sexta-feira, maio 14, 2010

- original soundtrack -

eu sei que já postei esta música e esta fotografia. mas gosto, faz-me sentir feliz e pronto ("pronto" é uma óptima forma de acabar uma frase)

Some people get up at the break of day
Gotta go to work before it gets too late
Sitting in a car and driving down the road
It ain't the way it has to be

But that's what you do to earn your daily wage
That's the kind of world that we're living in today
Isn't where you wanna be
And isn't what you wanna do

Just give me one more day (one more day)
Give me another night (just another night)
I need a second chance (second chance)
This time I'll get it right (This time I'll get it right)

I'll say it one last time (one last time)
I've got to let you know (I've got to let you know)
I've got to change your mind (I've got to change your mind)
I'll never let you go

You've got to look at life the way it oughta be
Looking at the stars from underneath the tree
There's a world inside and a world out there
With that on tv you just don't care

They've got violence, wars and killing too
All shrunk down in a two-foot tube
But out there the world is a beautiful place
With mountains, lakes and the human race
And this is where I wanna be
And this is what I wanna do

Just give me one more day (one more day)
Give me another night (just another night)
I need a second chance (second chance)
This time I'll get it right (This time I'll get it right)

I'll say it one last time (one last time)
I've got to let you know (I've got to let you know)
I've got to change your mind (change your mind)
I'll never let you go

Just give me one more chance (one more chance)
Give me another night (just another night)
With just one more day (one more day)
Maybe we'll get it right (You know I'll get it right)

I'll say it one last time (one last time)
I've got to let you know (I've got to let you know)
If I could change your mind (change your mind)
I'll never let you go

(Krafty, New Order)
- não vai mais vinho para essa mesa -

e pelos vistos também não vai mais pão. acabei de queimar um na torradeira enquanto me entretinha a postar
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
antes de depois ou como não sabia nada de Francis Bacon. É verdade. Não fosse esta exposição e nem sequer sabia que o homem não teve uma vida fácil. Daquilo que sei, e que é pouco, Francis Bacon cedo foi expulso de casa pelo pai, quando este o apanhou a experimentar roupa interior da mãe (da Srª. Bacon que devia ser perigosa para o colesterol – eu sei, esta foi terrível). Ora quando foi expulso o rapaz com 16 ou 17 anos foi viver para um cubículo que pagava com a ajuda da mãe que à socapa do pai lhe enviava dinheiro. Conheceu e viveu com o seu primeiro amante e este – o ingrato – passado algum tempo trocou-o por uma mulher. Ah pois é!. Depois andou por aí, por Berlim e por Paris onde entrou em contacto com a obra de Picasso. Era aliás muito influenciado pela pintura de Picasso e pela de Velazquez. Como é sabido, Francis Bacon pintou um antes e depois baseado no retrato do Papa Inocêncio, que tinha sido anteriormente pintado, em pose semelhante, mas com a boca fechada, por Velazquez. As influências de Bacon podem ser vistas na sua obra: gosto pelo visceral, pelo belo-feio (aquilo que não consideramos propriamente belo, que ninguém considera belo, mas que não deixa de nos atrair)… A obra de Bacon é como um Tsunami: não é bonito de ver, mas ninguém resiste. Notamos também a presença constante das cordas e claro, das bocarras abertas, sempre em agonia, mais do que em revolta. No retrato do Papa, por exemplo, este parece estar sentado com os punhos presos à cadeira (a mim lembra-me uma cadeira eléctrica, embora nunca tenha visto nenhuma ao vivo) e além disso rodeado por uma fita vermelha que o prende ainda mais. A boca abre-se num grito surdo, mas perturbador (Chica, pareço a Margarida Rebelo Pinto!) porque sabe-se que é um grito. Como é que se sabe que é um grito? Pois então aqui fica uma curiosidade: Bacon adorava fluidos corporais e um dos seus filmes preferidos era “O Couraçado de Potemkin”. Nele podemos ver a cena em que a senhora é alvejada e fica a gritar com a boca aberta, num pequeno instante imortalizado, instante esse que leva da entrada da bala até à morte da senhora. A imagem é esta:

Eisenstein
O Couraçado de Potemkin

1925

Podemos ver como este grito apareceu tantas vezes nas suas obras. Mas era também um devoto da fotografia pois segundo ele era melhor que o retrato e a convivência com o modelo. Bacon acreditava que a fotografia; ou melhor, as fotografias captavam várias perspectivas interiores porque eram imateriais. Já o sujeito modelo escudava-se no próprio corpo com o propósito de não se revelar. Nisso penso que ele tem muito em comum com Picasso, pois tal como o pintor espanhol Bacon procurava várias perspectivas numa só superfície. A diferença é que estas perspectivas eram interiores.Vemos o antes, uma fotografia do próprio bacon junto a dois pedaços de um animal retalhado e esfolado, imagem esta que só por si se aproxima muito do boi esquartejado pintado por Rembrandt. Depois da fotografia bacon pintou o quadro. E não me sai da cabeça aquela cena do “Mercador de Veneza” do Shakespeare (Shakes para os amigos) em que o mercador hipoteca meio quilo da sua carne ao judeu veneziano:


Francis Bacon
Figure with meat
1954
The Art Institute of Chicago
- o carteiro -

o povo foi sereno, o povo foi manso (pelo menos a tua tia, pá), agora é povo é mesmo corno. e sabe!
- o carteiro -
"auga fresca, binho bom e cumida à descriçom":
É um pouco estranho, para mim e dada a pequena história da minha vida, escrever este post mas, temos de nos render à evidência: a Bíblia é um guia gastronómico. Queria escrever como aqueles críticos que escrevem sobre os restaurantes que visitam: “o vinho fresco estagiava em temperatura apreciável”, mas não sou capaz. Por isso o post fica escrito no meu estilo que não é nenhum, mas pelo menos não engana. Estava a ler um livro sobre tradições gastronómicas e uma pequena parte falava da presença constante de comida e bebida na Bíblia, quer seja em sentido figurativo ou estrito. De facto as referências à comida dão-se tanto no Antigo como no Novo Testamento, em momentos mais conhecidos como a Última Ceia e o Pecado Original que inquinou para sempre a inofensiva maçã, e em outros menos falados como o episódio em que Sansão encontrou mel dentro de um leão
"E tomou-o nas suas mãos, e foi andando e comendo dele; e foi a seu pai e a sua mãe, e deu-lhes do mel, e comeram; porém não lhes deu a saber que tomara o mel do corpo do leão." (Juízes 14, 9) quando Abraão ofereceu manteiga, leite e vitela aos três homens que lhe apareceram
"E tomou manteiga e leite, e a vitela que tinha preparado, e pôs tudo diante deles, e ele estava em pé junto a eles debaixo da árvore; e comeram." (Génesis 18, 8) e na cedência da progenitura de Esaú a Jacob por um prato de lentilhas em troca
"E Jacó deu pão a Esaú e o guisado de lentilhas; e ele comeu, e bebeu, e levantou-se, e saiu. Assim desprezou Esaú a sua primogenitura." (Génesis 25, 34) só para falarmos de alguns.

Albrecht Dürer
Adam and Eve
1507
Museo del Prado, Madrid


Lucas Cranach
Samson's Fight with the Lion
1520-25
Kunstsammlungen, Weimar

Estes menos conhecidos são-no porque as maiores e grandes referências aos alimentos na Bíblia surgem no Antigo Testamento e o Catolicismo baseia-se, no seu contacto com o crente, no Novo Testamento. Logo nos Génesis somos confrontados com a questão do alimento que foi colocado à disposição dos homens por parte de Deus. Não todo o alimento, claro. Pressupõe-se que quando Deus criou Adão e Eva destinou-lhes a ingestão da comida e não a ingestão de carne, embora nada disto possa ser provado uma vez que nada está escrito antes deste episódio. Mas pensa-se que assim como os homens não deviam comer carne, os animais não comiam a carne uns dos outros.
"Tudo quanto se move, que é vivente, será para vosso mantimento; tudo vos tenho dado como a erva verde. A carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comerei" (Génesis 9, 3-4) Aliás, Isaías diz posteriormente:
"E morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará, e o bezerro, e o filho de leão e o animal cevado andarão juntos, e um menino pequeno os guiará." (Isaías 11, 6) Isto não quer dizer que todo o animal fosse abençoado ou tido por Deus como igual. Havia animais mais iguais que outros; ou seja, animais considerados limpos e outros que eram impuros. Noé, nos Génesis já sabia que uns animais seriam para consumo do Homem e outros, mesmo criados por Deus, apenas para viver na Terra. Deus ordena a Noé que faça entrar na arca 7 pares de animais limpos e apenas 2 de animais impuros:
"De todos os animais limpos tomarás para ti sete e sete, o macho e sua fêmea; mas dos animais que não são limpos, dois, o macho e sua fêmea. Também das aves dos céus sete e sete, macho e fêmea, para conservar em vida sua espécie sobre a face de toda a terra." (Génesis 7, 2-3) Mas só no Levítico 11 (todos os versículos) e no Deuteronómio 14 (do versículo 3 ao 21) Deus diz quais são os bons e os maus.
[Como poderia Noé saber quais os puros e os impuros antes do Levítico? Ou teria o Levítico sido escrito ao mesmo tempo que os Génesis, mas por outras mãos? Por isso acho a Bíblia uma obra assíncrona…]

Giovanni Benedetto Castiglione
In Front of Noah's Ark (pormenor)
c. 1650
Gemäldegalerie, Dresden
No Levítico Deus diz que o gato, o cão, a lebre, o coelho, o cisne, o camelo, o urso, o rato, o esquilo, o cavalo, morcego, entre outros não podiam ser ingeridos por terem, entre outras coisas, as unhas fendidas e por ruminarem. Ao Homem estavam também vetadas as ostras, a lagosta, o camarão a baleia, a cobra, o sapo e esturjão de onde vem a beluga. Estes animais não podiam ser consumidos porque não tinham escamas nem barbatanas. (Por exemplo, a cobra tem escamas, mas não tem barbatanas e por isso não podia ser ingerida). Os “bons” alimentos eram a galinha, o peru, o pato, a ovelha, o pombo, o ganso, o salmão (eu bem sabia que era peixe abençoado!), a sardinha, a truta e o atum, entre outros. Obviamente com as separações religiosas, com as influências culturais e com a presença em abundância deste ou daquele alimento em detrimento de outro, o Homem particularizou por áreas culturais e geográficas a sua dieta. Por isso muitos cristãos comem ostras, camarão e lagosta (bem, se calhar não são muitos, são aqueles que podem!). Outros alimentos aparecem referenciados na Bíblia como o trigo, a cevada, azeitonas (azeite), cebola, alho, favas, lentilhas, mostarda, romã, uvas, figos, maçãs, canela, açafrão… O que se comia definia quem era saudável e quem não era. Isso acontece com Daniel que quando submetido a um exame, responde de forma mais favorável do que os eunucos do rei.
"E Daniel propôs no seu coração não se contaminar com a porção das iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; portanto pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não se contaminar. "Ora, Deus fez com que Daniel achasse graça e misericórdia diante do chefe dos eunucos. E disse o chefe dos eunucos a Daniel: Tenho medo do meu senhor, o rei, que determinou a vossa comida e a vossa bebida; pois por que veria ele os vossos rostos mais tristes do que os dos outros jovens da vossa idade? Assim porias em perigo a minha cabeça para com o rei. Então disse Daniel ao despenseiro a quem o chefe dos eunucos havia constituído sobre Daniel, Hananias, Misael e Azarias: Experimenta, peço-te, os teus servos dez dias, e que se nos dêem legumes a comer, e água a beber. Então se examine diante de ti a nossa aparência, e a aparência dos jovens que comem a porção das iguarias do rei; e, conforme vires, procederás para com os teus servos. E ele consentiu isto, e os experimentou dez dias. E, ao fim dos dez dias, apareceram os seus semblantes melhores, e eles estavam mais gordos de carne do que todos os jovens que comiam das iguarias do rei." (Daniel 1, 8-15) Daniel que comia segundo as leis de Deus era saudável e quem comia outro tipo de comida ou bebia vinho não era saudável. Em Timóteo lemos que Deus criou a comida para que o Homem a partilhasse irmãmente; ou seja, para que o Homem não fosse abstinente nem parco na comida que se propunha comer ou que disponibilizava.
"Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência; Proibindo o casamento, e ordenando a abstinência dos alimentos que Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças; Porque toda a criatura de Deus é boa, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças." (1 Timóteo 4, 1-4) Assim sendo Deus inaugura a verdadeira dieta, a dieta que nem Tallon, nem Dr. Oz, nem Dr. South Beach conseguiram fazer vingar: aos homens era dado a comer de quase tudo, com moderação “moderada”.

Floris Claesz van Dijck
Still-Life
1610
Colecção Privada

Com o vinho, não era este que era condenável, mas a ingestão em demasia quando a mesma perturbasse o outro. A embriaguez era de facto algo que envergonhava o Homem, como nos mostra desde logo a embriaguez de Noé que foi usada para ilustrar a vergonha que os seus filhos sentiram quando o viram a dormir embriagado e nu. Há outros exemplos como o das filhas de Lot que embebedaram o pai e deitaram-se com ele e o de Holofernes que pretendia seduzir Judite à mesa e acabou bêbado e decapitado. No entanto era possível que o Homem bebesse vinho, desde que isso não entrasse em rota de colisão com o seu irmão. Ou seja: já que vamos fazer, vamos fazer com respeitinho!

Jan van Eyck
The Virgin of Chancellor Rolin
1435
Musée du Louvre, Paris
Quanto aos vegetarianos também a Bíblia tem uma palavra a dizer. Não há oposição bíblica relativamente às dietas que só incluem vegetais ou que apenas incluem carne; o que existe é a tentativa de conciliar dois estilos e fazê-los coexistir. Não existem pessoas mais fracas por só se alimentarem de vegetais ou mais fortes por só ingerirem carne. Os Homens são fracos ou fortes nas suas opiniões, na sua ética e na sua capacidade de tolerância. Basicamente tudo quanto era disponibilizado por Deus podia ser consumido desde que esta prática não ofendesse o outro. Uns levaram mais longe que outros estas regras. Lembremo-nos daquele post aqui no Belogue em que se falava das Blue Laws, ou as leis respeitantes ao Sábado e que foram levadas ao extremo pelo Judaísmo. Obviamente que para uma facção destas personagens bíblicas era tão importante o que o Homem ingeria (e tudo quanto estava associado a este acto) como o que ele fazia, enquanto para outros não era importante o que entrava pela boca do Homem, mas a palavra que dela saía. A presença de tantas referências à comida na Bíblia permite-nos por lado ter ideia do tipo de alimentação que naquele tempo era feita, bem como a forma como essa alimentação era processada. Mas por outro lado abre-nos portas à interpretação. Apesar de todas estas referências à comida, são parcas as referências aos sacrifícios com carne, à excepção do Sacrifício de Isaac e talvez o sacrifício do cordeiro de Páscoa. As alusões à oferenda de carne animal a Deus é restrita, embora a houvesse. Dá ideia que a Bíblia foi construída para povos civilizados! A oferta era acompanhada por algum pão misturado com azeite e por vinho ou em outras ocasiões, cerveja. Na oferta os sacerdotes que eram que beneficiava directamente do alimento (consumiam a carne em nome de Deus) deviam aceitar o que lhes era oferecido e não procurar o melhor pedaço. Samuel critica esta prática quando conta um episódio em que os sacerdotes espetam os garfos várias vezes para colherem o que melhor lhes aprouver.
"Eram, porém, os filhos de Eli filhos de Belial; não conheciam ao SENHOR. Porquanto o costume daqueles sacerdotes com o povo era que, oferecendo alguém algum sacrifício, estando-se cozendo a carne, vinha o moço do sacerdote, com um garfo de três dentes em sua mão; E enfiava-o na caldeira, ou na panela, ou no caldeirão, ou na marmita; e tudo quanto o garfo tirava, o sacerdote tomava para si; assim faziam a todo o Israel que ia ali a Siló. Também antes de queimarem a gordura vinha o moço do sacerdote, e dizia ao homem que sacrificava: Dá essa carne para assar ao sacerdote; porque não receberá de ti carne cozida, mas crua. E, dizendo-lhe o homem: Queime-se primeiro a gordura de hoje, e depois toma para ti quanto desejar a tua alma, então ele lhe dizia: Não, agora a hás de dar, e, se não, por força a tomarei. Era, pois, muito grande o pecado destes moços perante o SENHOR, porquanto os homens desprezavam a oferta do SENHOR. (1 Samuel 2, 12-17) E quando não há sacrifícios, há festas, principalmente casamentos, pois então! Ele é as bodas de Canaa onde Jesus fez jorrar dos cântaros que só tinham água, vinho, o casamento de Sansão que durou sete dias, o casamento de Jacob e Lia, o casamento de Tobias e Sara. Há pelo menos uma “festa” de baptismo - a de Jesus por parte de São João – e um aniversário; o aniversário do Faraó:
"E aconteceu ao terceiro dia, o dia do nascimento de Faraó, que fez um banquete a todos os seus servos; e levantou a cabeça do copeiro-mor, e a cabeça do padeiro-mor, no meio dos seus servos." (Génesis 40, 20) E quando não há nem uma coisa nem outra há o jejum como forma de preparação para algo. Destaca-se o jejum de Moisés quarenta dias antes de subir ao Monte Sinai:
"Quando eu subi ao monte para receber as tábuas de pedra, as tábuas da aliança que o Senhor fez convosco, permaneci no monte quarenta dias e quarenta noites, sem comer pão nem beber água." (Deuteronómio 9, 9) o jejum de Jesus quando se foi para o deserto antes de começar a pregar:
"Jejuou quarenta dias e quarenta noites. Depois, teve fome." (Mateus 4, 2) e o jejum de Paulo de Tarso quando se converteu: "onde esteve três dias sem ver, sem comer nem beber." (Actos dos Apóstolos 9, 9)
- primeira parte -
- não vai mais vinho para essa mesa -

beatles de papel ou "vocês querem levar um valente par de estalos?"


tabela "tipódrica". para mim era um Helvética (sem serifa) e um Garamond (com serifa):


a crise grega explicada em duas partes. uma, duas

quarta-feira, maio 05, 2010

- o carteiro -

"Got Game Got Garra"??? Mas que raio de mote é este??? Volta Nelly Furtado, estás perdoada.

terça-feira, maio 04, 2010

- original soundtrack -

the next big thing diz o jimi. eu cá gostei.
- não vai mais vinho para essa mesa -

nem cereais, nem leguminosas, nem enchidos, nem queijo de São Jorge...
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou pequeno tratado por tratar acerca da existência deste "antes e depois" sem o meu conhecimento, como se as coisas só existissem pelo consentimento que eu lhes pudesse conferir. mas - há que dizê-lo com frontalidade - causou-me "espéce", saber que desde 1990 (uma década!) este serviço de chá existe e só hoje (ou por estes dias para não ser tão específica) o descobri. O meu objectivismo estético vindo de Platão, nega o subjectivismo Kantiano que diz que as coisas acontecem independentemente de nós. O retrato que Boucher - pintor das celulites juntamente com Rubens - fez de madame de Pompadour, a rameira da corte, é uma bela homenagem: faces rosadas, olhos grandes, peito assim assim, pele alva, cabelo claro... E sempre aquela maneira irritante de fazer repousar a mão num livro aberto, ou descansá-la com os dedos em pinça. E não pintou apenas esta, pintou várias. Diz-se que Boucher era um grande pintor, no sentido em que era com a mesma facilidade que pintava retratos, cenas mitológicas ou paisagens. Não conhecendo muito da sua obra, aquilo que conheço diz-me que ele, como pintor do rococó era de facto o "anti-natural". Apesar das suas "Madame de Pompadour" terem aquele ar de quem foi apanhada a ler, a repousar ou distraída a olhar para o dia de ontem, notamos que os retratos são altamente elaborados pois as personagens estão absortas, mas na sua melhor pose, o que não deixa de ser irritante.

Já Cindy Sherman, e mais uma vez, toma como arquétipo as belezas clássicas e substitui a obra de arte da época, realizada em tela e pigmento, por uma nova forma de arte que usa as pinturas (como no teatro japonês) e as poses antigas para acontecer. Ela e a fotografia são a arte. A atitude de paródia relativamente à arte dos "grandes mestres" é também uma pertinência da autora e esta pertinência é visível na falta de adequação entre o que vemos e aquilo que a nossa biblioteca visual guarda nos "consagrados". Cindy Sherman surge com o mesmo artificilialismo de Boucher, mas um artificialismo assumido pois além da personagem estar engonosamente distraída, a boca é falsa, os seios são grotescos... Nada nos indica que aquela mulher de peito à mostra possa ser outra que não uma "mulher da vida" ou que esta mulher esteja de facto a ler um livro. Aquilo que em Boucher é graciosidade, em Sherman é vulgaridade. Estou em crer que era também uma forma da artista questionar os paradigmas de beleza absoluta com os quais se cruza Kant. Sherman diz, ao contrário de Kant - talvez ela não o tenha feito propositadamente, mas em meu entender cruza-se com essa noção - que o belo absoluto e universal pode ser questionado tal como o gosto.

Eis-nos chegados ao serviço de porcelana feito por Cindy Sherman em homenagem a Madame Pompadour. Foi esta última quem mandou produzir um serviço de chá igual a este (ou este é que é igual ao anterior), em 1756. Nessa altura a cortesão fez-se retratar nas chávenas e nos pires tornando-se assim duplamente apetitosa! Cindy Sherman recuperou o serviço e mudou a imagem de Pompadour pela sua encenação da mesma. O serviço existe em várias cores - verde, amarelo, azul-escuro e cor de rosa - e numa edição limitada a 75 exemplares. A linha foi expandida para serviço de jantar e está à venda aqui. Agora vou para dentro que está frio:

François Boucher
Madame de Pompadour
1758
National Gallery of Scotland


Cindy Sherman
History Portraits
1989



Cindy Sherman
Madame de Pompadour (nee Poisson)
1990
- o carteiro -

a chamar as "anas" pelos nomes…

“Boltaa e meia” tenho tendência a achar que já me esgotei em posts e que o Belogue já não é o que era e etc. Então empreendo a difícil tarefa de escrever sobre coisas que não interessam a ninguém, mas que me dão muito gosto descobrir. E já andava com a ideia de escrever sobre as anamorfoses na arte, pródigas no renascimento e no maneirismo por causa dos jogos de espelhos. Talvez não saibamos qual a anamorfose “artística” mais antiga, mas conhecemos as mais recentes: as pragas de powerpoints que nos enviam para o mail com desenhos no asfalto de um autor chamado Julian Beever. É bem verdade que se não nos veio esclarecer sobre as anamorfoses, veio pelo menos alertar para o facto de as mesmas existirem e de ser o nosso olhar que trai a nossa mente.

Julian Beever

Aquela que é talvez a primeira anamorfose na história da arte é a entasis dos gregos. Os gregos perceberam que o olho humano tem a tendência para distorcer o que vê, como por exemplo, a sensação que temos quando olhamos para o céu d que os aviões são pequenos. Se não fosse a certeza que temos de que são enormes, ficaríamos com essa opinião pois é o que o nosso olho nos diz. O mesmo se passa em relação a certas linhas: vemos as linhas horizontais, à distância com uma ligeira curvatura para baixo e as verticais paralelas com tendência para uma curvatura para dentro. Por isso os arquitectos gregos deformavam propositadamente as horizontais com uma curvatura para cima e as verticais ligeiramente abauladas. Tudo de modo a equilibrar o que o olho humano desequilibra.
Há dois tipos de anamorfose: a anamorfose oblíqua e a anamorfose catóptrica. A primeira refere-se à anamorfose que aqui tratamos, a que existe quando uma imagem é deformada puxando um dos seus extremos, enquanto a segunda pode ser vista através de num espelho cilíndrico. A anamorfose é no entanto diferente do Trompe l’oeil, uma vez que este simula um espaço não existe a partir do mesmo ponto de vista do espectador, enquanto a anamorfose só revela o desenho escondido à medida que o observador se move. Um dos exemplos mais conhecuidos de Trompe l’oeil na arte é o fresco de Andrea del Pozzo criado entre 1691 e 1694 para o teço da Igreja de Santo Inácio em Roma. Neste tecto ele simula uma cúpula gigantesca aberta para o céu e pela qual o santo referido ascende. Para além da igreja em si não possuir cúpula assim como não possuía qualquer abertura para o exterior, Pozzo dá ao visitante a ideia de que a igreja de Santo Inácio era um prodígio da arquitectura e da natureza. No entanto, esta imagem do teço da igreja só é verdadeiramente impressionante e credível quando o visitante se posiciona mesmo por baixo dela: aí sim é possível acreditar que a Igreja de Santo Inácio tem tudo aquilo que parece fazer crer. Pozzo dizia que uma vez que a perspectiva era uma falsificação da verdade, então o pintor/artista não estava obrigado a servir-se dela para retratar o real quando visto de qualquer ponto de vista, mas de apenas um. Isto queria dizer que o artista não estava obrigado à universalidade da solução e podia apenas satisfazer uma parte do total.

Andrea del Pozzo
Allegory of the Jesuits' Missionary Work
1691-94
Sant'Ignazio, Roma


Para além de outras anamorfoses que não sei onde estão, uma das primeiras a surgir – após o que foi descrito da Antiguidade – foi o “olho de Leonardo”; ou seja, uma imagem realizada por Leonardo da Vinci em 1485 que, vista de frente mais não é que um conjunto de riscos, um desenho abstracto, e que vista de lado, à medida que assumimos uma perspectiva mais oblíqua do retratado, se vai desenvolvendo como um olho. Leonardo, à semelhança dos seus colegas do Renascimento, foi testando as técnicas de perspectiva distorcendo e esticando as imagens que pretendia codificar. Este “olho de Leonardo” não tem nenhuma característica especial pois nada tem de hermético, excepto pelo facto de existir sem que dele nos apercebamos. É aliás isso que fascina na anamorfose: estar perante uma imagem sem qualquer significando ignorando que o significado inerente ao que vemos depende do ponto de vista.



Leonardo da Vinci
1485



As anamorfoses eram utilizadas pelos pintores e tinham dois propósitos: como eram codificadas as imagens poderiam esconder alguma mensagem política, herética ou erótica e por outro lado eram um desafio para o artista. Um dos exemplos de imagem codificada com propósitos políticos é este retrato do monarca inglês Carlos I, imagem muito divulgada entre os partidários do monarca que defendia o poder absoluto dos reis.

Baltrusaitis
Carlos I

Há exemplos mais tardios como o de Erhard Schon que em 1531 se dedicou a criar este enigmático painel. Schon foi um gravador aluno de Dürer. No mesmo, nada podemos vislumbrar quando olhamos de frente para a gravura. Mas assim que nos colocamos de lado podemos distinguir os rostos Fernando I, em cima e à esquerda, de Carlos V (à direita), Francisco I (em baixo à esquerda) e do papa Paulo III (em baixo à esquerda) cujos nomes conhecemos pois a inscrição encontra-se junto das figuras. Também de Schon chegou até nós esta imagem. Quando vista de frente apresenta à esquerda um casal no quarto. Apesar da imagem não ser particularmente explícita, também vemos que no lado esquerdo do quarto existe uma pequena seta preta que nos indica o local onde nos devemos posicionar para descobrir o que parecem uns riscos verticais do lado direito da imagem. Aí chegados, aproximados da superfície da imagem e junto à esquerda, deparamo-nos com o mesmo casal nu, numa imagem que só pode ser denunciadora de alguma actividade libidinosa (o casal está a masturbar-se) censurável ou caso contrário não estaria escondida.








Também por volta desta data, mais concretamente em 1642, Emmanuel Maignan pintou para uma parede em especial do mosteiro da Santissima Trinità dei Monti, em Roma um fresco que à primeira vista não é nada. Quando nos afastamos e colocamos mais à esquerda da parede, junto à porta ou até mais afastados dela, vemos uma imagem de São Francisco em agonia. A deformação ainda se torna mais notável se tivermos em conta que a parede é curva, o que não deve ter facilitado as coisas.


Emmanuel Maignan
São Francisco de Paula
1642
SS. Trinitá dei Monti, Roma

Mas a mais conhecida anamorfose é sem dúvida a de Hans Holbein: a famosa caveira de “Os Embaixadores” que esconde vários significados como a possível alusão à morte, à vanitas e ao nome dos Holbein: Holbein em alemão quer dizer “hollow bone”; ou seja, osso fantasma”. Este quadro esteve primeiramente exposto na escadaria do castelo de Jean de Dinteville, um dos retratados e assim a caveira poderia ser vista como tal, como uma caveira quando se descia ou subia as escadas.

Hans Holbein
Jean de Dinteville and Georges de Selve (The Ambassadors)
1533
National Gallery, Londres
- o carteiro -

- Madonna e Gus Van Sant para a Interview de Maio (ou como se diz na minha terra "tufa nelinho!")
- Virginia (que está a fazer de "Like a Virgin") resolveu tapar o seio (Virgínia tapa o seio/Virginia tapa-o bem/Que o seio bem tapado/ai ó Virginia/fica-te bem)
-
- não vai mais vinho para essa mesa -

sinto-me tão gorda e no entanto preciso de engordar