terça-feira, junho 28, 2022

- original soundtrack -

Este seu olhar
Quando encontra o meu
Fala de umas coisas
Que eu não posso
Acreditar

Doce é sonhar
É pensar que você
Gosta de mim
Como eu de você

Mas a ilusão
Quando se desfaz
Dói no coração
De quem sonhou
Sonhou demais
Ah! Se eu pudesse entender
O que dizem os seus olhos

(Este seu olhar, João Gilberto)

sábado, junho 25, 2022

 - não vai mais vinho para essa mesa -


sexta-feira, junho 24, 2022

sossega, coração! não desesperes!
(...)

(Fernando Pessoa)

quinta-feira, junho 23, 2022

 eu tenho um jeito para estas coisas...

quarta-feira, junho 22, 2022

 tô chegando

segunda-feira, junho 20, 2022

- não vai mais vinho para essa mesa -


ele - olá boa tarde. posso?
ela - sim, claro
ele - eu já não venho aqui há muito tempo. qual é o "protocolo"?
ela - não há. esteja à vontade.
ele - conhece a X?
ela - não, lamento.
ele - também é pintora. eu também sou pintor. a menina é pintora?
ela - não, não sou.
ele - pois, a X é pintora e já fez muitas exposições... na junta de freguesia e no posto de turismo. está sempre a fazer. eu é que sou pintor, mas não ando por aí a mostrar. o que acha dos artistas? são malucos, não são? Diga lá a verdade.
ela - ah...
ele - não, mas diga! e por aqui, também há? olhe, é uma "colectânea", não é?
ela - não, é individual.
ele - ah pois. olhe, até lhe vou mostrar o que faço... a fotografia não está muito boa, mas a minha filha que é assim como a menina diz-me que é o meu melhor trabalho. e ela é exigente. ora veja.
ela - ...está muito bem...
ele - percebe? é o que eu faço. esta mulher da pintura tem assim uma expressão calma, transmite serenidade que é o que eu gosto. tem o rosto que as mulheres deviam ter sempre para os maridos, mas olhe, algumas infelizmente só têm para os outros. eu gosto de ver a beleza das mulheres. agora com a máscara as mulheres parecem muito bonitas, mas quando tiram a máscara são feias. um dia destes vi uma senhora com uma máscara, assim com os olhos bonitos e um sinal como a catarina furtado e disse "não se importa de tirar a máscara?". ela tirou e eu fugi. Se a menina pintasse, o que é que pintava?
ela - mas eu não...
ele - vá lá, diga uma coisa, a primeira que lhe vier à cabeça! sabe que eu ontem fui à missa e perguntei ao padre o que seria a primeira coisa que ele pintava e o padre disse "um jardim com flores" e eu disse "esta alminha é tão pura ainda". mas eu não gostava de ser padre. sabe, é muita filosofia. não, eu gosto de filosofia, gosto muito, mas o padre está ali, compreende? e diz o que tem a dizer. E uns compreendem e aceitam e outros não e os que não aceitam são uns cristos, já sabe como é. O Jaime, o Jaime que é tolinho pinta, pinta, pinta e diz que a cadela dele anda com lobos. Percebeu a piada?
ela - ... não...
ele - uma cadela que anda com lobos é uma loba. é essa a piada. O Jaime pinta como a Vieira da Silva, com quadradinhos, tudo pequenino, mas eu não sou assim. a que horas fecha? deve estar mortinha por sair. Eu tenho livre trânsito até às 21h. avisei toda a gente "só chego à noite". Sabe, está muito bem. Dava-lhe um 19 pela sua prestação. 20 não podia dar. 20 só nas ciências ou na matemática que a gente faz as contas e dá aquele resultado, mas na literatura não pode ser assim, não é? mas dava-lhe um 19. pronto, vou embora.


sexta-feira, junho 17, 2022

 isto

quarta-feira, junho 15, 2022

 - o carteiro -

tem estado um calor do caraças, não é? Pois... E vocês pensam "esta tipa já foi de férias". o que é que eu tenho a dizer? nada.

está na moda falar da igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. na arte isso é tão óbvio que se torna mesmo pornográfico. Não vou fazer um post a reclamar direitos para as mulheres, mas vou escrever um post sobre uma mulher pintora: a Clara Peeters. Encontrarão publicações a abordar o mesmo ponto que eu, mas o meu post é melhor porque é meu. Não é preciso dizer, vocês já sabem (mas eu digo porque preciso de um enquadramento) que a Clara Peeters viu-se limitada na sua actividade por ser mulher. E foi pouco estudada também por isso. Não frequentou as casas dos mestres - os aprendizes viviam com os mestres 3 ou 4 anos e ajudavam-no em troca de cama e comida (porque não era bem visto uma mulher ir viver para casa de um homem que não fosse o seu pai, irmão ou marido) - por isso não teve acesso ao desenho de nu, o que explica a obra que tem no campo das naturezas-mortas, consideradas menores. Ela e outros pintores fugiram às grandes temáticas religiosas, mitológicas, idealizadas e pouco naturais. Convenhamos que as suas naturezas mortas são também idealizações como são as outras que começam a aparecer por volta de 1600: vemos flores que por brotarem em diferentes épocas no ano não poderiam estar na mesma jarra, objectos que não são usados para o seu propósito... enfim, as naturezas-mortas de Clara Peeters são "compostas", mas mesmo assim apresentam-nos um horizonte, uma referência ao palpável que as pinturas de deuses, santos e heróis não nos dão. E ela, tal como Van Eyck, pinta-se nos seus quadros, talvez como forma de afirmação da mulher que conseguiu ser também pintora. Vejam se a vêem nas obras abaixo:


Clara Peeters
Still Life with fish, a candle, artichokes, crab and prawns
1611
Museo del Prado, Madrid









Clara Peeters
Still Life with fish, a candle, artichokes, crab and prawns (pormenor)

Apesar de quase não existirem estudos acerca de Clara Peeters (o que se sabe da sua vida é nada e basta ir à amazon para perceber que se escreveu muito pouco acerca dela), pressupõe-se, pela sua obra, que Clara trabalhava com assistentes e teria algum estatuto na pintura da época, já que os suportes para as pinturas são feitos de bons materiais e toda a parafernália de objectos que coloca nas suas naturezas-mortas indicam que teria algum poder económico. Especial atenção para a porcelana e para as facas.










Clara Peeters
Bodegón con flores, copa de plata dorada, almendras, frutos secos, dulces, panecillos, vino y jarra de peltre
1611
Museo del Prado











Clara Peeters
Bodegón con flores, copa de plata dorada, almendras, frutos secos, dulces, panecillos, vino y jarra de peltre (pormenor)














Clara Peeters
Still Life with Flowers and Gold Cups of Honour
1612
Staatliche Kunsthalle, Karlsruhe













Clara Peeters
Still Life with Flowers and Gold Cups of Honour (pormenor)











Clara Peeters
Still life
1607
Colecção privada











Clara Peeters
Still life (pormenor)

P.S. - É só para avisar que podem deixar de vir cá quando quiserem. Eu já pensei em também deixar de vir; é que isto dantes é que era! Havia chá, bolo... Agora é só moletes!

quarta-feira, junho 08, 2022

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou como "vocês já estão pra'i a dizer que este blog está uma vergonha, mas enganam-se porque ele já estava uma vergonha antes de estar esta vergonha aqui em particular. o belogue já passou por várias fases vergonhosas, todas juntas, e vai continuar a passar porque enquanto puder envergonhar-me em público, vou fazê-lo. porquê? porque sim. sendo assim, e não havendo ninguém que se oponha, venho apresentar-vos uma fotografia do fotógrafo espanhol José Ortiz Echague, com trema no "u", mas que eu não coloco pois não sei como fazê-lo (Já tentei "ctrl + shif + : + u", mas deu-me um underscore). Echague era um pictorialista numa época proto-pictorialista. O que é o pictorialismo? Eu respondo: uma tendência na fotografia na qual o fotógrafo procurava que as suas fotografias se aproximassem de obras de arte. Isso já vinha/vem dos primórdios da fotografia, mas foi utilizado por alguns fotógrafos do período entre guerras. Esta ideia era aplicada ao retrato, à paisagem... mas também à fotografia documental. No referido período entre guerras alguns fotógrafos percorreram os seus países à procura do tradicional, do genuinamente nacional, naquilo que pode ser considerado um instrumento de corroboração dos nacionalismos que surgiram no pós 1º guerra mundial; ou seja, propaganda. Em países como Portugal e Espanha esse regresso às origens fez-se de forma romantizada porque documentava uma realidade parcelar, apenas uma parte da realidade: a realidade dos trabalhadores, com os seus trajes, honrados e orgulhosos do país e das suas tradições. Não documentava porém a pobreza, iliteracia e as desigualdades. Em Portugal tivemos Domingos Galvão, em Espanha houve José Ortiz Echague. Esta fotografia que mostro abaixo é de um livro de Echague intitulado "Espana Mística" e aproxima-se muito da pintura de Zurbarán. Talvez porque o irmão de Echague também fosse pintor, o fotógrafo tem obras próximas de Sorolla e esta de Zurbarán. Echague era um falangista e como tal defendia um nacionalismo étnico (o seu livro "Espana, tipos y trajes" documenta a Espanha de León e a Espanha de Santander) que apoiava as diferenças regionais e raciais (os espanhóis das regiões mais remotas eram retratados com menores e os religiosos como superiores)":


Francisco de Zurbarán
Saint Francis contemplating a skull
1630-1634
Milwaukee Art Museum
















José Ortiz Echague
Monje blanco
1945
Universidade de Navarra

E agora que ficaram a saber coisas lindas, ide para a caminha dormir (nada de fazer porcarias. porcarias é só no fim-de-semana)

segunda-feira, junho 06, 2022

 - não vai mais vinho para essa mesa -



domingo, junho 05, 2022

 o medo paralisa-me

quinta-feira, junho 02, 2022

 estou sem ideias. lamento, mas estou sem ideias.