quarta-feira, novembro 30, 2016

gostava de ser daquelas pessoas que dá nomes a coisas. nomes a: 

perfumes vendidos por catálogo: "Sparkling Night", Cherry Blossom, Pink Me, Red Passion (for men) (têm de ser sempre nomes compostos e em inglês)
cores de camisolas da La Redoute: azul cueca, carmim tuberculose, verde bílis (para dar continuidade aos tons "amora", "caqui", "tijolo", "musgo")
operações da PJ, da BT, da GNR: operação "sopr'aqui" - álcool; operação "rissóis sorridentes" - alucinogénos; operação "Bling Bling" - jóias roubadas; operação "Bitch please, I'm fabulous" - tráfico de influências; operação "caramelos da Penha" - contrabando

segunda-feira, novembro 28, 2016

- original soundtrack -

isto
(há quem ache que isto é pretensioso e pseudo-intelectual, mas às vezes sabe bem)
- não vai mais vinho para essa mesa -

































- ars longa, vita brevis -
hipócrates

Olá leitores do belogue, como estão? Hoje trago um post que não parece grande coisa, a avaliar pela imagem, mas é. O que é que vocês acham que vêem? Uma jarra com flores, um arranjo floral, responderão... Não, o que vocês vêem é uma natureza morta. As naturezas mortas eram uma temática que estava no último lugar das temáticas em pintura. Eram mais apreciadas e consideradas as pinturas religiosas e históricas, depois as cenas de género, os retratos, as paisagens e no final, as naturezas mortas. Mais do que pinturas de flores (ou de frutos, ou de animais mortos, ou de instrumentos musicais com caveiras e flores, ou restos de uma refeição) as naturezas-mortas eram uma lembrança constante a crentes e não crentes - caso os houvesse - daquela máxima do Eclesiastes (1: 2): "vaidade das vaidades, tudo é vaidade". Para melhor compreenderem uso outra frase, esta do Génesis (3: 19): "lembra-te ó homem que és pó, e ao pó hás-de voltar". Flores e frutos duram pouco tempo: são como a juventude e a beleza. Os instrumentos musicais e espelhos alertam-nos para transitoriedade da vida, a sua irrelevância, a vaidade e tudo o que é prática mundana, própria da sociedade secular, mas nada apropriada para a vida além da morte. Caso a representação possua uma caveira e/ou outros símbolos associados com a morte trata-se de uma vanitas.

  















Jan Brueghel, the Elder
 Bouquet of Flowers
1609-15
Staatliche Museen, Berlim


Sempre houve representações de naturezas-mortas. Primeiro não tinham esse nome (nos frescos romanos talvez nem tivessem nenhum nome), e só com o século XVII é que se afirmaram como estilo autónomo depois das representações bem sucedidas de Chardin. Bem, no século XVI Vasari falava em "cosa-naturale" e no século XVIII em França utilizam-se as expressões "nature inanimée" ou "nature reposé". Mas é talvez em Espanha e na Flandres que no século XVII surgem os termos que nos interessam: em Espanha as pinturas de flores são chamadas de "Floreros" (assim como havia os "bodegón" que eram, no fundo, cenas de cozinha) e na Flandres o termo é, traduzido, "Flores, Frutos e Bouquets". A representação de flores pode ser considerada apenas uma forma de o artista mostrar o seu virtuosismo. No caso do Brueghel, que tantas vezes pintou as temas, a justificação só pode ser mesmo o virtuosismo e passo a explicar porquê. Tomei como exemplo esta natureza-morta do autor. Como não sou uma especialista em flores identifiquei apenas aquelas que consegui identificar e que se encontram marcadas com números na imagem. Assim temos:






















1 - Tulipas (a minha flor preferida)
As tulipas foram introduzidas na Europa, vindas da Ásia, por volta de 1600. Na Holanda, os bolbos de tulipas eram mais caros que os quadros a representá-las, o que não admira que se fale de uma tulipamania que levou ao suicídio de pessoas que se endividavam para comprar estas plantas. Por volta de 1630, no auge da tulipamania na Holanda, um bolbo de uma espécie de tulipa excepcional podia custar mais que uma casa.
As tulipas florescem hoje quase todo o ano. Fiz muita pesquisa e obtive resultados diferentes, mas no geral há uma unanimidade no que concerne ao meses compreendidos entre Março e Maio como os mais comuns para o seu florescimento.

2 - Lírios
Os têm origem no Hemisfério Norte e já em frescos em Creta era possível ver representações desta flor. O seu significado religioso é dos mais importantes, quando comparado com a maior parte das flores: é símbolo da Virgem Maria, da sua pureza e virgindade. Encontrei 20 versículos na Bíblia que falam de lírios, principalmente nos Cânticos. 
Os lírios florescem em Junho

3 -Jasmim
O Jasmim é originário da China, mas foi introduzido na Europa no século XVI. O jasmim está associado à sedução, seja enquanto chá, seja enquanto essência. Floresce entre Junho e Setembro.

4 - Fritillaria
Esta flor foi para mim uma descoberta, já que quando a vi no quadro pensei que fosse somente uma tulipa que estava num dia menos bom. Ora tenho a impressão, pelo que li, que esta flor é originária na Ásia, onde é utilizada com fins medicinais. Uma vez que é originária da Ásia, calculo que tenha chegado à Europa após os contactos europeus com aquela zona do globo. Estou a pensar aí por volta do século XIV, que foi quando os europeus conheceram a corte chinesa/mongol. Desconheço quando floresce, mas isto não é preocupante para o que pretendo mostrar.

5 - Peónias
As peónias são flores lindas. Não é que perceba muito de flores, mas sei do que gosto e gosto de peónias. Não tanto como gosto de tulipas, mas gosto. As peónias são originárias da China (a peónia é, aliás, a flor oficial da China), Mongólia, Coreia e Japão e florescem entre Junho e Julho. Não sei se há referência bíblica à Peónia, mas sei que há uma referência mais antiga: a Ilíada de Homero! A Peónia floresce na Primavera.

6 - Íris
Esta flor, ora bem... foi-me difícil decidir que flor poderia ser. Vi muitas espécies até encontrar uma que fosse parecida com a imagem. Após muito andar, percebi que havia grande probabilidade de se tratar da íris. Também queria que tivessem em atenção que hoje as espécies estão muito cruzadas e que com as estufas é possível ter estas flores quase todo o ano. A íria, por exemplo, é também referida como lírio, mas há uma diferença entre o lírio indicado pelo número 2 e esta flor. A íris é originária do continente europeu e pode ser colhida entre a Primavera e o Verão.

7 - Hidrangeas 
Estava a olhar para o quadro e a tentar identificar flores quando percebi que estas flores azuis e pequeninas faziam parte de um conjunto, a uma flor flor só cujo nome é hidrangea. Vejam lá se não tenho razão:

















As hidrangeas têm origem no Extremo Oriente e florescem entre a Primavera e o Outono.

Vamos então agora ao que interessa:


Analisando a tabela acima, feita tendo em conta os meses/épocas de florescimento de cada uma das flores, é evidente que muito dificilmente seria possível tê-las disponíveis ao mesmo tempo. O quadro de Brueghel, assim como de muitos outros quer se trate da pintura de flores, frutos, peixes... é uma composição simbólica. Brueghel procura transmitir uma ideia com fidelidade mimética, mas não fidelidade ao real. Mostra o seu virtuosismo que ofusca e se sobrepõe aos factos. E o que nos dizem os factos: que estas flores não podiam ter estado de facto todas na mesma jarra pois o seu florescimento dá-se em alturas diferentes.
- não vai mais vinho para essa mesa -

jantar de amigas, devidamente "anificadas" para manter o anonimato. os parêntesis rectos dizem respeito a partes da conversa que não podem ser referidas.
ana3 - que vais fazer?
ana2 - arepas.
ana4 - arepas? credo, isso dá tanto trabalho. podias fazer uma coisa mais simples... por mim estás à vontade.
ana1 - onde ponho isto?
ana2 - o quê?
ana1 - este esfregão.
ana2 - vai para o lixo.
ana1 - ?
ana2 - eh pá, não consigo usar na louça esfregões que já limparam a banca. 
ana3 - tens cada mania...
ana1 - vai para o lixo?
ana2 - sim.
ana4 - olha lá: o que é isto aqui no frigorífico?
ana2 - é o meu plano de treino enquanto cozinho.
ana4 - enquanto cozinhas?
ana2 - sim. por exemplo: coloco os bifes no grelhador e faço dez burpees. viro os bifes faço vinte agachamentos, coloco o arroz no tacho e faço mais dez flexões.
ana4 - e resulta?
ana2 - não. quando acabo de cozinhar fico cheia de fome. deixei de fazer comidas complexas que é para fazer o mínimo de exercício possível. já não tenho idade.
ana4 - deixaste de fazer comidas complexas, mas hoje fizeste arepas.
ana1 - exacto: arepas!
ana2 - eh pá... apeteceu-me uma coisa pesada.
ana3 - "uma coisa pesada para a noite"...
ana4 - "para andar a chá de cidreira até às calendas"...
ana2 - que chatas! para que é que vos convidei?!
ana3 - para fazeres arepas.

[...]

ana1 - e lá estava eu, quase "no osso"...
ana4 - de roupa interior?
ana1 - sim?
ana4 - e como era?
ana1 - o quê?
ana4 - a roupa interior.
ana1 - o que é que isso interessa?...
ana3 - anda lá, diz como era ou ela nunca mais se cala!
ana1 - era um básico... preto em algodão.

ana4 - também uso esses.
ana2 - são bons e práticos, não são? Era da Intimissimi?

ana4 - e esta colecção tem umas peças... as colecções de Inverno são melhores que as de Verão...
ana2 - ai não acho... as de Verão também têm coisas giras...
ana1 - posso continuar?
ana4/ana2 - vá lá, desculpa.
ana1 - estava lá e ele diz-me, com muita propriedade: "não gosto de te ver com isto".
ana2 - "não gosto de te ver com isto" como quem diz "quero ver-te sem nada?"
ana1 - não! "não gosto de te ver com isto" como quem diz "não gosto da tua roupa interior"!!! já viram isto?!
ana3 - toma e embrulha!

ana2 - e a roupa interior dele, como é que era?
ana1 - ... estava a ver que não me perguntavam isso...

...
ana2 - então?
ana1 - ... era ho-rrí-vé-lêêêêêêê!
anas - ahahahahahahahahahahahahahah

ana1 - hó-rrí-vel!... imaginem um padrão geométrico anos 70, cores psicadélicas...
ana3 - as cuecas dele entraram numa trip de LSD.
ana4 - não tinha nenhuma pinta de lixívia? estás com sorte.
ana1 - lixívia?
ana4 - sim.
ana2 - como é que ele ia ter uma pinta de lixívia nas cuecas?
ana4 - não sei... podia ter decidido fazer faxina de cuecas...
ana3 - e então, o que é que fizeste?
ana1 - arranjei forma de vir embora. fingi que estava a sentir-me mal e disse que tinha de ir para casa tomar um comprimido e descansar.
ana4 - então... nada?!
ana1 - nada. e ainda bem! aquelas cuecas mataram o desejo, como o vídeo matou a rádio.
ana3 - mas não tens pena?
ana1 - de quê?
ana3 - sei lá... devias sentir alguma coisa por ele, não?
ana1 - ... estava com vontade de ser abraçada. estava a precisar de estar com alguém que me quisesse, que quisesse estar comigo. a outra parte... seria um meio e não um fim.
ana4 - para ele se calhar era um fim.
ana1 - não sei..., nunca mais falei com ele.
ana4 - não acho isso normal.
ana1 - o quê?
ana4 - partilharem intimidades e depois não falarem.
ana1 - foi melhor assim. evito ir ao restaurante onde nos conhecemos porque não quero vê-lo.
ana3 - vá lá, não sejas assim!
ana1 - a sério, não quero. vou olhar para ele e vou ver apenas à minha frente a cueca psicadélica.
ana3 - tinhas a depilação feita?
ana4 - hã? que pergunta é essa?
ana3 - é importante!
ana1 - tinha. desde que descobri a depilação a laser sou muito mais feliz.
ana4 - eu também.
ana2 - eu nem preciso de fazer depilação!
ana4 - nem sabes a sorte que tens. tinhosa!
ana2 - nunca percebi essa do "tinhosa"...
ana4 - as pessoas tinhosas são as que têm "tinha", uma doença do couro cabeludo.
ana2 - as coisas que tu sabes...

[...]

ana3 - este Trump...
ana1 - será que ninguém lhe trata da tosse?
ana2 - todos aqueles que lhe podiam "tratar da tosse" já fazem parte do "partido dele". isto sem contar com os alienados que aproveitam isto para se comportarem como hunos.
ana3 - mas ela não é melhor.
ana4 - dou-te razão, ela não é melhor. mas do mal o menos. em frança há uns anos também foi necessário votar no Chirac para evitar uma vitória da extrema-direita.
ana2 - ela está melhor preparada que ele.
ana4 - ela está a anos-luz dele, mas faz parte do sistema. ela nunca vai passar disto... ele no entanto é simplesmente um jeitoso, um chico-esperto que vê nisto um jogo, uma diversão. ele não precisa disto para nada. para ele a presidência é um capricho.
ana2 - mas ela... ela é mulher de um ex-presidente. em que é que isso a habilita para ser presidente? parece a rússia e as oligarquias ... além disso aquele casal tem tantos rabos de palha... Como é que enriqueceram?
ana4 - às vezes as democracias têm estes períodos negros. os romanos por vezes suspendiam a democracia para pôr ordem no império.
ana2 - atendendo ao tamanho da América, talvez também não fosse mau de todo.
ana1 - o que me espanta é como é que chegámos aqui.
ana4 - agora disseste tudo. parece que não aprendemos nada com o passado. damos sempre voz a idiotas quando estamos na m*****!
ana2 - sabem, isto assusta-me. para onde estamos a ir? que mundo é este?
ana1 - foi assim que começou a segunda-guerra mundial.
ana4 - pensava que ias dizer: foi assim que a alemanha perdeu a guerra. é que a alemanha perdeu duas guerras!
ana2 - e vê como está agora!
ana3 - nunca percebi essa do "foi assim que a Alemanha perdeu a guerra".
ana4 - "what a nasty woman"
ana2 - quando ouvi isso só me lembrei daquele vídeo da Christina Aguilera...
ana3 - Yo Sister!
ana2 - ... em que ela diz: "So what am I not supposed to have an opinion/Should I be quiet just because I'm a woman"
ana3 - vou-te ser sincera, não consigo ter opinião acerca disso...
ana4 - acerca do quê? do Trump chamar a Clintona de Nasty Woman?
ana3 - não é isso... estava lembrar-me do video-clip e da ideia da música de que as mulheres podem apresentar-se como quiserem... isso não é verdade.
ana4 - então achas que nos devemos limitar: deixar de andar de mini-saia ou top por causa...
ana3 - tu andas de mini-saia e top?
ana4 - eu não disse "mini-saia e top", mas "mini-saia ou top".
ana3 - eu compreendi o que disseste. essa pequena mudança de partícula muda tudo na frase. o que estás a dizer é que és uma mulher com classe suficiente para não andar de mini-saia e top ao mesmo tempo. és uma mulher que deixa alguma coisa à imaginação. mas colocas-te assim num outro patamar.
ana4 - estou a acompanhar...
ana3 - quem de nós aqui não acha horrível que uma mulher se exponha?
ana1 - eu não acho. acho que cada pessoa deve fazer o que lhe dá na real gana.
ana4 - mas por uma mulher expôr o corpo isso não quer dizer que esteja "a pedi-las", que "merece" o assédio, que seja merecedora de menos consideração. a minha escolha é não expôr, mas apoio quem expõe.
ana3 - não apoias não! e tu também não achas que uma pessoa deva fazer o que lhe dá na real gana, como disseste! fazes como cada uma de nós faz: critica e diz "olha para aquilo"! por isso é que não dou para esse peditório. Não estou tão livre de constrangimentos como gostaria. nenhuma de nós está. a classe feminina só se apoia quando o que está em causa é uma violação com contornos horríveis, quando uma mulher é criticada por amamentar em público e, acima de tudo, quando as críticas vêm de homens.
...
ana4 - ... talvez tenhas razão. nunca vi as coisas assim...
ana2 - e tu?
ana4 - tudo bem.
ana2 - tudo bem o quê? nunca contas nada!
ana3 - é verdade, nunca contas nada.
ana4 - não há muito a contar. é a história de sempre: boy meets girl, girl loves boy, boy is not into it...
...
ana2 - pensas nele?
ana4 - todos os dias. às vezes sinto-me revoltada, outras ridicularizada, outras apenas triste... mas, como dizia o saramago...
ana3 - O professor de Físico-Química do 8º ano?
ana4 - não pá! o saramago, o escritor! O professor? Como é que ainda te lembras do professor?
ana3 - o que é que ele dizia?
ana4 - dizia: "é mais fácil querer-se do que se ser querido".
ana2 - tens a certeza que foi o saramago que disse isso?
ana4 - agora que me colocas a questão... não tenho, mas podia ter sido. e faz sentido. de qualquer forma, não há nada a fazer. não podemos obrigar ninguém a gostar de nós. cada um de nós é um mundo, com as suas ideias, medos, idiossincrasias, vícios... vivo a minha vida, faço tudo o que tenho de fazer, mas cá dentro sinto uma dorzinha aguda...
ana1 - vai passar.
ana2 - sabes o que tens de fazer?
ana4 - ...sei...
ana2 - tens de eliminar qualquer esperança do teu coração.
ana4 - ah sim... claro.
ana2 - acho que não percebeste: eliminar... qualquer esperança... do teu coração.
ana4 - ...
ana3 - andas a ler livros de auto-ajuda?
ana2 - credo, por quem me tomas?!
ana1 - eu leio...
ana2 - e acreditas nessas m*****?
ana1 - mal não faz!
ana3 - um destes dias fui a uma mulher que me leu o futuro nas cartas.
ana1 - aquela que eu indiquei?
ana4 - vocês as duas... uma indica, a outra vai...
ana3 - não querem saber o que ela disse?
ana4 - diz lá
ana3 - não acertou uma! nada, rien, niente.
ana4 - 'tás carregada!
ana3 - tinha curiosidade. Mal não faz...
ana4 - excepto à carteira!
ana3 - olha, que queres? Tinha curiosidade. Vamos mudar de assunto!
ana4 - já vi que não te interessa...
ana3 - não tenho problemas com isso! aliás, até te conto que ela me disse: disse que em Março, me iria aparecer um tipo mais novo.
ana2 - um pónei?
ana1 - um quê?
ana2 - um pónei?
ana1 - o que é isso?
ana4 - um homem que é mais novo do que a mulher com quem está.
ana1 - vocês inventam cada coisa!...
ana2 - é o que está a dar: póneis!
ana4 - não é a "minha cena".
ana1 - então e tu?
ana2 - eu o quê?
ana1 - como estás?
ana2 - casada...
ana1 - isso quer dizer "na mesma"?
ana2 - sim... quer dizer..., eu gosto de estar casada...
ana3 - gostas tanto que te casaste duas vezes.
ana2 - na primeira vez não chegámos a casar... felizmente!
ana3 - onde é que ele anda?
ana2 - em casa dos pais. vê lá tu! um homem daquela idade, sem emprego e a viver em casa dos pais.
ana4 - mas ele já nada bem? fez alguma desintoxicação?
ana2 - não sei. por isso não o deixo ver o miúdo.
ana4 - eh pá... não devias fazer isso.
ana2 - não devia fazer isso??? tu sabes o que ele fazia quando o miúdo nasceu? eu saía de casa uns minutos para fazer qualquer coisa e quando chegava ele estava sentado no sofá, charrado, com o miúdo a chorar ao lado. e ele a abanar a cock, a olhar para a televisão com os olhos vidrados... ele despediu-se quando fiquei grávida porque "não estava a conseguir lidar com a ideia de ser pai"! Não devia fazer isso... enquanto não se tratar não vê o miúdo sozinho.
...
ana1 - e este?
ana2 - este é que devia ser o pai biológico do miúdo!
...
ana3 - não olhas para nós e pensas "encalhadas"?
ana2 - acho que vocês dão muita importância ao "estar acompanhado". por exemplo, se eu não tivesse o X, estaria igualmente bem. passaria mal no início, mas ficaria bem. não acho que necessitemos de estar com alguém para estarmos bem.
ana4 - primeiro: não existe "se". "se" não estivesses casada terias outra forma de ver as coisas. tu, nós... não existimos hipoteticamente. existimos, pronto! e onde e como existimos, condiciona quem somos.
ana2 - só acho que vocês dão muita importância a isso...
ana3 - uma pessoa só dá valor a uma coisa quando deixa de a ter.
ana1 - que treta! parecemos a Rita Pereira a debitar psicologia barata.
ana3 - a Rita Pereira debita psicologia barata?
ana1 - não conheces o célebre mantra Rita Pereira?
ana3 - não...
ana1 - "o impossível não existe. até acontecer!"
anas - ahahahahahahahahahahahahaha
ana2 - A Rita Pereira... essa grande filósofa... mas olha, mantenho a minha opinião: não é necessário ter alguém para se estar bem!
ana3 - isso és tu que alinhas os chacras e comes folhas de alface. eu preciso de alguém que goste de mim. não necessita de ser rico, nem bonito. tem de gostar de mim e eu dele. sem merdas.
ana4 - essa conclusão é do melhor: "sem m*****".
ana1 - já pensei colocar um anúncio na Maria
ana4 - já ninguém lê a Maria!
ana1 - pá... vê-se mesmo que não andas de transportes públicos! claro que ainda se lê a Maria!
ana4 - mas a Maria já não deve ter essas coisas do "consultório sentimental". Hoje faz-se tudo por internet...
ana1 - pois eu, se colocasse um anúncio, que, confesso, já me passou pela cabeça...
ana3 - a Marilyn Monroe colocou um pouco antes de morrer.
ana4 - na Maria?
ana2 - deixem a rapariga falar!
ana1 - obrigada! se colocasse um anúncio numa dessas revistas seria qualquer coisa como: "moça decente procura moço decente para relação séria." e rematava com um "sem m*****".
ana2 - essa da "relação séria"... aconselhava-te a refazer essa parte. espanta a "caça."
ana4 - "caça"? e isso, essa expressão, não espanta a "caça"?
ana1 - essa expressão é feia.
ana2 - mas o mundo é um couto! olhem só isto: num destes dias tive de fazer um telefonema para o banco, para falar com uma pessoa com quem já tinha falado. mas atenção: sempre de trabalho. eu nunca o conheci, ele é casado e quando disse o meu nome ao telefone ele respondeu "olá querida"! "Olá querida?!" Não, a sério: "olá querida?!"
ana4 - é porque tu és querida.
ana1 - isso foi querido da parte dele...
ana2 - 'tás parva? ele sabe lá quem eu sou!
ana4 - és uma fofinha, uma querida...
ana2 - pois, mas o mundo não é das queridas.
ana4 - isso é verdade. às vezes acho que as pessoas são condescendentes comigo porque sou pequenina. não preciso da pena de ninguém... eu como pena ao pequeno-almoço, com batatinhas!...
ana1 - somos todas pequeninas, já repararam?
ana1 - ainda assim... não quero ser uma daquelas velhinhas que empurram carrinhos de compras vazios...
ana3 - nunca se perguntaram o que é que essas senhoras levam no carro?
ana2 - acho que elas respigam nos mercados, coitadas. devem ter os carrinhos cheios de fruta podre. têm de ver um filme que se chama "os respigadores e a respigadeira."
ana3 - o que são respigadores?
ana2 - são os mais pobres e miseráveis dos pobres e miseráveis. são os que buscam, no fim das feiras, mercados e colheitas o que ninguém quer.
ana1 - posso falar? daquelas velhinhas que empurram carrinhos de compras vazios, dão comida aos gatos da rua...
ana3 - colocam o lenço de pano na manga da camisola...
ana1 - isso, colocam o lenço de pano na manga da camisola e usam sempre o mesmo anorak seja inverno ou verão.
ana3 - isso é triste...
ana1 - não quero ser assim.
ana4 - queres fazer "o" amor ao som de Barry White e junto a uma lareira enquanto bebes um flute de champanhe e ele te lambe a orelha...
ana1 - ai que visão dantesca!!!!
ana4 - ... e diz coisas obscenas ao teu ouvido...
ana1 - pára, credo!
ana4 - "não páro não. hoje vou fazer de ti mulher!"
anas - ahahahahahahahahahahahahahahahah
ana1 - mas será que há esperança?
ana3 - esperança para quê?
ana1 - quando olhas para a angelina e o brad pitt...
ana4 - para a ana malhoa e o jorge...
anas - ahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahah
ana1 - agora a sério! se até o "brangelina" acabou, o que é que podemos esperar do mundo? podemos ter esperança? o que é que sobra para pessoas simples como nós?
ana4 - nada.

[...]

ana2 - quo vadis?
ana3 - embora.
ana4 - já???
ana3 - sim, já. quer dizer, já é tarde. que horas são?
ana1 - 01:07h
ana3 - tenho de dormir para amanhã acordar bela...
ana1 - ah, muito bem!
ana2 - mas eu tenho aqui todas as temporadas do Downton Abbey.
ana3 - eish! no que tu me estás a meter!
ana2 - se ficares faço chá de cidreira para mim e deixo-vos ver o Downton Abbey.
ana3 - puff... lá terá de ser. primeiro as obrigações!
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

paises e mãeses: não bos aborreçaindes porque os bossos rebentos querem usar piercings. botainde os olhos nestas gentes

 1
















Hieronymus Bosch
Christ Carrying the Cross (pormenor)
1515-16
Museum voor Schone Kunsten, Gh
























 2

















Alonso Sanchez Coello
La Dama del Abanico
1570-1573
Museo del Prado, Madrid 























 3

















Antonio Moro
Maria de Portugal
1550
Pinacoteca Stuard, Parma 



















4



















Francesco Urbino
Dish with composite head of penises
1536
Ashmolean Museum, Oxford





quinta-feira, novembro 24, 2016

- o carteiro -

olá. está frio, não é? já estão todos com frieiras? e constipados? eu cá pensava que me iria aguentar sem camisolas de lã até Janeiro, Fevereiro, que é quando o frio é mais frio. Nesses dias, como exercício estóico (ou sádico), acabo o meu banho com água fria, ao mesmo tempo que me obrigo a pensar em "noite-de-Inverno-junto-à-praia-com-mar-agitado-e-vento". acho que se conseguir resistir à água fria no corpo ao mesmo tempo que penso nisto, sem soltar um grito, fico imune a qualquer gripe.
mas uma vez que vou ter de usar as malhas de Inverno ainda no Outono, deixo aqui as sugestões para um "Inverno antecipado na moda". Estão acessíveis online, aqui nesta biblioteca dedicada a revistas de tricot ou aqui. E há para todas as pessoas:
Para o homem que gosta do luxo sem ostentação






















Para ataques terroristas ao Pólo Norte





















Para as Lolitas seduzirem, como deve ser, os Humberts Humberts (o livro fez-me sempre muita confusão: está bem escrito porque nos deixa - pelo menos a mim deixa - entre a empatia com o professor e o asco por pensar que ele está a abusar da enteada). e eu que pensava que decote era o "espaço entre os seios"...

















Para os tipos especiais que uma moça casadoira não pode perder:










































Para as avózinhas desportivas e safadinhas (ai aquelas unhas)





















Para o melómano que gosta de ouvir os "violinos de Chopin"






















terça-feira, novembro 22, 2016

um dia destes...

- mosteiro de sumela - Turquia (enquanto não permitem a entrada de mulheres no monte athos)
- buzludzha monument - bulgária (porque sim)
- Ani - Arménia (arquitecturas em baldaquino)
- Jodhpur - Índia (o azul é uma cor que me "sóia")

desculpem, não tenho tempo para postar mais e melhor.

segunda-feira, novembro 21, 2016

- original soundtrack -

descobri-os através do anúncio da H&M e de lá para cá não consigo deixar de ouvir isto no banho. não é grande letra, não tem nada de especial, mas... acompanha bem o sabonete.

















(Treat me like fire, Lion Babe)
- o carteiro -

quando estás cerca de 10 minutos a falar com o frigorífico...
- o carteiro -

What to Wear XI (2000-2010)

nunca pensei dizer isto, mas está na altura de actualizar esta série de posts. Na última vez que escrevi o What to Wear (uma pequena história do traje em 10 posts. para quem pensa que isso é fútil, aconselho a ler este, ou este.), fiquei no ano 2000, à entrada do novo milénio. Entretanto dez anos passaram (até passaram mais) e muito se usou. A década seguinte (2000-2010) é considerada, segundo os entendidos, uma grande mistura. Usou-se de tudo e organizar este post não foi fácil, até porque não há muita coisa escrita acerca do assunto, de forma sistematizada. tentei por isso fazer com este post, o mesmo que fiz para os 10 posts do What to Wear. Note-se somente o seguinte:
a) este post não reflete as minhas preferências musicais ou de moda
b) é agora o mundo da pop, das celebridades rápidas, das cantoras de uma só canção, das "mulher de" que fazem as tendências. Não será por acaso que deixámos de ouvir falar de grandes casas de moda como a Christian Lacroix (que agora faz perfumes para a Avon, ou coisa que o valha).  Os designers começam a fazer parcerias com mega-marcas (Lagerfeld para a Macy's e para a H&M, por exemplo. Com a crescente influência da internet, das redes sociais e por consequência, do "eu", as pessoas passaram a não aceitar de ânimo leve vestirem-se como todos os outros. Os estilos são mais variados e as grandes casas de moda que ditavam as tendências têm de se adaptar. A internet coloca também a descoberto a origem da mão de obra que confeciona aquilo que vestimos, os ciclos de produção, os valores de custo e de venda, alerta para os problemas do consumismo desenfreado e poluente... Durante décadas ninguém se preocupou com isso. Agora os consumidores estão atentos e informados e querem que as suas roupas reflictam os seus valores, as mensagens que querem transmitir.
c) o milénio começa com a melhor tendência possível: os hot pants da Kylie Minogue no vídeo Spining Around. Adoro ver a Kylie Minogue de hot pants! A propósito disto o Nick Cave disse que rios de sémen haviam corrido quando o vídeo surgiu. Não sei se fez uma tendência, mas tem tudo o que caracteriza a nova década: brilho, conotações sexuais, decadência e pele à mostra.














2000-2002
Este tempo caracteriza-se ainda pela ligação aos anos 90, ao grunge - e por consequência às camisas de flanelas, as sweatshirts com nomes de bandas. Aliás, o grunge dos Pearl Jam e dos Nirvana dá agora lugar a algo mais soft e mainstream chamado Pop-punk. O Pop-punk deu-nos os Blink 182 e os Good-Charlotte, assim como a Avril Lagine. Talvez seja mais fácil descrever o que se usava nesse período que vai de 2000 a 2002 analisando uma mulher. Com a Avril Lavigne e o Pop-punk surge um estilo conhecido por Skater chic. Ela encarna esse estilo na perfeição. Em que consiste? Usar gravatas como cinto, mini-saias colegiais com botas Doc-Martens (Christina Aguilera no Dirrty), calças cargo, mas tudo com um ar muito... chic, muito limpo e brilhante. ailás, uma das tendências da época foi o brilhante (cintos com tachas, cintos com lantejoulas, aplicações de brilhantes na roupa...). Claro que não foi só o skater chic nem só a Avril Lavigne que adoptou este estilo. A Gwen Stefani em início de carreira a solo também fez uso das calças cargo e dos tops. Até a Jennifer Lopez cantou com elas enquanto usava uma mistura de salons e Camel Active. Uma coisa horrorosa!!!!

 
 












Esta época também viu surgir uma moda terrível que perdurou e se tornou a grande tendência da década: as botas Ugg. As botas Ugg são aquelas botas que parecem uma pantufas. Note-se uma coisa: este tipo de tendências chega-nos com as celebridades (lembro-me de ver a Pamela Anderson com estas botas e fato de banho e dizer "wow, quero ser como ela!"). É depois aproveitada por toda a cadeia de venda a retalho, do topo, à base. No final da década, recordo, as imitações de Ugg não eram só para fashionistas sem dinheiro, mas para todos. Com as Ugg - e com a Stella MaCartney - chegou o longo e triste reinado das leggings. Triste porque, deixem-me dizer-vos: LEGGINGS NÃO SÃO CALÇAS!. As leggings, as Ugg e os fatos de treino Juicy Couture marcam uma época pelo seu laxismo. Não é que as mulheres não possam nem devam andar confortáveis (uso leggings), mas assistiu-se a tudo o que a nossa imaginação possa... imaginar: leggings gastas, leggings usadas sem nada a tapar o rabiosque, Ugg com chuva, fatos de treino Juicy Couture (ou fatos de treino em veludo e com brilhantes) e chinelos para sair de casa. Não, desculpem, há um mínimo.















E cá está, uma década que, como disse atrás, é marcada pelo brilhante (até havia tatuagens de brilhantes, não sei se se recordam disso)


















2002-2006
A queda das Torres Gémeas em Nova Iorque, bem como a Guerra no Golfo e a ascensão do combate ao terrorismo não mudou nada a longo prazo. A curto prazo, e no rescaldo dos ataques do 11 de Setembro, as estrelas em Hollywood moderaram a apresentação na cerimónia dos Óscares em 2002. Mas parece até que no geral, a crítica declarada ao estilo de vida ocidental de que estes ataques foram portadores, potenciaram um exagero nas liberdades propostas por esse mesmo estilo de vida. Vejamos uma das grandes tendências do período que vai de 2003 a 2006: as calças de cintura descida com o fio dental à mostra. A minha opinião acerca desse tipo de calças - que também usei - é que não favorecem, no futuro, a silhueta feminina, uma vez que não acentuam a cintura. Bom, mas voltando ao fio dental... quem é que não viu, nessa altura, isto?

















Estes anos viram também surgir uma outra moda que não favoreceu nada a silhueta feminina e que devia, de facto, ser reservada para o ginásio: os corsários ou calças capri, calças que terminam abaixo do joelho. Digo que não favorecem, especialmente as mulheres baixas, pois criam uma anulação da linha vertical do corpo humano, fazendo com que as mulheres pareçam ainda mais baixas. Se a mulher estiver a usar sandálias com atilhos ou botas, ainda pior. Estes anos não podiam acabar sem outra tendência se afirmar: os sapatos muito pontiagudos.

















(2007-2009)
Como já disse, quem define, neste tempo, as modas são as celebridades, mais ou menos efémeras, mais ou menos fabricadas pelos sintetizadores, media, estilistas... paradigmático disto é o facto de - e isto é muito importante pois muda tudo - as revistas de moda terem nas suas capas, não modelos, mas cantoras e actrizes. Vejam como em 2006 a Elle americana só apresentou nas suas capas, actrizes e cantoras [aqui]. Isso já tinha acontecido em anos transactos. Até a Vogue, mais elitista, mudou um pouco de linha ao incluir na sua capa actores e desportistas. As mulheres da capa são agora mais reais e não modelos. Isto é importante, pois aproxima a modas das pessoas, principalmente das mulheres que até aí se sentiam excluídas por não serem como os arquétipos de beleza vinculados pelas revistas. Quem de facto não era um exemplo de beleza era a Amy Winehouse... Não, não posou para Vogues nem nada disso, mas tinha um estilo próprio que influenciou muitas miúdas. Para já, muda o paradigma anterior: dos sapatos pontiagudos passamos agora para as bailarinas. Depois introduziu o uso do eyeliner de uma forma que não se via desde os anos 60.


















Destaco também duas tendências em cores. O amarelo é uma cor que a maior parte das pessoas detesta, mas entre 2007 e 2009 o amarelo teve um período de graça. Quem não teve uma peça amarela nessa altura? Eu tive. Tive uma camisola e um vestido. Diz-se que esta tendência se deveu muito ao vestido de Reese Witherspoon nos Óscares de 2007, ou ao da Michelle Williams em 2006. Não sei... acho que a escolha de certas cores como tendências tem mais a ver com questões económicas e políticas. Para quem acha que não, basta ver que o lápis-lazúli, que é um dos pigmentos mais caros que existe e lindíssimo, origina um azul que quase nunca está na moda. Talvez porque as melhores pedras se encontrem no Afeganistão e no Paquistão. A outra cor sensação - que ninguém esperava e que levou muita gente a gastar dinheiro em peças que hoje já estão comidas pela traça - foi o roxo/lilás. Não sei se se lembram, mas aquilo era horrível... Ver: Penélope Cruz na passadeira vermelha de Cannes em 2009, a passadeira vermelha dos Globos de Ouro de 2010, a passadeira vermelha dos Emmys de 2009 e claro, o nosso armário.

Com estas me vou, minha gente. Tenho uma roupinha para pôr de molho e umas escadas para passar a pano.
 - o carteiro -

[1]
para quem se interessa por estas coisas

[2]
afinal havia um código...

[3]
"o que é que achaste do documentário?" "achei que está tudo minado..."

[4]
onde não comprar este Natal

- o carteiro -
a banalização do bom ou "como quero este blog"
num destes dias fui ao teatro. já não vou ao teatro com a frequência com que ia, porque não tenho tempo. Não é que não tenha tempo de ir ao teatro: obviamente não trabalho às horas do teatro, mas como nunca tenho tempo para nada, mesmo o tempo para ir ao teatro é gasto com coisas e actividades triviais.
mas estava a dizer que fui ao teatro. O texto era bom, os actores eram bons, embora, e na minha opinião, várias partes boas não originam naturalmente um todo, bom. ou seja, não era mau, nem bom. isso não é motivo, pelo menos para mim, para aplaudir de pé no final. sei que o "aplaudir de pé" faz parte de um ritual que permite aos actores voltar ao palco, dando tempo ao público para reclamar a sua presença. é um entendimento entre público e actores; uma troca (os actores dão o seu talento e trabalho e o público reclama a sua presença mais uma vez para lhes dizer o quanto são amados. o público consome a sua arte – porque paga, mas também porque a vive - , mas também a pessoa em si através das revistas onde a vida dos artistas, independente da arte, é exposta). mas apesar deste ritual ser um entendimento entre as partes, não quer dizer que tenha de ser sempre praticado. caso contrário, como vamos distinguir o que é mesmo bom do que é mediano? Se o público aplaude e se levanta sempre e com tanto vigor, independentemente do valor do que é mostrado, como é que o actor sabe se o seu trabalho é de facto apreciado?
vemos isso no nosso dia a dia. as pessoas estão constantemente a hiperbolizar, com muita seriedade, tudo o que as rodeia: "A Marta é fantástica"; "este rapaz é top!"; "Ó linda, não te importas de me chegar esse papel"... Isso confunde o receptor e deixa o emissor com uma amplitude de gosto muito limitada, não sendo capaz hierarquizar, catalogar, distinguir. O que é também paradigmático da simplificação que fazemos de tudo pois é de facto mais simples catalogar como "bom" do que fazer uma distinção entre os diferentes "bons" que esse "bom" inclui. (o mesmo se passa com o botão de "like" do facebook. dizer que se gosta de algo, superlativiza esse algo, não havendo espaço para o "mas".)  Não será por acaso que as pessoas hoje em dia também tendem a simplificar palavras: "ela comentou no face" ou "ele colocou uma foto" ou ainda "vou ao pingo comprar bolachas". é mais simples. 
Mas não quero o mais simples para o blog. O mais simples é reproduzir imagens sem qualquer espírito crítico; é fazer circular uma tendência sem a ter experimentado. O que não é simples, é complexo e o que é complexo, custa. Custa mais ainda quando o nosso nível de exigência aumenta e a nossa satisfação não é atingida com qualquer coisa. É por isso que apesar de não postar tanto como antes, continuo a tentar postar textos interessantes e a reflectir sobre o que coloco. Claro que isso não se coaduna com a rapidez com que consumimos a informação (é importante ser o primeiro a ler a notícia, a descobrir, a passar) hoje em dia. Mas eu sou Aquário e os aquarianos vivem sempre num tempo que não é o seu. Por isso o meu tempo e o tempo do belogue não é o da notícia imediata, do post com a imagem da moda, do soundbyte. parafraseando esse monumento da comunicação, o Goucha: “às quintas é dia de fazer amor. Quem está, está. Quem não está, estivesse.” Ou seja: vou continuar a tentar fazer o meu melhor e o que me dá prazer, mesmo que isso implique não seguir as tendências.

sábado, novembro 19, 2016

- o carteiro -
"Passo-me" quando ouço dizer "ah e tal, sou católico não praticante"... Não existem católicos não praticantes. se existir alguma coisa semelhante a isso serão cristãos não praticantes ou católicos hipócritas, como eu que festejo o Natal, mas não a Páscoa...
O catolicismo é a norma, a regra, a hierarquia, a prática. O Catolicismo veio "legislar" o cristianismo e uma das formas de legislar foi através da instauração de rituais. O ritual contextualiza o crente, fá-lo acreditar que pertence a algo. Não existe por isso crente sem ritual; o crente, o cristão, tem de praticar pois o catolicismo encerra como condição para o crente existir, a prática.  
agora... acreditar não custa, não paga imposto, não faz mal. e não acreditar também não faz mal.

quinta-feira, novembro 17, 2016

 - original soundtrack -

que coisinha mais linda...
 
If I didn't care more than words can say
If I didn't care would I feel this way?
If this isn't love then why do I thrill?
And what makes my head go 'round and 'round
While my heart stands still?
If I didn't care would it be the same?
Would my ev'ry prayer begin and end with just your name?
And would I be sure that this is love beyond compare?
Would all this be true if I didn't care for you?
If I didn't care honey child, mo' than words can say. If I didn't care baby, would I feel this way? Darlin' if this isnt love, then why do I thrill so much? What is it that makes my head go 'round and 'round while my heart just stands still so much ?

If I didn't care would it be the same?
Would my ev'ry prayer begin and end with just your name?
And would I be sure that this is love beyond compare?
Would all this be true if I didn't care for you?




(If I didn't care, The Ink Spots)
- não vai mais vinho para essa mesa -

[sonho desta noite]
sonhei que estava a participar na produção de um filme porno. O meu trabalho era escolher guarda-roupa, cenários, actores... Para isso todas as equipas tinham de se reunir num edifício enorme, em pisos, com tudo o que vocês possam imaginar e muito mais. Só havia uma casa de banho para todas as equipas. quis usá-la, mas vim de lá tão enojada que preferi que o xixi me chegasse à cabeça. No final ganhou o filme de um realizador coreano, antigo professor de yoga que criou, com aquele filme, o porno yoga uma nova tendência muito bem sucedida.

- o carteiro -

o pelicano e a borboleta

nem sei bem como começar isto, porque não tem um começo. vou falar de bancos. o meu banco é o Novo Banco. "Meu", é como quem diz... Vou lá com alguma frequência para tratar das minhas inúmeras aplicações financeiras (estou a brincar). Quando enterraram o BES e desencantaram esta denominação "Novo Banco", pensei logo: "pronto, lá vão eles fazer asneira". E de facto fizeram. Não sei se repararam, mas o símbolo do Novo Banco é uma borboleta. Ora, toda a gente sabe que as borboletas têm um tempo de vida muito limitado, de cerca de um mês. Haveria mesmo necessidade de conotar um banco acabado de nascer, com um insecto que morre passado trinta dias de nascer? Mais: "borboleta" é, em grego, psyche e alma. Não há nada de mais imaterial que a alma. E nada de mais material que uma instituição bancária. É verdade que a borboleta passa por um processo de metamorfose: começa larva e acaba... borboleta, mas a borboleta morre pouco tempo de pois de nascer! Na realidade símbolo do Novo Banco deveria ser a Fénix, a ave mitológica que nasce das cinzas e não a borboleta. Mas era provável que os chineses transformassem a Fénix em "Galinha Flita".
Num destes dias entrei no balcão do Novo Banco na Avenida dos Aliados, enchi-me de coragem e perguntei à menina:
- sei que esta pergunta é estranha, mas por favor não pense que sou louca... o que lhe queria perguntar era há quanto tempo estava aqui o Novo Banco. O que é que era antes de ser Novo Banco?
Ao que parece, o banco está ali há mais de 90 anos: antes como BES, depois como Novo Banco. A minha pergunta tinha uma razão de ser. Na entrada há duas portas que têm esculpidos os doze trabalhos de Hércules. Para quem não sabe, os doze trabalhos de Hércules são uma referência mitológica: Hércules, o deus feio e defeituoso dos romanos, teve de levar a cabo doze trabalhos impossíveis (trabalhos hercúleos!), para aplacar a raiva dos outros deuses. Mas então lá estava eu a olhar para as portas, com gente a entrar, a sair - provavelmente a pensar que eu estava a estudar a melhor forma de assaltar o banco - quando percebi que ali só estavam oito dos doze trabalhos: quatro de um lado da porta, quatro de outro. faltam mais quatro e não consigo perceber o que lhes teria acontecido pois obviamente a porta não tem espaço para mais representações de Hércules. Sempre que passo por lá fico a olhar, como um boi para um palácio, e a perguntar-me:
- mas onde é que está o resto?



















































Faltam as representações dos 4 trabalhos seguintes:
- Limpar os currais do rei Aúgias
- Castigar Diomedes
- Vencer as Amazonas
- Matar o gigante Gerião

Quase em frente, também na Avenida dos Aliados, há um outro  banco onde entro com frequência:  o Montepio. A imagem do Montepio sempre me suscitou admiração: ao contrário dos outros bancos que escolhem como logo o próprio nome, uma letra do nome, um conjunto de letras ou um símbolo mais ou menos abstracto (excepção para o centauro e a flor), o Montepio escolheu um figurativo. Não sei se já repararam, mas o símbolo do Montepio é uma ave. Esta ave não é uma ave qualquer. É uma ave mítica: o pelicano que se bica a para alimentar os filhos com o seu sangue. É também o símbolo das misericórdias, do dar não o que se tem, mas o que se é. Não sei se o Montepio é um grande banco, mas como imagem, parece-me ser mais convincente que a borboleta. 























Francesco de Mura
Charity
1743-1744
The Art Institute, Chicago

Continuo a interrogar-me onde estarão os 4 trabalhos de Hércules em falta...
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

brincado aos clássicos

olá amiguinhos. hoje trago-bos um bocadinho de arquitectura: fica sempre bem, numa vernissage, num cocktail... Toda a gente vai pensar que somos inteligentes. O Alberti diz-me muito. Não me diz tanto como o Borromini ou o Guarino Guarini ou a arquitectura barroca de Turim, mas diz-me muito pois tive oportunidade de estudar as principais obras de arquitectura dele e ler alguns excertos dos tratados. Vou ser sincera: não me tira do sério e é um bocado aborrecido pois a norma é demasiado estrita para devaneios. O Alberti dizia - talvez por outras palavras - que o Belo era Bom, que o Bom era Belo. A primeira expressão (Belo = Bom) tem muito de teoria Clássica (a moral estava em "segundo lugar"); a segunda (Bom = Belo) é próprio do tempo de Alberti, em que a arquitectura, assim como as outras artes, era tanto mais bela, quanto mais sagrada. No fundo, era a Igreja do Renascimento a colocar ao seu dispôr o virtuosismo dos artistas, bem como toda a teoria, teoria essa que era, como já sabemos, neoplatónica. 
Alberti alinhava com isto: não havia lugar para a não crença, para o ateísmo. Um ateu era um sacrílego. Nem havia razão para não se acreditar que todo o conhecimento vinha da ciência, do estudo, da experiência... iluminado e guiado por Deus. Por isso, e porque a fuga à norma leva ao caos (os homens ainda não estavam preparados para viverem sem as regras, nem mesmo as de arquitectura), Alberti dá-nos uma série de normas. A principal é a manutenção do enunciado pela arquitectura clássica: estrutura de arco, frontão triangular, métopas e tríglifos, colunas (agora adossadas), base, fuste e capitel (o simples dórico cede espaço ao coríntio já que as folhas de acanto são mais teatrais)... E depois... depois foram os óculos a encimar o edifício, três aberturas a sugestionar o espaço interior com nave principal e duas laterais mais baixas, construção ordenada em "pisos"... Esqueçam o mármore branco. Os templos clássicos não eram imaculados e minimais: eram coloridos, saturados e também este templo malatestiano assim era.
















Como clássico que era, Alberti planeou este edifício - que não é mais do que uma pele, uma cobertura de um edifício já existente, como podem ver pelo pedaço que em cima, falta. Arrisco-me a dizer que para ali Alberti planeava uma abertura com arco de volta perfeita e talvez um óculo - planeou este edifício, como estava a dizer, tendo por base grandes exemplos que ele considerava certamente perfeitos, da Antiguidade Clássica. São eles: o Arco de Constantino em Roma e o Arco de Augusto em Rimini. 




Ora "beijam" lá se eu não tenho razão:


Ao Arco de Constantino, Alberti foi buscar os três arcos com colunas a delimitá-los, sendo que os dois laterais são mais pequenos - ou secundários - face ao arco central.


Ao Arco de Augusto de Rimini foi buscar os pequenos tondos (no Arco de Augusto são tondos que pontuam os cantos superiores) e transformou-os em óculos. Foi também buscar o frontão triangular, mais equilibrado na construção malatestiana do que na de Rimini.


Bem, agora bou pra dentro rezar uma tercinho. bai saber-me pela bida!