sábado, maio 28, 2022

 - o carteiro -

Eu, beluga, me confesso: tenho passado muito tempo nas mais exclusivas floristas, a podar delicadamente com tesouras de prata as folhas da kadupul que crio-preservo, e a recolher com um dedal o açafrão da flor com o mesmo nome, a meditar sobre o posicionamento da chocolate cosmos naquele que é o ikebana do blog, "o carteiro" (baseado numa história real). por isso apresento-vos o Bruegel (oh, not again!), desta vez em formato "Ó pra mim a estabelecer connections". 

Não foi Bruegel que disse - mas poderia ter sido - qualquer coisa como "pinta a tua aldeia e pintarás o mundo". Talvez porque o Bruegel tenha muitas cenas de aldeia, quase todas no estilo "onde está o Wally", associo-o a esta frase. num desses quadros "O triunfo da morte" vemos uma cena de exterior em que esquadrões de esqueletos (montados a cavalos, disfarçados, com caixões a servir de escudos) tentam mostrar aos vivos que nem a beleza, nem o amor, nem o dinheiro nem mesmo a religião os poupará da morte. A maior parte da pintura parece só "Bruegel free-styling": corpos no chão, vivos a lutar contra esqueletos... mas Bruegel foi tudo menos casual em algumas das suas escolhas. Nos quadrados que assinalo abaixo vemos a morte a mostrar a um rei uma ampulheta (sinal que o seu tempo terminou), a parodiar um cardeal, a cheirar uma criança, a degolar um monge, a encantar uma jovem. Estas e não outras personagens representam uma hierarquia de vivos que a morte iria eliminar, começando pelo Papa passando pelos jogadores, até ao mais inocente dos humanos; a criança. Esta era uma ideia muito enraizada na sociedade medieval europeia que viveu a morte muito de perto devido à Peste Negra e à Guerra dos 100 anos entre França e Inglaterra. Por essa razão a morte estava presente na pintura e na música, tendo esta tendência cessado com o Renascimento e voltado à baila com o Romantismo. 









Pieter Bruegel
The triumph of dead, 1562
Museo del Prado, Madrid

Antes da pintura de Bruegel já circulavam imagens da dança da morte na quais procissões de esqueletos guiavam os representantes dos vários extractos sociais para a morte. As gravuras permitiam essa fácil circulação da ideia e a criação de Hans Holbein de um alfabeto da morte em que as capitais representavam um elemento da estrutura social ainda mais, pois para além desta imagens terem sido gravadas em blocos de madeira o que permitia a sua fácil reprodução, podiam ser vistas por todos aqueles que tivessem acesso ao texto, mesmo que não fossem capazes de lê-lo. Por isso notem como, mesmo não usando o mesmo modelo de composição, Holbein e Bruegel se encontram:
















E agora ide lá gozar sunsets em rooftops que ainda estais na altura dessas cenas. beijinhos e cuidado com aquelas pessoas que usam pezinhos.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

https://archive.org/details/HiddenGeometryOfFlowersByK.Critchlow

30/5/22 4:55 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Obrigada!

30/5/22 10:09 da tarde  

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