- o carteiro -
tem estado um calor do caraças, não é? Pois... E vocês pensam "esta tipa já foi de férias". o que é que eu tenho a dizer? nada.
está na moda falar da igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. na arte isso é tão óbvio que se torna mesmo pornográfico. Não vou fazer um post a reclamar direitos para as mulheres, mas vou escrever um post sobre uma mulher pintora: a Clara Peeters. Encontrarão publicações a abordar o mesmo ponto que eu, mas o meu post é melhor porque é meu. Não é preciso dizer, vocês já sabem (mas eu digo porque preciso de um enquadramento) que a Clara Peeters viu-se limitada na sua actividade por ser mulher. E foi pouco estudada também por isso. Não frequentou as casas dos mestres - os aprendizes viviam com os mestres 3 ou 4 anos e ajudavam-no em troca de cama e comida (porque não era bem visto uma mulher ir viver para casa de um homem que não fosse o seu pai, irmão ou marido) - por isso não teve acesso ao desenho de nu, o que explica a obra que tem no campo das naturezas-mortas, consideradas menores. Ela e outros pintores fugiram às grandes temáticas religiosas, mitológicas, idealizadas e pouco naturais. Convenhamos que as suas naturezas mortas são também idealizações como são as outras que começam a aparecer por volta de 1600: vemos flores que por brotarem em diferentes épocas no ano não poderiam estar na mesma jarra, objectos que não são usados para o seu propósito... enfim, as naturezas-mortas de Clara Peeters são "compostas", mas mesmo assim apresentam-nos um horizonte, uma referência ao palpável que as pinturas de deuses, santos e heróis não nos dão. E ela, tal como Van Eyck, pinta-se nos seus quadros, talvez como forma de afirmação da mulher que conseguiu ser também pintora. Vejam se a vêem nas obras abaixo:
5 Comments:
...só moletes?
Diga antes sandes.
Que desilusão a Beluga não parecia ser uma tia da linha de Cascais :))
Ora nem mais, anuncio-vos que deixo definitivamente de visitar o vosso belogue. Fiquem lá com as pinguinhas de xixi nos tampos das sanitas...e outras que tais...e com os vossos transtornos dissociativos de identidade hehehh
Até sempre.
Moletes... há quanto tempo não ouvia essa palavra! Mais raro ainda é vê-la escrita. Durante muito tempo pensei que se escrevia com 'u'. Parece uma palavra do povo, mas na verdade, vem do francês (tão raro era o pão de trigo, pelo menos no norte do país). Os moletes e os papos secos, as maçãs e os pêros, as pil*s e as pich*s, dois portugais.
No norte, em muito sítios a palavra para pães-de-padaria era simplesmente 'trigos', o vocábulo 'pão' reservavam-no para o pão-de-milho ou de centeio. Beber vinho fino e comer 'trigos' era coisas que os velhos só se lembravam de acontecer pelo Natal.
O post sobre a Clara Peeters (n. Antuérpia, activa entre 1607–1621) é muito bom. Desconhecia essa faceta dela -passe a expressão - o hábito de se retratar, colocar reflexos da própria face nas superfícies dos objectos que pintava
A tendência de deixar uma marca da "nossa" identidade para a posteridade, seja explicitamente ou oculta nas "nossas" criações, nunca deixará de ser relevante na sociedade. Questiono-me frequentemente sobre o que poderemos considerar como "nosso" num trabalho que teve inspiração em tudo o que nos rodeia sem ser considerado plágio. E, nos dias de hoje, as ferramentas de suporte aos artistas plásticos, em particular, estão tão avançadas, que nem sequer há enquadramento social para aceitar facilmente os "artistas" que as usam. Este artigo é do mais delicioso que existe. Quase consigo ver a Beluga daqui a uns anos a tecer conjecturas sobre motivações ocultas naquele tipo de obras de arte... ;-p
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