando que, também, sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades

Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu quis até telefonar
Mas a tarifa não tem graça
Eu ando aflito pra fazer você ficar
A par de tudo que se passa

Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

Muita careta pra engolir a transação
E a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco

Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo o pessoal
Adeus.

(Meu caro amigo, Chico Buarque)
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

"Cuidado aí!" ou "A pouca dignidade do um morto":

Um peso morto:

Raphael
Entombment
1507
Borghese Gallery, Roma

Ferido:

Peter Paul Rubens
The Entombment
1612
Paul Getty Museum

Sentado:

Edouard Manet
The dead Christ and the Angels
1864
Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque

Escorçado:

Andrea Mantegna
The lamentation over the dead Christ
1490
Pinacoteca di Brera, Milão

Asfixiado:

Hans Holbein
The body of the dead Christ in the tomb
1521
Offentliche Kunstsammlung, Basileia
- não vai mais vinho para essa mesa -

[planeamento familiar]
- Fazia-te um filho, amorzinho!
- Caro jovem de boas cores e propósitos elevados, admiro e muito estimo a sua preocupação com o aumento da taxa de natalidade do país. Teria até muito gosto que operasse em mim esse milagre da multiplicação e me fizesse, como disse, um filho, não se desse o caso da minha anatomia não poder tê-los. Não obstante, não excluo a hipótese de adopção que caso seja do seu agrado, podemos ultimar na obra onde assenta tijolos. Amanhã?
[pré-natal]
No sonho estava grávida, só que o rebento era uma lapa e estava alojada no meu ventre, do lado de fora. O obstreta retirou a criança com uma espátula.
[escola primária]
- Vamos olhar aqui para este retrato... O que é que acham? Acham que esta menina era bonita, feia, assim-assim?
- Era feia!!! (em coro)
- Então dêem-me o exemplo de uma menina bonita.
- Tu!!! (em coro)
- Obrigado. (a corar) Mas eu queria uma cantora, ou uma actriz, ou uma modelo.
- A Shakira!!! (em coro)
- Ok. Eu compreendo, não se pode competir com a Shakira.

sábado, junho 17, 2006

- original soundtrack -

Nessun dorma!
Nessun dorma...

Tu pure, o principessa
Nella tua fredda stanza
Guardi le stelle
Che tremand d'amore
E di speranzza...

Ma il mio mistero è chiuso in me
Ol nome mio nessun saprá
No, no... sulla tua bocca lo dirò

Quando la luce splenderà
Ed il mio bacio scioglera il silencio
Che ti fa mia
Dilegua, o notte!!

Tramontete, stelle
All`alba vincerò
Vincerò....
Vincerò!!!
- as palavras dos outros -

Dr. Goldfine: "Bree, you’ve said many times how comfortable you are with George, but you don’t feel for him the way you felt for Rex."
Bree: "No. True love is great, but at this point in my life, I think I’d rather just go to the opera."
- o carteiro -

Agora não, o tempo arrefeceu. Mas nestes dias de maior calor foi-me particularmente difícil adormecer. Ainda que tente relativizar esta espécie de baque que o meu coração sente sempre que desligo a luz à noite e que se assemelha ao aproximar de um exército inimigo em cavalgada apressada e impiedosa, não consigo deixar de me virar e revirar na cama, como se fosse o corpo e não o espírito que na realidade entra em sobressalto. Não é o exército que me assusta, não é a luz apagada, não é o corpo quente na cama, não é a iminência de uma insónia. É uma palavra que primeiro ocupava só a cabeça (1/4 de cérebro, digamos), mas que nestas noites mais quentes persegue-me o hipotálamo, outras zonas de nome indecifrável, a nuca, as omoplatas e ecoa ao ritmo do baque do coração. A palavra é "Porquê", devidamente acompanhada do ponto de interrogação que se não remata a indagação, pelo menos dá-lhe um contexto. É que mesmo não sendo uma pessoa curiosa (curiosa no sentido de bisbilhoteira), não lido bem com aquilo cujo acesso à compreensão me é negado. E receio bem que enquanto não encontrar resposta para esta questão, o exército não faça meia volta para regressar ao ponto de onde veio: o momento em que o interruptor faz clic. Há um respiro no ar, um último estertor que não me deixa dormir: é o meu.