desculpa se te magoei, mas tenho de continuar a minha vida
domingo, agosto 22, 2010
quarta-feira, agosto 18, 2010
sábado, agosto 14, 2010
- o carteiro -
[against Facebook]
Não querendo fazer disto um blog de links para sites muito doutos, recomendo a leitura no link. É sobre o Facebook.
quarta-feira, agosto 11, 2010
sexta-feira, agosto 06, 2010
- original soundtrack -
talvez já conheçam, mas eu ouvi pela primeira vez e fartei-me de rir. com vocês, Flight of the Conchords:
Aww Yeah
Girl tonight we're gonna make love
You know how I know?
Because it's Wednesday
And Wednesday night is the night that we usually make love
Monday night is my night to cook
Tuesday night we go and visit your mother
But Wednesday we make sweet little love
When everything is just right
There's nothing good on tv
You haven't had your after work social sport team practice
So you are not too tired
Oh, boy, it's all love
You lean in and whisper something sexy like,
"I might go to bed. I've got work in the morning."
I know what you're trying to say baby.
You're trying to say "Aww, yeah. It's business time.”
It’s business
It’s business time
I know what you’re trying to say
You're trying to say it's time for business,
it's business time, oooh
It's business
It's business time
Aww ohooo
woah yeah, yeah
Then in the bathroom brushing our teeth
That's all part of the foreplay, i love foreplay
Then you go sort out the recycling
That isn't part of the foreplay,
but it's still very important
Next thing you know we're in the bedroom
You're wearin' that baggy old ugly T-shirt you got from work several years ago
Mmmm, you know the one, baby
With the color stain
I remove my clothes
Very very clumsly
Trippin over my jeans
'cause I'm still wearing my shoes
But it's okay because I turn it all into a sexy dance.
Next thing you know I'm wearing absolutely nothing
Except for my socks
And you know when I'm down to just my socks
what time it is
It's business time
It's business
It's business time
When I'm down to my socks it's time for business
That's why they're called business socks, oooh
It’s business
It’s business time
Oooh, hoo hoo hoo oooh yeah, yeah
Making love
Making love for
Makin love for two
Making love for two minutes
When it's with me you only need two minutes,
because I'm so intense
Two minutes in heaven is better than one minute in heaven
You turn to me and say something sexy like, "Is that it?"
I know what you’re trying to say, girl
You're trying to say, "Aww yeah, that's it"
And then you tell me you want some more
Well, uh... I'm not surprised
But I'm quite sleepy
Mmm
It's business
It's business time
Business hours are over, baby
It's business
It's business time
(Business time, The Flight of the Conchords)
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
hipócrates
antes e depois ou como eu sabia, eu bem sabia que estas coisas andavam ligadas. Eh pá, às vezes até me surpreendo comigo... Quando vi o "Feios Porcos e Maus", na parte em que o Giacinto conhece a Isidre, lembrei-me de que aquela imagem, aquela cena em particular em que ele encosta a cabeça ao peito dela já estava retratada. Não sabia por quem, mas tinha quase a certeza que se tratava de Rubens, Rembrandt ou Caravaggio e que o quadro seria uma Caridade Romana ou um Sansão e Dalila. Como nas caridades ela geralmente está a amamentá-lo, apostei num Sansão e Dalila e não me arrependi. Digam lá se o quadro de Rubens não está parecido com a cena do "Feios Porcos e Maus"; ou vice-versa, uma vez que o filme é posterior ao quadro. Pronto, podia estar melhor, mas não encontrei melhor, nem mesmo os Sete actos de Misericórdia do Caravaggio estavam parecidos. O filme é uma paródia e uma visão irónica da bela cidade de Roma que não é nem feia, nem porca (agora está pior um bocadinho) nem má. Todos os seus intervenientes vivem na miséria, comem do lixo, fornicam como coelhos e mesmo assim têm a melhor vista sobre a cidade. Nem mesmo quem vive num dos apartamentos lá em baixo tem a mesma paisagem que quem vive nos bairros de lata. Note-se igualmente a ironia e premonição de alguns pormenores como a forma como as crianças eram todos os dias aprisionadas e aquilo que isso faz delas condicionando-as logo ao fracasso, a forma como a sociedade patriarcal e pobre convive com a traição e os maus-tratos por falta de opção. É uma antevisão dos tempos que vivemos hoje, numa altura em que se achava que com uma Europa em ebulição com a conquista de direitos femininos, preocupações ambientais e movimentos pacifistas, tudo caminhava para a utopia hippie. A escapatória possível, pelo menos para as mulheres, o momento de liberdade e emancipação é atingido quando ficam prenhas e nesse momento é quando já não têm possibilidade de libertação do ciclo vicioso em que vivem.
O quadro de Rubens (hoje comecei pelo fim) foi pintado em Antuérpia quando Rubens se encontrava ao serviço do Arcebispo. Foi também para um mecenas que pintou este Sansão e Dalila; para Nicolaas Rockocx mais concretamente. O quadro é muito grande o que representa trabalhos acrescidos quanto à perspectiva. A cama onde o casal se encontra, por exemplo é trazida a primeiro plano, mas está ligeiramente "descaída" e projectada para a frente, o que cria o efeito de perspectiva e confere espaço ao quadro, fazendo crer que existe uma porta à direita e mais aposentos à esquerda (a velha senhora está cortada pelo quadro). Neste quadro com um tom dúbio - é ao mesmo tempo um quadro com alguma bonança, mas com ameaças de tragédia - há dois focos de luz: um que vem de uma provável lareira que ilumina o cabelo e o rosto de Dalila. O outro vem da lanterna dos soldados filisteus. Como sabemos esta história tem origem na Bíblia e Sansão, tal como outros homens representa o poder da carne sobre o espírito, aqui na sua alegoria mais imediata que é a de um homem que se apaixona por uma mulher que o leva à tragédia. Não que ela fosse uma pecadora, mas porque toda a beleza tinha uma conotação demoníaca. À excepção das mulheres próximas de Jesus como Maria ou Maria Madalena, toda a beleza física é punida como se de pecado se tratasse. Esta temática dos homens corrompidos por mulheres surge com maior premência na arte do século XVI. O que acontece aqui no quadro pintado de Rubens é que ele lhe acrescenta, recriando desta forma a história, uma alcoviteira que não existe no original. Para além desta alcoviteira que patrocina o encontro trágico, os amores de Sansão e Dalila são corroborados pela estátua de Vénus e o Cupido que encima a cena principal (podemos vê-la entre a cabeça da velha e do homem que corta o cabelo a Sansão:
Pieter Pauwel Rubens
Samson and Delilah
1609
National Gallery, Londres
Pieter Pauwel Rubens
Samson and Delilah
1609
National Gallery, Londres
Ettore Scola
Feios Porcos e Maus
1976
- o carteiro -
Alberti e Velasquez cruzam-se no mausoléu dos artistas, isto porque Alberti, já esclerosado, se engana e em vez de descer até à cave para os banhos de substral, subiu até ao século XVII:
Alberti e Velasquez cruzam-se no mausoléu dos artistas, isto porque Alberti, já esclerosado, se engana e em vez de descer até à cave para os banhos de substral, subiu até ao século XVII:
- Olá caríssimo, não me conhece?
- Desculpe?!
- Sou eu, o Velasquez!
- Quem, desculpe, mas acho que estou enganado. Onde está a Tatiana que me massaja às terças? Hoje é terça, não é?
- É. A Tatiana não está aqui. Isto aqui é o andar do século XVII. Eu sou o Velazquez.
- Muito prazer, mas tenho de ir. A Tatiana deve estar à minha espera com o substral e fosfatos quentes para as costas. Conserva-me o cadáver que é uma maravilha.
- Eu gosto muito do seu trabalho. Aliás até tenho umas coisas que gostaria que visse só para me dar a sua opinião...
- Não tenho tempo.
- Espere, são umas coisas... bem, na verdade eu também sou artista. Fui artista, claro! Pintor
- Pintor? E o que é que pintou?
- Pintei... Ora bem... A "Vénus ao Espelho", por exemplo.
- Não conheço. Aqui o Boas Novas também não tem grande suplemento de Cultura. Estou de desactualizado. Até leio mais o Die Zeit und Geist por causa da programação das procissões e enterros.
- Também pintei o "Retrato do Papa Inocêncio X".
- Não conheço.
- E "As Meninas".
- "As Meninas"?
- "As Meninas", é verdade... Fui eu!
- "As Meninas" seu canastrão!!!
- Canastrão?!
- Sim, canastrão. Seu calaceiro, seu Antifilo de Apelles... Ou você pensa que eu não sei?!
- O quê? Que eu pintei "As Meninas"? Pelos vistos sabe!
- Claro que sei! Anos e anos de evolução na Perspectiva Artificialis para você chegar lá e estragar tudo. Repito, tudo! Tudo não que ainda ficou alguma coisa, mas pelo que sei, a pintura nunca mais foi a mesma depois dessa calúnia à mente humana. E Humanista!
- Ouça, tenho muito respeito pelas pessoas de idade...
- Deixe estar que você também não vai para novo, ou acha que é algum Benjamin Button?
- Não percebo. O que têm as minhas "Meninas" a ver com o caso?
- Não diga isso muito alto que um dia destes o Ghiberti estava a falar dos putti do Miguel Ângelo e a Brigada Angélica levou-o logo para um mausoléu de artistas menores. Consta que anda a desenhar prados e barcos à vela.... A aguarela!
- A aguarela? - A aguarela!
- Ai Meu D...
- Xiu. Não o invoque.
- Mas de qualquer forma, o que tem o meu quadro a ver com isso?
- Pois... vocês fazem as asneiras e depois estão cá as velhas carcaças para vos explicar o porquê, não é? Eu conto-lhe. Lembra-se de Giotto e de Duccio?
- Sim.
- E lembra-se de mim.
- Claro, reconheci-o!
- Pois, sua caveira espanhola, nós os três conseguimos a proeza de inventar ou pelo menos colocar no papel e no espaço o ilusionismo perspectivista. Eu, modifiquei a teoria do espelho - da pintura enquanto espelho da realidade - para a teoria da pintura enquanto janela da realidade. A partir desse momento tudo mudou, compreende?
- Sim...
- Cale-se! Tudo mudou porque aquilo que as pessoas viam passou a estar retratado. As pessoas tinham uma outra imagem do espaço e da natureza e como tal, passaram a entender o espaço e a natureza de forma diferente. A ideia era que num quadro a terceira dimensão podia ser representada quando tudo convergia para um ponto no infinito.
- Eu sei.
- Não sabe nada, cale-se! No meu espaço, na teoria que criei para esse espaço tudo era aberto. O que você faz nas suas "Meninas" foi fechar o espaço.
- Eu?!
- Sim, deixe-me acabar. Você redefine a metáfora: de janela a pintura passa a ser caixa fechada. Ou caixa aberta, tanto faz. A pintura passa a ser caixa. Você delimita o espaço renascentista, você fecha a acção, você mostra o espaço do quadro; ou seja, você mostra o espaço que lhe interessa.
- Mas você fez o mesmo!
- Irra que ele é burro! Mas você encenou! As suas "Meninas" são uma encenação. Nada mais, a partir daí foi natural. O paradigma mudou, é verdade. Vocês no vosso tempo eram uns cartesianos. Já não se importavam com a idealização da realidade, mas antes com a realidade em si. Esvaziaram os conteúdos e focaram-se na forma, na maneira. Na Maniera, entende-me?
- Sim, assim faz sentido. Mas isso não é negativo.
- Após isso foi só abstracção e introspecção e socialismo. Pintaram com dejectos, acorrentaram animais... Venderam-se. Atente nas suas "Meninas":
- Sim.
- Tudo é codificado, como se existisse um grupo restrito de privilegiados que podiam ter acesso à pintura e depois todos os outros que não. E o pior de ser codificado é que você não o fez com propósitos espirituais, mas simplesmente por pura descrença e pelo jogo.
- E isso é mau?
- A arte é feita pelo Homem. Quando ela exclui o Homem sobra apenas a forma, a arte pela arte, vazia de conteúdo.
- Porque é que ela escreve "Arte" com letra minúscula?
- Não sei. Sei que com "As Meninas" o espaço mudou e com isso mudou toda a Arte Moderna.
- Tudo muda. Olhe para si. Se não fossem os seus estudos também não tinha havido perspectiva.
- Sim, mas você eliminou a ideia de tridimensionalidade no quadro.
- Eu?
- Claro, sua ossada andante! Quem é retratado no quadro?
- A família real espanhola!
- E quem está no meio do quadro?
- ...
- Vá diga!
- Eu...
- Pois é. Em primeiro plano, muito em primeiro plano e quase desfocado de tão próximo do observador encontram-se o cão e as infantas. O rei não está no quadro verdadeiramente; o que está é a sua representação. É a representação da representação, pois ele aparece reflectido num espelho. Ele não está lá, o que está lá é a sua imagem, o que quer dizer que quando ele sair dali o espelho está vazio. E como quem está ao centro da pintura é o pintor, como única figura visível e nítida, o protagonista é o pintor que pinta uma tela qualquer. E o que pinta ele? Quem o observa! Eis.
- Nunca tinha visto as coisas nesses termos...
- Tudo é acessório, tudo e todos são ridicularizados uma vez que são reduzidos a piadas da perspectiva. Como por exemplo o homem que se esgueira em pano de fundo. Ele é uma extensão da perspectiva encenada porque no fim de contas a perspectiva é anulada a partir do momento em que o importante na pintura está no centro dela.
- Mas isso é maquiavélico!
- E está orgulhoso?
- Mais ou menos. Subestimei-me muito.
- Não lhe adianta nada. Isto fica entre nós e estamos ambos mortos!
- Está bem, mas fica-me a consolação.
- Depois de velho e morto o que me consola...
- É a Tatiana.
- Sim, e poder dizer o que penso. E o que penso é que a sua pintura representa o vazio. Se formos a ver, nada acontece no momento em que você pintou a pintura que por seu lado retrata-o a pintar uma pintura. Você está, como personagem, à espera que algo aconteça.
- Mas o Caravaggio também encenou. Porque é que não vai falar com ele. - Porque ele preencheu o vazio, você expressa o profundo desprezo pela expressão horror vacui. Você gosta do vazio.
- E você a dar-lhe! Há algum mal nisso?
- Você abriu a Caixa de Pandora.
- Na Arte tem de existir mudança. Tem de existir evolução.
- Isso não é evolução, é involução. Evolução é a melhoria continua. Isso foi um retrocesso.
- Para onde nos levaria a perspectiva? Tudo seria sempre igual.
- E para onde nos levou esse novo lugar do espectador (observador observado) e do pintor (o pintor rei)? Formou um bando de incoerentes...
- A coerência é muito aborrecida.
- De incoerentes, repito, e de indiferentes. Tudo na Arte se tornou indiferente. Ou seja, vocês pintam com indiferença.
[Manet passa para 10 minutos com a Tatiana. Diz Velazquez:]
- Não fale comigo, fale com o Manet. Se eu comecei ele continuou! Tudo eu, tudo eu...
- Ó Sr. Manet!
- Sim, chamou? Ah meus caros, não me posso atrasar. Tenho uma massagem aos ilíacos dada pela Tati. Quem sabe se ela não me massaja aquilo que um dia foi a minha próstata...
- Tenho uma pergunta a fazer.
- Faça. Rápido.
- O senhor conhece aqui a obra do Sr. Velazquez?
- Não conheço eu outra coisa. Até me chamaram "espanholista". Adoro os espanhóis. Quer dizer, os pintores espanhóis. As espanholas me encantam...
- Como assim, "espanholista"?
- De forma muito sucinta, interessei-me pela pintura de Goya, do nosso caro Velazquez, de Murillo... E fui, à semelhança dele, apercebendo-me dessa fantástica arma que é o quadro. Mudei o lugar do espectador, embora no Salon nunca tivessem gostado muito da forma como pintava. Opiniões...
- E mais?
- Mais... Pintei o "Almoço na Relva" e "Bar em Folies- Bèrgere", dois quadros que mostram a retração do espaço. Tanto em um como no outro as personagens ficam na boca de cena, como numa encenação, como no teatro.
- E isso deu-lhe prazer?
- Gosto de desafiar as convenções. Era convencional pintar todos os planos. No "Bar..." existe apenas um pois aquilo que se vê atrás não existe, é o reflexo do que existe, percebe? Se amanhã de manhã for lá, nada daquilo existe. Como o quadro é uma caixa e tudo se desenrola no primeiro plano, o espectador sente a pulsão de olhar os pormenores em pano de fundo, mas imediatamente arrasta o seu olhar para o exterior. É como uma montra de loja.
- Mas vocês ficaram loucos! Vocês eram loucos e eu aqui fechado a ver a eternidade passar. Vou já fazer uma história da arte.
- Da "Arte".
- Da "Arte", nova a partir de ... a partir de mim que é para não existir... não, espera... a partir do Miguel Ângelo e do Leonardo por causa dos turistas. Tenho de arranjar um lugar com menos destaque para vocês... Estava a pensar em colocá-lo a si, Manet a pintar meninos com a lágrima no olho. E a si, Velazquez, a pintar Últimas Ceias. Sem espelhos, ambos!
- Pode até ser Sr. Alberti, mas antes terá de falar com o Cézanne...
- E com o Duchamp...
- Com o Mondrian...
- Esses todos?
- Sim. E mais alguns que estão vivos.
- Tu queres ver que vou ter de ressuscitar?
- Não fale comigo, fale com o Manet. Se eu comecei ele continuou! Tudo eu, tudo eu...
- Ó Sr. Manet!
- Sim, chamou? Ah meus caros, não me posso atrasar. Tenho uma massagem aos ilíacos dada pela Tati. Quem sabe se ela não me massaja aquilo que um dia foi a minha próstata...
- Tenho uma pergunta a fazer.
- Faça. Rápido.
- O senhor conhece aqui a obra do Sr. Velazquez?
- Não conheço eu outra coisa. Até me chamaram "espanholista". Adoro os espanhóis. Quer dizer, os pintores espanhóis. As espanholas me encantam...
- Como assim, "espanholista"?
- De forma muito sucinta, interessei-me pela pintura de Goya, do nosso caro Velazquez, de Murillo... E fui, à semelhança dele, apercebendo-me dessa fantástica arma que é o quadro. Mudei o lugar do espectador, embora no Salon nunca tivessem gostado muito da forma como pintava. Opiniões...
- E mais?
- Mais... Pintei o "Almoço na Relva" e "Bar em Folies- Bèrgere", dois quadros que mostram a retração do espaço. Tanto em um como no outro as personagens ficam na boca de cena, como numa encenação, como no teatro.
- E isso deu-lhe prazer?
- Gosto de desafiar as convenções. Era convencional pintar todos os planos. No "Bar..." existe apenas um pois aquilo que se vê atrás não existe, é o reflexo do que existe, percebe? Se amanhã de manhã for lá, nada daquilo existe. Como o quadro é uma caixa e tudo se desenrola no primeiro plano, o espectador sente a pulsão de olhar os pormenores em pano de fundo, mas imediatamente arrasta o seu olhar para o exterior. É como uma montra de loja.
- Mas vocês ficaram loucos! Vocês eram loucos e eu aqui fechado a ver a eternidade passar. Vou já fazer uma história da arte.
- Da "Arte".
- Da "Arte", nova a partir de ... a partir de mim que é para não existir... não, espera... a partir do Miguel Ângelo e do Leonardo por causa dos turistas. Tenho de arranjar um lugar com menos destaque para vocês... Estava a pensar em colocá-lo a si, Manet a pintar meninos com a lágrima no olho. E a si, Velazquez, a pintar Últimas Ceias. Sem espelhos, ambos!
- Pode até ser Sr. Alberti, mas antes terá de falar com o Cézanne...
- E com o Duchamp...
- Com o Mondrian...
- Esses todos?
- Sim. E mais alguns que estão vivos.
- Tu queres ver que vou ter de ressuscitar?
Minha Nossa Senhora, Deus Pai e Filho e tudo e tudo e tudo, eu sinto-me tão mal, mas tão mal... Sinto-me tão triste. É uma vergonha estar a dizê-lo em blog, mas pelo amor da santa, faz isto parar