ana1 - e lá estava eu, quase "no osso"...
ana4 - de roupa interior?
ana1 - sim?
ana4 - e como era?
ana1 - o quê?
ana4 - a roupa interior.
ana1 - o que é que isso interessa?...
ana3 - anda lá, diz como era ou ela nunca mais se cala!
ana1 - era um básico... preto em algodão.
ana4 - também uso esses.
ana2 - são bons e práticos, não são? Era da Intimissimi?
ana4 - e esta colecção tem umas peças... as colecções de Inverno são melhores que as de Verão...
ana2 - ai não acho... as de Verão também têm coisas giras...
ana1 - posso continuar?
ana4/ana2 - vá lá, desculpa.
ana1 - estava lá e ele diz-me, com muita propriedade: "não gosto de te ver com isto".
ana2 - "não gosto de te ver com isto" como quem diz "quero ver-te sem nada?"
ana1 - não! "não gosto de te ver com isto" como quem diz "não gosto da tua roupa interior"!!! já viram isto?!
ana3 - toma e embrulha!
ana2 - e a roupa interior dele, como é que era?
ana1 - ... estava a ver que não me perguntavam isso...
...
ana2 - então?
ana1 - ... era ho-rrí-vé-lêêêêêêê!
anas - ahahahahahahahahahahahahahah
ana1 - hó-rrí-vel!... imaginem um padrão geométrico anos 70, cores psicadélicas...
ana3 - as cuecas dele entraram numa trip de LSD.
ana4 - não tinha nenhuma pinta de lixívia? estás com sorte.
ana1 - lixívia?
ana4 - sim.
ana2 - como é que ele ia ter uma pinta de lixívia nas cuecas?
ana4 - não sei... podia ter decidido fazer faxina de cuecas...
ana3 - e então, o que é que fizeste?
ana1
- arranjei forma de vir embora. fingi que estava a sentir-me mal e
disse que tinha de ir para casa tomar um comprimido e descansar.
ana4 - então... nada?!
ana1 - nada. e ainda bem! aquelas cuecas mataram o desejo, como o vídeo matou a rádio.
ana3 - mas não tens pena?
ana1 - de quê?
ana3 - sei lá... devias sentir alguma coisa por ele, não?
ana1
- ... estava com vontade de ser abraçada. estava a precisar de estar
com alguém que me quisesse, que quisesse estar comigo. a outra parte...
seria um meio e não um fim.
ana4 - para ele se calhar era um fim.
ana1 - não sei..., nunca mais falei com ele.
ana4 - não acho isso normal.
ana1 - o quê?
ana4 - partilharem intimidades e depois não falarem.
ana1 - foi melhor assim. evito ir ao restaurante onde nos conhecemos porque não quero vê-lo.
ana3 - vá lá, não sejas assim!
ana1 - a sério, não quero. vou olhar para ele e vou ver apenas à minha frente a cueca psicadélica.
ana3 - tinhas a depilação feita?
ana4 - hã? que pergunta é essa?
ana3 - é importante!
ana1 - tinha. desde que descobri a depilação a laser sou muito mais feliz.
ana4 - eu também.
ana2 - eu nem preciso de fazer depilação!
ana4 - nem sabes a sorte que tens. tinhosa!
ana2 - nunca percebi essa do "tinhosa"...
ana4 - as pessoas tinhosas são as que têm "tinha", uma doença do couro cabeludo.
ana2 - as coisas que tu sabes...
[...]
ana3 - este Trump...
ana1 - será que ninguém lhe trata da tosse?
ana2
- todos aqueles que lhe podiam "tratar da tosse" já fazem
parte do "partido dele". isto sem contar com os alienados que aproveitam
isto para se comportarem como hunos.
ana3 - mas ela não é melhor.
ana4
- dou-te razão, ela não é melhor. mas do mal o menos. em frança há uns anos também foi necessário votar no Chirac para evitar uma vitória da extrema-direita.
ana2 - ela está melhor preparada que ele.
ana4
- ela está a anos-luz dele, mas faz parte do sistema. ela nunca vai passar disto... ele no entanto é simplesmente um jeitoso, um
chico-esperto que vê nisto um jogo, uma diversão. ele não precisa disto
para nada. para ele a presidência é um capricho.
ana2 - mas ela... ela é mulher de um
ex-presidente. em que é que isso a habilita para ser presidente? parece a rússia e as oligarquias ... além disso aquele casal tem tantos rabos de palha... Como é que enriqueceram?
ana4 - às vezes
as democracias têm estes períodos negros. os romanos por vezes
suspendiam a democracia para pôr ordem no império.
ana2 - atendendo ao tamanho da América, talvez também não fosse mau de todo.
ana1 - o que me espanta é como é que chegámos aqui.
ana4 - agora disseste tudo. parece que não aprendemos nada com o passado. damos sempre voz a idiotas quando estamos na m*****!
ana2 - sabem, isto assusta-me. para onde estamos a ir? que mundo é este?
ana1 - foi assim que começou a segunda-guerra mundial.
ana4 - pensava que ias dizer: foi assim que a alemanha perdeu a guerra. é que a alemanha perdeu duas guerras!
ana2 - e vê como está agora!
ana3 - nunca percebi essa do "foi assim que a Alemanha perdeu a guerra".
ana4 - "what a nasty woman"
ana2 - quando ouvi isso só me lembrei daquele vídeo da Christina Aguilera...
ana3 - Yo Sister!
ana2 - ... em que ela diz: "So what am I not supposed to have an opinion/Should I be quiet just because I'm a woman"
ana3 - vou-te ser sincera, não consigo ter opinião acerca disso...
ana4 - acerca do quê? do Trump chamar a Clintona de Nasty Woman?
ana3
- não é isso... estava lembrar-me do video-clip e da ideia da música de
que as mulheres podem apresentar-se como quiserem... isso não é
verdade.
ana4 - então achas que nos devemos limitar: deixar de andar de mini-saia ou top por causa...
ana3 - tu andas de mini-saia e top?
ana4 - eu não disse "mini-saia e top", mas "mini-saia ou top".
ana3
- eu compreendi o que disseste. essa pequena mudança de partícula muda
tudo na frase. o que estás a dizer é que és uma mulher com classe
suficiente para não andar de mini-saia e top ao mesmo tempo. és uma
mulher que deixa alguma coisa à imaginação. mas colocas-te assim num
outro patamar.
ana4 - estou a acompanhar...
ana3 - quem de nós aqui não acha horrível que uma mulher se exponha?
ana1 - eu não acho. acho que cada pessoa deve fazer o que lhe dá na real gana.
ana4
- mas por uma mulher expôr o corpo isso não quer dizer que esteja "a
pedi-las", que "merece" o assédio, que seja merecedora de menos
consideração. a minha escolha é não expôr, mas apoio quem expõe.
ana3
- não apoias não! e tu também não achas que uma pessoa deva fazer o que lhe dá na real gana, como disseste! fazes como cada uma de nós faz: critica e diz "olha
para aquilo"! por isso é que não dou para esse peditório. Não estou tão
livre de constrangimentos como gostaria. nenhuma de nós está. a classe
feminina só se apoia quando o que está em causa é uma violação com
contornos horríveis, quando uma mulher é criticada por amamentar em
público e, acima de tudo, quando as críticas vêm de homens.
...
ana4 - ... talvez tenhas razão. nunca vi as coisas assim...
ana2 - e tu?
ana4 - tudo bem.
ana2 - tudo bem o quê? nunca contas nada!
ana3 - é verdade, nunca contas nada.
ana4 - não há muito a contar. é a história de sempre: boy meets girl, girl loves boy, boy is not into it...
...
ana2 - pensas nele?
ana4 - todos os dias. às vezes sinto-me revoltada, outras ridicularizada, outras apenas triste... mas, como dizia o saramago...
ana3 - O professor de Físico-Química do 8º ano?
ana4 - não pá! o saramago, o escritor! O professor? Como é que ainda te lembras do professor?
ana3 - o que é que ele dizia?
ana4 - dizia: "é mais fácil querer-se do que se ser querido".
ana2 - tens a certeza que foi o saramago que disse isso?
ana4 - agora que me colocas a questão... não tenho, mas podia ter sido. e faz sentido. de qualquer forma, não há nada a fazer. não podemos obrigar ninguém a gostar de nós. cada um de nós é um mundo, com as suas ideias, medos, idiossincrasias, vícios... vivo a minha vida, faço tudo o que tenho de fazer, mas cá dentro sinto uma dorzinha aguda...
ana1 - vai passar.
ana2 - sabes o que tens de fazer?
ana4 - ...sei...
ana2 - tens de eliminar qualquer esperança do teu coração.
ana4 - ah sim... claro.
ana2 - acho que não percebeste: eliminar... qualquer esperança... do teu coração.
ana4 - ...
ana3 - andas a ler livros de auto-ajuda?
ana2 - credo, por quem me tomas?!
ana1 - eu leio...
ana2 - e acreditas nessas m*****?
ana1 - mal não faz!
ana3 - um destes dias fui a uma mulher que me leu o futuro nas cartas.
ana1 - aquela que eu indiquei?
ana4 - vocês as duas... uma indica, a outra vai...
ana3 - não querem saber o que ela disse?
ana4 - diz lá
ana3 - não acertou uma! nada, rien, niente.
ana4 - 'tás carregada!
ana3 - tinha curiosidade. Mal não faz...
ana4 - excepto à carteira!
ana3 - olha, que queres? Tinha curiosidade. Vamos mudar de assunto!
ana4 - já vi que não te interessa...
ana3 - não tenho problemas com isso! aliás, até te conto que ela me disse: disse que em Março, me iria aparecer um tipo mais novo.
ana2 - um pónei?
ana1 - um quê?
ana2 - um pónei?
ana1 - o que é isso?
ana4 - um homem que é mais novo do que a mulher com quem está.
ana1 - vocês inventam cada coisa!...
ana2 - é o que está a dar: póneis!
ana4 - não é a "minha cena".
ana1 - então e tu?
ana2 - eu o quê?
ana1 - como estás?
ana2 - casada...
ana1 - isso quer dizer "na mesma"?
ana2 - sim... quer dizer..., eu gosto de estar casada...
ana3 - gostas tanto que te casaste duas vezes.
ana2 - na primeira vez não chegámos a casar... felizmente!
ana3 - onde é que ele anda?
ana2 - em casa dos pais. vê lá tu! um homem daquela idade, sem emprego e a viver em casa dos pais.
ana4 - mas ele já nada bem? fez alguma desintoxicação?
ana2 - não sei. por isso não o deixo ver o miúdo.
ana4 - eh pá... não devias fazer isso.
ana2 - não devia fazer isso??? tu sabes o que ele fazia quando o miúdo nasceu? eu saía de casa uns minutos para fazer qualquer coisa e quando chegava ele estava sentado no sofá, charrado, com o miúdo a chorar ao lado. e ele a abanar a cock, a olhar para a televisão com os olhos vidrados... ele despediu-se quando fiquei grávida porque "não estava a conseguir lidar com a ideia de ser pai"! Não devia fazer isso... enquanto não se tratar não vê o miúdo sozinho.
...
ana1 - e este?
ana2 - este é que devia ser o pai biológico do miúdo!
...
ana3 - não olhas para nós e pensas "encalhadas"?
ana2
- acho que vocês dão muita importância ao "estar acompanhado". por
exemplo, se eu não tivesse o X, estaria igualmente bem. passaria mal no
início, mas ficaria bem. não acho que necessitemos de estar com alguém
para estarmos bem.
ana4 - primeiro: não existe "se". "se"
não estivesses casada terias outra forma de ver as coisas. tu, nós... não
existimos hipoteticamente. existimos, pronto! e onde e como existimos,
condiciona quem somos.
ana2 - só acho que vocês dão muita importância a isso...
ana3 - uma pessoa só dá valor a uma coisa quando deixa de a ter.
ana1 - que treta! parecemos a Rita Pereira a debitar psicologia barata.
ana3 - a Rita Pereira debita psicologia barata?
ana1 - não conheces o célebre mantra Rita Pereira?
ana3 - não...
ana1 - "o impossível não existe. até acontecer!"
anas - ahahahahahahahahahahahahaha
ana2
- A Rita Pereira... essa grande filósofa... mas olha, mantenho a minha
opinião: não é necessário ter alguém para se estar bem!
ana3 - isso és tu que alinhas os chacras e comes folhas de alface. eu preciso de alguém que goste de mim. não necessita de ser rico, nem bonito. tem de gostar de mim e eu dele. sem merdas.
ana4 - essa conclusão é do melhor: "sem m*****".
ana1 - já pensei colocar um anúncio na Maria
ana4 - já ninguém lê a Maria!
ana1 - pá... vê-se mesmo que não andas de transportes públicos! claro que ainda se lê a Maria!
ana4 - mas a Maria já não deve ter essas coisas do "consultório sentimental". Hoje faz-se tudo por internet...
ana1 - pois eu, se colocasse um anúncio, que, confesso, já me passou pela cabeça...
ana3 - a Marilyn Monroe colocou um pouco antes de morrer.
ana4 - na Maria?
ana2 - deixem a rapariga falar!
ana1
- obrigada! se colocasse um anúncio numa dessas revistas seria qualquer
coisa como: "moça decente procura moço decente para relação séria." e
rematava com um "sem m*****".
ana2 - essa da "relação séria"... aconselhava-te a refazer essa parte. espanta a "caça."
ana4 - "caça"? e isso, essa expressão, não espanta a "caça"?
ana1 - essa expressão é feia.
ana2
- mas o mundo é um couto! olhem só isto: num destes dias tive de fazer
um telefonema para o banco, para falar com uma pessoa com quem já tinha
falado. mas atenção: sempre de trabalho. eu nunca o conheci, ele é
casado e quando disse o meu nome ao telefone ele respondeu "olá
querida"! "Olá querida?!" Não, a sério: "olá querida?!"