quinta-feira, novembro 17, 2016

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

brincado aos clássicos

olá amiguinhos. hoje trago-bos um bocadinho de arquitectura: fica sempre bem, numa vernissage, num cocktail... Toda a gente vai pensar que somos inteligentes. O Alberti diz-me muito. Não me diz tanto como o Borromini ou o Guarino Guarini ou a arquitectura barroca de Turim, mas diz-me muito pois tive oportunidade de estudar as principais obras de arquitectura dele e ler alguns excertos dos tratados. Vou ser sincera: não me tira do sério e é um bocado aborrecido pois a norma é demasiado estrita para devaneios. O Alberti dizia - talvez por outras palavras - que o Belo era Bom, que o Bom era Belo. A primeira expressão (Belo = Bom) tem muito de teoria Clássica (a moral estava em "segundo lugar"); a segunda (Bom = Belo) é próprio do tempo de Alberti, em que a arquitectura, assim como as outras artes, era tanto mais bela, quanto mais sagrada. No fundo, era a Igreja do Renascimento a colocar ao seu dispôr o virtuosismo dos artistas, bem como toda a teoria, teoria essa que era, como já sabemos, neoplatónica. 
Alberti alinhava com isto: não havia lugar para a não crença, para o ateísmo. Um ateu era um sacrílego. Nem havia razão para não se acreditar que todo o conhecimento vinha da ciência, do estudo, da experiência... iluminado e guiado por Deus. Por isso, e porque a fuga à norma leva ao caos (os homens ainda não estavam preparados para viverem sem as regras, nem mesmo as de arquitectura), Alberti dá-nos uma série de normas. A principal é a manutenção do enunciado pela arquitectura clássica: estrutura de arco, frontão triangular, métopas e tríglifos, colunas (agora adossadas), base, fuste e capitel (o simples dórico cede espaço ao coríntio já que as folhas de acanto são mais teatrais)... E depois... depois foram os óculos a encimar o edifício, três aberturas a sugestionar o espaço interior com nave principal e duas laterais mais baixas, construção ordenada em "pisos"... Esqueçam o mármore branco. Os templos clássicos não eram imaculados e minimais: eram coloridos, saturados e também este templo malatestiano assim era.
















Como clássico que era, Alberti planeou este edifício - que não é mais do que uma pele, uma cobertura de um edifício já existente, como podem ver pelo pedaço que em cima, falta. Arrisco-me a dizer que para ali Alberti planeava uma abertura com arco de volta perfeita e talvez um óculo - planeou este edifício, como estava a dizer, tendo por base grandes exemplos que ele considerava certamente perfeitos, da Antiguidade Clássica. São eles: o Arco de Constantino em Roma e o Arco de Augusto em Rimini. 




Ora "beijam" lá se eu não tenho razão:


Ao Arco de Constantino, Alberti foi buscar os três arcos com colunas a delimitá-los, sendo que os dois laterais são mais pequenos - ou secundários - face ao arco central.


Ao Arco de Augusto de Rimini foi buscar os pequenos tondos (no Arco de Augusto são tondos que pontuam os cantos superiores) e transformou-os em óculos. Foi também buscar o frontão triangular, mais equilibrado na construção malatestiana do que na de Rimini.


Bem, agora bou pra dentro rezar uma tercinho. bai saber-me pela bida!